sexta-feira, 22 de junho de 2018

O Julgamento

verbenna yin
Rider-Waite Tarot
Seguramente o arcano que recebe mais interpretações inadequadas é este, o Julgamento, pois com essa nomeação remete nossa percepção ao ambiente bíblico apocalíptico que pressupõe um “fim do mundo” e um “juízo final" que dão um tom negativo à ideia original do arquétipo.

A carta do julgamento geralmente vem ilustrada com essa imagem de pessoas ressurgindo, saindo de suas tumbas em resposta ao toque das trombetas que marcam o início de um novo tempo. Aqui na ilustração tradicional do Tarot Rider-Waite vemos em primeiro plano um homem, uma mulher e uma criança despertando da morte ao som da trombeta celeste e recebendo de braços abertos uma figura angélica que usa um estandarte com forma de cruz na cor vermelha.

Na abordagem Junguiana para o desenvolvimento psicológico humano, todo o funcionamento da psique é estruturado em aspectos distintos que funcionam como polos (princípio da polaridade) e que se compensam mutuamente num sistema de autorregulação. Quando se investe mais energia num determinado aspecto intrapsíquico, indiretamente também se desenvolve o respectivo aspecto oposto, pois a polaridade atua de forma compensatória na direção da manutenção do equilíbrio de forças. É assim o balanço energético entre consciente e inconsciente, persona e sombra, animus e anima, as partes que compõem a psique na estrutura idealizada por C. J. Jung na psicologia analítica.

Nesta sugestão de imagem acontece o mesmo, o homem num polo e a mulher no outro, ambos despertos e receptivos, indica que esta carta fala de um tempo psicológico onde o indivíduo já realizou essas compensações psíquicas e hoje encontra-se em equilíbrio e devidamente estruturado.

A criança no centro se relaciona à figura do SELF, a essência mais pura de cada indivíduo que é mantida escondida no inconsciente e que levamos toda uma vida para nos encontrarmos com ela. É o SELF que faz as reorientações íntimas e determina o momento das compensações de forças psíquicas pois é o centro regulador da psique inteira. Quando conseguimos entrar em contato com nossa essência mais profunda, estamos diante do nosso SELF: nosso Eu verdadeiro.

É como teria dito Jesus nos evangelhos: “é necessário nascer novamente para entrar no reino dos Céus”.

Ao escrever sobre os sonhos e as representações simbólicas do inconsciente, que refletem nossos estados psíquicos diante da existência, Jung afirma que a visão da criança indica que a pessoa está tomando contato com seus aspectos mais autênticos e espontâneos, que podem ter ficado inacessíveis durante tanto tempo que até  nos esquecemos - mas que durante o trabalho terapêutico de autoconhecimento é possível acessá-los novamente.

Para Jung, no inconsciente esse vislumbre da essência verdadeira geralmente ocorre com a visão de uma “criança divina”. A criança simboliza esse retorno ao primordial após ter sido realizada a grande jornada de complementação dos opostos no jogo de projeções da mente.

As projeções são imagens mentais que traduzem nossas questões mais íntimas e que ainda não temos condições de enxergar apropriadamente, seja porque tais conteúdos nos assustam, seja porque ainda não desenvolvemos a fortaleza necessária para lidar com esses temas. De toda forma, essas questões “aparecem” de forma distorcida quando nos relacionamos com as outras pessoas, pois projetamos nelas esses aspectos que são nossos mas ainda são inconscientes.

Nesse sentido, aquilo que enxergamos nos outros não passa de um filme projetado, de uma miragem, pois o que vemos nem sempre é o real daquela pessoa - mas com certeza é realmente nosso.

É preciso ultrapassar esse estágio de projeções para podermos nos enxergar honestamente e realizar o trabalho interno de integrar nossos aspectos conscientes e inconscientes, depois de trazermos nossos conteúdos sombrios à consciência e termos transformado essas memórias em algo construtivo para nós mesmos. Aí sim é possível retornar à verdadeira origem e recomeçar a trajetória de vida com a mesma confiança e inocência de uma criança.

verbenna tarot
Zen Tarot - Osho
Essa é a proposta do Tarot Zen inspirado nas lições do guru indiano Osho. Nesse tarot todas as cartas são apresentadas como posturas individuais perante a vida e ou retratos de momentos do nosso mundo interno.

