Este é o símbolo do arcano 7 do tarot, onde temos pela primeira vez o encontro consciente com as nossas possibilidades de expressão, uma positiva e outra negativa – a sombra.
O contato com esse arcano exige coragem e determinação, o que vem simbolizado pela expressão do cavaleiro. Note como ele segura de forma equilibrada as rédeas dos dois animais, cada um correndo para um lado diferente e mesmo assim mantendo a carruagem num movimento constante. O conflito não impede o movimento.
Mas podemos perceber também que o cavaleiro não está direcionado para nenhum dos dois cavalos, antes disso mantem seu olhar à frente, na direção aonde quer chegar.
Se trouxermos esse simbolismo para a vida prática, temos aqui o ser humano entrando em contato com sua natureza dual e percebendo que dentro dele existem forças distintas que coexistem simultaneamente e podem levá-lo a diferentes direções na sua expressão pessoal se ele decidir seguir uma ou outra.
Na teorização de Jung a respeito da psique humana ele reconhece o Ego como centro da consciência mas entende que a área do inconsciente pessoal contém um aspecto psíquico próprio formado pelos conteúdos que foram reprimidos, negados e não reconhecidos pelo indivíduo: a Sombra.
A Sombra acumula um material considerável de experimentações, sensações e emoções que foram vivenciadas pessoalmente mas que por algum motivo não foram admitidas pelo Ego consciente.
São características nossas que foram depreciadas, nos fizeram acreditar que elas não eram importantes nem adequadas, não tiveram lugar para serem expressadas por nós ou caíram no julgamento negativo de alguém. Ao não encontrar lugar para se manifestarem, essas características ficam trancadas nessa região da mente à qual não temos mais acesso. E muito desse material corresponde à energia criativa e espontânea da própria pessoa, que tendo em vista as reduzidas possibilidades de adaptação ao meio não puderam ser manifestadas no externo e ficaram acumuladas na escuridão do inconsciente pessoal. Mormente, caem no esquecimento.
Para Jung, essa espessa massa de conteúdos próprios negados pelo Ego ficam escondidos pois são incompatíveis com aqueles atributos que a pessoa reconhece a seu próprio respeito. Na busca por uma coerência com aquilo que sabemos sobre nós, enjeitamos esses conteúdos que parecem não ter relação com a autoimagem até então construída.
Porém esses conteúdos da Sombra são extremamente poderosos e se manifestam de tempos em tempos pois a psique está em constante movimentação rumo à autorregulação, de forma que quanto mais energia consciente aplicamos para manter a coerência dos aspectos reconhecidos, mais carga de energia será utilizada para compor a Sombra no interior do inconsciente. Para Jung, isso ocorre porque a psique reproduz um padrão de funcionamento universal que incorpora as noções de equivalência e constância da energia, princípios originalmente usados na física mas que são perfeitamente aplicáveis ao funcionamento psíquico dentro dessa lógica de operação. De sorte que para manter a equivalência e constância total da energia do sistema psíquico, quanto mais energia se dispende para afirmar aspectos conscientes, mais forte se torna a Sombra.
Essa correspondência é indicada na representação deste arcano pelos cavalos, ambos são do mesmo tamanho e forma mas podem ser reconhecidos distintamente pelas cores: a consciência em branco, a Sombra em preto. Ademais, cada cavalo corre para um lado diferente, indicando a autonomia da oposição dessas forças psíquicas e considerando o conceito de polaridade tão frequente na obra de Jung.
A partir dessa percepção de que existem forças diametralmente opostas em si mesmo, o indivíduo toma consciência do quanto seus impulsos o capacitam para agir no mundo externo e como estar consciente pode direcioná-lo para um ou outro tipo de expressão. E de acordo com a expressão, será o resultado.
Enquanto estiver na negação das características internas que formam a sombra, o indivíduo tende a alimentar ainda mais os comportamentos inconscientes gerando inúmeras repetições de eventos no mundo externo, atraindo situações em que possa reproduzir esse comportamento e gerando as consequências inevitáveis da sombra, que são os sentimentos de tristeza, isolamento e impotência.
