quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A Torre

Tarot A Torre
E então chegamos a ela, a implacável Torre.

O arcano mais temido do Tarô nos mostra a imagem de uma construção em ruínas, atingida por um raio que rasgando a noite escura despedaça tijolos e lança as pessoas abaixo.

Aqui temos o arquétipo da queda, do choque de realidade. Uma estrutura não suportou o impacto da luz.

É na luz que se apresenta a verdade, a nossa verdade só pode ser vislumbrada quando iluminamos nossos lugares mais recônditos e obscuros, aquelas partes de nós que ficam invisíveis para os outros e, principalmente, para nós mesmos. As partes que não queremos ver e que deixamos lá no escondido do nosso inconsciente.

Quando a luz chega, mesmo que rapidamente como um raio, já não é mais possível não notar aquelas verdades todas que ficaram escondidas: elas saltam para fora e a gente "abre a cabeça".

E diante da verdade iluminada, o Ego desaba. Cai do alto da torre sem proteção nenhuma já que aquela estrutura que o sustentava era falsa e não tinha solidez suficiente.

Tarot A TorreO Ego é construído ao longo da nossa infância a partir dos retornos que as pessoas do nosso entorno nos dão e da nossa percepção a respeito do que é valorizado em nós. Num ambiente onde há lugar para a criança se expressar livremente, o Ego é construído de forma saudável e mais próximo do que sua essência é realmente. 

Já num ambiente mais restritivo, com muitas exigências e expectativas dos outros, a essência da criança não pode ser completamente mostrada e esse Ego vai sendo construído sobre os atributos que os outros valorizam – e que muitas vezes destoam dos atributos naturais da pessoa.

As restrições e exigências do mundo externo podem também ir formando uma pessoa muito rígida e inflexível, que na busca de atender o modelo imposto vai passando por cima dela mesma e adquirindo até uma expressão física mais dura e austera, que reflete todas aquelas restrições de movimento do Ser interno.

Além disso, vivemos numa sociedade ocidental que valoriza somente uma certa educação, alguns comportamentos e determinados tipos de inteligência. Apesar da diversidade natural dos humanos, nos esforçamos para atender essa demanda e sermos aceitos no jogo. Assim, incorporando os valores dos outros e da sociedade onde nos inserimos, o indivíduo vai construindo seu Ego atendendo todas essas expectativas alheias para ser aceito, bem recebido e prosperar naquele sistema de crenças que valoriza apenas certos atributos.

E quanto mais vamos “prosperando” nesse ritmo de vida, o mundo externo parece que vai validando as nossas “boas” escolhas e a nossa forma “aceitável” de expressão, e vamos tendo a impressão de que estamos no caminho certo, no caminho do sucesso.

É aí que a Torre da carta vem simbolizar o nosso Ego, representando ali a ideia que temos de nós mesmos, nossa autoimportância.

Em todas as culturas encontramos monumentos que marcam no tempo as conquistas de seus povos, os obeliscos. Torres bem altas construídas nos territórios conquistados, quanto mais altas, maior a importância da conquista e do respectivo conquistador.

Tarot A Torre

Os obeliscos dos nossos tempos são os edifícios cada vez mais altos que desafiam as regras da engenharia como o Empire State Building, o Burj Khalifa e a Torre de Xangai.

Todas essas torres são símbolos de domínio e poder, e mais, são símbolos fálicos, nos lembrando que o poder é masculino e que para atingir esse nível de reconhecimento precisamos desenvolver um raciocínio e um comportamento mais masculino também – o que tem implicações muito sérias para a saúde mental e física das mulheres.

E então chega a iluminação repentina, o raio que vem mostrar numa fração de segundo que todo aquele Ego construído sobre os valores externos não tem sustentação nenhuma. E a nossa verdade interna que estava lá guardada a sete chaves aproveita esse momento para romper com as estruturas psíquicas e se apresentar claramente, como se dissesse:

“Ei, este aqui sou eu. Me veja como eu sou. Me aceite.”

Tarot A torreEste ser interno, essencial, sempre esteve lá mas agora é possível vê-lo e notar sua existência. A Torre é esse momento de ruptura em que o indivíduo se dá conta de que ele não é quem pensava ser - e geralmente este arcano se utiliza de momentos difíceis e desafiadores para que esse encontro aconteça.

A vida parece que vai nos colocar a toda prova e nossa única opção será enfrentar aquilo de que temos mais medo.

Uma doença, um acidente, uma separação repentina, uma demissão, são exemplos de situações trazidas pela Torre na vida prática onde o indivíduo terá o trabalho de ir além do que ele já conhecia sobre si mesmo.

Por isso a associação entre o arcano da Torre com o trânsito astrológico de Marte, a conquista sobre si mesmo.

O que acontece é que a pessoa vai atrair uma situação de extrema tensão a que seja impossível resistir, para que então possa haver um relaxamento na mesma proporção. Essa tensão é a pressão interna de ser uma pessoa que não corresponde à sua matéria prima, é muito pesado não sermos nós mesmos.

É nessas situações em que a vida nos põe tudo a perder que nos desligamos das distrações diárias e voltamos os olhos para o que realmente importa, para dentro de nós e nossa necessidade de felicidade e pertencimento mais genuína.

Não raro nessas situações as pessoas fazem profundas revisões das suas histórias e passam a adotar um estilo de vida mais saudável e harmonioso, com mais amorosidade ou mais proximidade com a família e amigos.

Numa experiência com a Torre bem recebida e integrada, a pessoa pode sentir a necessidade de pedir perdão a alguém, de se reaproximar de certas pessoas ou de deixar de frequentar certos ambientes e situações.