Aqui a carta do Julgamento recebeu uma ilustração mais adequada ao seu simbolismo no nosso tempo, assim como um novo título: “Além da Ilusão”. Se trata da representação desse estado interno em que não temos mais ilusões a serem projetadas na realidade externa, estamos além dessa dinâmica e podemos ver com clareza os nossos aspectos internos sem nos assustarmos com eles nem negarmos sua existência ou culpar os outros por isso. 

A borboleta, símbolo da transformação, indica que já houve essa metamorfose do estado interno e a chama no terceiro olho sugere uma percepção mais refinada que consegue captar uma realidade mais sutil. Os olhos estão fechados pois tudo que vemos com nossos olhos comuns são reflexos nossos, então aqui eles não são mais necessários.

Ao nos aceitarmos completamente como somos e estarmos dispostos a lidar com a nossa real natureza, experimentamos uma espécie de novo nascimento pois temos agora uma segunda chance de realizar nosso propósito de vida da forma mais autêntica possível.

Esse renascimento simbólico significa o retorno às origens mais puras, onde todo o meu SER se manifesta de maneira harmônica, sem esforço, honesta e livremente expressando tudo aquilo que sou de verdade. Aqui o estado interno é de seguir o fluxo de eventos que vida propõe, sem amarras nem resistências, sem necessidade de realizar algo para ser beneficiado por seu resultado ou receber reconhecimento por ter feito bem. Renascidos, nos apresentamos à vida dispostos às experimentações que nos chegarem, mantendo uma atitude receptiva e vivificante.

Neste retorno às origens não é preciso mais usar máscaras (as "Personas" de Jung), não há necessidade de responder mais aos condicionamentos nem buscar a aprovação do outro para agirmos  como queremos ou nos prejudicar para conseguir atender algum desejo. Tudo já foi pacificado e nossa organização psíquica opera harmonicamente.

É essa harmonização interna que a bandeira da imagem inicial representa. Nos estudos das mandalas, Jung aponta que a forma de cruz nos desenhos simboliza a união dos opostos, indicando que a pessoa venceu os conteúdos internos que seriam projetados nos outros. Agora ela consegue lidar com os aspectos próprios e também com os dos outros sem se sentir ameaçada, sem precisar usar mecanismos de defesa nem se incomodar com o que vê refletido no outro.

Nossas imagens refletidas não nos ameaçam mais pois a atitude agora é a do observador que a tudo assiste e procura aprender, sem se envolver, além das ilusões e das projeções da mente.

verbena
Dark Tarot
Nesta outra imagem o conceito principal permanece mas é ilustrado de outra forma, indicando que a mulher e o homem respondem ao chamado da figura divina que possui uma aréola circular, correspondendo à ideia de que agora consciente e inconsciente agem em conjunto para atender o SELF simbolizado pelo círculo.

Na abordagem Junguiana o círculo é o símbolo maior do SELF, sendo as mandalas sua expressão mais profunda e completa. Na mandala encontramos a expressão não verbal dos conteúdos do SELF, que conseguem burlar o filtro da razão e escapar das censuras do consciente.

Quando a terapêutica envolve processos racionais de elaboração, como fala e escrita, nosso consciente pode impedir que certas memórias, afetos e emoções se expressem. Nesse caminho podem ainda haver julgamentos, críticas internalizadas, idealizações e comparações, e tudo isso junto atua como obstáculo para que o ser verdadeiro se mostre.

Já na mandala esses conteúdos encontram um outro caminho para se manifestar. Como a mandala é desenhada, esse conjunto organizado de formas e cores expressa o SELF sem passar pelas aprovações e seleções da mente consciente. Por isso a mandala é o retrato fiel do estado de ser de cada pessoa e tem tanta importância no processo terapêutico na abordagem Junguiana.

