quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Mães Narcisistas



Esta semana dei uma entrevista ao Jornal Estadão, à jornalista Rita Lisauskas, pra falar sobre este tema que, apesar de ser recorrente na história pessoal de muitas mulheres, não recebe o apoio nem a empatia por parte do senso comum pois ainda estamos muito arraigados ao ideal da "mãe carinhosa" que se "sacrifica" pela sua família.

Porém, o Transtorno de Personalidade Narcisista é uma patologia real, reconhecida pela comunidade médica e tem código no DSM, a lista das doenças conhecidas. Ou seja, é uma quadro de anormalidade. E que pode acometer mulheres, determinando a constituição da sua personalidade e se manifestando na qualidade da sua maternagem no futuro.

Nesse quadro, a relação mãe e filha fica comprometida por uma atitude constantemente perversa dessa mãe. A mãe age com hostilidade, falta de acolhimento e cuidados enquanto a filha quer pertencer e tenta agradar o apetite insaciável dessa mãe insatisfeita, o que compromete sua auto estima e capacidade de realização no mundo. Geralmente nesses casos o afastamento é necessário para que a filha possa se recompor e entender suas opções possíveis no relacionamento com a sua mãe dali pra frente.

Mas existe algo aí nessa nomeação do problema que sempre me incomodou, que é o fato dele se fixar no aspecto da hostilidade entre mulheres.

Para a filha, que teve sua personalidade moldada nesse ambiente de hostilidade frequente, será muito difícil confiar em outras relações e contextos, o que promove nela uma sensação de que deve se defender o tempo todo e gera muita ansiedade. E como essa noção é inconsciente, a possibilidade de se gerar uma sombra que atraia justamente pessoas que não merecem confiança é grande, reforçando a sensação de hostilidade do mundo e de incompreensão recorrente.

Já a mãe, que é a parte perversa da história, essa geralmente age com agressividade e pode representar um risco real para a filha criando situações que causam danos de verdade para ela. Para a mãe narcisista resta o julgamento por ter agido de forma tão contrária ao que se espera de uma figura materna. Ela mesma não se dá conta disso e vê na filha a "ingrata" que não percebe o quanto ela quer "ajudar", e para si vai justificando a hostilidade que mantém na relação.

Porém, olhar para a questão já estabelecida esconde o fato de que essa condição é o resultado negativo de um evento forte que aconteceu na vida dessa mãe, não teve o tratamento adequado e acabou por comprometer a saúde psíquica dela. E geralmente tem a ver com histórico de estupro e aborto da mãe que se manifesta durante um puerpério terrível dessa filha.

Nenhuma mãe quer conscientemente destruir a autoestima de uma filha, isso acontece como consequência numa dinâmica que vai se estabelecendo porque ninguém nunca olhou para essa mãe e ela não teve a chance de ser cuidada como precisava. E a filha, por sua vez, se não tiver a oportunidade de cuidar desse trauma, quando ela for mãe pode repetir esse mesmo padrão na sua maternagem - o que vem sendo interpretado como sendo uma predisposição genética.

Pra mim, essa é também uma predisposição da sociedade que não apoia de fato a maternidade.

Se enquanto sociedade a gente realmente apoiasse a maternidade, entendesse que a mãe precisa de cuidados específicos nessa fase da maternagem, incluindo afastamento do trabalho e apoio emocional pra lidar com suas questões, e que isso não é frescura nem privilégio, daríamos um passo bem importante garantindo a saúde mental de quem cuida da formação de toda uma geração de pessoas.

Quando a gente não apoia a maternidade, abre caminho para o adoecimento das mães e para o estabelecimento de quadros psíquicos negativos nos filhos. Em larga escala, uma população inteira com desenvolvimento psíquico impactado.

O transtorno da Mãe Narcisista existe e precisa ser cuidado, mas a gente precisa enxergar além do problema já estabelecido entre mãe e filha e contextualizar essa conversa para não cair no conhecido lugar de culpabilização da mulher e silenciamento do real problema, que é essa dinâmica social que atropela mulheres na maternidade e da qual elas nunca escapam ilesas.

Às vezes para essa filha a solução para interromper os danos causados pela mãe que sofre desse transtorno é o afastamento, pois há risco real para essa filha. Mas para quem é filha, só o afastamento não resolve, ela quer entender o que houve e quer ser legitimada em sua dor. Para isso, o caminho da terapia pode ser extremamente positivo, ajudando-a a compreender as razões que estabeleceram esse quadro e dando maior sentido às histórias para que tudo se acomode internamente da forma possível.

