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quarta-feira, 18 de março de 2020

Ano novo astrológico 2020

verbenna terapias


O ano novo astrológico está chegando e se você ler esta postagem antes do dia 20/03 aproveite para ir se sintonizando com a energia deste novo período que requererá muita positividade e boa vontade. Desde as primeiras horas do dia 18/03 experimentaremos 3 dias de eventos importantes que nos farão refletir muito e nos prepararmos para a chegada do ano novo astrológico. Este será de fato um ano muito desafiador para todos nós.

O Sol entra no grau zero de Áries na primeira hora do dia 20 de Março aqui no Brasil e isso quer dizer que no momento de ingresso o Sol estará no ponto mais distante e escuro, na área do mapa que chamamos de Fundo do Céu. Essa é a região da sombra mais profunda de um mapa, é o ponto de conexão com a nossa ancestralidade e com a dimensão do inconsciente coletivo que conseguimos tangenciar. Este é um ponto de muita introspecção e centramento, e este será o tom do ano novo astrológico. A noite escura da alma chegou.

O Sol estará na Casa 4 e fará conjunção com Lilith e Quíron, o que é extremamente simbólico.
Lilith em Áries é a força feminina que é capaz de agir e tomar a iniciativa para resolver uma situação, porque ela sabe o que fazer e não se intimida diante do desafio. Porém, Lilith ativada é sempre uma experiência de superação, pois anda com ela a memória de ter sido abandonada à própria sorte no meio do deserto, ela teve que se fortalecer para se superar. É dessa ordem a experiência que teremos ao longo de todo o ano astrológico, o de termos sido abandonados e de precisarmos nos reerguer por nós mesmos, mas especialmente as mulheres terão esse desafio ativado em suas consciências pois Lilith pede para retornar à vida como arquétipo complementar à representação da mulher atual – ainda tão incompleta e confusa. As mulheres serão chamadas para se recomporem, integrarem suas sombras e deixarem de vez os papéis secundários de coadjuvantes dos homens na história para passarem a fazer história junto com eles. Mulheres, sintam o chamado e ocupem seus lugares!

Quíron nesse mesmíssimo ponto vem trazer algum conforto neste processo, o Curador pode aliviar a dor deste processo e nos conectar com um propósito maior que preencherá de sentido todo o sofrimento e esforço para esta superação. Este propósito vai ficar mais claro somente em 20/03/2021, quando a configuração astrológica mudará completamente e teremos um grande renascimento coletivo anunciado pelo ano novo astrológico que nascerá nas primeiras horas da manhã numa linda configuração com Vênus e Netuno na Casa 1, a casa da identidade, nos autorizando a sonhar novamente.

Mas neste ingresso em Áries de 2020, o regente Marte estará próximo da região do ascendente e confere muita energia de iniciativa, assertividade, foco na firme vontade de realização e uma atitude rápida, sem perda de tempo. Ao lado dele estará Júpiter, o grande benéfico, influenciando positivamente toda ação inspirada no bem coletivo com muita determinação e persistência. Ambos estarão em Capricórnio que é o marcador do ascendente deste novo ano, indicando que será um tempo de muito trabalho duro, de responder pelos erros, de assumir compromissos e fazer reparações no que pode ser mantido para que isso possa perdurar.

Mas é interessante notar que nenhum planeta estará acima da linha do horizonte, mesmo os planetas na linha do ascendente não estarão visíveis. Planetas influenciam comportamentos, então para nos alinharmos com os padrões que eles emanam e que estarão mais distantes da área de consciência (linha do horizonte) precisaremos de uma firme intenção de nos conectarmos com seus propósitos elevados. A noite parecerá muita longa.

Saturno estará nos últimos graus de Capricórnio na Casa 1, indicando que precisamos de uma vez por todas incorporar muita maturidade e disciplina daqui por diante, e isso implica em figuras de autoridade que precisarão se ajustar para atender esse modelo que os céus estão pedindo para nós. É temerário usar irresponsavelmente o que tantos outros construíram com sacrifício e renúncia pessoal, as figuras de autoridade precisarão demonstrar que estão à altura dos postos em que se encontram e fazer jus à confiança neles depositada. Saturno nesse ponto indica ser insensível às expectativas confiadas pode significar uma morte pública implacável, sem segunda chance.

Plutão também está nessa região do céu e continua seu trabalho de renovação das grandes estruturas coletivas (economia, mercado, políticas públicas, formas de ganhar dinheiro, organização de trabalho, relações sociais, casamentos, instituições e poderes). Veremos grandes mudanças no dia a dia das pessoas, rotinas novas sendo criadas rapidamente para acomodar essa transformação de hábitos e condutas.

A Vênus estará maravilhosamente domiciliada em Touro casa 5, o que mais uma vez indica um trabalho de conscientização da energia feminina para todos, homens e mulheres. Nessa região do céu, Vênus influencia com uma maior confiança e senso de valorização do papel da mulher no grupo e além disso recebe uma ótima influência de Júpiter/Marte, o que confere autodeterminação e persistência nas pautas femininas mais relevantes. Especialmente a pauta da maternidade e da economia das mulheres empreendedoras precisará ser revista a partir de Maio, a fim de que estas questões possam ser elaboradas e melhor definidas em Outubro quando o Sol estiver em Libra.

Mas nem tudo são flores nesse levante feminino, Mercúrio estará direto em Peixes Casa 3, a casa das comunicações onde já está Netuno. Isso implica em muita propaganda contrária e informação cooptada propositalmente para dificultar todo o processo de fortalecimento individual e coletivo que o ano novo está promovendo, especialmente porque a sinergia do elemento terra (Capricórnio/Touro) é muito realizadora e tem gente privilegiada com medo desse poder todo. Esperem muitas fake news e difamações querendo desqualificar os esforços de quem está comprometido com algum aprimoramento. Não caiam nessa, aprendam a ler nas entrelinhas das manchetes e parem de dar audiência para mídia comprada.

A Lua estará em Aquário Casa 2 e mostra o ambiente onde nossos medos serão vivenciados: o setor econômico/financeiro. Teremos muitas flutuações financeiras ao longo do ano e será um tempo de instabilidade real da nossa moeda, corremos o risco de um novo plano econômico para ajustar as contas e todos teremos que improvisar e empreender de algum modo para equilibrar as finanças. Especialmente neste ponto no Mapa do Brasil, o Sol de ano novo faz conjunção a Plutão na Casa 2 e está oposto ao regente da natividade (Mercúrio na Casa 8) e me parece indicar uma grave desvalorização da nossa moeda que poderia levar a medidas econômicas drásticas e talvez a criação de um novo modelo econômico no país em Setembro/Outubro.

Qualquer que seja a realidade financeira até lá, em Aquário a sinalização é aproveitar ao máximo o poder das redes digitais que conectam pessoas e interesses, lançar mão dos recursos tecnológicos e não ter medo de fazer algo que ninguém mais faz. Experimente, tente e ouse, este será um ano não convencional e todos teremos que pensar fora da caixa pra fazer o dinheiro aparecer.

O Meio do Céu está em Libra e sugere uma atitude de diálogo, pacificação, negociação inteligente, aproximação colaborativa e composição de interesses. O Meio do Céu é uma posição que equivale ao Sol do meio-dia e assim como este é visto por todos, o ponto marcado pelo MC influencia todos os demais pontos do mapa. Em Libra, a promessa é de uma grande trégua nacional a partir da Lua Nova em 16/Outubro.

Aqui indico alguns momentos importantes do ano para a gente ir acompanhando:

*Lunação Touro Abril/2020 – Lua/Sol/Urano na casa 4 sugerem alterações estruturais na organização do governo e Vênus na Casa 6 indica melhorias na área da saúde coletiva.

*Lunação Leão Ago/2020 – Lua/Sol/Mercurio casa 8 - crises financeiras importantes, flutuações de moeda, protecionismo do mercado com a Vênus em Câncer;

*Lunação Libra Out/2020 – Lua/Sol Libra casa 10, Vênus Virgem, Mercúrio Escorpião, UranoR conjunto Vênus natal - discussão e tentativa de restrição à expressão da sexualidade e relacionamentos não convencionais; maior capacidade de diálogo nacional;

*Lunação Escorpião Nov/2020 – Sol/Lua/Roda da Fortuna em Escorpião indicando eventos inesperados, surpreendentes, trazendo dificuldades para o significador feminino que é Venus no polo oposto em Touro; ajustamentos financeiros;

*Lunação Sagitário Dez/2020 – Sol/Lua/Mercúrio em Sagitário indicando algum interesse das mulheres desafiado por conceitos religiosos, Vênus em Escorpião passando pela Roda da Fortuna faz pensar no tema da maternidade e aborto.

*Noite de Natal – Muita atenção nesta data quando Saturno e Júpiter se encontrarem numa conjunção exata em Aquário, marcando o ingresso definitivo de uma nova mentalidade mais voltada para o coletivo e pautada na colaboração mútua para construirmos patrimônio e conhecimento daqui pra frente. Também indica maior respeito às necessidades humanitárias bem como a incorporação das tecnologias na forma como nos relacionamos uns com os outros.