E isso é que o arcano do Julgamento tenta representar, esse momento em que houve uma pacificação das forças internas e externas pois nada mais pode atingir negativamente o indivíduo: as dores, as memórias, as projeções, as idealizações, a falta de confiança, tudo isso já passou.

Aqui o indivíduo morreu para essas coisas e agora está renascendo para um novo tempo em que irá atender plenamente o chamado do SELF para realizar aquilo que é seu propósito na existência. Sua vida agora tem sentido.

Quando estamos integrados ao nosso SELF conseguimos nos mover pela vida de forma mais fluida e seguimos pelo fluxo dos eventos sem inseguranças. Procuramos expressar com nossas atitudes quotidianas aquilo em que acreditamos, então passamos a fazer escolhas que nos contemplam melhor. Pode ser o tipo de alimentação, a forma de se vestir, o trabalho que realmente faça bem a si mesmo e ao outro, a atitude colaborativa, a receptividade com o outro, enfim, tudo que confirme externamente aquilo que já existe do lado de dentro.

Aqui a direção da energia é de dentro para fora, o ser manifesta com segurança no mundo externo aquilo que existe no seu interior - numa orientação contrária àquela que atende às necessidades do Ego, pois o Ego precisa do reconhecimento externo para confirmar o que acredita haver no interno. 

No fluxo do Ego as confirmações do reconhecimento externo são frágeis pois tudo que vem do externo é projetado, logo, não é real. Mas no fluxo do SELF a nossa expressão é verdadeiramente real pois manifesta externamente o que existe no mais íntimo e profundo da alma humana.

São tantas formas de manifestarmos no mundo nosso potencial, mas que agora acontecem sem necessidade de reconhecimentos externos nem na base da barganha, e cada uma de nossas pequenas ações serão agora resultados dessa orientação pelo SELF - que vai aos poucos se manifestando de dentro pra fora. Nossa essência finalmente emerge.

Ao nos entregarmos à orientação do SELF, passamos a viver com mais consciência, entendemos nosso propósito de vida e procuramos usar o nosso tempo de forma construtiva, ocupando positivamente nosso lugar e colaborando para criar no mundo externo a mesma realidade interna de paz e equilíbrio.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Solstício de Inverno - A Mulher Búfalo Branco

verbenna yin


Hoje dia 21/06 /2018 acontece o Solstício de Inverno, o momento do ano em que a inclinação da Terra e o posicionamento do Sol produzem a noite mais longa de todas. É a entrada do inverno e o tempo em que a natureza descansa, as plantas e árvores já sem folhas concentram sua energia nas raízes nos lembrando que é tempo de colocar atenção naquilo que é realmente essencial.

Daqui até o dia 24/06 vamos viver um período maior de ausência da luz, as noites serão mais longas que os dias - o que simbolicamente representa que todos estaremos diante das nossas sombras mais escuras.
Por isso as tradições da várias culturas tem o costume de acender fogueiras nessa época do ano, para nos lembrar que a luz sempre retorna e que precisamos perseverar no bem e no amor ainda que as noites sejam mais escuras, frias e longas.

O mito que eu mais gosto para este período é o da Mulher Búfalo Branco, que é um conto dos índios norte americanos sobre a prudência, a união e a perseverança em tempos difíceis.

Num paralelo muito interessante com o momento atual, em que homens se sentem à vontade para cometer torturas com crianças de forma televisionada, a ausência de luz faz surgir essas sombras coletivas da humanidade e podemos nos aterrorizar com essa imagens tão distorcidas e monstruosas.

Vamos aquecer o coração com a fé em dias melhores, mantendo o pensamento nos ideais humanos mais elevados e sustentar o fogo divino em cada um de nós, mantendo acesa a luz dos nossos corações até o retorno do sol no dia das fogueiras de São João.

Compartilho com vocês a lenda da Mulher Búfalo Branco, que eu adoro e que ressoa especialmente pra mim por me lembrar que tudo que eu preciso, eu já tenho. Dentro de mim.