Vou transcrever abaixo a entrevista, mas se você quiser ler diretamente na matéria o link está aqui:

https://emais.estadao.com.br/blogs/ser-mae/a-mae-narcisista-e-habilidosa-em-se-fazer-de-vitima-e-de-dizer-que-a-filha-e-ingrata-explica-psicanalista/

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‘A mãe narcisista é habilidosa em se fazer de vítima e dizer que a filha é ingrata’, explica psicanalista

POR RITA LISAUSKAS
05/09/2018, 11h22

A psicanalista Verbenna Yin, 41, lembra que quando era pequena nunca conseguia agradar a mãe, pelo contrário. Nada do que ela fazia parecia bom o suficiente. As notas sempre altas na escola e até os bons textos que escrevia, que eram elogiados pela professora, eram depreciados pela mãe, que também não poupava críticas à aparência da filha, ainda uma menina. “Ela vivia me dizendo que eu era feia, muito feia”, lembra.

Já os dois irmãos de Verbenna recebiam um tratamento diferenciado, porém não menos tóxico: o menino, filho do meio, era o protegido, “sempre elogiado”, enquanto a outra irmã, a caçula, era tratada como “incapaz”. A hoje psicanalista conta que passou a infância e a adolescência tentando conquistar a admiração e o carinho dessa mãe, sem sucesso. Quando tinha 18 anos, o choque: a mulher que ela se esforçava tanto para impressionar tentou matá-la. “E não foi durante uma discussão ou tentando se defender de uma ameaça. Foi uma agressão gratuita, quando eu estava quase dormindo”, conta. A jovem saiu de casa e se afastou da mãe, por questão de segurança.

Anos depois, já formada em psicanálise, mãe de dois meninos e ainda longe da mulher que a colocou no mundo, Verbenna conta que mães como a dela, que destroem a autoestima dos filhos e transformam a infância e vida adulta deles em um inferno são mais comuns do que se possa imaginar. “São as mães narcisistas”, explica, agora como psicanalista. “O transtorno de mãe narcisista é um quadro real onde a relação mãe e filha fica comprometida por uma atitude constantemente perversa dessa mãe, que age com hostilidade, falta de acolhimento e cuidados enquanto a filha quer pertencer e tenta agradar o apetite insaciável da mãe insatisfeita, o que compromete sua autoestima e capacidade de realização no mundo”. Perceber que se é filha de uma mãe narcisista pode doer, conta, agora como filha . “A gente espera ser acolhida e é difícil romper com esse ideal de que a mãe sempre quer o seu melhor. Nem sempre ela quer”, afirma.


Blog: Como é a relação dessa mãe narcisista com seus filhos?

Verbenna: É uma dinâmica permanente que se estabelece geralmente com uma filha, que é o ‘bode expiatório’, enquanto os outros filhos, quando existem, ocupam outros lugares: tem o ‘filho dourado’, que recebe todos os atributos positivos, e o filho ‘protegido’, incapacitado por essa mãe e atingido em sua autoestima. É uma dinâmica inteira que não atinge apenas um dos filhos. Mas a existência desse ‘bode expiatório’ entre eles é que é muito cruel. Geralmente é a filha mulher que recebe toda a projeção negativa dessa mãe.

Blog: Sempre é com a filha mulher?

Verbenna: Geralmente. Mas quando há dois filhos meninos ou quando há um filho só também se estabelece uma relação doentia com essa mãe que tem uma personalidade narcisista. É mais comum a gente encontrar filhas de mães narcisistas.

Blog: E como é essa personalidade narcisista?

Verbenna: É muito voltada para si mesmo, porque é disso que o narcisismo trata. É uma incapacidade de conexão real com o outro. A pessoa só consegue se relacionar com o mundo a partir do que ela reconhece dela mesma nesse lugar externo. Com relação à maternidade, fica muito difícil o exercício de empatia dessa mãe, que não consegue ser tão sensível assim às necessidades dessa criança, podendo ser negligente ou exigir coisas que ela não tem condição de atender.

Blog: E essa dinâmica começa sempre quando a filha ou o filho ainda é bebê?