A ideia é derrubar muros e paredes, abrindo espaço a fim de que seja mais confortável ser quem se é de verdade, onde o Ser interno se sinta a vontade para tomar conta do ambiente psíquico e o indivíduo tenha a satisfação de ser ele mesmo.

Verbenna Yin
Astros - Tarot -  Psicanálise


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Lunação – o que é isso?

Olá queridos! Hoje vamos falar dos ciclos da lua e de como isso pode nos influenciar ou propulsionar para a vida que queremos.

Lunação é o ciclo que a lua cumpre a partir de uma fase nova, passando pela fase crescente, cheia e minguante até chegar na fase nova seguinte.

A lua Nova acontece quando ocorre no espaço o alinhamento entre Sol, Lua e Terra – nessa ordem.

lunação

Quando a lua está no meio do caminho entre o Sol e a Terra, ela não consegue refletir a luz solar e fica apagada, escura. Esse é o momento da Lua Nova.

Ao continuar sua trajetória ao redor da Terra (lembrando que a Lua gira em torno do planeta), a área de superfície lunar que reflete a luz do Sol vai aumentando gradativamente até que acontece um segundo alinhamento nesse período onde ficam dispostos o Sol, a Terra e a Lua – aí acontece a Lua Cheia.

E o ciclo continua até que aconteça de novo o alinhamento entre Sol, Lua e Terra quando acontece uma nova lunação. Cada lunação tem uma duração média de 29 dias e durante o ano temos 13 lunações – as 13 Matriarcas.

Essa dança cósmica vai se repetindo ao longo do ano, cada vez alinhada a uma constelação diferente (na ordem dos signos), e por isso dizemos “lunação de Áries”, “lunação de Touro”, e assim por diante.

Na Astrologia esses dois momentos lunares tem sua importância bem definida e influenciam diretamente os eventos que experimentamos, principalmente aqueles que já estão marcados no mapa natal.

Se a lunação (a lua nova) acontece num ponto do mapa natal onde está o planeta Vênus, por exemplo, ativará as experiências regidas por esse planeta: relacionamentos, autoimagem, prazeres ou dinheiro. Se acontecer próximo à cúspide de uma casa astrológica, a lunação ativa os acontecimentos relacionados aos assuntos daquela casa: se cair na Casa 4, durante o período da lunação a pessoa pode experimentar eventos na área familiar ou na casa onde mora.

Na Lua a luz é sempre refletida, vem de fora. A Lua não tem luz própria. Da mesma forma, as vivências propostas pela lunação também são externas a nós, elas nos chegam e nós respondemos a elas de acordo com nossos humores e temperamentos.

E qual a melhor maneira de reagirmos aos eventos trazidos pela lua?

A melhor maneira de lidar com uma lunação é observar por qual signo anda o Sol naquele período. Se estivermos numa lunação de Touro, isso significa que o alinhamento da Lua e do Sol (lua nova) aconteceu no signo de Touro, então os valores desse signo nos dão as pistas de como tratar os eventos que chegarem nesse período: planejar a longo prazo, não se precipitar, agir com firmeza, aproveitar os bons momentos para relaxar e se alegrar.

E os assuntos tocados pela lunação vão se apresentar de forma muito clara quando a lua atingir a fase Cheia. Assim que a Lua refletir toda a luz do Sol, a lunação vai mostrar claramente que experiência foi aquela e como nós reagimos a ela – se para o bem ou para o mal. É o tempo de aprendizado da lunação.

lunação
A Lua Nova também é um ótimo período para plantar suas intenções. A vida acompanha o cosmos e da mesma forma que a lua nova é uma preparação para seu grande momento – quando estiver Cheia - vamos também preparando aqueles nossos planos para que vinguem e se materializem no tempo adequado.

Sabe aqueles planos de fim de ano para o ano novo?

Pois a melhor maneira de colocá-los em prática ao longo do ano é plantando esses sonhos na lunação mais adequada.

Para fazer aquela viagem bacana ao exterior é só organizar para que ela aconteça no alinhamento com a Casa9; para conversar com o chefe sobre um aumento de salário, vale a pena ir colecionando bons resultados para ter o que apresentar na época da lunação na sua Casa 10.

Mas mesmo que a gente não faça esse planejamento todo, só de observarmos o signo da lunação em curso e como isso pode nos afetar no dia a dia já estaremos fazendo um ótimo trabalho pessoal.

Perceber as lunações nos aproxima da nossa própria natureza pois vamos nos dando conta de que o que acontece fora também acontece dentro. E quando adquirimos essa consciência, vamos espontaneamente retomando nosso contato com a terra e com a natureza já que nos sentimos integrados à ela.


Mas esse será assunto para um outro post, principalmente para as mulheres que acompanham com seus corpos e emoções todos os movimentos lunares.

lunação

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Consciente e Inconsciente

Verbenna Yin Astrologia Tarot Psicanálise Freud
Olá queridos! Hoje vamos falar um pouquinho de como as ciências humanas mais modernas vem se integrando com os conhecimentos organizados dos povos antigos.

Freud é considerado o Pai da psicanálise e afirmava que tudo que pensamos que sabemos sobre nós mesmos está numa pequena área da psique que ele denominou Consciente. Mas para ele, o nosso Consciente não refletiria quem realmente somos.

Para Freud, os reais conteúdos humanos que definem quem realmente somos estão no Inconsciente, uma área psíquica bem maior a que não temos acesso direto. Para chegar lá, precisamos de autoconhecimento e alguma ajudinha extra.

A Astrologia e o Tarot enquanto métodos de autoconhecimento, quando usados no contexto terapêutico, são ferramentas poderosas que abrem as portas do nosso Inconsciente para entendermos melhor nossos comportamentos e condicionamentos.

Com a Astrologia podemos mapear que impulsos são esses que mobilizam a pessoa e criam nela os desejos, aquilo que ela pretende realizar. As posições da Lua e de Marte no mapa natal podem dizer muito sobre esses desejos e se eles puderam ou não ser manifestados ou ainda se sofreram alguma interferência do meio externo que gerou um sentimento de frustração ou de inadequação.

Já com o Tarot Terapêutico é possível traduzir, a partir dos conteúdos simbólicos das cartas escolhidas, como esses impulsos foram dando forma à trajetória pessoal de cada um e qual é o desejo que ainda pulsa ali no coração e que não conseguiu se manifestar ainda, criando situações na vida para forçar a pessoa a olhar para dentro e reconhecer esses conteúdos que precisam vir à tona.

É lá no Inconsciente que está toda essa nossa verdade escondida, os desejos do coração que foram sendo reprimidos ao longo da nossa história e que podem nos fazem sofrer até hoje. São esses desejos que nos mostram quem somos de verdade.

Verbenna Yin Astrologia Tarot Psicanálise Freud
Para Freud, o Consciente só possui as informações que damos conta de processar naquele nosso momento de vida e aquelas que conseguimos perceber da nossa interação com os outros. Por isso se diz que o Consciente "não sabe de nada", essa quantidade de informação é pouca e fica restrita ao que entendemos sobre o mundo e o humano.

Só quando trazemos a nossa verdade do Inconsciente para o Consciente, deixamos de ser reféns da mente e retomamos o poder de decidir pelo nosso melhor. Porque essa nossa verdadeira essência reside no Inconsciente, bem guardada e concedida como prêmio para os corajosos que se aventuram nas profundas águas do Ser para se RE-conhecerem.

O Mito da Caverna de Platão - que trata da saída da escura caverna da mente para a luz do mundo vivo e real - nunca foi tão atual, sendo o próprio mito a reprodução de uma sabedoria ainda mais antiga insculpida no Oráculo de Delfos:

Conhece-te a ti mesmo!

Verbenna Yin Astrologia Tarot Psicanálise Freud Platão

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Se eu olhar pra você hoje, me apaixono?

Verbenna Yin Astrologia Tarot Psicanálise Freud Jung

O autocuidado é uma atitude a ser aprendida e cultivada em cada indivíduo. A aparência externa reflete sempre a atitude interna da pessoa, e para olhos mais treinados é possível perceber o que está acontecendo naquele universo particular e a partir dessa impressão saber se vale a pena se aproximar da pessoa. Ou não!

Por outro lado, vivemos numa cultura que hipervaloriza algumas características físicas apesar de sermos todos diversos e plurais. Vamos nos adaptando a um padrão cultural vigente que não é nada fácil de atender, principalmente para as mulheres: uma certa altura, um determinado tipo de corpo, índices exatos de gordura e de massa muscular, sorrisos e expressões de felicidade em selfies estampadas em todas as redes sociais.

Será que atender esse padrão realmente significa que estamos 100% no nosso melhor?

Se observamos bem, a busca desses padrões de “sucesso pessoal” deixa as pessoas constantemente ansiosas e em cobranças internas, não é possível sair daquela linha nem deixar de dar satisfação aos olhares ávidos que esperam que quem atingiu esse nível de sucesso mantenha seu posto, tendo que comprovar a todo momento “viu, estou por aqui e continuo muito bem, hein?” Que pesado!

Talvez por isso algumas celebridades, que parecem ter uma aparência perfeita, sofram com as expectativas que as pessoas tem sobre elas. Apenas a aparência trabalhada não garante que o externo esteja mostrando aquele melhor que a pessoa tem por dentro, ainda há "algo a dizer" para este mundo que não está conseguindo sair de lá.

Por mais que a aparência mostre atributos considerados "belos", aquele belo ainda não representa sua verdade: não é autentico e nem encontra reconhecimento no próprio indivíduo.

Assim, o autocuidado antes de tudo deve ser uma atitude de profunda aceitação da manifestação do nosso ser interno no mundo material. O corpo físico é o resultado de todas as forças cósmicas ativas que estavam disponíveis no momento da nossa concepção e nascimento, são elas que ditam as formas físicas, quantos centímetros o corpo irá crescer e como os elementos atômicos que compõem seu corpo físico vão reagir ao ambiente aos alimentos.

Verbenna Yin Astrologia Tarot Psicanálise Freud Jung
Respeitar este corpo a partir dessa consciência significa buscar a melhor manifestação física do ser interno que o habita, respeitando as características físicas e valorizando tudo aquilo que já existe dentro e que pode ser refletido do lado de fora.

Na astrologia, essa aprendizagem  é proposta nos signos de Touro e Libra, ambos regidos pelo planeta Vênus – a Deusa do Amor. A partir desse olhar de amor para com a gente mesmo, nossa forma física pode espelhar aquilo que temos de melhor e poderemos interagir no mundo físico a partir da nossa melhor versão, o que é muito agradável (Touro). E como resultado disso, passamos a atrair a companhia das pessoas que se sentem ligadas a esses valores representados pela aparência da nossa manifestação, elas se identificam com isso e vão se unindo a nós para compartilhar desse melhor (Libra).

Verbenna Yin Astrologia Tarot Psicanálise Freud Jung
A verdadeira beleza é ser quem realmente somos, cultivando uma atitude diária de amor próprio que valoriza cada pequena parte de nós que compõe nosso ser inteiro, tendo em conta que nosso corpo físico é a manifestação de um complexo harmonioso e interdependente.

