E então chegamos a ela, a implacável Torre.
O arcano mais temido do Tarô nos mostra a imagem de uma
construção em ruínas, atingida por um raio que rasgando a noite escura
despedaça tijolos e lança as pessoas abaixo.
Aqui temos o arquétipo da queda, do choque de realidade. Uma
estrutura não suportou o impacto da luz.
É na luz que se apresenta a verdade, a nossa verdade só pode
ser vislumbrada quando iluminamos nossos lugares mais recônditos e obscuros,
aquelas partes de nós que ficam invisíveis para os outros e, principalmente,
para nós mesmos. As partes que não queremos ver e que deixamos lá no escondido
do nosso inconsciente.
Quando a luz chega, mesmo que rapidamente como um raio, já
não é mais possível não notar aquelas verdades todas que ficaram escondidas:
elas saltam para fora e a gente "abre a cabeça".
E diante da verdade iluminada, o Ego desaba. Cai do alto da
torre sem proteção nenhuma já que aquela estrutura que o sustentava era falsa e
não tinha solidez suficiente.
O Ego é construído ao longo da nossa infância a partir dos
retornos que as pessoas do nosso entorno nos dão e da nossa percepção a
respeito do que é valorizado em nós. Num ambiente onde há lugar para a criança
se expressar livremente, o Ego é construído de forma saudável e mais próximo do
que sua essência é realmente.
Já num ambiente mais restritivo, com muitas exigências
e expectativas dos outros, a essência da criança não pode ser completamente
mostrada e esse Ego vai sendo construído sobre os atributos que os outros
valorizam – e que muitas vezes destoam dos atributos naturais da pessoa.
As restrições e exigências do mundo externo podem também ir formando uma pessoa muito rígida e inflexível, que na busca de atender o modelo imposto vai passando por cima dela mesma e adquirindo até uma expressão física mais dura e austera, que reflete todas aquelas restrições de movimento do Ser interno.
Além disso, vivemos numa sociedade ocidental que valoriza
somente uma certa educação, alguns comportamentos e determinados tipos de
inteligência. Apesar da diversidade natural dos humanos, nos esforçamos para
atender essa demanda e sermos aceitos no jogo. Assim, incorporando os valores
dos outros e da sociedade onde nos inserimos, o indivíduo vai construindo seu
Ego atendendo todas essas expectativas alheias para ser aceito, bem recebido e
prosperar naquele sistema de crenças que valoriza apenas certos atributos.
E quanto mais vamos “prosperando” nesse ritmo de vida, o mundo
externo parece que vai validando as nossas “boas” escolhas e a nossa forma “aceitável”
de expressão, e vamos tendo a impressão de que estamos no caminho certo, no
caminho do sucesso.
É aí que a Torre da carta vem simbolizar o nosso Ego, representando
ali a ideia que temos de nós mesmos, nossa autoimportância.
Em todas as culturas encontramos monumentos que marcam no tempo
as conquistas de seus povos, os obeliscos. Torres bem altas construídas nos
territórios conquistados, quanto mais altas, maior a importância da conquista e
do respectivo conquistador.
Os obeliscos dos nossos tempos são os edifícios cada vez
mais altos que desafiam as regras da engenharia como o Empire State Building, o
Burj Khalifa e a Torre de Xangai.
Todas essas torres são símbolos de domínio e poder, e mais,
são símbolos fálicos, nos lembrando que o poder é masculino e que para atingir
esse nível de reconhecimento precisamos desenvolver um raciocínio e um
comportamento mais masculino também – o que tem implicações muito sérias para a
saúde mental e física das mulheres.
E então chega a iluminação repentina, o raio que vem mostrar
numa fração de segundo que todo aquele Ego construído sobre os valores externos
não tem sustentação nenhuma. E a nossa verdade interna que estava lá guardada a
sete chaves aproveita esse momento para romper com as estruturas psíquicas e se
apresentar claramente, como se dissesse:
“Ei, este aqui sou eu. Me veja como eu sou. Me aceite.”
Este ser interno, essencial, sempre esteve lá mas agora é
possível vê-lo e notar sua existência. A Torre é esse momento de ruptura em que o
indivíduo se dá conta de que ele não é quem pensava ser - e geralmente este
arcano se utiliza de momentos difíceis e desafiadores para que esse encontro
aconteça.
A vida parece que vai nos colocar a toda prova e nossa única opção será enfrentar aquilo de que temos mais medo.
A vida parece que vai nos colocar a toda prova e nossa única opção será enfrentar aquilo de que temos mais medo.
Uma doença, um acidente, uma separação repentina, uma
demissão, são exemplos de situações trazidas pela Torre na vida prática onde o
indivíduo terá o trabalho de ir além do que ele já conhecia sobre si mesmo.
Por isso a associação entre o arcano da Torre com o trânsito astrológico de Marte, a conquista sobre si mesmo.
Por isso a associação entre o arcano da Torre com o trânsito astrológico de Marte, a conquista sobre si mesmo.
O que acontece é que a pessoa vai atrair uma situação de
extrema tensão a que seja impossível resistir, para que então possa haver um
relaxamento na mesma proporção. Essa tensão é a pressão interna de ser uma
pessoa que não corresponde à sua matéria prima, é muito pesado não sermos nós
mesmos.
É nessas situações em que a vida nos põe tudo a perder que nos
desligamos das distrações diárias e voltamos os olhos para o que realmente
importa, para dentro de nós e nossa necessidade de felicidade e pertencimento mais genuína.
Não raro nessas situações as pessoas fazem profundas
revisões das suas histórias e passam a adotar um estilo de vida mais saudável e
harmonioso, com mais amorosidade ou mais proximidade com a família e amigos.
Numa experiência com a Torre bem recebida e integrada, a
pessoa pode sentir a necessidade de pedir perdão a alguém, de se reaproximar de
certas pessoas ou de deixar de frequentar certos ambientes e situações.
A ideia é derrubar muros e paredes, abrindo espaço a fim de
que seja mais confortável ser quem se é de verdade, onde o Ser interno se sinta
a vontade para tomar conta do ambiente psíquico e o indivíduo tenha a
satisfação de ser ele mesmo.
Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise
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