O texto a seguir foi extraído do site:http://www.xamanismo.com/lenda/lenda-da-mulher-bufalo-branco/#


A LENDA DA MULHER BÚFALO BRANCO

Um dia, dois jovens guerreiros Sioux estavam caçando nas pradarias do Minesota. Ao subirem uma colina em busca de caça, eles foram surpreendidos ao verem uma jovem mulher, muito bonita surgir diante deles numa nuvem. Retendo o fôlego, eles a observavam. Ela trajava vestes feitas de corça branca. Levava a tiracolo uma sacola de pele e uma pele de búfalo em uma das mãos. Uma pena de águia, trançada nos seus longos cabelos negros, reluzia à luz do sol. Não tema, ” disse a mulher, ” eu trago paz e felicidade para vocês. Agora me falem, por que vocês estão longe de sua aldeia?”

A graça a beleza dela, incendiou o guerreiro mais velho com pensamentos lascivos, que calou-se. O mais jovem, então respondeu:

- Nossa aldeia está com falta de comida. Nós estamos caçando.

- Aqui – ela disse -, leve de volta este pacote aos seus. Diga para os Chefes das sete fogueiras da sua tribo, para reunirem-se na fogueira do conselho e esperarem por mim.

Ao escutar essas palavras, o mais velho deu voz ao seu desejo de acasalar-se com ela, ali mesmo na pradaria, debaixo do sol. No momento em que o guerreiro mais velho tentou agarrá-la, a mulher envolveu-o na pele de búfalo. Uma nuvem envolveu o corpo dele, e quando o pó assentou, no lugar do guerreiro havia um esqueleto recoberto de vermes.

Foi então que Mulher Búfalo Branco, falou ao jovem guerreiro:

- O homem que olha primeiro a beleza exterior de uma mulher, nunca conhecerá sua beleza divina, pois ele é um cego. Mas o homem que primeiro vê a beleza de seu espírito e sua verdade, esse homem conhecerá o Grande Espírito nessa mulher; se ela quiser deitar-se com ele, ele compartilhará com ela um prazer mais pleno do que poderia imaginar.

- Você, quando me olhou, não ficou cego com a minha beleza, mas seu primeiro pensamento foi: ‘Quem é essa mulher?’ ‘De onde ela vem?’ ‘Será ela uma mulher sagrada?

- Meu jovem, você também terá o que deseja.

- Você e seu amigo simbolizam dois caminhos que os homens podem seguir. Se procurar primeiro a sagrada visão do Grande Espírito, estará vendo da mesma maneira que o Criador, e por isso você saberá que aquilo que necessitar da terra chegará às suas mãos. Mas se preferir seguir primeiro, esquecer o Grande Espírito, satisfazer os seus desejos terrenos, você morrerá por dentro.

Foi então que o jovem guerreiro resolveu perguntar quem era ela.

Ela olhou profundamente nos olhos dele e respondeu:

- Eu sou o Espírito da Verdade. Seu povo me conhece como a Mãe dos Mais Velhos; mas como você pode ver, não sou tão velha assim. Sou a Grande Mãe, que vive dentro de cada Mãe, a moça que brinca em cada criança. Sou a face do Grande Espírito, que seu povo esqueceu. Vim para falar para as nações da planície. Vá para sua aldeia e prepare a minha chegada. Tenho algumas coisas a ensinar, coisas sagradas que sua tribo esqueceu.

O jovem então correu ao seu povo, para transmitir a mensagem de Mulher Búfalo Branco aos Chefes das Sete Fogueiras de sua tribo. Após ouvirem o jovem, toda tribo começou a trabalhar numa enorme cabana, coberta de muitas peles, na qual toda tribo pudesse se reunir.

Quando viram Mulher Búfalo Branco se aproximando pela pradaria, ficaram atônitos. Esperavam por alguém de mais idade. E ela parecia uma donzela, graciosa como a relva que se movia em torno dela no crepúsculo. Seu rosto brilhava como uma luz que falava das flores e das mais finas ervas.

