Luta Antimanicomial

Hoje é um dia para ser registrado, primeiro porque sou profissional da saúde mental e segundo porque tenho na família um parente debilitado permanentemente devido à internação manicomial.

Mas tenho também um terceiro motivo que gostaria de compartilhar aqui com vocês, que é o MAL USO da possibilidade de internação involuntária de uma pessoa numa instituição. Principalmente, contra mulheres.

Hoje o sistema manicomial, com internação e tratamentos feitos à revelia do paciente e mantendo-o distante do convívio social, está suspenso por força da Lei 10.216/2001. A psiquiatra Nise da Silveira foi a grande responsável pela mobilização que gerou essa lei, ela própria idealizadora da Terapia ocupacional e Arteterapia na assistência à saúde mental.

Hoje é um fato estabelecido que o sistema manicomial não concorre para melhoria da saúde mental, pelo contrário, causa o agravamento das condições e a deteriorização das funções psíquicas.

Porém, quando o sistema manicomial vigorava, muitas mulheres tidas como "inconvenientes" eram diagnosticadas como "doentes mentais" e retiradas da vida familiar e social, sendo enviadas para essas instituições até morrer. Por inconvenientes, leia-se: mulheres neurotípicas, lésbicas, solteiras, divorciadas, viúvas ou herdeiras - e o patrimônio delas geralmente ia para o homem mais próximo.

Pesquisem sobre a escultora francesa Camille Claudel que foi institucionalizada até o fim da vida, ou sobre Dona Yayá, única herdeira de um patrimônio que custou sua liberdade.

Ainda hoje, pessoas podem ser institucionalizadas nas brechas que a lei permite, como por exemplo a internação compulsória pelo uso de entorpecentes. E ainda hoje há pessoas que fazem mal uso dessas brechas, notadamente contra mulheres em fase de divórcio ou moradoras de rua com filhos.

A Lei da reforma psiquiátrica é uma conquista que interessa a todos, mas se você for mulher você precisa conhecer essa história e participar desta luta.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise