Esta carta linda e serena nos mostra uma mulher nua na noite
clara, iluminada por uma estrela e
refletida na água aos seus pés. Esta imagem é uma evocação ao nosso ambiente de
nascimento, de como chegamos a este mundo.
Toda vida se inicia na água e do ambiente aquático foram
evoluindo os répteis, aves e mamíferos. Durante os nove meses de gestação
ficamos inseridos numa bolsa de líquido amniótico e é na água que se encontra
todo o potencial de geração de novos seres, de qualquer espécie animal ou
vegetal. Sem água não há vida.
Além da água, precisamos também de luz e calor. É a luz que
garante o crescimento saudável das espécies e dá energia para cada etapa dessa
evolução. Nossa estrela maior é o Sol, que com sua luz e calor promove o
crescimento dos ossos e o regular funcionamento dos hormônios de crescimento do
corpo humano.
Em alguns decks de tarot esse arcano é representado com sete
estrelas, remontando à constelação das Plêiades – um conjunto de sete estrelas
com uma estrela central chamada Alcione. Algumas linhas esotéricas consideram
que a vida inteligente chegou na Terra por intermédio dos seres dessa
constelação.
A ideia central do arcano é, portanto, um retorno às
origens. Da mesma forma que nascemos das águas de nossas mães e completamente
nus, a carta da estrela propõe justamente esses símbolos como um reinício da
nossa jornada.

Na psicanálise moderna a fase de amamentação é levada muito
a sério para verificar a saúde mental de uma pessoa. Existe a abordagem
sustentada por Winnicott e Melanie Klein que considera o começo da vida como a
base de todo o desenvolvimento psíquico do indivíduo e que suas capacidades de
relacionamento com os outros e com o mundo dependeriam inteiramente do sucesso
do aleitamento.
Ao ser alimentado de leite e de afeto, o bebê tem sua necessidade
atendida e isso promove nele uma sensação de bem estar e de confiança, pois
basta que ele queira e a necessidade é atendida. Ele se sente o criador dessa
satisfação e isso vai reforçando no pequeno bebê que ele é capaz e o mundo pode
lhe dar o que ele precisa. Ele aprende a confiar e assim passa a se sentir
seguro neste mundo externo.
Nessa fase, o cérebro ainda não possui a área onde ficam
armazenadas as memórias. Segundo a atual neurociência, o cérebro leva cerca de
dois anos para se desenvolver completamente e deixar essa área pronta para
funcionar. O resultado é que durante esse primeiro período da vida, o bebê
registra essas memórias no corpo, nas sensações corporais.
Então o bebê pode registrar tanto a sensação prazerosa de
ter suas necessidades atendidas, como também toda ansiedade, desgosto e
frustração de não ser atendido – o que igualmente fica registrado no corpo.
Um corpo com muitos registros de desprazer não consegue
confiar na abundância do mundo e na segurança dos afetos dos outros. É preciso
fazer toda uma reprogramação desses registros para que o Ser possa se sentir
novamente inserido nessa grande teia humana e confie que vá receber do mundo e
dos outros tudo aquilo que precisa para existir com segurança e ser feliz.
Uma pessoa que cresceu com fortes inseguranças e a sensação
constante de ansiedade aprende a desconfiar de tudo e de todos. Uma criança
abandonada nos primeiros anos de vida aprende que o mundo não é generoso e que o
que ela precisa é muito difícil de ter e requer muito esforço para conseguir. Sua percepção será de que tudo depende somente
dela e ela não poderá contar com ninguém. Então precisará se esforçar mais que
os outros, realizar mais, competir e estar à frente sempre para poder
sobreviver.
Mas essa é uma atitude que vai gerando cada vez mais
ansiedade no indivíduo porque não é possível chegar a uma satisfação real com o
mundo nesse ritmo de desconfiança, pelo contrário, a tendência será continuar
se sentindo isolado e não preenchido porque sua real necessidade de satisfação
não é material (objetos), mas sim emocional (afetos).
Foi isso que faltou para essa pessoa lá atrás no início da
vida: afeto e acolhimento.
Somos seres coletivos e existimos coletivamente, somente
chegamos na compreensão máxima de quem nós somos quando passamos pela experiência
promovida pelos “espelhos” da convivência: quando podemos diferenciar o que é
verdadeiramente nosso do que é a projeção do outro em nós.
No arcano anterior vimos que a Torre destruiu todas as
falsas crenças e aquela frágil construção de um Ego que não correspondia à verdade
interna do sujeito.
Agora, nesta carta seguinte, o sujeito está renascendo e
reconstruindo o seu Ego, as máscaras caíram e as crenças que ele tinha sobre si
mesmo estão em profunda reformulação.
Depois dessa destruição toda ainda não se sabe que chão é
esse em que estamos pisando, mas nossa luz interior, nossa Estrela, será a
guiança que precisaremos nessa fase.
Agora, o Ser está descobrindo quem ele é de verdade e qual
sua essência mais verdadeira. Está percebendo que o mundo pode sim responder
generosamente concedendo aquilo que ele precisa, que as pessoas podem ser boas
e afetuosas e que há um novo jeito de se relacionar com o mundo.
Então aqui ele está sendo amamentado novamente, está sendo
alimentado e nutrido pela vida e reaprendendo a confiar. O resgate dessa confiança
no mundo e nos outros é o que a carta da Estrela vem retratar.
A carta da Estrela também nos propõe estarmos presentes
nesse processo, ou seja, que nossa mente esteja atenta e nosso coração aberto
para percebermos essa necessária mudança de paradigma na visão de mundo. A carta
da Estrela simboliza uma atitude mental.
Uma pessoa com a mente atenta e disponível vai conseguir
estabelecer metas de satisfação pessoal possíveis e se dar conta de onde
consegui-las, vai acreditar no seu potencial de realização no mundo e não vai
desperdiçar as oportunidades que chegam para construir sua realidade. Também
poderá se sentir feliz e em paz com o mundo e com os outros, sem comparações
desnecessárias que acabam afastando as pessoas de quem gosta.
É aqui que entra o princípio hermético da correspondência,
atraímos aquilo que somos. Quando a pessoa sabe quem ela é de verdade consegue
vibrar essa informação naturalmente e o Universo responderá atendendo de volta aquela
vibração. A tensão acaba e tudo se torna mais leve e mais simples, pois já não
serão necessários grandes esforços para ser e existir.
Quando a carta da Estrela chega numa leitura geralmente foi depois de um profundo aprendizado onde a pessoa perdeu algo que lhe era muito caro e está recomeçando numa nova etapa de vida.
É a hora de assumir que você venceu a si mesmo, hora de se
entregar à sua verdadeira natureza e deixar fluir sua essência mais pura para ser levado com toda amorosidade a uma nova vida que refletirá seu verdadeiro Eu.
Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise