Eu adoro essa foto e essa frase de Virgínia Woolf. É da obra "Um teto todo seu", em que ela discorre sobre a dificuldade que as mulheres até aquele tempo viveram para adquirir conhecimento, escrever e registrar suas próprias ideias. Ela fez isso num ciclo de palestras universitárias para demonstrar que muita genialidade feminina se perdeu ao longo da História porque as mulheres até ali não tinham como produzir conhecimento ou literatura já que eram fadadas ao trabalho eterno pela condição feminina e dependência financeira de um homem por força da lei. Virgínia apresenta a ideia de que uma mulher com o seu próprio dinheiro e teto, que não fosse obrigada ao trabalho do cuidado para ter acesso a isso, teria muito a contribuir com o mundo a partir do seu desenvolvimento intelectual.
Hoje as mulheres têm acesso à educação e podem contribuir muito com a produção de conhecimento, mas isso acontece há bem pouco tempo contra milênios de construção de um mundo em que as mulheres foram impedidas de se desenvolver intelectualmente.
Num outro trecho do livro tem essa citação aqui:
"A liberdade intelectual depende de coisas materiais. A poesia depende da liberdade intelectual. E as mulheres sempre foram pobres, não só por duzentos anos, mas desde o começo dos tempos. As mulheres gozam de menos liberdade intelectual do que os filhos dos escravos atenienses. As mulheres, portanto, não tiveram a mais remota chance de escrever poesia."
Por isso essa frase da Virginia é tão provocativa e necessária, mesmo sem acesso às fontes formais de conhecimento as mulheres produziram seus saberes.
Já caminhamos um tanto e as mulheres tem maior acesso ao desenvolvimento intelectual pelas vias formas da educação. Mas mesmo com as mudanças na sociedade, ainda hoje a condição feminina nos captura e continua impedindo mulheres brilhantes de produzir conhecimento e partilhar suas ideias. A dedicação à função do cuidado é arquetípica e é aí que entra a manipulação social da propaganda. Se hoje temos acesso à educação, ainda somos atingindas na construção que fazemos do mundo desde a infância permeada de contos de princesas que serão escolhidas e romantização da maternidade.
Sem perceber podemos ser conduzidas pela força do arquétipo da mulher que ama e cuida, dedicando nosso tempo e energia em coisas que outras pessoas podem fazer por elas mesmas e deixando de lado aquilo que SÓ VOCÊ com as suas características pode produzir.
Já pensou nisso?
Eu já. Aliás, quando penso nisso, quase posso ver a Virginia me olhando com essa cara aí e me perguntando: "sério mesmo que você vai lavar sozinha toda a louça do almoço?"
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