terça-feira, 22 de janeiro de 2019

Curso: A Psicanálise do Tarot



DIA 09 DE FEVEREIRO/2019
INSCRIÇÕES PELO EMAIL: verbennaterapias@gmail.com
OU PELO WHATS APP: 11 97038-8490

Está chegando mais um encontro para este curso que une duas abordagens distintas sobre o comportamento humano, num olhar que se complementa e integra saberes.

O Tarot é um sistema organizado de representações arquetípicas que registra o padrão do desenvolvimento humano a partir das experimentações próprias a cada fase da vida. 

Já a Psicanálise é um sistema de percepção refinada do desenvolvimento humano a partir das manifestações do inconsciente, levando em conta os aspectos da subjetividade que compõem cada indivíduo bem como os padrões de comportamento que essa subjetividade predispõe.

Neste curso teremos a oportunidade de entender a Psicanálise que emerge das representações simbólicas do Tarot, ressaltando toda a riqueza de conhecimento humano contida nas cartas e que podem representar os conteúdos imanentes do inconsciente de quem busca se conhecer melhor.

Este é estudo de vanguarda e totalmente diferenciado sobre o desenvolvimento da personalidade e da autorregulação psíquica, que correlaciona os arcanos maiores do Tarot às teorias psicanalíticas tradicionais de FREUD, JUNG, M. KLEIN, WINNICOTT E LACAN.

Para cada carta do Tarot corresponde um estado psíquico e uma experimentação humana própria. Conhecer essas associações pode auxiliar a identificar o padrão oculto do inconsciente que se manifesta no ambiente de atendimento, a fim de orientar a melhor abordagem no trabalho terapêutico de cada pessoa.

O curso tem aspectos teóricos e práticos e utiliza os 22 arcanos maiores do Tarot.

É voltado para psicanalistas, psicólogos, psicoterapeutas, terapeutas holísticos, tarólogos e todos os interessados no comportamento humano.

Duração: 8 horas

Valor do investimento: R$280,00

Material didático incluso - apostila completa.

OBS: Não é necessário possuir um tarot, mas se estiver considerando adquirir um deck para o curso, recomendamos a utilização do "Tarot Universal Rider Waite" ou "Tarot de Marselha".

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Lua Cheia em Leão e Eclipse Lunar de 21/01/2019

eclipse


Na madrugada do próximo dia 21 de Janeiro acontece a Lua Cheia no alinhamento Aquário-Leão, cumulada com um eclipse lunar total a ser visto em todo o território brasileiro.

Este eclipse ocorre no perigeu da órbita da Lua, ou seja, no ponto mais próximo com a Terra, o que aumenta visualmente o seu tamanho e chamamos de “Super Lua”. Além disso, a lua estará na região da Umbra, a parte mais escura da região de sombra que resulta num efeito avermelhado conhecido popularmente como “Lua de Sangue”. Certamente, um espetáculo visualmente impactante e poderoso.


verbenna yin


No simbolismo astrológico, todo eclipse é um marco deflagrador de eventos de maior duração com efeitos por até 6 meses, pois pressupõe um chamado interno a que o indivíduo busque dentro de si aspectos que estão prontos para serem conscientizados e trabalhados com um outro nível de atenção, mais refinado e eficiente. É como se os astros dissessem: “agora você tem condições de lidar com isso, está na hora de resolver”.

A lunação deste mês aconteceu em conjunção com Saturno e Mercúrio em Capricórnio, dando a dica de que tipo de atitude é essa que precisa ser revisitada: a responsabilidade na nossa forma de pensar e agir. Na lua nova, fomos convidados a rever nossas posturas, a perceber melhor se estamos nos comportando da mesma forma de sempre e deixando de acompanhar a evolução que a vida, sempre dinâmica, nos propõe.

Posturas engessadas denotam a “mente grade”, uma mente que não consegue ver além do que já conhece e portanto responde com uma determinada atitude previsível e repetida. Mais do mesmo. Quantas vezes você já se sentiu assim, presa num looping infinito sem conseguir fazer diferente?