*Lunação Aquário Fev/2021 – evento financeiro importante deflagrado pelo Stellium nessa região do céu – Saturno/Júpiter/Vênus/Mercúrio/Sol/Lua todos na mesma região. Urano é o regente dessa lunação e estará retomando o movimento direto, porém, na área de sombra, sugerindo o retorno de uma liderança feminina inspiradora capaz de causar uma grande transformação.

Finalizo estas impressões sobre o ano novo astrológico lembrando que estamos todos assistindo uma grande mudança de era, estes são os últimos suspiros de uma forma-pensamento que não tem mais como se sustentar pois a renovação mental de todos é uma realidade que se imporá diante de tudo que estamos vivendo hoje. Estamos experimentando eventos grandiosos que ativarão novos modelos arquetípicos e essa transformação coletiva será protagonizada pela energia feminina restaurada que virá com todo seu esplendor no Equinócio de Outono de 2021. Até lá, cuidem-se bem, cuidem uns dos outros e aguentem firmes!

verbenna terapias


sexta-feira, 13 de março de 2020

Curso TAROT E PSICANÁLISE



E teremos novamente este curso que une o Tarot e a Psicanálise, duas linguagens para decifrar os conteúdos do nosso inconsciente como forma de autoconhecimento e melhor esclarecimento das situações de vida.

A ideia deste curso é usar o tarot como ponto de partida para uma observação de si mesma. Fazer uma a interpretação dos símbolos universais das cartas de tarot associando esse conteúdo simbólico com as ideias e comportamentos mais próximos do nosso tempo, na visão da psicanálise, pra gente aprender a se reconhecer, perceber nossos padrões, repetições e irmos nos aprimorando. 

A visão da psicanálise traz muita assertividade para o momento de vida, faz a gente se situar, por isso é uma combinação muito legal com o tarot. 

Para o curso não precisa ter conhecimento prévio de tarot nem de psicanálise, a liguagem está super acessível e eu disponibilizo um material didático de suporte também. Todo mundo pode fazer! 

Para o curso, vamos nos conectar pela plataforma Zoom, eu envio alguns dias antes um link para você acessar e fazemos esse encontro numa sala virtual com todos os demais inscritos. Nessa plataforma podemos interagir como num encontro presencial, em tempo real. 

Para participar é necessário efetuar a inscrição mediante pagamento, que pode ser por depósito ou transferência bancária.

Uma turma incrível e com muito conteúdo já está se formando, venha participar também. Espero vocês e quem sentir de participar é só me dar um toque por meio de um dos canais abaixo.

Canais de contato:

Whatsapp 11 97038-8490
Email: verbennaterapias@gmail.com
www.facebook.com.br/verbennaterapias
insta: @verbennayin

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Quíron - integrando o sofrimento

verbenna terapias



Está acontecendo no céu um alinhamento muito interessante e especialmente poderoso para quem está focado no seu trabalho interno: Marte entrou em Capricórnio e está em alinhamento com o Nodo Norte, Lilith e Quíron, todos pontos tradicionalmente considerados "cármicos" e que na minha visão são pontos extremamente significativos, marcantes de janelas de tempo únicas na nossa vida.

Marte em Capricórnio indica uma reconexão com a nossa força e voz própria, é um tempo para a gente retomar o controle da nossa vida e nos fortalecermos para aprender a dizer não, para rejeitar coisas que nos façam mal e para nos afastarmos de situações e pessoas que já concluíram seu propósito com a gente. Nesse lugar do céu, Marte pede pra gente se reformular, fazer uma síntese dos nossos aprendizados e colocar em prática o que temos de experiência para progredir. Chega de repetição e autoengano, pra frente é que se anda.

Quando esse Marte se alinha com o Nodo Norte que hoje está em Câncer isso indica que esse processo de reformulação pode funcionar como um novo nascimento, tudo o que não recebemos de amparo e validação ao longo da vida hoje podemos nós mesmas nos dar. Se você não recebeu um cuidado atento antes, hoje você é capaz de se cuidar bem; se não te deram coisas que você precisava antes, hoje você é capaz de ir buscar por conta própria.

É aí que entra a força de Lilith, esse ponto lunar que nos conecta com uma força descomunal, que nunca vimos em nós antes mas que agora podemos descobrí-la. Lilith em Áries nos impele a fazer movimentos pela real independência, seja em atitudes práticas proativas pela sua liberdade, seja pela libertação de dependências mentais e emocionais. É Lilith quem vai mostrar pra você porque você vem se repetindo tanto na vida, caindo naquelas mesmas situações em que se sente presa e incapaz. Depois de entender os mecanismos que te mantém em submissão, você estará livre pra decidir se quer permanecer amarrada nessa trama ou se você está pronta para agir de outras formas, mais comprometida consigo mesma.

E tudo isso junto vai reverberar em Quíron que também está no mesmo ponto de Áries – e aqui acontece toda a poesia celeste deste alinhamento. Quíron é o símbolo do curador ferido, seu mito é o de um centauro muito sábio que foi atingido por uma flecha envenenada e, apesar de toda sua sabedoria, não pode se curar completamente desse ferimento.

Quíron representa aquela parte de nós que deseja se curar, que aprende a fazer os ajustamentos necessários a fim de que a nossa vida possa se corrigir para retomar seu melhor curso, mas isso não vem exatamente com uma “dispensa” do passado, com algum tipo de “esquecimento” das nossas dores.

Nada disso!!

Quíron integra a dor, ele convive com o sofrimento. O mito nos lembra que não vamos apertar um botão e nos livrarmos do que nos feriu mas que, a partir da compreensão maior desses eventos e de como isso nos atingiu, aí então podemos encontrar um SENTIDO para esse sofrimento por meio da ACEITAÇÃO.

Quando aceitamos que fomos sim incompreendidas, fomos rejeitadas, fomos feridas, fomos violadas, fomos vencidas, isso nos dá uma outra dimensão de nós mesmas e é daí que vamos nos reorganizar e nos reconstruir (Saturno em Capricórnio).
Enquanto a gente estava se apoiando numa autoimagem que lançava fora essa perspectiva do sofrimento, negando o que nos aconteceu, a reconstrução não poderia acontecer de forma eficiente. Estaria faltando uma parte nossa e o prédio todo poderia ruir. Só olhando pra nós com empatia e compaixão, dando vazão a Quíron em nós mesmas, é que poderemos acolher e integrar essa parte ferida da nossa psique e nos re-contornar.

Existe uma frase incrível circulando por aí e que me parece ideal para este alinhamento: “Nada é mais forte do que uma mulher que se reconstruiu.” (Hannah Gadsby)

Restaurar sua autoconfiança em si mesma é o propósito desse alinhamento que, vejam só, vai atingir o ápice no dia 27 de Fev, quando a Lua estiver conjunta à Vênus (afetos inconscientes) e o Sol tiver cruzado Mercúrio retrógrado (compreensão consciente), numa dança que espera cada compasso para acontecer em seu propósito.

Digam pra mim: a astrologia não é linda demais?

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

Mulheres que amam demais

Hoje gravei um vídeo falando um pouco mais sobre esse tipo de relacionamento onde a mulher se dedica de forma desmedida ao vínculo por conta do medo constante do abandono.

Nesse formato existe afeto demais e limites de menos, a mulher é muito permissiva e geralmente existe confusão nos papéis exercidos por cada uma das partes desse relacionamento, onde ela se sente esvaziada e sem voz própria.

Confira o vídeo e veja se você se identifica com alguma dessas características.


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Despertar da consciência em Leão



Essa frase de Jung é pra mim uma das mais inspiradoras, e nessas semanas influenciadas pela Lua Cheia em Leão ela faz todo o sentido. Vou contar por quê.

A energia de Leão no conecta com aquilo que idealizamos de nós mesmas, nossa autoimagem, autoestima e a capacidade de percebermos nossas aptidões.

Essa é uma emanação de muita luz, esclarecedora, nos traz claridade, e podemos aproveitar esse fluxo astrológico para nos sintonizarmos com o que temos de melhor procurando expressar isso mais fortemente: criar um visual que nos represente melhor, passando uma imagem mais próxima de quem nós somos; cuidando um pouco mais do corpo e da saúde; fazendo atividades que nos recompensem emocionalmente, melhorando a autoestima, e por aí vai.

Mas onde tem luz, tem sombra, e a sombra de Leão é grande. No seu lado sombrio, a energia de Leão nos aproxima da inveja e da raiva.

Inveja porque podemos não aguentar o tranco de ver alguém se expressando com mais liberdade que nós, de ver que o outro está tão bem resolvido com algo que eu ainda luto tanto e não consigo desenvolver. Pode ser que a beleza do outro me lembre de que eu estou me doando muito e me deixando de lado. O outro pode me incomodar com a sua segurança em conquistar alguém ou com seu talento natural para ser interessante, enquanto eu preciso me esforçar muito para parecer regular. E da inveja podemos passar rapidamente à raiva, que no fundo é raiva da gente mesma não conseguir botar nossa luz pra brilhar, mas que por projeção vamos é apontar no outro por qualquer motivo - que pra gente vai fazer toooooooodo o sentido mas estará longe de ser verdade.

