sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Sonhos na Terapia


Sonhos terapia

Os sonhos são um material incrível vão direcionando os temas a serem trabalhados ao longo dos encontros entre analisando e analista. Podemos nos valer de várias técnicas para trazer incentivos e estímulos à análise, eu gosto particularmente das mandalas e da associação livre de palavras para explorarmos em consultório, mas eu gosto mais do material dos sonhos. Esses sim apresentam tanto os detalhes de um estado psíquico como também pode, muita vezes, antecipar que tipo de reação o próprio analisando terá quando entrar em contato consciente com seu material interno.

Elucidar um sonho é uma tarefa mais difícil do que parece, mesmo quando temos algum repertório do simbolismo universal querer "achar" algo no sonho do outro pode virar "interpretose". E não é esse o propósito da coisa.

O sonho tem um ambiente, um encadeamento e um ritmo únicos que são de cada um. Tem gente que tem sonhos inteiros e só lembra de um fragmento, um segundo de toda uma extensa narrativa, mas ainda assim naquele quadro é possível trabalhar. Por outro lado tem pessoas com narrativa oníricas longas, um quadro depois do outro como um filme mesmo e a pessoa se lembra de cada detalhe, cada frase dita, até o que pensou e não disse no sonho. Tudo muito subjetivo e personalíssimo.

De toda forma, é o sonho que apresenta a necessidade de compreensão mais profunda de um fato pessoal e qual é resiliência do sujeito para lidar com essa compreensão. É muito legal quando o sonho acompanha o que foi verbalizado em terapia mas também pode acontecer o contrário disso. Pode ser que na terapia estejamos puxando muito uma corda que se arrebentar o sujeito se arrebenta junto, e aí o sonho vem avisar que ele não tá dando conta dessa elaboração agora e insistir nesse tema é um risco.

Os sonhos são uma porta para outro estágio mental e para a gente atravessar essa porta precisa estar firme e sustentar esse novo ponto de percepção.

Eu costumava sonhar repetidamente com uma festa e um violão mas sempre que eu ia tocar estava sem uma corda, aí eu parava a festa e ficava procurando "a corda". A-corda. Acorda!!!

Meu terapeuta na época se limitou a me repetir na sessão: "você ficou procurando a corda?" Eu dizia: sim. Ele repetia, no espelhamento: "a corda?"

Um dia eu entendi. Era eu quem tinha que acordar com relação a uma situação de vida que eu não queria enxergar e repeti esses sonhos muitas vezes até me sentir forte o suficiente para afirmar: não quero mais viver isso. E nunca mais sonhei com violões sem corda  

Como terapeutas, nosso papel é apenas apoiar a caminhada dos nossos analisandos. Ser sensível ao ritmo do analisando, apoiar suas descobertas sobre si e MUITAS VEZES calar e esperar varias sessões até que ele próprio reconheça seu material e signifique isso.

Agora, coisa mais linda da vida é a gente ver o sonho sendo apropriado durante uma sessão de terapia e sentir junto com o analisando o quanto essa significação tem efeito prático no fortalecimento de si, no resgate da auto estima e nas restaurações de vida. É pra isso que eu trabalho e testemunhar esses resgates é um grande privilégio.

Queria só contar que esta semana, que teve eclipse, foi o que mais vi acontecer por aqui

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