Verbenna: Os transtornos de personalidade se estabelecem aí, nesse momento, no primeiro ano de vida. A qualidade da relação entre essa mãe e essa filha é determinante para se estabelecer esse problema. A gente só olha para fenômeno já acontecido, registrado, fechado. Mas essa mãe, que é narcisista de fato, também foi um bebê, então sua personalidade narcisista se desenvolveu também quando era bebê. Essa questão nunca é isolada, ela é acompanhada também de outros quadros, então essa mãe pode ser esquizofrênica, sociopata, psicopata. Só que ela não nasceu assim, isso se estabeleceu quando era criança e se a gente vai pesquisar encontra uma avó com traços muito parecidos e que reporta histórias extremas de violência, abuso e outras coisas piores. Olhar para a questão já estabelecida esconde o fato de que essa condição é o resultado negativo de um evento forte que aconteceu na vida dessa mãe, que não teve o tratamento adequado e que acabou comprometendo sua saúde psíquica.

Blog: E quando começam os conflitos?

Verbenna: Quando as crianças ganham mais autonomia e começam a fazer suas próprias escolhas, a “desagradar” muito essa mulher, porque não “refletem” mais essa mãe, que não aprova, desqualifica e gera um abalo na autoestima dessa criança. E isso é recorrente, não é um quadro temporário. A autoestima desse filho vai ser testada durante toda a convivência dele com a mãe. Para a filha, que tem sua personalidade moldada nesse ambiente de hostilidade frequente, será muito difícil confiar em outras relações e contextos, o que promove nela uma sensação de que deve se defender o tempo todo, o que gera muita ansiedade.

Blog: E tem como alguém de fora intervir nesse processo?

Verbenna: Geralmente isso só é conscientizado pela filha na idade adulta, a família não compreende o que está acontecendo. Além disso, a mãe narcisista é muito habilidosa em se fazer de vítima e de incompreendida, de dizer que ‘a filha é ingrata’, então muitas vezes a família apoia essa mãe. Até se dar conta dessa dinâmica nociva.

Blog: Como a mãe narcisista age?

Verbenna: É muito mais grave do que as pessoas imaginam. Ela expõe a filha a situações de risco real: esquece em algum lugar, não busca, vai a ambientes de risco com aquela criança, exige muito da filha e quando ela corresponde ao que for exigido não dá o devido valor pelo seu esforço, ou destrói algo importante para essa menina. A mãe, que é a parte perversa da história, geralmente age com agressividade e pode representar um perigo para a filha, criando situações que causam danos de verdade para ela. Então essa criança fica numa condição muito difícil e constrói sua identidade nesse lugar de extrema vulnerabilidade. E quando ela cresce, já adulta, uma rivalidade se apresenta, que pode culminar com ameaças reais à integridade da filha.

Blog: Como foi a sua infância e adolescência?

Verbenna: Desde pequena minha mãe tinha uma fixação com a minha aparência, dizia que eu era uma criança feia, muito feia e que eu precisava estudar muito porque, no mundo, as mulheres conseguiam as coisas pela ou pela beleza ou pela sabedoria. Eu recebia pouquíssimo apoio com as coisas que eram minhas habilidades e ao mesmo tempo havia uma tentativa de diminuir tudo o que eu fazia. Eu era uma criança muito artística e ela não deixava que isso se desenvolvesse em mim. Eu adorava aulas de dança, mas ela me proibia de fazer. Desde pequena eu amava escrever, então escrevi um livro que minha escola, lindamente, decidiu publicar. Mas ela não deixou. E as coisas foram progredindo: eu não pude estudar no colégio em que eu tinha passado no ‘vestibulinho’, ela me trancava dentro de casa para eu não poder fazer minhas atividades. Era uma agressividade voltada para um filho só, naquela dinâmica do “bode expiatório”.

Blog: E seus irmãos, como ela tratava?

Verbenna: Seguia bem o roteiro. Tinha um que era confirmado em tudo, recebia todo o apoio e dedicação possível e a minha irmã, a terceira filha, criada nesse aspecto da incapacidade. Ela era muito querida, amada, “mas não era tão capaz assim”. E os filhos acabaram criando sua identidade a partir desses lugares.

Blog: O que você pensava? Que sua mãe não te amava?

Verbenna: Eu achava isso, mas também que era uma pessoa injusta, pela diferença de tratamento entre nós. Eu tentava sempre argumentar, o que a irritava demais. Ela era muito agressiva e me batia muito. Foi aí que eu percebi que esse convívio mãe e filha, tão comum para as outras pessoas, não era possível para mim. Eu me sentia culpada e tentava compensar isso de várias formas, tentando ser uma ótima aluna na escola, fazendo coisas que eu achava que ela poderia gostar dentro das coisas que valorizava. Mas todo o melhor que a gente tenta dar para essa mãe nunca é suficiente.