Quando vibramos o aspecto sombrio de Leão, o brilho dos outros nos incomoda porque nos lembra daquilo que temos do lado de dentro e que ainda está encoberto pra nós.

É aí que entra essa frase maravilhosa de Jung. Pra gente não correr o risco de entrar em contato com a nossa luz, fazemos de tudo para não olhar para dentro e não nos depararmos com nossos conteúdos ocultos, obscuros, exilados.

Fazemos de tudo mesmo, "chegando aos limites do absurdo" a ponto de ficarmos doentes e sustentarmos uma doença anos a fio metaforizando no corpo aquilo que não conseguimos admitir. Ou estarmos a ponto de romper uma relação com alguém querido que nos aponte aquilo que precisamos enxergar, pois quem sabe se me afastar dessa pessoa eu não precise elaborar o que ela me mostra e assim me sinto mais segura na minha preciosa zona de conforto...

Meus amores, esta Lua Cheia é uma oportunidade pra gente superar os limites do nosso absurdo particular e iluminar de uma vez por todas a escuridão interna que ainda nos domina.

Que orgulho é esse que não te deixa reconhecer esse lado que você esconde de todo mundo e até de você mesma?

Enquanto a gente não olhar para a nossa escuridão interna, ela vai nos devorar e nos manter presas na inveja e na raiva. Hoje o convite dos astros é pra gente ter a coragem de admitir que temos sim esses pontos escuros dentro de nós, aspectos que não gostamos de ter, mas que podem ser desenvolvidos se a gente olhar pra isso. Aliás, SÓ poderão se desenvolver QUANDO olharmos corajosamente para eles. É disso que se trata o despertar da consciência na frase de Jung.

Nesses próximos dias até a próxima lua nova, aproveite a energia de Leão e tenha a coragem de olhar pra sua escuridão. Deixe sua luz brilhar, pare de se imaginar e SEJA.

ps: Jung era Leonino :-) 

domingo, 2 de fevereiro de 2020

Mães Narcisistas

Hoje o post é para falar sobre uma experiência diferente com a figura materna da nossa criação.

O que acontece quando essa figura não cumpre nossa necessidade de alento, conforto e nutrição?

Acompanhe o vídeo e conheça um pouco mais dessa dinâmica que é mais comum do que se pensa. E se você conhece alguém que viveu uma história parecida, compartilhe esse vídeo com ela também.

Este tema ainda é um tabu e por isso precisamos falar mais sobre isso!


terça-feira, 5 de novembro de 2019

Filme Coringa - análise psicanalítica

verbenna yin

Hoje quero falar um pouco sobre o filme Coringa (2019) nessa versão estrelada por Joaquim Phoenix que encarna o vilão das histórias em quadrinhos de uma foram surpreendentemente humana.

Já nas primeiras cenas do filme o personagem principal, ainda Arthur Fleck, é mostrado como um palhaço profissional que está fazendo sua maquiagem, um rosto com um grande sorriso vermelho estampado. Porém sua atitude não é de alegria, ele está com o olhar mais distante e em certo momento uma lágrima escorre. O palhaço está triste. E já nesta primeira cena entramos em contato com essa dimensão dicotômica na qual todos nós nos identificamos com o personagem, com as ambivalências dos sentimentos. Todos somos capazes de reconhecer essa polaridade que existe dentro da gente, amor e ódio, alegria e tristeza, inveja e gratidão e por isso nos reconhecemos de imediato com o personagem logo no início do filme.

Afinal, quem nunca teve que forçar um sorriso e fingir que estava tudo bem?

Além disso, o personagem está em conflito pois depende de medicamentos psiquiátricos para manter a saúde estável e conta com a ajuda do serviço social para isso, porém é informado que essa ajuda será interrompida e não terá mais acesso aos remédios, antevendo assim os desdobramentos da sua doença mental.

Também no início do filme Arthur Fleck é agredido por um grupo de garotos sem conseguir se defender, mesmo caído no chão os garotos continuam chutando e batendo nele. Isso nos mostra o quanto Arthur é de fato impotente diante da vida que se impõe, ele não consegue se posicionar nem realizar o que de fato deseja fazer.

Em casa, Arthur cuida da mãe idosa e doente mentalmente. A mãe o chama de "Feliz" e ele conta pra ela que está se preparando para fazer um Stand-up Comedy, uma apresentação de humorismo. Tem um sonho de um dia participar de um programa de TV como convidado, onde contaria piadas engraçadas fazendo todos rirem e receberia de volta o abraço com elogios do apresentador.

Com tudo isso a gente percebe o quanto Arthur internalizou o discurso da mãe, que o vê como alguém que precisa levar alegria adiante. Ele incorporou esse desejo dela não só atuando como palhaço profissionalmente mas também desenvolvendo uma risada bem sonora, descontrolada, a qual ele não consegue parar e acaba incomodando os outros com isso. Essa risada é um grande sintoma que metaforiza todo o processo de alheamento de si-mesmo, pois ele não consegue ser outra coisa senão o desejo da mãe. Outro sintoma é sua aparência física, ele é extremamente magro e pálido, sem energia, e passa uma imagem de quem está faminto, desnutrido e não encontra saciedade.

Arthur não teve pai, não se sabe quem seria esse pai e ele viveu uma completa ausência da figura paterna responsável pelo processo de inclusão do indivíduo no mundo simbólico. Percebemos que Arthur tem dificuldades com limites, haja vista sua risada descontrolada, bem como já desenvolveu alucinações sobre um relacionamento afetivo com a sua vizinha. Neste ponto, a foraclusão lacaniana explicaria um tanto a estrutura psíquica desse sujeito no ambiente da psicose, pois a ausência da castração paterna (nome do pai) impede o processo regular de simbolização e o reconhecimento dos desejos internos.

A mãe por sua vez é narcisista e vive com o filho numa dinâmica também narcísica onde o faz acreditar que ele seja aquilo que ela vê e deseja, mas ao mesmo tempo não o confirma. O filho se esforça para agradá-la mas ela não corresponde, inclusive rejeita o esforço que ele faz. Quando ele conta que irá se apresentar no Stand Up ela responde ironicamente que "ele não tem graça", desqualificando seu esforço em agradá-la e gerando nele sofrimento pela falta de acolhimento.

Por outro lado, Arthur realmente não tem muito talento para fazer rir e inclusive precisa pensar e escrever as piadas que pretende contar, demonstrando que existe um conflito entre o que ele é de fato e o que ele acredita ser.

Então esse personagem que vive suas ambivalências, está numa condição vulnerável socialmente, dependente de uma medicação que não será mais fornecida, está também diante de um conflito importante que é o reconhecimento de que seus desejos próprios não tem lugar no mundo onde vive e ele não conseguirá realizá-los.

Quem realiza no mundo é o Ego, é essa a instância que consegue se relacionar com as pessoas e que concentra aquilo que conhecemos sobre nós. Mas para que o ego se estruture adequadamente e possa cumprir suas funções são necessárias algumas condições basilares de desenvolvimento:
- RECONHECIMENTO
- VALORIZAÇÃO
- PERTENCIMENTO.

O reconhecimento vem da figura materna, que ao atender os desejos primitivos do bebê confirma sua existência e valida suas necessidades, fazendo surgir um canal de circulação positiva da libido. Em seguida, a valorização do indivíduo vem da figura paterna, que no processo de castração e imposição de limites faz com que o sujeito perceba suas próprias capacidades e consiga se sustentar sozinho, levando-o a um passo adiante na circulação libidinal que é o querer-realizar. Já o pertencimento é o ambiente de acolhimento e segurança onde nos sentimos parte de algo maior, aprendemos a fazer ajustamentos nos nossos impulsos para seguirmos conectados ao grupo ao qual nos identificamos e  isso reforça as características próprias que reconhecemos em nós.

Para Arthur faltaram esse 3 aspectos, a mãe não o reconhecia como indivíduo desejante, ele não desenvolveu um senso de valorização pois a figura paterna foi ausente e ainda não possuía núcleos afetivos que conferissem a sensação de pertencimento. O Ego dele não deu conta.

E com todo esse contexto, Arthur recebe "de presente" uma arma, esse objeto fálico que irá transformar sua vida para sempre. Ele de alguma forma reconhece o poder contido nesse objeto, de uma forma totalmente inadequada o leva para uma apresentação cômica num hospital infantil, demonstrando que se vinculou ao objeto e construiu um certo significante a partir dele.

A partir daí, Arthur passa a ter reações mais agressivas. Mata com a arma os rapazes do trem que o estavam assediando e em seguida performa uma dança solitária e muito envolvente consigo mesmo no espelho de um banheiro público, num retorno talvez ao estádio do espelho onde possa reaprender a se ver e a se reconhecer e assim, finalmente, conseguir lidar com sua própria esfera desejante.

Em seguida Arthur mata sua mãe por sufocamento e nesse ato confessa que sua vida "era uma grande comédia". O sufocamento da mãe aparece como contraponto à sua necessidade de afirmação, pela palavra, daquilo que é o seu real e aqui o indivíduo passa para um autorreconhecimento muito importante que irá conduzir a narrativa daí pra frente já de uma maneira muito mais apropriada de si mesmo - ainda que as escolhas do personagem recaiam na agressividade e violência.