Como este ainda é um arcano inicial da sequência numérica do tarot, não se espera que aqui o indivíduo entre em contato mais profundo com as questões que formam a sua Sombra e que faça esforços para corrigir-se. A ideia é de que aconteça apenas a percepção de que existe a polarização de forças e que o movimento da vida pede que ambas sigam atuantes, numa relação ao processo de autorregulação psíquica.
É o equilíbrio das forças que nos propõe este arcano, não há uma preferência por esta ou aquela direção, ambas são importantes para manter o movimento do Carro. No símbolo, o cavaleiro faz o papel do observador, sem se identificar com nenhuma das duas expressões ele vai conduzindo as forças para garantir que a viagem continue, sugerindo que a autorregulação psíquica ainda ocorrerá.
Isso porque na experimentação humana o indivíduo precisará ainda ir fundo dentro de si mesmo para conhecer-se completamente em todos os seus níveis de expressão, assim a conscientização somente acontecerá quando esse acesso mais profundo tiver chance de ocorrer.
Porém, nesta fase inicial do desenvolvimento, o que a Sombra promove de fato é a projeção dos conteúdos negados na direção das outras pessoas com quem convivemos. Apesar de não reconhecido em nós, todo esse material de que a sombra é composta fica visível no comportamento das outras pessoas. Negamos em nós mas vemos nos outros. E por terem uma carga afetiva no nosso inconsciente pessoal, o que vemos nos outros acaba nos afetando de volta e promovendo sentimentos distorcidos quando os percebemos.
Passamos então a criticar as pessoas que denotam tais características, não as toleramos por perto pois vê-las nos remete inconscientemente ao nosso próprio material não admitido e isso gera uma tensão insuportável. Outras vezes, essas pessoas podem nos causar inveja pois elas podem justamente expressar livremente algo que nós não pudemos, mobilizando em nós sentimentos negativos como raiva e ódio.
Quando mantemos uma atitude firme e constante na condição de observadores, tal qual a atitude do condutor do carro neste arcano, pouco a pouco vamos nos dando conta dessa alternância de forças e gradativamente vamos adquirindo mais consciência sobre os temas e afetos que projetamos nos outros. É nesse ambiente de alternância entre luz e sombra que se dá o crescimento, garantindo a espiral crescente do desenvolvimento psíquico individual.
Por fazer parte de nós, nunca poderemos erradicar a Sombra. Este é um aspecto componente da psique humana e é impossível eliminá-lo sem prejudicar o funcionamento completo do sistema psíquico. Os dois cavalos andam juntos e é a força dos dois que coloca o Carro em movimento, aludindo à noção atual da psicanálise de que ao longo da vida vamos nos colocando “em termos com a nossa Sombra”.
Já dizia Goethe: “A nitidez é uma conveniente distribuição de luz e sombra."
Assim, quando a carta do Carro aparece numa leitura isso pode sugerir que a pessoa esteja atravessando um momento onde tenha que lidar com suas projeções inconscientes, pode se sentir irritada na convivência familiar ou ainda pode estar atraindo inveja e provocações. Talvez seja interessante expandir o olhar para notar que possíveis emoções e sentimentos essas atitudes das pessoas evocam no indivíduo para reduzir a tensão psíquica e suavizar os relacionamentos em curso.
Assim, quando a carta do Carro aparece numa leitura isso pode sugerir que a pessoa esteja atravessando um momento onde tenha que lidar com suas projeções inconscientes, pode se sentir irritada na convivência familiar ou ainda pode estar atraindo inveja e provocações. Talvez seja interessante expandir o olhar para notar que possíveis emoções e sentimentos essas atitudes das pessoas evocam no indivíduo para reduzir a tensão psíquica e suavizar os relacionamentos em curso.
Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise
Nenhum comentário:
Postar um comentário