Essa também é uma característica da saúde do corpo, abrangida aí a saúde mental. Dr. Edward Bach, o criador do sistema floral, tinha a aparência física como critério para determinar se o paciente havia melhorado com seus tratamentos. Segundo ele: “Não haverá cura verdadeira se não houver mudança na aparência, paz de espírito e felicidade interior.”

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Tempo da Lua


Verbenna Yin Astrologia Tarot Pscianálise Sagrado Feminino
Cada vez mais as mulheres estão se conscientizando dos seus ciclos internos e da ligação do seu corpo com as fases lunares, o que se manifesta principalmente no ciclo menstrual.

No período menstrual, o corpo pede uma pausa para podermos nos reconectar com a nossa sacralidade feminina. É o tempo da Lua.

Esse é um tempo em que a natureza se manifesta em nós pedindo mais calma para respirar, pedindo um recolhimento para aquecer os pés, o ventre e o coração, para prestar atenção aos sonhos e repor as nossas energias. 

O tempo da lua é o tempo para fluirmos com as águas do nosso corpo, deixando o sangue e as lágrimas movimentarem as energias que precisam ser liberadas e reorganizadas internamente em nós.

Mas a maioria das mulheres tem seus afazeres em casa e também um trabalho regular fora de casa, o que exige de nós uma disponibilidade extra para assumir todos esses comprometimentos com a mesma energia.

Quando tomamos para nós esse padrão de eficiência que não admite pausas para a mulher vivenciar o seu tempo de lua, nosso corpo sente esse desgaste maior da energia. Podemos ficar mais cansadas, dormir mal, falar demais ou comer de forma inadequada coisas que não nos fazem bem. O efeito é destrutivo.

Porque nossa natureza feminina é diferente do padrão de eficiência e disponibilidade constante que é a referência vigente para esta sociedade, que exige cada vez mais das pessoas em troca de tão pouca “qualidade de vida”. O discurso é de que o importante é a “qualidade” e não a “quantidade”. Será mesmo?

Verbenna Yin Astrologia Tarot Psicanálise Sagrado Feminino

Essa eficiência de quem não “para nem por uma gripe” é irreal, ela não condiz com a nossa condição feminina e nos leva para uma falsa sensação de competência que ao longo do tempo nos custa muito caro. As escolhas que temos que fazer para sermos “competentes” o tempo todo, na régua da sociedade, leva embora nossa energia feminina todos os meses e compromete nosso potencial criativo ao longo do tempo.

Verbenna Yin Astrologia Tarot Psicanálise Sagrado FemininoAo não respeitar nosso tempo de lua e nossas necessidades de pausa e reconexão com a natureza, vamos ficando distantes da vibração feminina e do poder criador do nosso sangue, surgindo os problemas de fertilidade, irregularidades menstruais, miomas, pólipos, cistos, endometrioses... Tantos reflexos da nossa energia criativa sendo mantida lá dentro de nós, sem poder fluir naturalmente e cristalizando no corpo em problemas de saúde.

Uma boa maneira de lidarmos melhor com nossa energia criativa é começar a rever nosso
comportamento durante o tempo de lua. Anotar as datas dos ciclos, fazer um calendário lunar, usar paninhos e coletores menstruais, são boas pedidas para quem gostaria de aprofundar essa relação com o corpo - porque são atividades nos tiram do padrão automatizado e permitem que nos observemos melhor nesse período.


Ao retomar o contato com o fluxo do nosso sangue, nossa energia de vida, retomamos também o poder de criação que essa energia pode concretizar no mundo real. 




Cabelos contam histórias

Nossos cabelos podem absorver as energias ao redor e guardar memórias.

Os cabelos compridos são valorizados em diversas culturas ancestrais. Às vezes trançados, outras vezes enrolados, presos no alto da cabeça ou sob véus, os povos antigos tinham em comum o hábito de manter os cabelos em constante crescimento.

Verbenna Yin Astrologia Tarot Psicanálise Sagrado FemininoOs cabelos são condutores elétricos naturais e podem conduzir as energias externas do ambiente para dentro de nós, onde aquela sensação pode ser convertida numa percepção mais sutil. 

Um insight, um deja vu, um medo... 

Afinal, quem nunca sentiu um arrepio na nuca?

E essa percepção pode ficar impregnada nos fios fazendo com que os cabelos se tornem de fato grandes armazenadores de memórias. Nossas histórias, as emoções que vivemos, as alegrias e tristezas da nossa trajetória, ficam todas lá registradas em nossas madeixas.

Verbenna Yin Astrologia tarot Psicanálise Sagrado Feminino

Porque os cabelos dão o tom no nosso visual, eles são a moldura do nosso rosto – aquela parte de nós que só os outros vêem diretamente. Nós só nos vemos por reflexo, nunca nos vemos de frente.

Mas os cabelos, nessa compreensão maior, por armazenarem toda nossa história pessoal, podem ser também a moldura do nosso ser interno já que as nossas impressões sobre o mundo e o aprendizado adquirido nas experiências de vida estão lá dando o tom da nossa existência.

Por isso os povos ancestrais tinham tanto respeito pelos cabelos e algumas culturas tinham o hábito de trançá-los longamente, reverenciando a história pessoal de cada um e o caminho percorrido para que cada ser pudesse se desenvolver em plenitude.


Resgatar este costume ancestral, trançando os cabelos em honra à pessoa que somos hoje e emoldurando com beleza as nossas histórias, pode ser um lindo caminho de cura para nós mulheres.