As mortes também evidenciam como Arthur Fleck não consegue simbolizar, as vozes que o incomodam agora precisam ser caladas literalmente e ele age no mundo real matando de verdade e assim confirmando sua existência.

Ele diz: "Durante toda a minha vida eu nem sabia se eu realmente existia. Mas eu existo, sim."

Por último Arthur se transforma em Coringa, se apoderando de uma imagem visual própria e que evoca a figura do Joker do carteado. Ele surge numa escadaria e dança novamente, uma dança mais segura e firma, uma performance. O Coringa está diante da oportunidade que tanto queria sendo convidado a participar do programa de televisão. Porém, ao ser entrevistado, o Coringa percebe que a intenção do apresentador não é exatamente mostrá-lo como um comediante mas sim como a própria piada, numa exploração do seu sofrimento pessoal. Ele fica bastante afetado emocionalmente e reage matando o apresentador em rede nacional, usando a arma (objeto fálico) para fazer cessar aquela situação de incompreensão e exploração da sua dor.

Dali em diante o Coringa passa a ser um símbolo social e a cidade vive um momento de revolta coletiva, com pessoas fantasiadas também de Coringa e desafiando a ordem e a autoridade, numa correspondência entre o individual e o coletivo e sugerindo, tal qual Jung, que o processo de um único indivíduo tem o condão de afetar também a sua coletividade. O tempo todo o filme mostra analogias entre o que se passa individualmente com Arthur Fleck e a cidade, o ambiente tóxico, a fumaça constante de cigarro, o lixo acumulado pelas ruas, a poluição e as cores cinzas da cidade. Da mesma forma, quando Arthur se transforma em Coringa e retoma pela arma sua narrativa própria, estoura uma revolta social na cidade que agride as figuras de autoridade (policiais e prefeito). Símbolos que vão registrando a chegada de uma nova ordem, uma reorganização do sujeito e, por consequência, o caos efervescente do seu meio.

E neste turning point da trajetória de Arthur em Coringa me parece muito oportuna a frase de Nietzche, quando propõe a ideia do Übermensch, o Super-Homem ou o Além-do-Homem como criatura capaz de fazer a organização estabelecida voltar a um ponto zero para ser reiniciada.

Ele me parece esse além-do-homem justamente porque ao reclamar sua existência e retomar o seu poder, o Coringa não se fixa a nenhuma das estruturas psíquicas freudianas: ele poderia ser perverso mas deseja e demonstra afeto, até poupou o anão e o deixou sair; ele poderia ser psicótico e realmente alucina um relacionamento com a vizinha, mas ele retorna dessa fantasia e faz isso sem uso de medicação; ele tem no corpo uma conversão histérica da risada como manifestação do desejo da mãe mas já não tem mais o desejo de se ajustar neuroticamente.

O que é o Coringa, afinal?

"É preciso ter o caos dentro de si para fazer surgir uma estrela dançante." O Coringa dançou ao se reconhecer no espelho, num gesto de espontaneidade de quem finalmente abriu caminho para a própria libido se expressar com liberdade de movimentos. Ele voltou ao ponto de partida e vai reescrever a estória.

O Coringa encarna em sua trajetória individual os requisitos que o tornam esse Além-do-homem, à sua maneira mais agressiva e violenta, mas que num universo dual, de polaridades e ambivalências, o torna o precursor do real Super-Herói (Batman) que irá surgir num segundo momento como resultado de sua ação numa tentativa de restabelecimento do equilíbrio da ordem em novas bases.

E pra finalizar, deixo aqui o vídeo do Youtube onde falei sobre o filme numa analogia bem interessante com o TAROT, onde a gente encontra esses conceitos já formulados e simbolizados graficamente. Ative as legendas :-)









sábado, 22 de junho de 2019

Solstício de Inverno

verbenna yin


Solstício de Inverno, a época do ano onde as longas noites atingem seu ápice e vivemos a noite mais escura do ano. Nesta distância do Sol recebemos menos insolação e menos energia externa, tendemos ao distanciamento para usarmos melhor a energia própria e podermos nutrir a nós mesmos. A atitude aqui é mais introspectiva e vai direcionando a nossa energia para o aspecto mental.

Este é um tempo de intensa atividade interna, em que os pensamentos se reorganizam e temos mais clareza das ideias que estão pelo ar.

Nesta época do ano, os povos antigos acendiam suas velas e fogueiras para resistirem melhor à frieza do isolamento, pois a chama do fogo nos mantém inspirados na fé de que o Sol um dia retornará em todo o seu brilho e força.

E assim como acontece na natureza, acontece também na nossa consciência, precisamos de sonhos e ideias que nos alimentem, como se fôssemos uma vez mais bebês embalados pela mãe e ganhando segurança para podermos fazer nossas novas descobertas.

Essa é também a mensagem do mapa astrológico do momento do Solstício. O Sol está posicionado na Casa 9 que tem como tema a Justiça, o estrangeiro e expansão dos limites. O regente do ascendente é Vênus, que está em Gêmeos e cravada na cúspide da mesma Casa 9, indicando que as mulheres (uma mulher?) terão um papel muito importante na propagação de ideias que podem correr o mundo e influenciar a noção de Justiça para todos.

A Lua, como regente do signo de Câncer que inaugura esta estação, está em Aquário, reforçando o caráter do elemento ar nestes tempos que vem para espalhar ideias como se fossem sementes e valendo-se da tecnologia das grandes redes que permitem que a comunicação se estabeleça com grande alcance. Aquário também se relaciona com os ideais de Democracia, enaltecendo a participação ativa do homem na condução do seu destino coletivo.

Estes são tempos para sonhar de novo, meus amores. Muitas pessoas sonhando juntas podem formar um campo mental favorável para plasmar novas realidades. Nestes meses de inverno, vamos focar em aprimorar ideias, lapidar pensamentos, desenvolver planos e estratégias para retomar a ação concreta na próxima estação que trará de volta o elemento fogo.

A semente embaixo da terra parece quietinha, mas dentro dela já estão vibrando todas as folhas verdes que dela vão brotar, todos os troncos que lhe crescerão e toda sua copa alta que veremos no futuro. Tudo já está lá pulsando na semente, esperando o tempo certo de brotar de novo.

Cuidem de suas sementes, alimentem seus sonhos e mantenham viva a esperança. A vida perdura.

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Relacionamento é música

verbenna yin


Hoje estou aqui refletindo sobre receber o que o outro pode nos dar em dado momento.

Este é um bom desafio no contexto dos relacionamentos afetivos e vez ou outra chegamos nesse tema aqui no consultório. Todos temos nossas expectativas e desejos a serem atendidos num relacionamento, foi pra isso que a gente se dispôs a ficar junto com alguém e esperamos que essa parte nos seja contemplada.

Mas conforme o relacionamento se desenvolve, vamos nos dando conta de que pode haver um descompasso entre dar e receber. Podemos nos sentir num desses momentos em que nos percebemos recebendo menos do que a gente gostaria: recebendo menos carinho, menos elogios, menos apoio, menos reconhecimento, menos tempo...

Descompasso é coisa de música e eu acho que é uma analogia bem interessante aqui. Se o relacionamento afetivo fosse uma canção, cada parte teria sua melodia e seu ritmo próprio que, combinados, resultariam numa música. Mas em alguns momentos podemos perder a atenção e o ritmo, enquanto um se atrasa o outro pode estar adiantando o compasso. Se isso acontece, é evidente o descompasso já que a música vai ficando fora de ritmo e desarmônica.

Quando a gente idealiza receber afeto de volta, essa situação pretendida não tem data certa pra acontecer. Ela pode acontecer hoje, agora, ou pode ser que o nível desejado de troca afetiva só aconteça mesmo após um período de construção e com um certo investimento de esforço.

E durante esse período de construção pode ser que a gente perca o ritmo inicial, esteja desatento e não consiga acompanhar o compasso.

Quando eu tocava em orquestra a gente tinha uma regra que era não deixar a música parar; o que quer que acontecesse, a gente tinha que retomar a linha melódica e dar continuidade. Nas vezes que eu me perdia (eu tocava órgão que a gente usa as duas mãos e os dois pés), ia tocando só com uma mão e parava todo o resto, até que quando chegava o próximo compasso eu reiniciava com todos os movimentos de novo.

Era menos do que eu sabia ser capaz mas naquele momento era o que eu podia fazer, e o grupo era sempre generoso mantendo a música em seu andamento até eu retomar.

E nessa correspondência entre músicas e afetos, eu penso que da mesma forma que se houver canção há como retomar o compasso da música, também nas relações, se houver afeto, pode ser que valha a pena esperar o tempo de um reencontro onde o dar e receber flua novamente nas duas direções.

Afinal a vida imita a arte, não é mesmo?

