terça-feira, 4 de abril de 2017

Os Desapegos do Outono

As estações do ano são promovidas pelo posicionamento do planeta em relação ao Sol. A Terra possui uma inclinação e mantém os movimentos de rotação num eixo imaginário que ora está mais próximo do Sol, ora mais distante. O distanciamento do Sol causa uma diminuição da quantidade de energia solar disponível em determinadas regiões, o que, por sua vez, resulta num ambiente energético distinto e com características próprias – as estações.

No Outono estamos vivendo a estação em que o ambiente energético produz uma resposta da natureza: o desligamento. As flores vão murchando, os frutos amadurecendo, as folhas vão se destacando e caindo pelo chão. O tempo do florescimento passou, agora é hora de manter aquilo que é essencial, estrutural. A energia vital vai começar a se recolher no tronco das árvores, mantendo os recursos concentrados no que é realmente importante e que dá sustentação para a vida prosseguir.

Assim também vai acontecendo conosco, vamos nos desligando de pessoas e situações que não têm mais como florescer. Nós também respondemos a essas energias porque elas estão circulando entre nós o tempo todo, atravessando nossos corpos e convivendo com os nossos pensamentos. Responder a essa energia é a natureza em funcionamento.

É geralmente no Outono que somos surpreendidos com o encerramento de alguns ciclos, aquelas situações que vinham se arrastando há anos e se resolvem de uma vez. Deixamos de ter vontade de realizar certas coisas, de frequentar certos lugares e de encontrar com algumas pessoas.

Também é no Outono que acontecem aqueles desentendimentos que a gente não sabe como aconteceram, mas as pessoas simplesmente vão embora da nossa vida. Os vínculos se enfraquecem e de repente rompemos com anos de relacionamento.

Mas se pararmos pra pensar, aqueles relacionamentos e situações não eram mais saudáveis pra gente, eram tóxicos e não promoviam mais o nosso crescimento. Aquelas pessoas e situações na verdade representam partes de nós que estão "morrendo" para dar lugar a outras manifestações, expressões e talentos.

Precisamos desses espaços psíquicos para que nosso desenvolvimento aconteça e essa mobilização é uma reorganização de dentro pra fora, o reflexo disso é que vamos criando novos espaços na nossa vida externa também.

 Todos esses desligamentos são uma “poda” que vai acontecendo naturalmente e, na maioria das vezes, sem a gente se dar conta porque na correria do dia a dia nem sabemos em que estação do ano estamos.

Mas o fato de não nos darmos conta dessa integração da natureza com a nossa vida pessoal não impede que as coisas aconteçam. Pelo contrário, se não estamos conscientes disso a nossa resposta às energias é ainda mais intensa e acabamos projetando nos outros essa movimentação que acontece dentro de nós. E para que o desligamento aconteça, vamos atraindo uma situação insustentável onde o rompimento acaba sendo inevitável.

É aí que a faz muita diferença essa observação do mundo de forma integrada, porque viver um rompimento importante é sempre dolorido e se não estivermos conscientes do processo podemos nos sentir culpados pelo que aconteceu – o que faz essa dor durar mais tempo do que necessário.

Se você estiver vivendo uma fase de desapego, lembre-se que isso é resultado do Outono chegando na sua vida e essa bela metáfora tem muito a nos ensinar sobre nós mesmos e nossos relacionamentos. Não se culpe, observe as movimentações e procure ligar os pontos para entender o que não te serve mais e o que é essencial de verdade. Tudo é aprendizado.