sábado, 17 de outubro de 2020

O arquétipo de Durga e a psicologia de Jung

durga


De hoje até o dia 26/Out se comemora o Navaratri, um festival para trazer a memória do nascimento da deusa hindu Durga e sua vitória sobre Mahishasura - um demônio em forma de búfalo.

No mito, Mahishasura conteve seus impulsos com penitências e abstenções por muito tempo até receber permissão para vir ao mundo dos homens. Por aqui, passou a roubar e matar, levando os homens a viverem sob o medo.

Tendo dominado os homens, Mahishasura ficou ainda mais ambicioso, passou a confrontar os deuses e estava tão forte, alimentado pelo medo humano, que nenhum deus foi capaz de vencê-lo.

Então os deuses tiveram a ideia de criarem mentalmente uma nova entidade, que reuniria numa única forma as habilidades de cada um deles. Assim surgiu Durga, uma mulher com seus vários braços pra receber de cada deus um objeto símbolo de alguma capacidade e usá-lo para combater Mahishasura.

Montada num tigre e com muita coragem e determinação, durante 9 noites Durga batalhou contra Mahishasura e o venceu no último dia - o décimo após a lua nova.

Este mito tem muita correspondência com a visão junguiana sobre a Sombra, um aspecto intrapsíquico que vai se formando a partir de tudo aquillo que não damos vazão conscientemente, até que em dado momento a Sombra se manifesta e nos captura em comportamentos mais instintivos, inadequados e não desenvolvidos. Só com a aproximação consciente na direção dos conteúdos da Sombra é que podemos nos por em termos com ela, reconhecendo esses aspectos em nós e passando a integrá-los de forma construtiva. Essa capacidade de absorver o conteúdo da Sombra é especialmente favorecida quando entramos em contato com a Anima, o lado feminino em cada um de nós capaz de acolher e compreender profundamente todas as nossas partes, contribuindo assim para sua assimilação e desenvolvimento.

Também existe uma correspondência com o mito helênico do Minotauro, vencido pela força de Teseu (masculino) e a astúcia de Ariadne (feminino); e ainda com a carta do Tarot "A Força" que propõe um olhar atento para nossos impulsos mais instintivos a fim de que sejam dominados à luz da consciência.

Eu acho incríveis essas semelhanças todas entre mitos tão particulares de culturas diferentes e como essas heranças arquetípicas hoje são tão bem explicadas pelas correntes filosóficas que estudaram o comportamento humano. Me sinto privilegiada de nascer num tempo como este em que podemos ter acesso a toda essa informação e nos guiarmos por elas.

Por aqui vou comemorar o Navaratri com essa perspectiva, buscando olhar do lado de dentro o que Mahishasura simboliza em mim hoje. Pra quem também estiver nessa inspiração, desejo um caminho de muita coragem e determinação nestas próximas 9 noites.

Sarva Mangala Mangalye
Shive Sarvartha Sadhike
Sharanye Tryambake Gauri
Narayani Namostute

Nenhum comentário:

Postar um comentário