E para quem perdeu sua música, gosto de pensar que sempre existem novas combinações sonoras que resultam em novas canções. Neste universo tudo tem sua melodia, de pássaros a estrelas


PS: Essa imagem linda é do artista indiano Ram Onkar que é autodidata e tem uma coletânea de pinturas inspiradoras de casais e músicos.



segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

A solidão da mulher produtiva

verbenna yin


Eu geralmente atendo mulheres que estão numa fase muito produtiva das suas vidas, mas que em algum momento se dão conta de que essa produtividade não lhes pertence.

Recentemente numa consulta uma paciente trouxe esse aspecto na vida dela. Acho que em maior o menor grau todas nós mulheres vivemos um pouco dessa situação que ela trouxe nesse encontro.

Era uma mulher independente e empreendedora, já tinha vivido dois casamentos, estava justamente saindo dessa última relação e se sentindo muito sozinha após a separação. Sua inquietação veio primeiro dessa forma: estava incomodada por se sentir sozinha.

Fomos observando esse lugar da “mulher sozinha” e acabamos constatando que ela não estava sozinha de fato, havia uma família, filhos, amigos e outras pessoas que continuavam a convivência com ela normalmente. Por que se sentia sozinha então?

Tentamos observar a questão do apoio mútuo que existe num casamento. Não havia mais apoio na relação que ela vivia, o marido demandava dela um suporte constante no sentido de presença, de afeto, de provisões materiais e até de comida. Não havia um movimento recíproco da parte dele em relação à ela, os planos e sonhos dela eram sempre muito “grandiosos” e ela “sonhava alto demais”, tudo que ela propunha fazer “daria muito trabalho” e ele se esquivava de fazer esse papel do apoio. Mesmo assim ela agia no sentido de realizar seus próprios projetos de vida, mas aprendeu a agir sem contar com a participação dele.

Com o tempo, ela deixou de compartilhar com ele o seu entusiasmo diante das possibilidades pro futuro, aprendeu que era melhor assim pra ele não contaminar os seus projetos. Aprendeu a viajar com as amigas de quando em vez para poder se inspirar e por várias vezes deixou de comemorar os seus sucessos profissionais para não ofender esse marido que estava cada vez mais desmotivado e dependente dela.

Veio a crise, entre eles havia um incômodo no fato dessa mulher ter dado um jeito de se manter produtiva e de desfrutar daquilo que a sua produtividade permitia.

Até aquele momento da vida a dois, toda a produção dessa mulher havia sido destinada às necessidades do casal, o seu tempo, seu esforço e seu dinheiro tinham como destino suprir as demandas quotidianas da casa e dos filhos ainda pequenos. Mas agora essa mulher estava diferente e sua nova atitude que, além de suprir as demandas da família também dava conta dos seus próprios desejos, era vista, pelo marido, como uma afronta ao seu delicado momento pessoal.

E então aconteceu na consulta aquele momento em que a gente percebe uma verdade que sempre esteve lá: ela já estava sozinha fazia tempo.

O quanto essa noção de “estar sozinha” para nós mulheres é definida pelo destino do nosso esforço?

Será que estamos nos sentindo acompanhadas apenas quando nos dedicamos a atender uma situação onde um homem está envolvido?

O quanto de machismo constrói esse pensamento e quem se beneficia dele?

Houve recentemente um caso de duas turistas argentinas que foram atacadas durante uma viagem ao Equador e a imprensa noticiou o fato chamando a atenção para o fato de que elas “viajavam sozinhas”, culpabilizando tacitamente as mulheres pelo ataque que sofreram. Quando duas mulheres, que estão juntas e portanto fazendo companhia uma à outra, são consideradas “sozinhas”, quem é que está faltando?

E daí fomos explorando nas sessões seguintes essas correlações entre a companhia do homem no espaço público para definir quem é uma mulher “de respeito”, até chegar nesse modelo de vida onde as mulheres mantém relacionamentos em que não são atendidas na intenção de evitarem o lugar da “mulher sozinha”, ainda que estejam de fato sozinhas na relação e se esforçando demais por conta disso.

Para essa mulher foi bem importante assumir que estava de fato sozinha, mas que não era uma pessoa necessariamente solitária, tinha amigos e família que continuavam a acompanhá-la. E essa constatação funcionou como uma autorização para agora pudesse gozar livremente do seu tempo e da sua produtividade como bem lhe conviesse. Que o medo de ser uma “mulher sozinha” a mantinha numa roda viva, destinando toda sua produtividade num estilo de vida que a consumia totalmente e que sequer supria sua demanda individual pela companhia e apoio que idealizava no casamento.

E eu estou pensando nisso até agora, o quanto queremos acreditar nessa programação cultural que afirma que nossa produtividade no mundo só tem valor quando é destinada ao projeto família onde a mulher se realizaria como esposa e mãe. Será mesmo?

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Marte e Vênus na Psique

verbennayin


Neste final de semana participei de um ciclo de palestrar e me perguntaram sobre os aspectos astrológicos que unem as pessoas, que fazem a gente se apaixonar. Sem dúvida são as oposições, porque elas acontecem no eixo polar incitando o desejo pela complementariedade.

A gente pode até ter muita afinidade com quem tem aspectos repetidos aos nossos, sentimos que a pessoa "tem a ver" conosco, compartilha gostos, ideias, visões de mundo, e é muito legalzinho estar com ela e tals.

Mas se apaixonar mesmo, sentir aquele arrepio ao se aproximar, se perceber tomado pelo outro e querer inexplicavelmente estar perto, isso só acontece pela energia oposta e complementar. É essa energia da complementariedade que nos mobiliza na direção da conexão, que na verdade mesmo simboliza a fusão de inconscientes que juntos tem uma grande sinergia e potencial de realização.

Jung fala o tempo todo sobre essa noção da oposição de energias como força autorreguladora das experiências humanas, e chega a afirmar uma correspondência entre a necessidade que temos de transcender, atraindo as pessoas que possuem a complementariedade que buscamos, com os posicionamentos astrológicos de Marte e Vênus (pois é, ele manjava dos paranauês celestes todos).

Marte e Vênus também se cruzam aqui na Terra, simbolicamente a Terra é o ponto médio entre os dois planetas e onde resultaria o equilíbrio das forças masculina e feminina. É em nós que se materializa essa lei universal do equilíbrio mediante a compensação das forças, e isso também acontece nesse nível do sutil em que opera a psique.

Os posicionamentos de Marte e de Vênus no mapa individual são as características que conduzem ao casamento alquímico interno, a união simbólica da Anima com o Animus. Essa fusão nos leva ao cenário interno mais profundo e ao contato com nosso SELF, nosso ser eterno que repousa pacientemente esperando ser encontrado pela consciência.

É essa nossa eterna busca, por nós mesmos.

Mas como abrir esse caminho? Trabalhando a polaridade oposta nos nossos relacionamentos. Nos aproximamos dos outros porque vemos neles nossas próprias qualidades projetadas, e nos apaixonamos pelo outro porque identificamos nele, inconscientemente, a complementariedade que nos falta alcançar pois sozinhos não conseguimos sustentar aquela energia, só temos um polo dela.

Por exemplo, se você tem Vênus em Áries, sua complementariedade está em Libra - signos que formam um único eixo e juntos conseguem contemplar integralmente uma área de vida. Vênus em Áries vai ser atraída por Marte em Libra, e vice versa.

Na jornada em direção ao nosso SELF, a psique é capaz de antecipar quem tem em si a energia complementar que vai formar a sinergia necessária à nossa jornada, e aí o inconsciente vai criando e atraindo situações para que esse encontro de forças possa ter lugar, abrindo o caminho para que o nosso melhor venha à tona e possamos nos sentir integrados, pertencentes e completos.

Nesta lunação este tema estará especialmente ativado, dando oportunidade para experimentações bem interessantes na área dos relacionamentos. Aproveite que Marte entrou em movimento direto e Vênus estará receptiva até 06/10.

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Mães Narcisistas



Esta semana dei uma entrevista ao Jornal Estadão, à jornalista Rita Lisauskas, pra falar sobre este tema que, apesar de ser recorrente na história pessoal de muitas mulheres, não recebe o apoio nem a empatia por parte do senso comum pois ainda estamos muito arraigados ao ideal da "mãe carinhosa" que se "sacrifica" pela sua família.

Porém, o Transtorno de Personalidade Narcisista é uma patologia real, reconhecida pela comunidade médica e tem código no DSM, a lista das doenças conhecidas. Ou seja, é uma quadro de anormalidade. E que pode acometer mulheres, determinando a constituição da sua personalidade e se manifestando na qualidade da sua maternagem no futuro.

Nesse quadro, a relação mãe e filha fica comprometida por uma atitude constantemente perversa dessa mãe. A mãe age com hostilidade, falta de acolhimento e cuidados enquanto a filha quer pertencer e tenta agradar o apetite insaciável dessa mãe insatisfeita, o que compromete sua auto estima e capacidade de realização no mundo. Geralmente nesses casos o afastamento é necessário para que a filha possa se recompor e entender suas opções possíveis no relacionamento com a sua mãe dali pra frente.

Mas existe algo aí nessa nomeação do problema que sempre me incomodou, que é o fato dele se fixar no aspecto da hostilidade entre mulheres.