Blog: Qual foi a gota d´água entre vocês?

Verbenna: Eu percebia que havia algo muito errado na nossa relação desde sempre, algo fora do natural. Mas quando eu tinha 18 anos ela tentou me matar com uma faca e não durante uma discussão, em uma tentativa de defesa a uma ameaça. Foi uma agressão gratuita, quando eu estava deitada, quase dormindo. Daí eu decidi me afastar por questão de segurança. Quando meu filho nasceu ela foi à Justiça questionar minha capacidade de ser mãe, pedindo a guarda do meu filho. Foi aí que eu solicitei, em meio ao processo judicial, que fosse feita uma avaliação psicológica dela. Segundo o laudo, minha mãe sofre de esquizofrenia paranoide há muitos anos. E o narcisismo é um traço dentro desse contexto maior. Mais tarde, quando eu fui me formar em psicanálise e depois atendendo a algumas pessoas, filhas de mães narcisistas, percebi que a gente fica nesse lugar de menina machucada e não percebe que esse narcisismo pode fazer parte de algo maior.

Blog: Sua mãe se tratou depois do diagnóstico?

Verbenna: Não, e ela não aceita esse diagnóstico até hoje. Por isso eu tomo alguns cuidados. Ela não sabe onde eu moro, por exemplo, porque tem rompantes, então eu a deixo afastada. Mas há um ano mais ou menos eu a procurei e não fui bem recebida, para mim era importante esse convívio com ela, minha única figura parental. Mas não fui bem recebida não.

Blog: E como é a relação com seus filhos? Como foi se tornar mãe tendo essa bagagem?

Verbenna: Foi um renascimento, eu sabia que eu queria uma experiência de maternidade diferente, tinha certeza de que não podia reproduzir aquilo, então eu me dediquei completamente à função materna para que ela fosse positiva.

Blog: Você sente algum impulso de fazer com que seus filhos algumas das coisas que sua mãe fez com você?

Verbenna: Eu sinto que esse impulso psíquico do narcisismo me atravessa em alguns momentos, mas um dos efeitos positivos da terapia é me permitir estar consciente para sentir ele se aproximar, sem me entregar. Eu acredito que exista um padrão de rejeição em filhas de mães narcisistas, como eu, uma falta de conexão com os outros, e eu senti isso na minha maternagem, principalmente quando os meus filhos ficaram um pouquinho maiores. Eu estava com eles, mas não estava totalmente presente, não conseguia me sentir integrada. Foi isso que me fez olhar para além da minha própria história, ver que esse foi um referencial de comportamento, algo que me constituiu, mas que eu podia tratar. Existem ferramentas eficientes para rever isso, para que a gente faça reparações conscientes da nossa maternagem.

Blog: Você já sabe o que aconteceu na infância da sua mãe?

Verbenna: Sim, hoje eu sei. Conversamos e descobri que ela teve um trauma muito importante no início da vida, algo que não foi nomeado e nem tratado. Ela acabou se abrindo e me contou algo que ninguém da família sabe até hoje. Sem dúvida, o fato dela ter dividido isso comigo mudou nossa relação, porque agora eu sinto empatia por ela. Perceber que essa maldade da qual ela foi vítima foi resultado de algo que ela não pôde impedir iguala o meu lugar ao dela. Eu também fui vítima de algo que eu não pude impedir. Nenhuma mãe quer conscientemente destruir a autoestima de uma filha, isso acontece como consequência de uma dinâmica que vai se estabelecendo porque ninguém nunca olhou para essa mãe, ela não teve a chance de ser cuidada como precisava.

Blog: Você perdoou sua mãe?

Verbenna: Eu perdoei, claro, e só porque eu perdoei consigo atender mulheres que passaram pelo mesmo que eu. Mas a convivência com ela me colocaria num lugar de receber, de novo, intolerância, críticas, desqualificação do meu esforço. O meu perdão não faz com que ela mude de comportamento e, por isso, para me preservar, eu prefiro não conviver com ela.

domingo, 26 de agosto de 2018

Lua Cheia em Peixes e Trígono de Terra - 26/08/2018



Hoje a Lua Cheia ativa um trígono de Terra: Sol em Virgem, Saturno em Capricórnio e Urano em Touro. Virgem é o signo da produtividade, do serviço e do propósito das coisas. Saturno e Urano são deuses antigos, operam por meio do esforço e dos questionamentos mais profundos.

A fluência do elemento terra nos direciona a avaliarmos o que estamos produzindo no mundo, qual o valor das nossas obras e o quanto estamos aproveitando o nosso tempo.