Pensar e agir sempre da mesma forma nos levam sempre aos mesmos resultados, e isso é uma fonte certa de insatisfação diante de tantas possibilidades que a vida oferece, levando a frustrações e desmotivações.

Que tipo de atitudes e pensamentos você cristalizou e que te impedem de sair do lugar?

A quem você está sendo leal quando deixa de ser autêntica e não reconhece suas próprias necessidades?

Será que estamos sendo leais a um lema familiar incoerente, a um rótulo recebido na infância ou até mesmo a uma figura familiar já falecida?

O problema está dado e a lua cheia agora nos dá a chave para lidar com essas questões: precisamos identificar nossas “Lealdades Invisíveis” e trazê-las para nossa consciência poder refletir sobre isso, avaliar como isso nos impacta hoje e o que pode ser transformado em nossa forma de agir e pensar para que isso não atrapalhe mais nosso pleno desenvolvimento.

E na poética dos alinhamentos astrológicos, cumpre destacar que Sol e Lua estarão tocando os Nodos Lunares, os pontos que representam nossas heranças familiares inconscientes e que indicam que o trabalho proposto pelos astros tem um grande potencial de cura para todo o nosso sistema familiar. Então a ideia é deixar de ser leal a algo que você recebeu da sua família para, conscientemente, ser leal à você mesma. Permita-se ser sua prioridade.

Em Leão, a atenção consciente está voltada para tudo aquilo que nos engrandece e contribui com nosso bem estar, com uma autoexpressão digna e coerente com o nosso melhor onde podemos nos sentir à vontade para sermos nós mesmos. Essa energia pede que a gente assuma nossos reais pensamentos, posicionamentos de vida, nossos gostos e preferências pessoais, nossos afetos, nossas vontades. Tudo em Leão é de verdade.

Será que você é de verdade?

Neste setor do céu o desafio é encontrar a coragem de se afastar das posturas antigas que não refletem mais quem somos de verdade, reavaliando as atitudes que destoam de quem somos hoje e, principalmente, encarando seriamente os prejuízos que essas posturas inadequadas nos causaram.

Até quando você vai ficar à margem da sua própria vida?

A lua cheia em Leão vem nos inspirar a vencer os medos e inibições que até agora nos mantiveram afastados de uma vida com mais alegria e satisfação, onde a gente se permita ser livre para viver e amar como nos faz bem, trazendo uma energia mais espontânea e criativa para que possamos retomar movimentos, internos e externos, que nos direcionem ao que desejamos de verdade.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A solidão da mulher produtiva

verbenna yin


Eu geralmente atendo mulheres que estão numa fase muito produtiva das suas vidas, mas que em algum momento se dão conta de que essa produtividade não lhes pertence.

Recentemente numa consulta uma paciente trouxe esse aspecto na vida dela. Acho que em maior o menor grau todas nós mulheres vivemos um pouco dessa situação que ela trouxe nesse encontro.

Era uma mulher independente e empreendedora, já tinha vivido dois casamentos, estava justamente saindo dessa última relação e se sentindo muito sozinha após a separação. Sua inquietação veio primeiro dessa forma: estava incomodada por se sentir sozinha.

Fomos observando esse lugar da “mulher sozinha” e acabamos constatando que ela não estava sozinha de fato, havia uma família, filhos, amigos e outras pessoas que continuavam a convivência com ela normalmente. Por que se sentia sozinha então?

Tentamos observar a questão do apoio mútuo que existe num casamento. Não havia mais apoio na relação que ela vivia, o marido demandava dela um suporte constante no sentido de presença, de afeto, de provisões materiais e até de comida. Não havia um movimento recíproco da parte dele em relação à ela, os planos e sonhos dela eram sempre muito “grandiosos” e ela “sonhava alto demais”, tudo que ela propunha fazer “daria muito trabalho” e ele se esquivava de fazer esse papel do apoio. Mesmo assim ela agia no sentido de realizar seus próprios projetos de vida, mas aprendeu a agir sem contar com a participação dele.