Para a filha, que teve sua personalidade moldada nesse ambiente de hostilidade frequente, será muito difícil confiar em outras relações e contextos, o que promove nela uma sensação de que deve se defender o tempo todo e gera muita ansiedade. E como essa noção é inconsciente, a possibilidade de se gerar uma sombra que atraia justamente pessoas que não merecem confiança é grande, reforçando a sensação de hostilidade do mundo e de incompreensão recorrente.

Já a mãe, que é a parte perversa da história, essa geralmente age com agressividade e pode representar um risco real para a filha criando situações que causam danos de verdade para ela. Para a mãe narcisista resta o julgamento por ter agido de forma tão contrária ao que se espera de uma figura materna. Ela mesma não se dá conta disso e vê na filha a "ingrata" que não percebe o quanto ela quer "ajudar", e para si vai justificando a hostilidade que mantém na relação.

Porém, olhar para a questão já estabelecida esconde o fato de que essa condição é o resultado negativo de um evento forte que aconteceu na vida dessa mãe, não teve o tratamento adequado e acabou por comprometer a saúde psíquica dela. E geralmente tem a ver com histórico de estupro e aborto da mãe que se manifesta durante um puerpério terrível dessa filha.

Nenhuma mãe quer conscientemente destruir a autoestima de uma filha, isso acontece como consequência numa dinâmica que vai se estabelecendo porque ninguém nunca olhou para essa mãe e ela não teve a chance de ser cuidada como precisava. E a filha, por sua vez, se não tiver a oportunidade de cuidar desse trauma, quando ela for mãe pode repetir esse mesmo padrão na sua maternagem - o que vem sendo interpretado como sendo uma predisposição genética.

Pra mim, essa é também uma predisposição da sociedade que não apoia de fato a maternidade.

Se enquanto sociedade a gente realmente apoiasse a maternidade, entendesse que a mãe precisa de cuidados específicos nessa fase da maternagem, incluindo afastamento do trabalho e apoio emocional pra lidar com suas questões, e que isso não é frescura nem privilégio, daríamos um passo bem importante garantindo a saúde mental de quem cuida da formação de toda uma geração de pessoas.

Quando a gente não apoia a maternidade, abre caminho para o adoecimento das mães e para o estabelecimento de quadros psíquicos negativos nos filhos. Em larga escala, uma população inteira com desenvolvimento psíquico impactado.

O transtorno da Mãe Narcisista existe e precisa ser cuidado, mas a gente precisa enxergar além do problema já estabelecido entre mãe e filha e contextualizar essa conversa para não cair no conhecido lugar de culpabilização da mulher e silenciamento do real problema, que é essa dinâmica social que atropela mulheres na maternidade e da qual elas nunca escapam ilesas.

Às vezes para essa filha a solução para interromper os danos causados pela mãe que sofre desse transtorno é o afastamento, pois há risco real para essa filha. Mas para quem é filha, só o afastamento não resolve, ela quer entender o que houve e quer ser legitimada em sua dor. Para isso, o caminho da terapia pode ser extremamente positivo, ajudando-a a compreender as razões que estabeleceram esse quadro e dando maior sentido às histórias para que tudo se acomode internamente da forma possível.

Vou transcrever abaixo a entrevista, mas se você quiser ler diretamente na matéria o link está aqui:

https://emais.estadao.com.br/blogs/ser-mae/a-mae-narcisista-e-habilidosa-em-se-fazer-de-vitima-e-de-dizer-que-a-filha-e-ingrata-explica-psicanalista/

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‘A mãe narcisista é habilidosa em se fazer de vítima e dizer que a filha é ingrata’, explica psicanalista

POR RITA LISAUSKAS
05/09/2018, 11h22

A psicanalista Verbenna Yin, 41, lembra que quando era pequena nunca conseguia agradar a mãe, pelo contrário. Nada do que ela fazia parecia bom o suficiente. As notas sempre altas na escola e até os bons textos que escrevia, que eram elogiados pela professora, eram depreciados pela mãe, que também não poupava críticas à aparência da filha, ainda uma menina. “Ela vivia me dizendo que eu era feia, muito feia”, lembra.

Já os dois irmãos de Verbenna recebiam um tratamento diferenciado, porém não menos tóxico: o menino, filho do meio, era o protegido, “sempre elogiado”, enquanto a outra irmã, a caçula, era tratada como “incapaz”. A hoje psicanalista conta que passou a infância e a adolescência tentando conquistar a admiração e o carinho dessa mãe, sem sucesso. Quando tinha 18 anos, o choque: a mulher que ela se esforçava tanto para impressionar tentou matá-la. “E não foi durante uma discussão ou tentando se defender de uma ameaça. Foi uma agressão gratuita, quando eu estava quase dormindo”, conta. A jovem saiu de casa e se afastou da mãe, por questão de segurança.

Anos depois, já formada em psicanálise, mãe de dois meninos e ainda longe da mulher que a colocou no mundo, Verbenna conta que mães como a dela, que destroem a autoestima dos filhos e transformam a infância e vida adulta deles em um inferno são mais comuns do que se possa imaginar. “São as mães narcisistas”, explica, agora como psicanalista. “O transtorno de mãe narcisista é um quadro real onde a relação mãe e filha fica comprometida por uma atitude constantemente perversa dessa mãe, que age com hostilidade, falta de acolhimento e cuidados enquanto a filha quer pertencer e tenta agradar o apetite insaciável da mãe insatisfeita, o que compromete sua autoestima e capacidade de realização no mundo”. Perceber que se é filha de uma mãe narcisista pode doer, conta, agora como filha . “A gente espera ser acolhida e é difícil romper com esse ideal de que a mãe sempre quer o seu melhor. Nem sempre ela quer”, afirma.


Blog: Como é a relação dessa mãe narcisista com seus filhos?

Verbenna: É uma dinâmica permanente que se estabelece geralmente com uma filha, que é o ‘bode expiatório’, enquanto os outros filhos, quando existem, ocupam outros lugares: tem o ‘filho dourado’, que recebe todos os atributos positivos, e o filho ‘protegido’, incapacitado por essa mãe e atingido em sua autoestima. É uma dinâmica inteira que não atinge apenas um dos filhos. Mas a existência desse ‘bode expiatório’ entre eles é que é muito cruel. Geralmente é a filha mulher que recebe toda a projeção negativa dessa mãe.

Blog: Sempre é com a filha mulher?

Verbenna: Geralmente. Mas quando há dois filhos meninos ou quando há um filho só também se estabelece uma relação doentia com essa mãe que tem uma personalidade narcisista. É mais comum a gente encontrar filhas de mães narcisistas.

Blog: E como é essa personalidade narcisista?

Verbenna: É muito voltada para si mesmo, porque é disso que o narcisismo trata. É uma incapacidade de conexão real com o outro. A pessoa só consegue se relacionar com o mundo a partir do que ela reconhece dela mesma nesse lugar externo. Com relação à maternidade, fica muito difícil o exercício de empatia dessa mãe, que não consegue ser tão sensível assim às necessidades dessa criança, podendo ser negligente ou exigir coisas que ela não tem condição de atender.

Blog: E essa dinâmica começa sempre quando a filha ou o filho ainda é bebê?

Verbenna: Os transtornos de personalidade se estabelecem aí, nesse momento, no primeiro ano de vida. A qualidade da relação entre essa mãe e essa filha é determinante para se estabelecer esse problema. A gente só olha para fenômeno já acontecido, registrado, fechado. Mas essa mãe, que é narcisista de fato, também foi um bebê, então sua personalidade narcisista se desenvolveu também quando era bebê. Essa questão nunca é isolada, ela é acompanhada também de outros quadros, então essa mãe pode ser esquizofrênica, sociopata, psicopata. Só que ela não nasceu assim, isso se estabeleceu quando era criança e se a gente vai pesquisar encontra uma avó com traços muito parecidos e que reporta histórias extremas de violência, abuso e outras coisas piores. Olhar para a questão já estabelecida esconde o fato de que essa condição é o resultado negativo de um evento forte que aconteceu na vida dessa mãe, que não teve o tratamento adequado e que acabou comprometendo sua saúde psíquica.

Blog: E quando começam os conflitos?

Verbenna: Quando as crianças ganham mais autonomia e começam a fazer suas próprias escolhas, a “desagradar” muito essa mulher, porque não “refletem” mais essa mãe, que não aprova, desqualifica e gera um abalo na autoestima dessa criança. E isso é recorrente, não é um quadro temporário. A autoestima desse filho vai ser testada durante toda a convivência dele com a mãe. Para a filha, que tem sua personalidade moldada nesse ambiente de hostilidade frequente, será muito difícil confiar em outras relações e contextos, o que promove nela uma sensação de que deve se defender o tempo todo, o que gera muita ansiedade.

Blog: E tem como alguém de fora intervir nesse processo?

Verbenna: Geralmente isso só é conscientizado pela filha na idade adulta, a família não compreende o que está acontecendo. Além disso, a mãe narcisista é muito habilidosa em se fazer de vítima e de incompreendida, de dizer que ‘a filha é ingrata’, então muitas vezes a família apoia essa mãe. Até se dar conta dessa dinâmica nociva.

Blog: Como a mãe narcisista age?

