quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Maternagem e ciclos astrológicos

9 anos


Você tem um/a filho/a aos 9 anos?

Faz tempo que não escrevo sobre aspectos da maternagem mas nas últimas semanas este tema foi recorrente nos meus atendimentos por aqui. Eu gosto muito de contextualizar a vida adulta nos ciclos de desenvolvimento pelo olhar da astrologia, que sugere etapas muito interessantes para que a gente se aprimore especificamente num tema, e isso tem a ver com maternagem e com a idade dos 9 anos.

Quando nos tornamos mãe de uma criança podemos considerar que o mapa daquele filho é também um indicador de como a nossa maternagem pode se desenvolver, pois o mapa também pode ser aplicado a um evento da vida e seus desdobramentos psicológicos.

O primeiro aspecto que me chama a atenção é o ciclo de Marte que geralmente leva 2 anos para se completar. Marte é o planeta que nos impulsiona às conquistas e à independência e quando a gente usa essa lente para observar a relação mãe-bebê percebe que por volta dos 2 anos tanto o bebê ganha bastante autonomia de movimentos e inicia a usar a linguagem e a lógica, como a mãe também vai voltando a ter interesses outros além da maternidade, se sentindo mais liberada para retornar à vida própria.

Algumas pessoas tem chamado essa fase de "Terrible Two" sugerindo que nessa etapa as crianças se comportem terrivelmente, fazendo birras e pirraças para conseguir o que querem. Mas se a gente contextualizar no ciclo de Marte, a pequena criança está na verdade expressando o que ela quer com a linguagem que ela é capaz de dominar nessa fase - a linguagem do corpo. Ela ainda não tem repertório nem vocabulário para indicar assertivamente o que ela quer, o que ela não quer e o que a desagrada mas que a mãe insiste em fazer. Além disso, a criança também sente que a mãe está no seu ciclo próprio de Marte e retomando uma organização mental que considera outras coisas além dela, ao que ela pode reagir exigindo a mesma qualidade da atenção que era dada a ela até então.

Já pensou em como esse olhar poderia ter economizado muitos momentos de atrito desnecessário?

Já aos 9 anos o ciclo é outro, esse será o primeiro contato com a Lilith - um ponto de diferenciação muito importante para a construção da subjetividade e no qual a gente só embarca por meio de experiências mais agressivas e com um certo isolamento.

O contato com a Lilith requer que a gente se sinta incompreendida, desconectada e sem voz. Então nessa fase dos 9 anos é comum que aconteça entre mãe-filho/a alguma vivência mais forte onde há perda de controle, descompensação emocional, alguma agressividade e - principalemente - a sensação de não conseguir dizer exatamente o que se pensa ou de não ser compreendida naquilo que foi expressado.

Faz parte do processo com a Lilith esse estranhamento, no mito o ponto de recuperação da força desse feminino é no deserto, no isolamento e na sensação de desamparo. É daí que vai nascer a compreensão de que existem coisas que não podem ser negociadas, são aspectos que fazem parte pulsante da nossa subjetividade e vamos resistir na nossa integridade a um primeiro momento porque abrir mão de partes nossas é algo muito doloroso, mais doloroso que o desentendimento.

E aí é que vem o peso da cultura e da nossa própria formação, a gente aprendeu que criança não tem que querer nada e que a rejeição dela a exigências nossas é um desrespeito. Por outro lado, quando a gente exige da criança que ela abra mão da sua nascente noção de autonomia e diferenciação, ela se sente intimidada por ter feito essa descoberta.

Encontrar um ponto de equilíbrio para orientar nossas crianças nessa fase, considerando que a parentalidade tem o dever intrínseco de oferecer bons caminhos e exemplos, sem no entanto sufocar o impulso pela descoberta da autonomia das crianças, é um grande desafio.

E se a gente não estiver em paz com a nossa própria capacidade de gerenciar a vida com autonomia, o comportamento questionador da criança nessa fase vai nos doer naquilo que a gente ainda não desenvolveu de independência. O resultado é a gente cair no desentendimento por projetar na reação infantil a situação que ainda não fomos capazes de resolver dentro de nós e que ainda nos mantém em alguma dependência.

Uma ótima maneira de descortinar isso dentro da gente é revisitando o que nos aconteceu aos 9, aos 18 e aos 27 anos. Observe que tema foi recorrente nessas idades e pode ser que você encontre aí uma pista para trabalhar dentro de você algo que vai te fortalecer para que, num segundo momento, você possa apoiar sua criança nessa importante etapa do desenvolvimento dela sem se sentir intimidada quando ela descobrir a força que ela tem - e que pode ser diferente do que você esperava ver nela.

Eu vivi aos 9 anos uma experiência muito forte de abandono real, fui levada para viver na casa de uma outra família por 6 meses e nunca ninguém da minha própria família me visitou lá. Meus filhos aos 9 anos passaram por experiências bem fortes também, um precisou fazer uma cirurgia e ficou muito marcado o fato de ter que entrar sozinho na sala de anestesia sem nosso apoio e o outro teve um impacto muito forte no aprendizado e se desconectou completamente da sua turma do colégio. Ambas, experimentações de isolamento e desamparo.

Eu demorei um tanto para conectar esses pontos, teria feito muita diferença se alguém me apontasse isso na época para eu poder acolher os processos deles enquanto estavam em curso. Mas hoje eu também sei que tudo pode ser reparado porque o tempo não existe e podemos revisitar esses momentos na atualidade para fazer reparações, então está tudo certo.

Agora me conta, você também tem uma história sua aos 9 anos?

Percebeu alguma similaridade dessa história sua com algum fato entre você e seu filho/a aos 9 anos?

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