sábado, 28 de setembro de 2013

A Imperatriz

Essa linda carta nos mostra uma mulher passeando por campos férteis, e ela mesma é a representação da fertilidade porque está grávida e feliz.

Coroada com um castelo em sua cabeça, ela pode materializar qualquer desejo pois a Imperatriz domina o princípio gerador da natureza.

Ela sabe como, através dela, a força criadora da natureza pode gerar desde um campo de plantação de trigo até um novo ser humano.

Ela, a mulher, é a própria manifestação viva da natureza em ação pelo princípio feminino, essa força que gera aquilo que passa a existir na materialidade e com poder de nutrir e sustentar essa criação.

Tudo que existe passa por um processo de criação que antecede sua manifestação. É no processo de criação que acontece a organização e o desenvolvimento das capacidades necessárias para trazer algo novo ao mundo.

Apenas ser capaz não é suficiente aqui, é preciso que as capacidades sejam organizadas, colocadas em perspectiva e bem aproveitadas para poderem funcionar como uma "fábrica" daquilo que se pretende criar: uma pintura, um livro, uma empresa, um método de ensino, o projeto de uma casa, um jardim...

Para uma criação artística acontecer, por exemplo, além do talento natural do artista é necessário que ele se disponha a essa realização e empregue sua energia pessoal para manifestar sua arte no mundo externo, impregnando aquela realização com sua forma de entender e sentir o mundo, e que vai resultar num objeto com vida própria e independente do seu criador.

A Imperatriz simboliza esse processo de criação onde se emprega a energia própria para dar vida a algo novo, alimentando esse "bebê" desde o "útero" para que ele possa crescer e adquirir a forma que lhe permita uma existência autônoma.

Mas essa impregnação de energia acontece quando fazemos algo que tem a ver com a nossa própria natureza, porque se trata da nossa própria energia, nosso poder pessoal. Filhos são gerados a partir de uma entrega à nossa energia mais primitiva, a energia sexual, e por isso a criação que tratamos neste arcano é aquela que vem do desejo puro e nos causa prazer.

Enquanto arquétipo, a Imperatriz vem nos falar do nosso potencial de realizar no mundo aquilo que já existe de forma imanente dentro de nós mesmos, unindo os princípios ativo, do Mago, e passivo, da Sacerdotisa.

No entanto, se a criação pretendida não está consonante com o que temos imanente em nós, essa criação fica comprometida. Porque o que dá vida ao objeto novo é a nossa própria energia e simplesmente não podemos vitalizar algo que não corresponda com a nossa natureza essencial.

Quando queremos criar algo diferente do que ressoa conosco, nossos planos não dão certo. Mesmo que cheguem a ser criadas, essas realidades não conseguem ser nutridas nem sustentadas por nós, não conseguem manter uma existência autônoma e terminam morrendo.

E isso acontece muito quando nos damos conta de que vivemos numa sociedade que exige que a gente cumpra certas etapas na vida e produza determinados resultados: formar-se em uma faculdade, construir uma carreira profissional, ter uma casa própria, um casamento "inabalável", e todas essas representações do que hoje se entende como sucesso pessoal.

Esses resultados não contemplam a complexidade humana dos desejos de cada um. Para alguém com uma grande necessidade de viver em liberdade, nenhum casamento "bem sucedido" será suficiente porque não vai alimentar aquilo que a pessoa deseja de verdade. E faltando essa seiva que energiza e nutre as criações, mesmo um casamento muito bem sucedido pode não resistir e morrer.

Num ambiente onde não estamos à vontade para sermos nós mesmos, não relaxamos. O desconforto de ser uma pessoa não autêntica vai criando uma tensão que "entope" os nossos canais criativos e todo nosso potencial realizador no mundo fica em suspenso.

Ou então acontece o caminho inverso: aquilo que foi criado e que não tem a ver com a nossa natureza acaba esgotando toda a nossa energia e ficamos completamente desvitalizados.

É o caso de alguém que seguiu uma carreira profissional com a qual não tem afinidade, por exemplo. Como aquela criação, a carreira, não tinha afinidade com a pessoa, provavelmente ela terá que fazer um aporte muito maior de energia para manter aquilo funcionando, mas isso exige dela um esforço maior e uma quantidade de energia que ela não tem. Nesse processo de desgaste, podemos ficar desmotivados por não ver o resultado acontecer, isso nos enfraquece e pode até nos deixar doentes.