Verbenna: É muito mais grave do que as pessoas imaginam. Ela expõe a filha a situações de risco real: esquece em algum lugar, não busca, vai a ambientes de risco com aquela criança, exige muito da filha e quando ela corresponde ao que for exigido não dá o devido valor pelo seu esforço, ou destrói algo importante para essa menina. A mãe, que é a parte perversa da história, geralmente age com agressividade e pode representar um perigo para a filha, criando situações que causam danos de verdade para ela. Então essa criança fica numa condição muito difícil e constrói sua identidade nesse lugar de extrema vulnerabilidade. E quando ela cresce, já adulta, uma rivalidade se apresenta, que pode culminar com ameaças reais à integridade da filha.

Blog: Como foi a sua infância e adolescência?

Verbenna: Desde pequena minha mãe tinha uma fixação com a minha aparência, dizia que eu era uma criança feia, muito feia e que eu precisava estudar muito porque, no mundo, as mulheres conseguiam as coisas pela ou pela beleza ou pela sabedoria. Eu recebia pouquíssimo apoio com as coisas que eram minhas habilidades e ao mesmo tempo havia uma tentativa de diminuir tudo o que eu fazia. Eu era uma criança muito artística e ela não deixava que isso se desenvolvesse em mim. Eu adorava aulas de dança, mas ela me proibia de fazer. Desde pequena eu amava escrever, então escrevi um livro que minha escola, lindamente, decidiu publicar. Mas ela não deixou. E as coisas foram progredindo: eu não pude estudar no colégio em que eu tinha passado no ‘vestibulinho’, ela me trancava dentro de casa para eu não poder fazer minhas atividades. Era uma agressividade voltada para um filho só, naquela dinâmica do “bode expiatório”.

Blog: E seus irmãos, como ela tratava?

Verbenna: Seguia bem o roteiro. Tinha um que era confirmado em tudo, recebia todo o apoio e dedicação possível e a minha irmã, a terceira filha, criada nesse aspecto da incapacidade. Ela era muito querida, amada, “mas não era tão capaz assim”. E os filhos acabaram criando sua identidade a partir desses lugares.

Blog: O que você pensava? Que sua mãe não te amava?

Verbenna: Eu achava isso, mas também que era uma pessoa injusta, pela diferença de tratamento entre nós. Eu tentava sempre argumentar, o que a irritava demais. Ela era muito agressiva e me batia muito. Foi aí que eu percebi que esse convívio mãe e filha, tão comum para as outras pessoas, não era possível para mim. Eu me sentia culpada e tentava compensar isso de várias formas, tentando ser uma ótima aluna na escola, fazendo coisas que eu achava que ela poderia gostar dentro das coisas que valorizava. Mas todo o melhor que a gente tenta dar para essa mãe nunca é suficiente.

Blog: Qual foi a gota d´água entre vocês?

Verbenna: Eu percebia que havia algo muito errado na nossa relação desde sempre, algo fora do natural. Mas quando eu tinha 18 anos ela tentou me matar com uma faca e não durante uma discussão, em uma tentativa de defesa a uma ameaça. Foi uma agressão gratuita, quando eu estava deitada, quase dormindo. Daí eu decidi me afastar por questão de segurança. Quando meu filho nasceu ela foi à Justiça questionar minha capacidade de ser mãe, pedindo a guarda do meu filho. Foi aí que eu solicitei, em meio ao processo judicial, que fosse feita uma avaliação psicológica dela. Segundo o laudo, minha mãe sofre de esquizofrenia paranoide há muitos anos. E o narcisismo é um traço dentro desse contexto maior. Mais tarde, quando eu fui me formar em psicanálise e depois atendendo a algumas pessoas, filhas de mães narcisistas, percebi que a gente fica nesse lugar de menina machucada e não percebe que esse narcisismo pode fazer parte de algo maior.

Blog: Sua mãe se tratou depois do diagnóstico?

Verbenna: Não, e ela não aceita esse diagnóstico até hoje. Por isso eu tomo alguns cuidados. Ela não sabe onde eu moro, por exemplo, porque tem rompantes, então eu a deixo afastada. Mas há um ano mais ou menos eu a procurei e não fui bem recebida, para mim era importante esse convívio com ela, minha única figura parental. Mas não fui bem recebida não.

Blog: E como é a relação com seus filhos? Como foi se tornar mãe tendo essa bagagem?

Verbenna: Foi um renascimento, eu sabia que eu queria uma experiência de maternidade diferente, tinha certeza de que não podia reproduzir aquilo, então eu me dediquei completamente à função materna para que ela fosse positiva.

Blog: Você sente algum impulso de fazer com que seus filhos algumas das coisas que sua mãe fez com você?

Verbenna: Eu sinto que esse impulso psíquico do narcisismo me atravessa em alguns momentos, mas um dos efeitos positivos da terapia é me permitir estar consciente para sentir ele se aproximar, sem me entregar. Eu acredito que exista um padrão de rejeição em filhas de mães narcisistas, como eu, uma falta de conexão com os outros, e eu senti isso na minha maternagem, principalmente quando os meus filhos ficaram um pouquinho maiores. Eu estava com eles, mas não estava totalmente presente, não conseguia me sentir integrada. Foi isso que me fez olhar para além da minha própria história, ver que esse foi um referencial de comportamento, algo que me constituiu, mas que eu podia tratar. Existem ferramentas eficientes para rever isso, para que a gente faça reparações conscientes da nossa maternagem.

Blog: Você já sabe o que aconteceu na infância da sua mãe?

Verbenna: Sim, hoje eu sei. Conversamos e descobri que ela teve um trauma muito importante no início da vida, algo que não foi nomeado e nem tratado. Ela acabou se abrindo e me contou algo que ninguém da família sabe até hoje. Sem dúvida, o fato dela ter dividido isso comigo mudou nossa relação, porque agora eu sinto empatia por ela. Perceber que essa maldade da qual ela foi vítima foi resultado de algo que ela não pôde impedir iguala o meu lugar ao dela. Eu também fui vítima de algo que eu não pude impedir. Nenhuma mãe quer conscientemente destruir a autoestima de uma filha, isso acontece como consequência de uma dinâmica que vai se estabelecendo porque ninguém nunca olhou para essa mãe, ela não teve a chance de ser cuidada como precisava.

Blog: Você perdoou sua mãe?

Verbenna: Eu perdoei, claro, e só porque eu perdoei consigo atender mulheres que passaram pelo mesmo que eu. Mas a convivência com ela me colocaria num lugar de receber, de novo, intolerância, críticas, desqualificação do meu esforço. O meu perdão não faz com que ela mude de comportamento e, por isso, para me preservar, eu prefiro não conviver com ela.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O Mundo

verbenna yinE chegamos finalmente à ultima carta da sequência dos arcanos maiores do Tarot com o arcano do Mundo, também denominado de “O Universo”.

Neste arcano encontramos uma figura humana constituída por duas mentes, uma feminina e outra masculina, com um único corpo. O lado masculino à direita segura um bastão no alto, o lado feminino à esquerda segura um bastão e aponta para baixo.

Circunda essa figura uma imensa serpente que está engolindo seu próprio rabo, criando um limite diante dos objetos que estão na área externa e que se relacionam aos quatro elementos alquímicos: terra, água, fogo e ar.

A figura metade homem e metade mulher se relaciona claramente com a ideia do andrógino primordial e a Sizígia, referências propostas por Jung para compreender a reconciliação entre os opostos Anima e Animus na psique humana.

Anima é Animus são contrapartes da estrutura sexual predominante, sendo a Anima feminina e o Animus masculino. Uma pessoa do gênero feminino, uma mulher, tem em si uma contraparte masculina – o Animus, e da mesma forma, uma pessoa do gênero masculino tem si a contraparte feminina – a Anima.

Uma mulher não possui a Anima como contraparte pois ela mesma é a manifestação da natureza em sua forma e potência femininas, portanto, a mulher é inteiramente uma Anima. E da mesma forma ocorre com o homem, ambos são uma manifestação direcionada da natureza em si mesmos, mas possuem o potencial da parte contrária correspondente ao gênero oposto.

Para Jung, existe uma busca humana essencial por encontrar o aspecto da contraparte psíquica que inicialmente se estabelece no mundo externo, ou seja, nas outras pessoas. Nessa fase inicial, a identificação dos atributos acontece por meio de projeções e identificamos, ainda que inconscientemente, as características da nossa contraparte no ser amado.

É por essa contraparte que reconhecemos no outro que nos apaixonamos, e a um primeiro momento julgamos que esses aspectos dos outros nos faltem e na união com eles nos completamos.

Jung propõe que na verdade esses aspectos projetados são essencialmente nossos e por meio dos relacionamentos vamos amadurecendo essa percepção e reconhecimento sobre nós mesmos, até um momento do desenvolvimento psíquico em que podemos ver com clareza tais aspectos em nossa própria psique, num processo que chamou de sizígia – o casamento dos princípios masculino e feminino numa mesma estrutura psíquica.

Jung acreditava que: “É a alteridade psíquica que possibilita verdadeiramente a consciência. A identidade não possibilita a consciência. Somente a separação, o desligamento e o confronto doloroso através da oposição, pode gerar consciência e conhecimento.”