Verbenna Yin Astrologia Tarot Psicanálise Sagrado Feminino

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

O Diabo 2: O que te domina?

Vamos continuar a falar sobre o arcano do Diabo pois esta carta é muito rica em significados e seu simbolismo atravessa gerações e culturas distintas.

No texto anterior vimos como o arcano 15 numa leitura sugere a situação de dominação do Ser por algo que ele mantém escondido, seja porque em algum nível sente prazer nessa dominação seja porque ainda faltam ferramentas para confrontar seu algoz e se libertar dessa escravidão.

Este arquétipo é comportamental, mas tem força de ação a partir do mental da pessoa. Tudo começa no sistema de crenças que foi introjetado ainda na infância, quando aquela criança ainda não tinha condições de discernir sobre atitudes e conceitos.

Em toda família temos estabelecido um sistema de crenças, um jeito de ver a vida e de se posicionar no mundo. Muitas vezes, há uma religião que determina o que é bom e o que é mal, o que é aceitável e o que não se pode fazer. Esse sistema de crenças vai sendo incorporado pela mente infantil como sendo a própria realidade, já que a mente filtra a realidade real e absorve somente aquilo que faz sentido para ela.

No Tarot Zen de Osho, essa carta é chamada de "Condicionamento".

A realidade pode ser algo bem maior do que imaginamos, ou ainda a realidade pode ser diferente do que aquela mente incorporou como sendo o real. Temos aí um déficit entre o mundo real e a visão de mundo da pessoa, o mundo real fica limitado pelo tamanho do enquadramento que a mente deu para esse mundo.

Em nossa infância, o entorno no qual vivemos pode ter feito a mente assimilar crenças que determinam que “não merecemos ser felizes”, ou “não podemos ganhar esse monte de dinheiro sem sujar as mãos”, ou ainda que “só seremos felizes depois de casar e comprar uma casa própria”.

Outras vezes, a mente se identifica tanto com apenas um aspecto do Ser que a pessoa acredita que é apenas aquele aspecto. Por exemplo, uma criança que deixava de fazer a lição de casa e era constantemente taxada de “preguiçosa”. Ela pode internalizar esse rótulo e realmente acreditar que ela É preguiçosa, enquanto que na realidade pode ter havido apenas algumas ocasiões em que ela ESTAVA com preguiça mas desenhava muito bem!

A mente pode não diferenciar o ser do estar, e atribuir então à pessoa esse rótulo que vai determinar suas expressões e atitudes ao longo da vida. Como fazer diferente se na minha vida toda eu sempre acreditei ser preguiçosa? Ficamos aí presos no chamado “complexo de Gabriela”, o eterno “eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim”.

Nada mais limitante do que acreditar ser o que você não é!

Então, chega na nossa vida o arcano 15 para nos mostrar qual é o estado de consciência que impede o pleno desenvolvimento, porque é esse estado de consciência que vai criando a sua realidade. A realidade em que a pessoa acredita vai se tornando concreta e vai confirmando dia a dia aquela crença inicial: “sou uma pessoa preguiçosa e não mereço ser recompensada positivamente. Na minha vida, nada dá certo mesmo, eu não mereço...”

As crenças limitantes são um viés que turvam a realidade real, e uma lealdade inconsciente àquelas crenças vão minando a energia criativa da pessoa até que ela se sente improdutiva e refém desse jeito de ser dela. Aquela crença limitante vai dominando toda a capacidade de criação e de realização da pessoa. A vida para naquela mesmice de sempre e o que eu recebo do mundo não me alimenta mais.

Quando isso acontece, é comum a vida começar a criar padrões de repetição dos eventos que nos colocam em choque com essa crença limitante: a falsa segurança de agir de acordo com o que sempre acreditei que era eu.

Sustentar nossos condicionamentos pode ser muito penoso e uma tensão constante.

Esse conflito interno pode exigir muita energia psíquica para ser resolvido, e até podemos ir adiando esse confronto por muito tempo, até que um dia a dor dessa estagnação nos alcança e nos força a enxergar o mundo como ele é de verdade, e não mais como gostaríamos que fosse. Isso é o arcano do Diabo em ação.

É nesse contexto que o arcano do Diabo vem iluminar nossa conduta, forçando-nos a reconhecer que impulso foi aquele que gerou nossos condicionamentos produzindo resultados negativos para nós. O Diabo se torna Lúcifer - o portador da luz, que iluminando as nossas sombras mostra a verdadeira natureza daquelas ações, permitindo à consciência enxergar o quadro completo e perceber sua autorresponsabilidade em tudo que produz.

Ver com clareza a própria realidade é reassumir seu lugar no mundo e retomar para si o poder de decisão sobre a própria vida, resgatando sua capacidade enquanto agente consciente para fazer suas próprias deliberações de acordo com quem Eu Sou. Não fico mais à mercê daquela programação infantil que se repete indefinidamente, mas agora tenho liberdade para fazer escolhas e fluidez para viver.

Nesse novo estado de consciência, o Ser pode agora rever suas crenças e se reprogramar internamente para poder realizar aquilo que o realmente deseja, materializar no mundo externo aquilo que seja fiel à sua verdadeira natureza interna e que agora ele reconhece.

Mas há ainda algo no arcano 15 que eu gostaria de falar a respeito, e é sobre a relação de dominação do feminino pelo masculino que vem melhor elaborada no tarot de Aleister Crowley e Frieda Harrys.

Qual o maior poder que uma pessoa pode ter?

Sem dúvida é o poder de criar outra pessoa, a fertilidade. Vejam que interessante a representação da fertilidade humana a partir da união dos princípios feminino e masculino na carta do Tarot de Toth.