Jung dizia que vivemos sob a influência do "Espírito deste tempo", uma forma pensamento do inconsciente coletivo que dá valor ao humano a partir do que ele produz e dos resultados de suas ações. Isso gera uma falsa noção de que é preciso gerar coisas que são valorizadas pela sua utilidade e passamos a nos identificar com o nível de produtividade que podemos alcançar. Quanto mais produzo, mais eu valho.

Nos avaliamos pela nossa capacidade de atender essa lógica do consumo, onde somos ao mesmo tempo consumidores e insumos desse encadeamento pois permitimos que o "Espírito deste tempo" nos consuma vivos enquanto corremos atrás de uma suposta produtividade que nos valorize.

Mas o alinhamento desta Lua Cheia nos convida a refletir sobre o real alcance e valor das nossas ações.

O que estamos de fato realizando com o nosso tempo?

Nossas ações produzem bons resultados para nós mesmos, ou estamos continuamente empregando nosso esforço para atender uma demanda interna de pertencimento e aceitação?

No eixo Virgem-Peixes o tema é o servir com propósito. Quando não temos um propósito claro nas nossas ações, vamos agindo até sermos reconhecidos e valorizados pelos outros e isso nos confere valor. Quanto mais valorizados desejamos ser, mais nos esforçamos para ser reconhecidos.

Nesse padrão negativo, agir produtivamente pode ser um meio de receber permissão para pertencer. Talvez tenhamos criado um hábito de nos esforçarmos para cumprir as tarefas que o senso comum determina para sermos considerados "pessoas de bem" e assim nos sentirmos integrados e pertencentes ao nosso grupo: trabalhamos, geramos renda, compramos, nos comprometemos, pagamos, honramos.

Também nos relacionamentos podemos estabelecer uma dinâmica de agir atendendo a expectativa do outro para nos sentirmos aceitos e amados.

Mas se o resultado desse esforço não for o seu próprio bem existe algo errado nessa dinâmica. Se para atender essa produtividade você precisa doar todo o seu tempo a ponto de ficar sem isso para aproveitar os momentos da sua própria vida, você está correndo atrás do vento.

Saturno é o Senhor do Tempo e vem questionar se o seu tempo está sendo bem usado para o seu crescimento, se você está sendo responsável com sua própria evolução. Aliado a Urano em Touro, este pode ser um momento de romper com as estruturas que te mantém aprisionado a um padrão de cumprir tarefas e atender demandas externas para ser valorizado pelo outro e se sentir parte.

Em Peixes, a Lua irradia hoje a consciência do auto-amor e da compaixão consigo mesmo, para que possamos encontrar sentido em nossas ações e nos darmos conta de que temos valor sendo quem já somos.

Existe um propósito para cada Ser nesta existência. Descobrir qual o nosso propósito nos dá a noção de que somos parte de um plano maior e que, apenas por existir, cada um tem por direito próprio seu lugar nesta grande família que é a humanidade.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O Mundo

verbenna yinE chegamos finalmente à ultima carta da sequência dos arcanos maiores do Tarot com o arcano do Mundo, também denominado de “O Universo”.

Neste arcano encontramos uma figura humana constituída por duas mentes, uma feminina e outra masculina, com um único corpo. O lado masculino à direita segura um bastão no alto, o lado feminino à esquerda segura um bastão e aponta para baixo.

Circunda essa figura uma imensa serpente que está engolindo seu próprio rabo, criando um limite diante dos objetos que estão na área externa e que se relacionam aos quatro elementos alquímicos: terra, água, fogo e ar.

A figura metade homem e metade mulher se relaciona claramente com a ideia do andrógino primordial e a Sizígia, referências propostas por Jung para compreender a reconciliação entre os opostos Anima e Animus na psique humana.

Anima é Animus são contrapartes da estrutura sexual predominante, sendo a Anima feminina e o Animus masculino. Uma pessoa do gênero feminino, uma mulher, tem em si uma contraparte masculina – o Animus, e da mesma forma, uma pessoa do gênero masculino tem si a contraparte feminina – a Anima.

Uma mulher não possui a Anima como contraparte pois ela mesma é a manifestação da natureza em sua forma e potência femininas, portanto, a mulher é inteiramente uma Anima. E da mesma forma ocorre com o homem, ambos são uma manifestação direcionada da natureza em si mesmos, mas possuem o potencial da parte contrária correspondente ao gênero oposto.