Com o tempo, ela deixou de compartilhar com ele o seu entusiasmo diante das possibilidades pro futuro, aprendeu que era melhor assim pra ele não contaminar os seus projetos. Aprendeu a viajar com as amigas de quando em vez para poder se inspirar e por várias vezes deixou de comemorar os seus sucessos profissionais para não ofender esse marido que estava cada vez mais desmotivado e dependente dela.

Veio a crise, entre eles havia um incômodo no fato dessa mulher ter dado um jeito de se manter produtiva e de desfrutar daquilo que a sua produtividade permitia.

Até aquele momento da vida a dois, toda a produção dessa mulher havia sido destinada às necessidades do casal, o seu tempo, seu esforço e seu dinheiro tinham como destino suprir as demandas quotidianas da casa e dos filhos ainda pequenos. Mas agora essa mulher estava diferente e sua nova atitude que, além de suprir as demandas da família também dava conta dos seus próprios desejos, era vista, pelo marido, como uma afronta ao seu delicado momento pessoal.

E então aconteceu na consulta aquele momento em que a gente percebe uma verdade que sempre esteve lá: ela já estava sozinha fazia tempo.

O quanto essa noção de “estar sozinha” para nós mulheres é definida pelo destino do nosso esforço?

Será que estamos nos sentindo acompanhadas apenas quando nos dedicamos a atender uma situação onde um homem está envolvido?

O quanto de machismo constrói esse pensamento e quem se beneficia dele?

Houve recentemente um caso de duas turistas argentinas que foram atacadas durante uma viagem ao Equador e a imprensa noticiou o fato chamando a atenção para o fato de que elas “viajavam sozinhas”, culpabilizando tacitamente as mulheres pelo ataque que sofreram. Quando duas mulheres, que estão juntas e portanto fazendo companhia uma à outra, são consideradas “sozinhas”, quem é que está faltando?

E daí fomos explorando nas sessões seguintes essas correlações entre a companhia do homem no espaço público para definir quem é uma mulher “de respeito”, até chegar nesse modelo de vida onde as mulheres mantém relacionamentos em que não são atendidas na intenção de evitarem o lugar da “mulher sozinha”, ainda que estejam de fato sozinhas na relação e se esforçando demais por conta disso.

Para essa mulher foi bem importante assumir que estava de fato sozinha, mas que não era uma pessoa necessariamente solitária, tinha amigos e família que continuavam a acompanhá-la. E essa constatação funcionou como uma autorização para agora pudesse gozar livremente do seu tempo e da sua produtividade como bem lhe conviesse. Que o medo de ser uma “mulher sozinha” a mantinha numa roda viva, destinando toda sua produtividade num estilo de vida que a consumia totalmente e que sequer supria sua demanda individual pela companhia e apoio que idealizava no casamento.

E eu estou pensando nisso até agora, o quanto queremos acreditar nessa programação cultural que afirma que nossa produtividade no mundo só tem valor quando é destinada ao projeto família onde a mulher se realizaria como esposa e mãe. Será mesmo?

sábado, 5 de janeiro de 2019

Lua Nova e Eclipse em Capricórnio - 05/01/2019

verbenna yin


Hoje acontece a lua nova em Capricórnio, em conjunção com Saturno domiciliado e com influência de Plutão e Mercúrio recém saído da retrogradação. Também acontece hoje um eclipse solar que vai marcar um ponto celeste importante a ser reativado no início de Julho quando teremos um novo eclipse atingindo o mesmo eixo e reforçando as intenções do que for plantado durante esta lunação.