Por isso a ilustração da carta feita por Frieda Harrys traz o grafismo dos órgãos reprodutores, o feminino dentro do masculino. O masculino está bem óbvio na pintura, mas o feminino está escondido no traçado do bode.

E o que se parece graficamente com um bode com chifres tão compridos?
  
Isso mesmo, o útero e os ovários femininos. É desses órgãos que vem a energia criativa da mulher e de todos os seres que ela vai gerar. As mulheres geram todas as pessoas que existem no planeta, toda a energia vital que circula entre os humanos vem das mulheres. O DNA mitocondrial que transfere a parcela de energia para as células vivas do corpo humano vem exclusivamente do óvulo da mãe.

E para dominar um tremendo poder como esse, o meio mais eficiente é a criação de uma cultura que sobreviva a qualquer sistema de leis e religiões, e não somente subjugue essa potência mas a desqualifique de tal forma que torne todos os atributos femininos em negativos. 

Enquanto o masculino é capaz, forte, eficiente e competitivo, o feminino é incapaz, frágil, insuficiente, incompleto e tantas outras coisas “ruins”.

Na outra ponta, nossa cultura ocidental foi fortemente apoiada no cristianismo e em alguns pilares do judaísmo, tendo absorvido o símbolo do “bode expiatório”. Essa cerimônia era praticada bem antes de Cristo, onde o povo hebreu se reunia anualmente para lançar energeticamente todo o seu ódio, sua raiva e frustração daquele ano sobre um bode, o qual canalizaria toda essa energia ruim e levaria a culpa por todos os malfeitos do povo. O bode era morto sobre um altar, sacrificado para expiação dos pecados de todos.

Nessa correlação simbólica entre o bode com chifres e os órgãos reprodutores femininos, vemos que todo o ódio, raiva e frustração de um povo continuam sendo direcionados energeticamente para um alvo comum: a mulher.

O efeito inconsciente desse padrão simbólico é sentido em todas as populações, a cultura do machismo oprime as mulheres em todos os grupos e representações sociais. Isso tem nome: se chama misoginia, é o ódio direcionado ao feminino que impregna todos os atos de violência contra a mulher, deixando bem claro como essa canalização energética motiva a intolerância dirigida à mulher e ainda a culpa por isso. Ela é o próprio bode expiatório.

E as mulheres por sua vez absorvem esse padrão da culpa feminina de forma também inconsciente, podendo se submeter mais comumente a relações desiguais e abusivas ou até mesmo desenvolvendo comportamentos autodestrutivos para punirem-se pelo desejo da “desobediência” ao sistema de opressão, como por exemplo a bulimia como resposta à desobediência do padrão da magreza, ou a automutilação como punição à desobediência ao padrão da beleza.

A misoginia é uma crença limitante, atemporal e supracultural, que define programações mentais muito eficientes e que impede homens e mulheres de alcançarem suas verdadeiras vocações.

Quando temos a oportunidade de lançar luz sobre essas questões de dominação cultural que nos atingem a todos, homens e mulheres, isso mobiliza muitos conteúdos internos. Podemos perceber como um sistema de crenças de uma pessoa poderia tê-la estimulado desde a infância a um nível de competitividade e exercício de autoridade implacáveis, o que podem impedí-la  de desenvolver relacionamentos saudáveis na fase adulta. 

E como isso pode reverberar negativamente no dia a dia de todos num espectro mundo maior quando governos e líderes incorporam essa programação mental e passam a reproduzir essas limitações negativas no mundo real, impedindo coletivamente a construção de relacionamentos saudáveis por gerações inteiras.

Nada mais provocativo que um Diabo mulher para nos fazer pensar a respeito do machismo e misoginia definindo quem nós somos na sociedade moderna de hoje, não? O Tarot de Marselha, um dos primeiros conjuntos de cartas divinatórias, já tratava bem dessa caricatura social lá em meados dos anos 1700.

Ter essa clareza sobre a nossa história civilizatória e do quando podemos ser influenciados por um sistema de crenças que resiste por eras e culturas, possibilita um verdadeiro salto quântico e nos coloca em outra escala de percepção dos eventos da nossa vida. Isso pode ser a chave mestra para abrir os cofres do nosso inconsciente e tirar de lá de dentro medos e crenças limitantes que impedem nossa evolução pessoal e coletiva.

Como disse Jung: “o que não enfrentamos em nós mesmos, encontramos como destino”.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

sexta-feira, 15 de julho de 2016

O Diabo

Esta terrível carta traz como símbolo um monstro, algo meio humano meio animal, com uma expressão desafiadora, com a mão direita aberta e voltada para cima enquanto a mão esquerda segura um tocha de fogo voltada para baixo. Num ambiente escuro, esse ser das trevas está sentado sobre um cofre, de onde saem grilhões que mantém presos um homem e uma mulher de aspecto selvagem com chifres e caudas. E na cabeça do grande monstro, um pentagrama posicionado para baixo com a ponta voltada para o cofre. Certamente, uma representação amedrontadora.

A primeira ideia que podemos tirar da representação simbólica do arcano é a dominação que o monstro exerce sobre o casal de prisioneiros acorrentados. Não há como escapar da influência do monstro e o casal só pode fazer aquilo que o limite das correntes lhe permite.

O estilo selvagem das figuras humanas nos indica que ambos estão ali em seu estado mais primitivo, numa analogia ao indivíduo que está ainda entregue à necessidade de satisfação dos desejos sensoriais, a parte mais antiga da nossa formação humana e que se comunica diretamente com os conteúdos desejantes do ID.