Nessa fase, o indivíduo não tem mais necessidade de projetar aspectos ocultos ou recalcados em outras pessoas, pois agora já se reconhece completamente em todos os seus aspectos. Assim, não há mais ilusões com o que se enxerga ou espera do outro, as relações tendem a ser mais livres e o medo da perda não mais se justifica pois aquilo que admiro no outro, também tenho.

Esse processo de reconciliação dos opostos é essencial para a dinâmica do homem transformado, onde a psique encontrou sua autorregulação através dos processos conscientes (metanoia) e inconscientes (enantiodromia). Neste modelo, a autorregulação é um processo que segue as leis universais e conduz naturalmente o indivíduo ao encontro consigo mesmo.

Na sua obra “O Eu e o Inconsciente”, Jung afirma que:

“Na medida do alcance de nossa experiência atual, podemos dizer que os processos inconscientes se acham numa relação compensatória em relação à consciência. Uso de propósito a expressão 'compensatória' e não a palavra 'oposta', porque consciente e inconsciente não se acham necessariamente em oposição, mas se complementam mutuamente, para formar uma totalidade: o si-mesmo (Selbst).”

Na representação deste arcano está presente o Uróboro, a serpente que engole a própria cauda e que simboliza o eterno movimento do Universo e a forma circular como uma unidade em si mesma, sem princípio nem fim. Ao circundar a figura hermafrodita, sugere que a dinâmica psíquica de compensação e complementação dos opostos é o caminho para se chegar na unidade primordial do SELF, enquanto centro da psique integral.

Para o homem transformado, o Ego consciente foi integrado ao SELF e agora opera no sentido de promover as ações no mundo externo coerentes verdadeiramente ao ser interno. Nesta fase, o Ego não tem mais necessidade de validações, reconhecimentos ou pertencimentos externos pois os objetos conquistados e os resultados das ações não mais confirmam o Ego. Ao ser integrado, o Ego se fortalece. Aqui o Ego está estruturado e pode ser um intermediador eficiente entre mundo interno e externo, com fidelidade completa ao SELF.

Ao escrever sobre “A Psicologia da Transferência”, Jung menciona o casamento entre Anima e Animus numa bela metáfora que envolve a unificação dos opostos masculino e feminino para fazer surgir uma nova criatura, completa, alinhada ao chamado do ser interno agora iluminado pela consciência:

"O negrume, ou seja, o estado inconsciente que foi resultado da união dos opostos, alcança um ponto de máxima profundidade que é ao mesmo tempo um ponto de reversão. O orvalho que cai anuncia a ressurreição e o surgimento de uma nova luz. A imersão em um inconsciente cada vez mais profundo é seguida por uma iluminação que vem de cima."

Simbolicamente, a iluminação é o processo de trazer um conteúdo oculto à luz consciência, para que possa ser incorporado no sistema mental do indivíduo e possa se manifestar no mundo físico. A sizígia é uma etapa primordial para fazer surgir o fio de luz condutor para que tudo que foi acessado no inconsciente encontre seu caminho até a consciência e possa ser finalmente incorporado à noção identitária e constituinte do ser. Quem fará essa incorporação é o Ego, enquanto centro ordenador da consciência e responsável pela interação com o mundo externo.

Assim, um Ego alinhado com o SELF é um poderoso instrumento de transformação do mundo externo, pois nesta fase se conhece a potência e a capacidade para agir, se possui a espontaneidade e leveza para fluir apesar das impossibilidades e das frustrações, e ainda existe conexão consciente com os desejos íntimos para realização das aspirações e propósitos de vida.

Essa noção é reforçada na representação arquetípica proposta pelo Tarot de Thoth de Aleister Crowley, na ilustração singular feita por Frieda Harris. Nesta carta a figura central é uma mulher, numa apologia ao trabalho da Anima como principal conexão entre o inconsciente individual e o inconsciente coletivo.

Emma Jung, esposa de Jung, escreveu notavelmente sobre essa característica da contraparte no gênero masculino. Para ela a Anima tem o potencial transformador mais poderoso pois pode suscitar modificações estruturais na personalidade:

“O papel de transmitir conteúdos inconscientes, no sentido de torná-Ios visíveis, recai acima de tudo sobre a anima. Ela ajuda na percepção de coisas que de outra maneira permanecem no escuro.”

Da mesma forma, Nise da Silveira ressalta o aspecto feminino como preponderante na capacidade humana de estabelecer vínculos saudáveis:

“Se o principio feminino no homem (anima) for atentamente tomado em consideração e confrontado pelo ego, os fenômenos decorrentes de seus movimentos autônomos dissolvem-se, suas personificações desfazem-se. A anima torna-se uma função psicológica da mais alta importância. Função de relacionamento com o mundo interior, na qualidade de intermediária entre consciente e in-consciente, função de relacionamento com o mundo exterior na qualidade de sentimento conscientemente aceito.”

verbenna yin
Na ilustração de Frieda Harris a mulher está nua, dançando, com um pé apoiado na cabeça de uma enorme serpente surgida de uma abertura semelhante a um olho cósmico, indicando o fluxo que vendo do grande mistério do inconsciente coletivo que é conduzido pelos desejos do inconsciente individual e terminam por se manifestar na consciência individual.

A figura está cercada por uma estrutura circular e ao fundo vemos a Banda de Moebius, que em Lacan encontra representatividade como forma indicativa da singularidade numa metáfora à forma circular (unidade) transformada pelas dobras onde não há mais mundo interno e externo, tudo é uma coisa só.

Quando a carta do Mundo aparece numa leitura terapêutica pode indicar um momento de profunda transformação pessoal, onde o indivíduo passou pelas etapas do caminho de individuação e compreendeu cada momento como significador e constituinte da sua personalidade.

Isso pode promover uma noção de sentido de vida e coerência, permitindo que a pessoa vivencie relacionamentos com mais leveza e liberdade bem como participe colaborativamente dos grupos a que pertença como forma de aprimoramento de si mesma e do mundo à sua volta.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Lunação e Eclipse em Câncer - 12/07/2018

verbenna yin



Hoje a noite tem lua nova no eixo Câncer-Capricórnio em ECLIPSE e com diversos outros marcadores para esta lunação, fazendo um monte de triângulos e vértices para o posicionamento desta noite. Haja coração!!

A lunação é sempre um período de inícios para todos, tempo para plantarmos nossas sementinhas na intenção de receber algo que virá na lua cheia. Mas quando a lua nova está culminada com um eclipse isso quer dizer que a oportunidade de rever o tema correspondente ao posicionamento é inevitável e a vida vai nos parar para enxergarmos o que é que precisa ser revisto de verdade. Os temas ativados pelos eclipses vibram por até 6 meses.

No eixo Câncer-Capricórnio o tema é a afetividade e mecanismos de defesa que criamos para nos sentirmos seguros nos relacionamentos. O caranguejo, arquétipo do signo de Câncer, é um animal cujo padrão é se mover pelas laterais pois sua forma corporal não permite que ele ande pra frente e suas garras enormes mostram a força que ele pode fazer para segurar os objetos. Numa correspondência com os comportamentos humanos, podemos relacionar o padrão do caranguejo com a não exposição dos seus reais desejos por medo do confronto, uma atitude de “caminhar pelas beiradas” e fugir do enfrentamento. E as garras fortes se relacionam com nossa atitude apegada às pessoas e situações que amamos, mas que às vezes podemos segurar com tanta força que despedaçamos aquilo que mais desejamos.

A força do pólo oposto, Capricórnio, pode reforçar a sensação de que temos que “fazer algo” no campo afetivo para garantir que não iremos nos machucar nos relacionamentos, e aí que a coisa pode desandar porque o impulso constante pelo controle da situação nos desgasta e não é real, todo relacionamento é uma via de mão dupla e nunca poderemos fazer a parte que cabe ao outro. A ideia de que posso “incentivar” o outro a agir de uma determinada forma “pelo bem do relacionamento” é irreal, o outro é o outro sempre e temos que assumir o risco desse outro não agir como esperamos se queremos nos relacionar.

Que atitudes estamos tendo nos nossos relacionamentos imaginando que “temos tudo sob controle” e na ilusão de que isso elimina os riscos de nos machucarmos com o outro?

Que apegos podem estar justamente minando o afeto que existe na sua relação hoje?

Que dor foi essa que faz você ainda hoje ficar se protegendo, sem se abrir de verdade ao amor?

Questionamentos que a lua nova vem nos trazer a partir de hoje, em ressonância com o trígono de água ativado novamente com Lua/Sol em Câncer, Júpiter em Escorpião e Netuno em Peixes.

A receptividade para sentir mais do que pensar é essencial para trabalharmos o tema do eclipse nas próximas semanas. Aproveite o fluxo das energias e mergulhe fundo nos sentimentos que aflorarem durante a lunação. O caranguejo é uma criatura marinha e no fundo do mar também se escondem as mais belas pérolas.

Saia da dureza da concha e exercite a abertura e a confiança para uma nova postura nas suas relações, acredite que a natureza humana é sábia e com o tempo transformamos as pedras do caminho em pérolas valiosas.