Individualmente esse posicionamento trata de um fortalecimento ímpar da nossa determinação interna para seguirmos os nossos objetivos. Capricórnio é sempre essa energia do final do ano onde a gente se dá conta do que foi possível realizar ao longo de um tempo de trabalho e esforço, e também do que se pretende ainda realizar e que fica para o próximo ano.

Capricórnio é o território dos fortes, daqueles que não temem a caminhada dura nem a subida mais íngreme. Essa energia reafirma em nós a certeza de que o esforço vale a pena e é essa energia que permeia todo o clima de virada do ano, em que nos conectamos com uma certa utopia para seguir adiante na direção do horizonte das nossas vidas pessoais – numa bela metáfora sobre aquilo que desejamos e que está ainda um pouquinho mais longe, nos motivando a continuar sempre caminhando.

Com Lua e Sol nessa vibração de Capricórnio, nosso presente e passado se conversam sob essa tônica, podemos nos sentir reflexivos quanto aos esforços que já realizamos para chegar até este momento de vida e ir nos dando conta dos aspectos positivos e negativos dessa trajetória. Principalmente, podemos avaliar se o lugar que ocupamos hoje é mesmo aquele em que um dia planejamos estar, ou se ficamos tão engessados nas posturas que precisamos assumir na vida que nos perdemos no tempo e ficamos pra trás, sem conseguir acompanhar os nossos sonhos reais.

Em que lugar da sua vida você está hoje?

Será que este era o lugar onde você queria estar, ou você se perdeu de você mesmo pelo caminho?

Saturno conjunto à lunação é ainda mais incisivo nessa avaliação interna, agindo como um verdadeiro fiscal e nos cobrando sobre aquelas metas que deixamos de realizar. Saturno é exigente e demanda de nós explicações consistentes para nossas falhas, a conversa com esse planeta tem que ter seriedade. Se algo importante ficou pra trás, agora é o momento de ser responsável consigo mesmo e considerar como agir daqui pra frente:

Somos capazes de reparar nossa falta de cuidado com os nossos sonhos?

Teremos tempo e condições de fazer essas reparações na nossa vida hoje?

Mercúrio, que ficou um bom tempo retrógrado em Sagitário reavaliando suas crenças e motivações pessoais, agora chega em Capricórnio todo cheio de certezas, dando muito mais direção e assertividade para as nossas decisões. Com Mercúrio presente nesta lunação, será possível reavaliar e reorganizar metas muito mais realistas, mantendo a mente focada nos resultados pretendidos. Aproveite para tirar do papel aqueles planos que demandam um certo tipo de preparação e tarefas anteriores, essa energia será muito poderosa para agir com persistência na direção das suas metas de ano novo e ao final do período vai valer muito a pena ter feito esse esforço.

Coletivamente, porém, o período não é tão promissor assim. Este alinhamento dialoga de forma bastante desafiadora com a energia do mapa do Brasil e especialmente com o mapa da virada do ano, sobre o qual já falamos aqui:


No momento da lunação, o ascendente estará em Virgem e marcado pela Roda da Fortuna fazendo conjunção com o Sol Natal do mapa do país e ativando a casa 8, das grandes perdas e dos grandes desafios. O eclipse irá reforçar esse ponto e é possível um tempo de mudanças radicais no curso do país, muito rápidas para serem assimiladas pois Virgem é regido por Mercúrio, o antigo mensageiro dos deuses com sandálias aladas para voar (e não mais caminhar).



A posição atual de Mercúrio em Capricórnio mostra também que não há nenhuma intenção de diálogo ou negociação das novas intenções para o país, a direção já está tomada e as decisões que vem por aí são para serem cumpridas no melhor estilo capricorniano de “manda quem pode e obedece quem tem juízo”.