Enquanto o Ego e o Superego encontram certa conexão com a área consciente, os conteúdos do ID não são controlados pelo filtro da consciência. Naquela famosa imagem do iceberg para demonstrar a primeira tópica de Freud (a existência do inconsciente), Ego e Superego tocam a superfície da área consciente, porém o ID está numa área mais funda, totalmente submerso na água.

Nesse lugar profundo e escuro da mente, não há máscaras nem filtros possíveis, ali residem desejos e emoções com vida própria que podem dominar a consciência se encontrarem um caminho de saída. Aqui, a psique não faz julgamentos nem aplica noções de bem e de mal. É onde estão guardados nossos impulsos incessantes pelo prazer, os estímulos constantes de tensão e relaxamento, o pulso da vida e da morte.

Em nosso estado alerta de consciência usual não conseguimos acessar essa parte mais primitiva da psique, ela fica guardada numa área de acesso muito restrito, o que é representado pelo tom escuro da carta. É em nossa caverna escura que começa a jornada humana pelo desenvolvimento psíquico rumo à iluminação da consciência, como propõe Platão em seu “Mito da Caverna”.

Presos ao cofre e na escuridão da caverna, o homem e a mulher estão eternamente fadados a realizar apenas aquilo que satisfaça seus instintos mais primitivos, suas necessidades de aplacar os sentidos do corpo (a cauda em forma de uvas da mulher) e de satisfação sexual (a cauda de fogo do homem).

O cofre sugere que ambas tem um segredo muito bem guardado, representando a nossa tendência de 
ocultar no inconsciente as memórias que nos causam dor: as repressões, a necessidade de adaptação para sobreviver, o abrir mão de algo próprio para pertencer, os aspectos que não temos firmeza para assumir, os desejos frustrados. 

Mas as figuras humanas estão presas a essa cofre com correntes, indicando que tudo aquilo que foi ocultado da consciência e mantido em segredo tem potencial para nos dominar criando limites reais aos movimentos diante da vida.

Essa força oculta que domina a consciência e leva o indivíduo a realizar os mesmos atos é a pulsão, termo desenvolvido por Freud para se referir aos processos repetitivos de excitação psíquica que demandam uma certa ação para trazer o alívio correspondente, neutralizando aquele estímulo.

Aqui o indivíduo cria um caminho mental, inconsciente, onde deposita em certo objeto o foco da sua energia psíquica (libido), passando a desejar esse objeto com certa frequência e gerando o movimento dessa energia, que vai sendo estimulada até um nível de excitação tal que o indivíduo, incomodado com a tensão interna criada, precisará se mobilizar para atender seu desejo. Ao possuir esse objeto focalizado, o indivíduo se sente satisfeito, ocorre uma descarga psíquica e a energia libidinal é neutralizada, reequilibrando o sistema. Ao perceber esse circuito e suas etapas, o aparelho psíquico estabelece um padrão e sem se dar conta o indivíduo passa a percorrer esse caminho repetidamente sempre que se sente estimulado, pois o sistema nervoso busca a redução dos estímulos funcionalmente.

Em “Além do Princípio do Prazer”, Freud afirma que:

“A tendência dominante da vida mental, e talvez, da vida nervosa em geral, é o esforço para reduzir, para manter constante ou para remover a tensão interna devida aos estímulos (o Príncípio de Nirvana).”

Porém, por ser um processo inconsciente, o indivíduo envolvido nesse mecanismo não tem clareza sobre o foco desse processo e sequer pode se dar conta de qual seria o evento que deu origem ao padrão. Nesse sentido, Freud notou que muitas vezes o circuito de estimulação e descarga de energia libidinal não visa uma satisfação apenas, pois o resultado desse circuito pode ser a humilhação, a vergonha, a dor, a privação da saúde, o que não é nada positivo e pode levar a uma descarga extrema levando à pacificação total do estímulo pela aniquilação – é a pulsão de morte.

Freud percebeu então que “existe realmente na mente uma compulsão à repetição que sobrepuja o princípio de prazer”. A necessidade de repetição é maior do que a necessidade de satisfação.

É nesse ambiente que se desenvolvem as dependências emocionais, as relações de poder e autoridade exercidas pela dominação do outro, a busca constante pela satisfação dos vícios, os entorpecentes, o sexo desprotegido, o excesso de comida, o uso exagerado do cigarro, os relacionamentos abusivos, a violência entre pares, são exemplos de focos por onde se encaminham as pulsões de morte.

Mais tarde Freud vai vincular os processos de compulsão à resistência do Ego consciente em reconhecer os conteúdos psíquicos associados, gerando o circuito de excitação e aplacamento da energia psíquica como um caminho simbólico, proposto pelo inconsciente, para que o indivíduo se recorde dos eventos e emoções que precisam ser tratados. Em “Recordar, repetir e elaborar”, Freud vai justamente discorrer sobre o mecanismo intrincado das repetições que mostram essa oposição de forças, de um lado o inconsciente gerando um processo repetitivo e simbólico, revivendo um evento que precisa ser integrado, e de outro lado a consciência se negando a admitir aquele conteúdo e substituindo esse foco por um objeto externo – que será o foco da compulsão.

A compulsão que nos domina vai nos tornando escravos, nossa energia é escoada para outro lugar e vai alimentar alguma outra coisa que não a nós mesmos. Perdemos nossa vitalidade e ficamos vazios, com mais fome ainda e aptos a fazer tudo de novo para saciar essa fome outra vez. E assim sofremos repetidamente, andando pelo labirinto escuro da inconsciência.

