Os eclipses acontecem sempre que a trajetória da Lua se encontra com a linha de rota da Terra (eclíptica), formando um alinhamento perfeito entre Sol-Lua-Terra, nessa ordem. Quando a Lua entra na frente do Sol, sob a nossa perspectiva, projetando então a sombra lunar aqui na Terra, simbolicamente temos um tempo onde os conteúdos do inconsciente – e principalmente as nossas Sombras – encontram uma maneira de se manifestar ao consciente e reclamar sua existência.
Agora este eclipse vai abalar mesmo as estruturas porque acontecerá no eixo Câncer-Capricórnio onde já estão Saturno e Plutão fazendo seu trabalho de trazer à superfície tudo que está “podre” nas bases das nossas crenças individuais e nos fundamentos das instituições coletivas, para ser cortado fora e estancado de vez.
Câncer é um signo de água, do reino dos sentimentos e das emoções, que evoca o cuidado com a vida e sua preciosidade, o poder de geração do feminino e a força dos afetos bons que podem nutrir e fazer as coisas crescerem e prosperar. Por isso sua associação com o arquétipo da Grande Mãe, no sentido de que esse símbolo proporciona o conforto e segurança que precisamos receber primeiro para depois nos sentirmos prontos a lidar com a realidade em todos os seus desafios (Capricórnio).
No momento da lunação, a Lua e o Sol estarão na casa 7 e evidenciarão para nós o quanto precisamos nos sentir amparados nas nossas relações com os outros, o quanto é importante que a gente se sinta pertencente a algum núcleo e como isso pode trazer sustentação e força.
Sentir-se parte integrante de uma família é essencial para a construção da nossa identidade e para um desenvolvimento psíquico saudável. As crianças que se sentem protegidas pelas figuras parentais, dentro do seu lar, são crianças mais seguras, que se expressam melhor e seguem um desenvolvimento cognitivo mais satisfatório. As crianças que não têm essa mesma base pode se sentir hesitantes, ansiosas e inadequadas, o que pode dificultar o estabelecimento de vínculos, a capacidade de exposição das próprias ideias e sua autoafirmação.
Que tipo de criança você foi, a que chamava o amiguinho para brincar ou aquela que ficava triste e sozinha no cantinho?
Será que você não traz daquela época a sensação de que “você não faz parte” deste mundo ou que “isso não é pra você”?
O pertencimento é o sentimento de estar incluído, de fazer parte, e a primeira noção de pertencimento que assimilamos é a noção de família. Então esta lunação vai tratar deste aspecto da nossa vida, de nos reconhecermos como um resultado daquele núcleo original onde fomos criados e do qual recebemos o que precisávamos para nos compormos e crescermos como indivíduos.
O psicanalista Heinz Kohut propõe que o pertencimento é essencial para definirmos a nossa subjetividade, a qual ele entende como inter-subjetividade no sentido de que a exata noção de “quem somos nós” (ou seja, o nosso Self) só é possível de ser alcançada se nos considerarmos num contexto de vínculos nucleares. Para atingirmos todos os nossos potenciais na vida, precisamos estar amparados pelos vínculos e afetos que formam “laços de sustentação” ao nosso Self.
Câncer é o signo da memória, cancerianos lembram das conversas de anos atrás, das roupas da infância, das comidas e até das piadas de família. Nesta lunação o convite é para que a gente relembre as histórias familiares em sua amplitude, considerando bem os traços familiares e percebendo o que foi passado adiante nas linhagens da nossa ancestralidade para entendermos de que material humano nós fomos feitos e assim possamos nos reconhecer como indivíduos que também possuem esses atributos.
Por exemplo, eu sou branca mas meu avô materno era negro. E como negro ele tinha uma ancestralidade também negra, com suas características étnicas e religiosas próprias e o traço marcante da escravidão na sua genealogia. Para eu entender quem eu sou e qual meu lugar no mundo é muito importante que eu esteja consciente da negritude que compõe a minha linhagem e todos os efeitos disso nas histórias das pessoas que me antecederam, porque eu sou resultado desses eventos.
Quando negamos certas histórias de família, escondemos segredos ou fazemos de conta que situações desagradáveis do passado não nos atingem, estamos negando partes da nossa intersubjetividade e, portanto, não conseguimos ter uma real imagem de nós mesmos nem vislumbrar o alcance dos nossos passos neste mundo.
Além disso, quando não nos sentimos amparados, amados ou queridos pelas pessoas que compõem o nosso núcleo, o sentimento de desconexão retira a noção de valor próprio e pode promover um isolamento que abre as portas para processos depressivos.
Nossas memórias e laços afetivos são nutrientes poderosos para que a gente possa se fortalecer diante da vida.
E se a gente transpuser esse cenário para o aspecto coletivo, podemos estar diante de um momento muito importante para relembrarmos a nossa história coletiva e os laços que refletem a nossa intersubjetividade brasileira, aquilo que nos identifica como nação.
O mesmo Kohut propõe que o conceito de cidadania é consequência da noção de pertencimento, pois um indivíduo integrado ao seu núcleo familiar pode ampliar essa noção para se sentir integrado também a um núcleo social e a uma nação, conseguindo reconhecer a importância da sua participação nesses grupos e se dispondo ativamente a integrar as decisões que conduzirão os interesses comuns dali em diante.
E o mais lindo dos ensinamentos de Kohut é a constatação de que pessoas que se sentem pertencentes conseguem compartilhar o que tem. Elas não estão inclinadas à falta ou a necessidade de defesa, elas conseguem ser acolhedoras e ver o outro como alguém com quem somar.
Vejam como essas ideias dialogam com estes tempos!
No momento da lunação, Júpiter estará no ascendente ao lado da Roda da Fortuna, indicando que existem mudanças prestes a acontecer na esfera legal do país e concernentes a este aspecto da participação cidadã. O tema da maternidade e tudo que envolve a participação das mulheres na vida social estará em alta neste mês e promete boas reflexões. Se você sente que pode contribuir com a evolução destes temas, ocupe o seu lugar e realize o que estiver ao seu alcance.
Mas para além desse possível desdobramento, no ambiente interno é hora de voltar às raízes para se compreender melhor, ter aquele encontro com a sua linhagem e ancestralidade, aceitar sinceramente os elementos que te compõem assim como o núcleo que te formou e te nutriu, para a partir dessa compreensão você retomar sua caminhada na direção das metas pessoais que você tiver.
Não dá pra crescer sem ficar forte primeiro. Este é o tempo de se fortalecer, volte pra dentro e encontre sua força dentro de você. Pode ser uma viagem surpreendente!
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