Descalça, como sempre andava nas sua viagens pela terra, ela entrou na grande cabana. Seu vestido de pele de Búfalo Branco irradiava a presença de seu espírito. Sem dizer um palavra, andou em círculo em torno do fogo que ardia no centro da cabana. Cada vez que seu delicados pés tocavam a areia ao redor do fogo, os que a observavam sentiam que cada gesto seu era uma prece de profunda reverência à terra.

Devagar, em silêncio, ela contornou o fogo sete vezes.

Quando por fim ela falou, sua voz era como a canção dos pássaros das pradarias.

- Sete vezes, andei em sete círculos em torno deste fogo, em reverência e silêncio. O fogo simboliza o amor que arde para sempre no coração do Grande Espírito. É o fogo que aquece cada criatura no mundo. Vocês são como um ser único. Esta cabana, feita de muitas peles, é o corpo de vocês. O fogo que arde no centro dela é o amor de vocês.” Parou um momento e, devagar, curvou-se para tirar um graveto incandescente das chamas. “Este fogo é mais forte que qualquer um de vocês. Seu povo esqueceu, o que é mais precioso que a água. Vocês esqueceram suas ligações com o Grande Espírito. Eu vim”, disse ela erguendo o graveto, “como um fogo do céu para reavivar a memória daquilo que foi, e fortalecê-los para os tempos que virão.

Pousou novamente o graveto no fogo e pegou uma sacola de pele que trazia.

- Nesta sacola, trago um cachimbo para ajudá-los a recordarem os ensinamentos que eu trago. Tratem-no sempre com respeito. Levem-no sempre em sacolas das mais finas peles, enfeitadas pela mãos mais reverentes. Ponham neste cachimbo um tabaco sagrado plantado especialmente para esse fim. Fumem-no com um sentimento de gratidão ao Grande Espírito, de cujo sopro vocês receberam a vida. Usem o fumo para representar seus pensamentos, suas orações e aspirações ao Grande Espírito.

Até então ela ainda não tinha aberto a sacola na qual estava o cachimbo. Desatou as tiras de couro que a amarrava, e retirou o cachimbo com tal reverência que todos que estavam na cabana, sentiram o coração transbordando e os olhos cheios de lágrimas.

- Este cachimbo sagrado, e cada tragada de fumo sagrado que vocês inalam pelo seu tubo, ajudará vocês a recordarem que cada sopro de vocês é sagrado. O fornilho do cachimbo é feito de pedra vermelha. Tem o formato de círculo. Simboliza a Roda Sagrada, o sagrado círculo da vida, o dar e receber, da inalação e da exalação, pelo qual todas as coisas vivas ingressam na vida pelo poder do Grande Espírito.

Pedindo um pouco de tabaco, Mulher Búfalo Branco colocou-o no fornilho do cachimbo dizendo:

- Este tabaco, simboliza o mundo das plantas, o musgo das pedras, as flores, as ervas, as folhas das relvas que cobre a colina para que sua mãe não repouse nua ao sol. Vocês estão aqui para cuidar da terra. Suas vidas são acesas pelo mesmo fogo que arde no coração do Grande Espírito.

Assim falando, ela colocou um pequeno graveto no fogo para que ardesse como chama viva.

- Da mesma forma que acendo esse graveto no grande fogo, assim todo ser humano é uma chama que faz parte do fogo eterno do amor do Grande Espírito.

Devagar, ela tirou o graveto em chamas do fogo, e ergueu-o para que todos o pudessem ver.

- Quando vocês viverem em harmonia com o Grande Espírito, sua chama de amor será vivida sempre por aqueles ventos espirituais. Vocês serão tomados de amor pela própria razão da vida! Acenderão o fogo do amor em todos os que encontrarem. Conhecerão o propósito de sua travessia por esse mundo e saberão que o Grande Ser deu uma chama da vida a todos: não para guardarem sua pequenina chama somente para si, amando apenas aquilo que é necessário às suas vidas, mas sim para que pudessem dar o seu amor, e com o fogo desse amor trazer consciência para a terra.

Dizendo isto, ela segurou o graveto bem em cima do fornilho vermelho do cachimbo. Encostou a chama bem no centro do cachimbo, aspirando suavemente pelo tubo até o tabaco incandescer. O cheiro do fumo invadiu o ambiente.

- Assim como o tabaco queima neste cachimbo de terra que representa as plantas – continuou Mulher Búfalo Branco- , assim também esse búfalo que vocês vêem entalhados no fornilho de pedra do cachimbo representa as criaturas quadrúpedes que compartilham com vocês esse mundo sagrado. As doze penas que pendem o tubo do cachimbo representam os seres alados com os quais vocês compartilham o grande círculo do céu.

Em seguida ela passou o cachimbo ao chefe do conselho dizendo:

- Tomem este cachimbo. Agradeçam ao Grande Espírito, e passem o cachimbo aos outros do nosso círculo. Que seus pensamentos sejam elevados ao Grande Espírito que vem agora mexer com suas memórias, abrindo os olhos de seus narradores. Cada amanhecer que nasce vermelho no céu do leste, como o fornilho vermelho deste cachimbo, é o nascimento de um novo dia, de um dia sagrado. Lembrem-se sempre de tratar cada criatura como um ser sagrado: as pessoas que vivem além das montanhas, os pássaros, os peixes e os outros animais, todos eles são irmãs e irmãos de vocês. Todos constituem parte sagradas do corpo do Grande Espírito. Tudo é Sagrado.

Neste momento, o cachimbo começa a ser passado de mão em mão. Depois que todos que estavam na cabana deram uma baforada, Mulher Búfalo Branco levantou com reverência o cachimbo para que todos vissem.

- Levem sempre o cachimbo com vocês. Trate-o como um objeto sagrado. Honrem todas as criaturas e vivam suas vidas em harmonia com o Caminho Sagrado do Equilíbrio de que fala cada árvore, cada flor e cada novo dia. Haverá muitas estações nas quais o coração de vocês se sentirá claro e puro como uma nascente nas montanhas, e vocês conhecerão a paz e a alegria do Grande Espírito. Mas, se vocês sentirem que se afastaram da trilha do Caminho Sagrado, se seus corações passarem a pesar dentro de vocês, não percam tempo em arrependimento. Ensinar-lhe-eis uma cerimônia,” disse ela acendendo o cachimbo mais uma vez no fogo sagrado, “uma cerimônia que cada um de vocês pode fazer em companhia de outros, a sós em suas tendas, ou lá fora, na pradaria.

Ela deu uma pequena baforada no cachimbo e disse:

- Parem suas atividades. Procurem uma pedra sobre a qual sentar. Rogando orientação do Grande Espírito. Acendam o cachimbo e deixem que o fornilho vermelho lhes lembre a sagrada escritura, o caminho da vida, o trilho vermelho do sol. Depois de ter aspirado seu fumo em honra do Grande Espírito, em honra da Mãe Terra, em honra dos animais e das pessoas que são fiéis à realidade, depois de ter dado graças as quatro direções, então aspirem uma vez mais para pedirem orientação aos grandes seres alados do mundo dos espíritos. Peça-os para ajudá-los a ver o melhor procedimento a seguir. Peçam para que eles ajudem a vocês fazerem a escolha mais sábia e a reconhecer os passos que devem tomar na trilha que seu EU mais profundo escolher para vocês. Isso permitirá que o fogo que arde dentro de vocês fale em termos claros, sem interrupções. Peça que os seres espirituais que os cercam, entrem em sua vida. Diga-lhes que desejam ajudá-los e ao Grande Espírito no seu trabalho, e perguntem-lhes como fazer isto. Ao ajudarem o Grande Espírito, vocês se ajudarão. Os seres humanos não são inteiramente felizes nem saudáveis senão quando servem aos propósitos para os quais o Grande Espírito os criou.

Novamente ela entregou o cachimbo, para que fosse passado de mão em mão. Durante muito tempo, Mulher Búfalo Branco permaneceu em silêncio, mesmo após ser completado o círculo de baforada no cachimbo. Quando falou novamente, comparou seus ensinamentos a uma árvore; uma árvore que iria florescer à medida que tomavam a si essas coisas, plantando-as no coração de cada um e aplicando-as no dia a dia.