Nesta imagem do Tarot Mitológico, o casal está aprisionado por uma criatura imensa, um Pan que é metade homem e metade animal, indicando a luta entre instinto e razão, entre consciência e inconsciência. Mas o casal não está triste por estar preso, ao contrário, estão contentes e até parece que estão dançando ao som da música da flauta de Pan, numa alusão ao quanto as compulsões nos distraem do verdadeiro trabalho de autorreconhecimento. 

Esse ciclo vai se repetir indefinidamente até a pessoa ter força suficiente para assumir os aspectos da sua natureza e se posicionar conscientemente a respeito disso. Esse posicionamento é uma ação voluntária do indivíduo para reassumir o controle dos seus comportamentos e sair da dominação daquilo que o aprisiona.

Na mesma linha, Jung propõe esse honesto reexame dos conteúdos ocultados no inconsciente ao tratar da Sombra, que é um aspecto da nossa psique constituído por tudo aquilo que negamos a nosso respeito, o que não encontra coerência na imagem que construímos de nós, nossas características inferiores, o que achamos que não somos e o que não queremos ser.

Para nos adaptarmos a um mundo cada vez mais doente, que exige ideais severos de beleza, de comportamento e de produtividade, pagamos um preço bem alto. E para reprimir partes nossas que não condizem com esses ideais usamos de uma certa agressividade autodirigida, é como uma amputação que levamos adiante sendo violentos e sentindo raiva por termos feito isso conosco.

Na dinâmica Junguiana, esses aspectos nossos que nos esforçamos para esconder a todo custo formam a Sombra, que por estar no inconsciente não conseguimos enxergar mas projetamos nos outros. Como somos seres coletivos e vivemos em comunidade, vemos mais facilmente no comportamento alheio aquelas características que não toleramos nem admitimos em nós mesmos - e podemos até sentir inveja dessas características que os outros têm e que nós não conseguimos desenvolver.

Nessa abordagem, quanto mais reafirmamos aquilo que admitimos sobre nós, mais força teremos que empenhar para manter a Sombra escondida. Mas o padrão do aparelho psíquico busca pela constância e o equilíbrio das forças internas e de tempos em tempos a Sombra extravasa e se manifesta atraindo situações que reproduzam o drama inicial ocultado no inconsciente. Porque na verdade essas partes de nós são reais também, elas não deixam de existir apesar de estarem escondidas, e de tempos em tempos a Sombra pede a nossa atenção porque ela precisa ser vista, reconhecida. Precisamos nos por em termos com ela. Precisamos nos acolher.

Quando não damos chance para essas partes de nós, elas se juntam todas e nos pegam pelo calcanhar, fazem a gente se distrair e nos sabotam, tiram nossa vitalidade para que possamos sair do automático e olhar pra dentro. A sombra vibra no polo negativo porque está na inconsciência, mas a medida em que vamos nos dando conta dela, trazendo-a para o consciente, a vibração muda e podemos trabalhar esses aspectos no polo positivo - pois a luz é a vibração mais elevada. E simbolicamente, luz é consciência.

Aqui também Jung propõe que a repetição é uma forma simbólica de acessar o conteúdo reprimido, pois, ao repetir aquele ato várias vezes, o indivíduo se dá conta da representação e finalmente abre caminho para que esse conteúdo suba à consciência e possa ser então integrado por meio da aceitação, o caminho para nos colocarmos “em termos” com a nossa Sombra.

No arcano do Diabo, a experiência intensa das pulsões que envolvem o mundo dos sentidos permite o esgotamento da energia psíquica pelos circuitos de repetição criados. Tomar consciência desses processos é uma rendição total à nossa verdadeira natureza, a aceitação nos leva a compreender o sentido oculto de todas aquelas repetições que nosso inconsciente promovia tentando nos fazer enxergar além dos símbolos e padrões estabelecidos.

O sofrimento que vivemos, afinal, passa a ter significação e encontramos o sentido de todo esse percurso. É o que Jung afirma em sua célebre frase: “Aquilo que negas, te subordina. O que aceitas, te transforma.”

Ou nas palavras de Freud: “Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda.”

Muita coisa boa pode vir depois desse encontro consciente com o Diabo arquetípico, notadamente a capacidade de decidir livre e voluntariamente e não mais ser conduzido pelos condicionamentos ou pela necessidade de aplacamento da excitação pulsional.

Muita coisa boa pode vir depois desse encontro consciente com o Diabo arquetípico, notadamente a capacidade de decidir livre e voluntariamente e não mais ser conduzido pelos condicionamentos ou pela necessidade de aplacamento da excitação pulsional.

Especialmente, este arcano propõe deixar de lado a agressividade que infligimos a nós mesmos quando usamos toda a nossa energia para nos mantermos acorrentados a um processo que se repete indefinidamente, minando nossa vitalidade e reduzindo nosso âmbito de ação perante a vida, o que nos aprisiona a uma condição de escravidão na prática.

Quando a carta do Diabo aparece numa leitura terapêutica, isso pode indicar que o indivíduo está vivenciando uma época de muita intolerância, no auge das projeções inconscientes e muito perturbado por não conseguir controlar os impulsos por algum tipo de vício. Pode ser também que esteja tão absorvido na manutenção de uma imagem de sucesso, e recebendo de fato reconhecimentos do mundo externo por isso, que não perceba o preço que está pagando por não exercer sua integridade.

É importante que o analisando seja informado desse construto mental para que, estando predisposto, possa fazer as associações possíveis que permitirão a abertura por onde o conteúdo inconsciente possa, enfim, passar e se apresentar à consciência para ser visto, reconhecido e acolhido.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise