Nesta lua cheia da lunação de Câncer me senti levada a refletir sobre o princípio feminino, o elemento água e a receptividade.
Recentemente circulou pelas redes uma foto sugerindo com flores as
fases da dilatação do útero quando a mulher está em trabalho de parto, numa
ilustração muito bonita do quando o feminino significa esse florescer da vida.
Como doula, tenho a experiência de acompanhar mulheres se
abrindo, por dentro e por fora, para receber uma nova vida e florescerem como
mães. É sempre um momento mágico quando esse portal se abre no mundo físico, a
começar pela fisiologia da mulher que recebe e promove dentro dela o
crescimento do novo ser para que um dia a vida possa passar por ela e vir pra
fora, brotar, nascer. Continuar.
Mas hoje eu quero falar sobre a dificuldade da gente se
abrir para receber esse fluxo de vida, e que muitas vezes vem manifestado na
fala da mulher que “não dilatou” no trabalho de parto.
Existe uma relação simbólica entre o signo de Câncer e o
arquétipo da Grande Mãe, aquela mulher grandiosa que recebe todos os seus
filhos. O signo de Câncer exalta os atributos do feminino, é ligado ao elemento
água (manifestação da energia feminina) e simboliza a potência feminina de
gerar uma nova vida, alimentá-la e sustentar com sua própria existência feminina
(física e espiritual) a continuidade da vida na terra.
É no elemento água que ficam gravadas as memórias, e é no
corpo feminino que fica gravada a programação do desenvolvimento de um novo
ser. É o corpo da mulher que sabe como dividir e multiplicar células e átomos,
combiná-los entre si para que formem órgãos, tecidos e membros, que num
crescimento organizado, com simetria e beleza, se transformarão um dia numa
criança. Uma nova criação.
O óvulo feminino também tem uma característica importante
que é a capacidade de escolher o melhor espermatozoide para deixá-lo entrar e
fundir-se na fecundação.
Durante muito tempo se acreditou que esse mérito seria
do espermatozoide “mais rápido”, numa alusão à primazia do caráter ativo masculino.
Hoje, felizmente, a ciência corrige essa visão e atesta que na verdade o
óvulo que detém uma inteligência para analisar qual espermatozoide resultará na combinação
genética mais promissora, permitindo que ele “entre” e conclua a fecundação numa
atitude de cooperação criativa.
Essa constatação é revolucionária em seu simbolismo porque
remete a um outro nível de receptividade do princípio feminino. Já não é mais
apenas uma ausência de atitude como simples passividade, de não ter outra opção
a não ser não realizar, mas antes disso representa uma atitude em si só manifestada
passivamente em permitir, deixar acontecer.
Isso muda o foco, passamos do “não
posso evitar”, para o “posso permitir”.
Eu posso. Eu confio que posso.
Em Câncer as águas nos permitem, nossa memória ancestral
ainda que inconsciente nos preenche dessa potência que antevê possibilidades,
faz combinações de probabilidades e nos guia a novos objetivos e produções - e é daí que
nascem os novos sonhos.
Úteros são o lugar de onde vêm os sonhos e todas as novas
criações.
E a lunação de Câncer eclode na lua cheia em Capricórnio, o
símbolo da competência máxima e da resiliência do elemento terra – que também é
um elemento feminino.
Não existem impossibilidades para Capricórnio, a vida sempre encontra uma forma de continuar.
A figura associada a este símbolo é o da cabra
montanhesa, aquela cabra que anda nas encostas íngremes das pedras altas e
muitas vezes fica no topo da copa das árvores das regiões áridas, numa
demonstração de força e capacidade plena que lida com qualquer tipo de
adversidade.
E nessa relação arquetípica entre a Grande Mãe e a Cabra
Montanhesa que se estabelece na lua cheia da lunação de Câncer, é que
vislumbramos o grande potencial do princípio feminino: a continuidade da vida.
Acreditar nesse potencial é essencial para que os processos
de maternidade aconteçam de forma saudável, e reconhecendo o trabalho de parto
como uma conclusão do processo gerador é muito importante que a mulher se sinta
confiante deste mundo como lugar para acolher aquela nova vida.
Mas nem sempre é possível alimentar essa confiança num mundo
que é tão hostil com as mulheres, onde vivemos acuadas por violências quotidianas e sob um estrito código
de comportamentos permitidos, onde não temos representatividade para tomar
decisões coletivas e arcamos com nossos corpos as imposições de uma cultura
machista, invasora e cruel.
Como permitir que aquela nova e frágil vida chegue nesse tipo de mundo?
Como protegê-la deste mundo?
Ter dificuldades para dilatar no trabalho de parto muitas
vezes significa esse diálogo interno e inconsciente, que toma lugar naquele
estado alterado de consciência quando os corpos femininos estão inundados de
oxitocina e neurotransmissores que as conectam com a fonte da vida. É nesse templo
sagrado feminino que toda a angústia de ser mulher se manifesta e que, numa atitude
instintiva, se traduz num proteger sem fim que retém a energia criadora dentro de si mesma.
Estou propondo aqui a imagem do trabalho de parto, mas no fundo estou falando de todas as nossas criações, todas as nossas obras. Porque podemos ser mães de muitos sonhos.
O que mais você criou e não pôde trazer ao mundo?
Que sonhos foram interrompidos e não tiveram a chance de chegar?
Interromper o fluxo de criação da vida com o medo pode perigosamente destrutivo. As doenças femininas, os cânceres, as dores do não permitir que a
vida aconteça são marcas vivas de que não foi possível confiar.
Tão importante é acreditar na continuidade da vida e na
capacidade que cada ser tem em si de fazer o melhor apesar das condições dadas.
Ter dentro de nós a certeza disso é todo um trabalho interior a ser feito e
refeito dia-a-dia, mas essencial para nós mulheres podermos seguir em paz com
nossa natureza sonhadora e geradora de novidades.
Que nesta lua cheia possamos todas meditar nos simbolismos do
eixo Câncer- Capricórnio, pacificando dentro de nós o fluxo dos sonhos e das
criações, permitindo que a energia criativa nos atravesse e nos traspasse para ganhar o mundo, para que todo nosso potencial feminino possa se manifestar em harmonia com a natureza, dilatando
sempre para florescer plenamente a alegria de sermos mulheres.
G R A T I D à O! ��
ResponderExcluirGraças às Deusas!
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