- Durante longo tempo,- ela continuo-o -, vocês viverão sob a sombra sagrada da Árvore da Compreensão que estou plantando nas suas consciências. E, nas gerações vindouras, seu povo estará unido novamente no Sagrado Círculo da Vida. Infelizmente, essa árvore será derrubada depois de algumas gerações. A árvore parecerá morrer. A Roda Sagrada murchará até ser esquecida. Alguns poucos manterão a luz da verdade ardendo nos seus corações, mas a luz será fraca e, mesmo neles, passará a ser uma brasa pequena e imperceptível.

Guardando o cachimbo na sacola, ela continuou:

- Mas a brasinha permanecerá. Em silêncio, continuará. Mesmo quando vocês tiverem sua terras invadidas, vendidas e roubadas. Essa brasa ainda manterá sua luz acesa, e saibam, meu povo que um grande fogo pode sair de uma única brasa!

- Quando a tempestade passar, essa brasa acenderá um alvorecer mais forte do que qualquer outra alvorada. Uma nova árvore crescerá, mais gloriosa do que esta que agora deixo com vocês. Com o novo alvorecer, eu voltarei e viverei com vocês. Debaixo da sombra dessa árvore, estarão reunidos não somente as tribos vermelhas, mas as tribos brancas, as tribos negras e as tribos amarelas, vindo de todas as direções. Em harmonia, as quatro raças viverão sob os ramos da nova árvore. Tudo que foi quebrado será refeito por inteiro. A Roda Sagrada será consertada. A comida será farta e os espíritos de todas as criaturas alegrar-se-ão na harmonia de uma nova ordem, perfeita. O Grande Espírito, estará atuando dentro das raças, vivendo, respirando, criando através dos povos da terra. A paz virá as nações.

Despediu-se dizendo que voltaria um dia, então transformou-se num Búfalo Branco, e sumiu envolta nas nuvens e nunca mais foi vista.

“Grandes mudanças estão a caminho com o nascimento do Búfalo Branco.”


*** Com o nascimento de um Búfalo Branco, em 1994, em Janesville, no estado de Wisconsin, nos Estados Unidos. Torna-se mais próximo o cumprimento da profecia sagrada de que irá surgir uma nova idade de unificação e espiritualidade global, enchendo-nos de uma esperança maior para o novo milênio.

sábado, 9 de junho de 2018

Sonho e desejo




No sonho realizamos aqueles desejos que não puderam ser ditos nem reconhecidos.

O desejo é o movimento interno do indivíduo na direção de uma satisfação que não foi atendida ainda, seja porque não conseguimos entendê-la ou porque estamos tão envolvidos com certas áreas e demandas da vida pessoal que não há atenção para percebê-la.

No desenvolvimento psíquico, à medida que vamos crescendo em idade vamos também percebendo objetos que atraem nossa atenção e que nos mobilizam à sua conquista: pessoas amadas, situações, posições sociais, objetos, patrimônio, lugares diferentes...

Qualquer que seja o objeto do nosso desejo, ele simboliza uma satisfação não atendida, uma necessidade de ser contemplado que ainda não teve chance de se concretizar.

Mas às vezes o desejo é incoerente com nosso momento de vida e "não combina" com a pessoa que temos sido. O desejo é inconveniente.

Por isso ele pode ficar escondido de nós, não aceitamos que aquela satisfação seja importante e deixamos "pra lá". Mas esse material não é descartado nunca, fica guardadinho no nosso inconsciente e quando há uma brecha a comunicação do desejo acontece quando o nosso racional não consegue mais impedir nem nos defender - quando dormimos.

Quando não conseguimos atender nossos desejos mais genuínos, eles retornam e se comunicam conosco na forma de sonho. É no sonho que acontece essa conversa íntima e pessoal de nós com a gente mesmo, onde o nosso inconsciente tem a chance de mostrar aquilo de que realmente precisamos para viver, o que vale a pena viver para experimentar.

