quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

Masculinidade tóxica na linhagem feminina



Ultimamente eu tenho ouvido muitas histórias que colocam em perspectiva os efeitos das decisões de um único homem e que atingem as mulheres de uma mesma família por gerações. Homens que mantiveram famílias paralelas, homens que não se importaram em exercer a violência contra a esposa na frente dos filhos, que abandonaram material e afetivamente a família ainda que mantendo um casamento aparentemente normal (e a mulher dando conta de tudo sozinha), homens que impediram as mulheres de terem os filhos que queriam levando-as obrigadas para abortar, homens que abusavam sexualmente dos filhos pois tudo na casa era dele...

Essas atitudes de um masculino dominador que pode mais por ser homem e que não encontrar impedimento desde que "ninguém saiba", deixa consequências terríveis na vida das mulheres. Elas se resignam, sabem que não podem falar sobre o assunto, que não irão encontrar empatia pois todos julgam e a realidade organizada é machista.

"Por que você aguenta isso?"... "Por que não foi na polícia?"...

E tão mais além disso...

Uma mulher continuamente exposta à esse tipo de masculinidade tóxica acaba desenvolvendo um senso de autopreservação diante de tanta dominação, que toda raiva por não poder se posicionar sem risco próprio fica contida e vai, ao longo do tempo, correndo sua fundação mais básica, seu amor próprio e a capacidade de manter vínculos. E o efeito dessa repressão inconsciente é a projeção desses sentimentos negativos de forma distorcida em outras mulheres - geralmente à filha que também é mulher. Mulheres atingidas pela masculinidade tóxica podem ser amargas, cansadas, exigentes, e nisso vão perdendo a habilidade de conviver saudavelmente com outras mulheres.

Aí vem o patriarcado e nos faz acreditar que mulheres são desunidas, são invejosas e competem entre si. E muitas de nós acreditamos nessa mentira deslavada, reproduzindo essa desunião.

Mulheres, vamos nos conscientizar! Temos que perceber que isso atinge a todas as mulheres, de todo tipo de origem e nível social, não importa como cada uma vivencie essa realidade.

Nós precisamos muito contar essas histórias, esse aprisionamento mental em que muitas mulheres viveram por muitas gerações precisa acabar. Cada vez que uma mulher conta uma história dessa no consultório, eu fico imaginando como ela está dando voz a uma linha inteira de mulheres antes dela que foram contidas e caladas.

Essas vozes ancestrais precisam ser ouvidas!

Ainda hoje vivemos as mesmas prisões porque não conhecemos os caminhos que elas trilharam. Procure saber das histórias da sua mãe, da sua avó. Entenda o que aconteceu com elas e conte essas histórias para suas amigas, conte num círculo de mulheres, dê voz à sua ancestralidade.

Conhecer as histórias comuns às mulheres nos permite acolher nossa irmã ainda que a gente não concorde com ela!

Isso é uma reparação extremamente potente e que pode nos colocar novamente no estado de consciência mais coerente em relação ao feminino, onde possamos nos acolher umas às outras e nos fortalecer mutuamente para apontar os prejuízos de uma masculinidade que é tóxica pra todos.

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