A energia de Capricórnio e Virgem juntas também trazem uma noção de escassez e falta, de uma certa aridez nas relações e desamparo diante da vida. Ambas as energias são muito ligadas ao aspecto da dificuldade que é estar diante de um mundo hostil e perigoso, que ativa nossa área mais primitiva e irracional do cérebro reptiliano e não tem mais espaço para sensibilidades e delicadezas. É o modo sobrevivência e o cada um por si, noções que permanecerão ativadas até o próximo eclipse em Julho que acontecerá em Câncer, uma área mais sensível do céu que pode favorecer uma visão mais clara e perceptiva dos resultados daquilo que está sendo realizado nesta lunação de Janeiro. Veremos o que acontece até lá.

Apesar do cenário coletivo, esta noite é uma ótima oportunidade para quem está conectado com as energias lunares, pois será um bom momento de firmar suas melhores intenções para todo o ano 2019. Faça essa reavaliação dos caminhos e se reorganize interna e externamente na direção daquilo que você realmente almeja. Capricórnio nos lembra da nossa essência, daquilo que é estrutural, os ossos que sustentam o corpo e os reais fundamentos das coisas. Não perca mais tempo com o que não te interessa, seja assertivo, tenha foco e mantenha-se firme na direção do seu desejo.

Vai valer a pena.

E pra quem gosta de uma conversa, pode conferir também o vídeo sobre este tema que está no nosso canal no Youtube. Espero que gostem!



sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

BirdBox - análise psicológica do filme

verbenna yin


O ano 2019 mal começou e a aqui em terras brasileiras a gente tem visto uma grande inquietação entre as pessoas que estão entrando em contato com um novo momento do país, algumas com ânimos mais exaltados antevendo possíveis cenários negativos, outras apoiando as recentes mudanças confiando nos ajustes que vem sendo apresentados; fato é que estamos experimentando um período de muitas certezas e opiniões que acabam nos mantendo a todos muito polarizados.

Por "coincidência" (não existem coincidências!!) a Netflix lançou bem recentemente o filme BirdBox, estrelado e produzido pela atriz Sandra Bullock. E esse é um filme que dialoga muito com o nosso cenário atual, em que as pessoas vivem sempre tão certas daquilo em que acreditam que estão perdendo a habilidade de se comunicar e conviver.

O filme inicia com essa perspectiva, mostrando um quadro pintado pela Sandra Bullock com pessoas dispostas numa mesa no que seria uma "última ceia" mas cada uma entretida em seu próprio mundo, todas juntas mas na prática separadas e experimentando uma realidade própria, sem comunicação e sem interação com as demais. Aqui a personagem revela que está grávida e que este seria seu maior medo, o de não conseguir amar o próprio filho.

A partir dessa abertura, filme propõe um evento fantástico a que toda a população mundial é exposta e a partir daí temos desdobramentos muito interessantes do ponto de vista da Psicanálise, pois é aqui que o roteiro entrelaça as teorias psicanalíticas de Freud com a visão peculiar da psicologia analítica de Jung.

Apesar do purismo majoritário da psicanálise, como eu sou integrativa, particularmente adorei o enredo do filme que conseguiu unificar as duas teorias de uma forma bem convergente e interativa mesmo.

Basicamente, o filme propõe uma situação hipotética mas plenamente possível do ponto de vista da constituição psíquica do elemento humano. Toda a população mundial teria sido exposta ao inconsciente coletivo e a visão do que existe nessa camada sutil seria tão terrível que dispararia um surto psicótico geral - experimentado subjetivamente e aí cada um reagiria de acordo com a sua estrutura psíquica própria.

Freud indica 3 possíveis conformações psíquicas, estruturas, que vão se confirmar ao longo da vida do sujeito: a Neurose, a Psicose e a Perversão.

Na neurose, os indivíduos negociam a suas necessidades mais vitais e cedem aquelas partes do seu desejo que dá pra ficar sem, entregam essas certas partes de si-mesmo que ficam escondidas na área do recalque, aquela região do inconsciente onde a gente não enxerga e nem sabe bem o que tem por lá. No filme, a neurose é simbolizada pela venda constante que os sobreviventes utilizam, são eles que conseguem sobreviver à tragédia global desde que não vejam o que está "lá fora".

E mesmo entre os sobreviventes há aqueles que não dão conta da venda e olham pra fora, o que causa um efeito devastador nessas pessoas que enxergaram a realidade na sua totalidade e elas acabam agindo no sentido de dar fim à própria vida. É bem interessante como o filme propõe essa atitude mostrando os personagens que de repente revêem a própria mãe e vão na sua direção, que na verdade é a direção da extrema introversão e da vontade de dissolução que está além do princípio do prazer de Freud - a pulsão de morte.

E por fim temos aqueles que contemplaram a visão terrível e mesmo assim não foram afetados. Estes seriam então os perversos, sociopatas e psicopatas que já estavam expostos à esse aspecto terrível da realidade, da violência e da aniquilação. Claro que aqui estamos falando do grau máximo dessa estrutura psíquica, mas enquanto padrão a sugestão que o filme faz é de que esta seria a estrutura que escaparia do efeito destruidor da exposição (a um primeiro momento) porque se colocaria a serviço dessa destruição. É o que vemos no filme, o padrão em ação, os personagens que sobrevivem ilesos à exposição das visões procuram outros sobreviventes para matá-los diretamente ou provocar sua morte pelo suicídio desencadeado pelas visões.

Mas ainda com um cenário tão terrível, a protagonista é mobilizada pela recente maternidade a continuar sobrevivendo assumir a missão de cuidado do próprio filho e da outra criança. Essa cena remonta ao arquétipo da Mãe e do padrão da energia feminina, que trata da geração e do cuidado com vida que é tão frágil. O parto, como experiência máxima da energia feminina, parece disparar na protagonista essa noção da maternagem como forma de sobreviver não mais por ela mesma, mas para garantia da continuidade do humano representado pelas crianças, numa correspondência muito bonita com o Self de Jung que se apresenta como uma criança nos processos terapêuticos nos lembrando de que vale a pena deixar florescer aquilo que há de melhor e mais autêntico em nós mesmos.

Mas voltando ao enredo do filme, o desdobramento dessa exposição em massa aos conteúdos do inconsciente coletivo ao qual não damos conta de elaborar terminaria por subverter a ordem civilizatória atual, onde todos convivem negociando (sociedade predominantemente neurótica) para uma nova ordem onde não é mais possível desfrutar da existência, da natureza, não é mais possível produzir alimentos nem socializar pois o medo de ser aniquilado é preponderante a tudo.

Nem as crianças tem nome mais, são chamadas de "Garoto" e "Garota", denotando o quanto uma nova ordem baseada no medo da aniquilação impediria o desenvolvimento psíquico saudável até mesmo por conta da ausência de um nome próprio - pilar para a construção da identidade subjetiva.

O filme termina mostrando que as pessoas que sobreviveram com as vendas, supostamente os neuróticos, conseguem se refugiar numa construção antiga onde há vários pássaros que não conseguem mais sair da edificação, numa analogia com o quanto as próprias pessoas também ficaram confinadas a um espaço tão restrito (nosso território físico e psíquico) e toda a fragilidade da nossa condição humana.

Enfim, o filme nos convida à essa reflexão tão atual sobre como estamos direcionando nossos relacionamentos a nível global e para onde nos levaria a ausência de interações reais com os outros e com o nosso ambiente, na era das pós-verdades onde só é verdade "aquilo em que eu acredito" - ignorando séculos de conhecimento construído pela humanidade.

Será que perderemos nossa habilidade de convivermos pacificamente e daremos lugar ao padrão perverso de destruição e medo?

Pra onde nos levam as autoverdades?

Espero que o filme deixe boas reflexões pra todos nós, e pra quem curte o blog convido a conhecer meu novo canal no Youtube onde vamos começar a publicar vídeos falando destes e outros temas que fazem a gente repensar o nosso mundo.

Me siga por lá pra ficar por dentro de todas as novidades e trocarmos mais ideias :-)

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