Uma criação com a qual não temos ressonância suga toda nossa energia vital e é importante fazermos esse reconhecimento para, a partir do concreto, fazer escolhas que nos trazem vitalidade.

Na teoria psicanalítica sustentada por Sigmund Freud existe o conceito de "Pulsão de Vida", que sucintamente afirma que tudo aquilo que desejamos e que nos faz bem, nos preenche de alegria e positividade, é um impulso gerador de vitalidade que vai contribuir para que sejamos saudáveis - inclusive mentalmente.

A pulsão de vida tem um caráter construtivo, agregador e de autopreservação, é uma atitude positiva que traz benefícios fazendo a pessoa se sentir integrada e parte do todo. Seria uma força que nos direciona a realizar aquilo que não só atenda nossos desejos mas que também nos permita sentirmos bem em existir nesse mundo, o que refletirá na boa qualidade dos nossos relacionamentos com os outros e no sentimento de contentamento com a vida.

É a pulsão de vida que nos faz escolher uma alimentação mais saudável, a cuidar da nossa saúde, que nos inspira a fazermos algo pelo crescimento coletivo e que nos direciona para aqueles momentos agradáveis que alimentam a alma.

Quando estamos psiquicamente saudáveis, a pulsão de vida se expressa como essa energia impregnadora das coisas positivas que criamos para nós e para os outros, seja um relacionamento equilibrado, uma carreira profissional que corresponde a nossa vocação, um projeto de vida com autenticidade ou até mesmo um filho como continuidade de nós mesmos. É a própria energia de vida fluindo e se manifestando através de nós.

A maioria das cartas de tarot apresenta a Imperatriz com um escudo, denotando o brasão como uma marca daquela pessoa. Essa imagem vem corroborar a ideia de estar confortável no lugar que a pessoa ocupa no mundo, o brasão é a marca desse lugar ocupado e vem indicar que a pessoa está à vontade em ser quem ela é e de estar naquele ponto da sua trajetória de vida. Ela é autêntica e se sente livre para ser quem é de verdade.

O arquétipo da Imperatriz nos convida a realizar tudo aquilo que desejamos genuinamente e que corresponde à nossa verdade, empregando nossa energia e essência nisso, e em contrapartida o prazer de realizar algo tão positivo e autêntico nos retroalimenta e mantem um ciclo virtuoso do caminho da energia, elevando nossa vitalidade.

Isso não é lindo?

Uma característica constante das cartas de tarot que representam o arcano da Imperatriz é a beleza, enquanto atributo natural de alguém que está vivendo de forma harmonizada com a sua essência.

O símbolo da beleza aqui vem representar todo esse contentamento de existir em liberdade e de caminhar pela vida com satisfação, atraindo abundância e prosperidade.

Este arquétipo também me lembra muito uma expressão dos índios Navajo norte-americanos que é "caminhar em beleza" - que significa a expressão dessa ideia de fazer parte da natureza, contemplar a si mesmo como manifestação desse grande poder e viver criando a beleza com suas atitudes.

Criar a beleza é manifestar o que temos de melhor. Como seria o nosso mundo se todos tivessem essa chance?

Quando esta carta surge numa leitura é tempo de aproveitar as oportunidades de expansão para frutificar nossos talentos e concretizar novos projetos. Tudo indica que este é um momento de ver os sonhos se tornando realidade, aproveitando cada momento dessa experiência para se sentir mais pleno e satisfeito com a vida.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

13 comentários:

  1. A descrição mais linda que já li <3

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  2. Eu ativei esse arquétipo, em 3 dias meu relacionamento terminou. Creio que essa energia veio colocar as coisas em ordem e trazer a verdade.

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    1. O arquetipo da Imperatriz tem mesmo muita conexão com a verdade.

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  3. Antonio como vc ativou o arquétipo da Imperatriz?

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    1. Pela teoria dos arquétipos de Jung, eles tem autonomia e na verdade são os arquétipos que despertam em nós - e não nós que os ativamos por nossa vontade. Mas quando se manifestam, é importante sabermos reconhecê-los, e isso é o que o Tarot permite.

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