Mas essa conversa não é pela lógica ou pelo racional, ela acontece no nível do simbólico e é através das imagens que o desejo se manifesta. Se estivermos atentos aos nossos sonhos, podemos entender melhor o que é que o nosso ser interno quer comunicar pra nós.

Acolher os sonhos é o melhor caminho para entender o que realmente precisamos viver para encontrar satisfação interna e nos sentirmos contemplados pela existência.

Nem sempre é fácil entender o que o sonho quer dizer, às vezes o mundo simbólico é cheio de mistérios e caminhos intrincados. Nesse caso é importante que você seja acompanhado no seu processo por um terapeuta que possa te acompanhar nesse desbravamento dos territórios psíquicos do sonhar e você possa finalmente entender o que seu inconsciente está de comunicando.

E atenção: quanto mais o sonho se repete, mais urgente é a necessidade de atender aquele desejo.

Então se você anda sonhando muito com um determinado assunto, não deixe passar a oportunidade de viver aquilo que seu sonho está te mostrando. Essa será uma experiência que ajudará a transpor uma etapa importante do seu desenvolvimento pessoal e certamente refletirá na expansão da consciência para começar novas etapas de vida.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

A verbena e o tarot

O uso ritual das ervas para conexão espiritual é uma prática ancestral, cada civilização tinha uma forma de utilizá-las dentro do seu contexto e momento histórico e alguns usos perduram até os dias de hoje ainda nas metrópoles urbanas.

É o caso da verbena, essa plantinha mágica ligada aos mistérios do profundo feminino.

verbena tarot


A verbena é uma planta cítrica, com perfume muito fresco que imediatamente nos remete ao ideal de limpeza. E não é para menos, a verbena era utilizada desde a época do império romano para realização de cerimoniais de limpeza energética pois os guerreiros, quando voltavam das campanhas do exército para suas vilas e cidades de origem, não podiam passar pelos portões da cidade sem antes receberem um banho de verbena preparado pelas mulheres.

Acreditava-se que a energia mais masculina e agressiva de Ares, o Deus da Guerra, somente seria neutralizada pela energia feminina e delicada da verbena, permitindo que aqueles guerreiros entrassem na cidade limpos do peso da guerra.

Na cultura celta também se registra o uso ritual da verbena pelos druidas, que faziam defumações dos lugares sagrados com essa erva e faziam infusões e preparados com verbena para desenvolver dons de profecia, contato com espíritos e iniciações.

E daí em diante a verbena é uma das ervas mais usadas em rituais para limpeza energética por vários povos, tanto in natura como também em chás, perfumes e incensos.

Mas eu gostaria de comentar que a verbena é muito especial para limpeza das cartas usadas para tiragens de tarô.

Como todos sabemos, para uma consulta de tarô o consulente irá escolher ele mesmo as cartas, irá embaralhá-las, segurá-las, e assim acaba por impregnar nas cartas a sua própria energia. Essa impregnação é muito importante pois cria um elo entre a mente do consulente e as opções simbólicas do tarô para que o inconsciente se manifeste e a ponte com o mundo interna se estabeleça.

Porém quando a consulta termina, é muito importante que a energia daquela consulente seja esvaziada das cartas para que numa próxima leitura a pessoa seguinte possa realizar o mesmo processo de impregnação.

Nesse sentido é muito interessante promover uma limpeza energética do tarot com o uso da verbena em forma de incenso, aspergindo a fumaça formada sobre as cartas e deixando que os elementos promovam a desimpregnação das energias fixadas nas cartas.

verbena tarô


E essa desimpregnação vale para ambientes também, para depois daquelas visitas inadequadas, para elevar a vibração de um ambiente, para depois de uma temporada de doença no quarto, e até mesmo para eliminar rastros energéticos de quem morou antes na casa.

A verbena tem poder de pacificar energeticamente os eventos acontecidos até ali para que parem de vibrar, eliminando resíduos de agressividade e raiva e promovendo um ambiente mais tranquilo e com vibrações mais estáveis.

Experimente!