Para Jung, existe uma busca humana essencial por encontrar o aspecto da contraparte psíquica que inicialmente se estabelece no mundo externo, ou seja, nas outras pessoas. Nessa fase inicial, a identificação dos atributos acontece por meio de projeções e identificamos, ainda que inconscientemente, as características da nossa contraparte no ser amado.

É por essa contraparte que reconhecemos no outro que nos apaixonamos, e a um primeiro momento julgamos que esses aspectos dos outros nos faltem e na união com eles nos completamos.

Jung propõe que na verdade esses aspectos projetados são essencialmente nossos e por meio dos relacionamentos vamos amadurecendo essa percepção e reconhecimento sobre nós mesmos, até um momento do desenvolvimento psíquico em que podemos ver com clareza tais aspectos em nossa própria psique, num processo que chamou de sizígia – o casamento dos princípios masculino e feminino numa mesma estrutura psíquica.

Jung acreditava que: “É a alteridade psíquica que possibilita verdadeiramente a consciência. A identidade não possibilita a consciência. Somente a separação, o desligamento e o confronto doloroso através da oposição, pode gerar consciência e conhecimento.”

Nessa fase, o indivíduo não tem mais necessidade de projetar aspectos ocultos ou recalcados em outras pessoas, pois agora já se reconhece completamente em todos os seus aspectos. Assim, não há mais ilusões com o que se enxerga ou espera do outro, as relações tendem a ser mais livres e o medo da perda não mais se justifica pois aquilo que admiro no outro, também tenho.

Esse processo de reconciliação dos opostos é essencial para a dinâmica do homem transformado, onde a psique encontrou sua autorregulação através dos processos conscientes (metanoia) e inconscientes (enantiodromia). Neste modelo, a autorregulação é um processo que segue as leis universais e conduz naturalmente o indivíduo ao encontro consigo mesmo.

Na sua obra “O Eu e o Inconsciente”, Jung afirma que:

“Na medida do alcance de nossa experiência atual, podemos dizer que os processos inconscientes se acham numa relação compensatória em relação à consciência. Uso de propósito a expressão 'compensatória' e não a palavra 'oposta', porque consciente e inconsciente não se acham necessariamente em oposição, mas se complementam mutuamente, para formar uma totalidade: o si-mesmo (Selbst).”

Na representação deste arcano está presente o Uróboro, a serpente que engole a própria cauda e que simboliza o eterno movimento do Universo e a forma circular como uma unidade em si mesma, sem princípio nem fim. Ao circundar a figura hermafrodita, sugere que a dinâmica psíquica de compensação e complementação dos opostos é o caminho para se chegar na unidade primordial do SELF, enquanto centro da psique integral.

Para o homem transformado, o Ego consciente foi integrado ao SELF e agora opera no sentido de promover as ações no mundo externo coerentes verdadeiramente ao ser interno. Nesta fase, o Ego não tem mais necessidade de validações, reconhecimentos ou pertencimentos externos pois os objetos conquistados e os resultados das ações não mais confirmam o Ego. Ao ser integrado, o Ego se fortalece. Aqui o Ego está estruturado e pode ser um intermediador eficiente entre mundo interno e externo, com fidelidade completa ao SELF.

Ao escrever sobre “A Psicologia da Transferência”, Jung menciona o casamento entre Anima e Animus numa bela metáfora que envolve a unificação dos opostos masculino e feminino para fazer surgir uma nova criatura, completa, alinhada ao chamado do ser interno agora iluminado pela consciência:

"O negrume, ou seja, o estado inconsciente que foi resultado da união dos opostos, alcança um ponto de máxima profundidade que é ao mesmo tempo um ponto de reversão. O orvalho que cai anuncia a ressurreição e o surgimento de uma nova luz. A imersão em um inconsciente cada vez mais profundo é seguida por uma iluminação que vem de cima."

Simbolicamente, a iluminação é o processo de trazer um conteúdo oculto à luz consciência, para que possa ser incorporado no sistema mental do indivíduo e possa se manifestar no mundo físico. A sizígia é uma etapa primordial para fazer surgir o fio de luz condutor para que tudo que foi acessado no inconsciente encontre seu caminho até a consciência e possa ser finalmente incorporado à noção identitária e constituinte do ser. Quem fará essa incorporação é o Ego, enquanto centro ordenador da consciência e responsável pela interação com o mundo externo.

Assim, um Ego alinhado com o SELF é um poderoso instrumento de transformação do mundo externo, pois nesta fase se conhece a potência e a capacidade para agir, se possui a espontaneidade e leveza para fluir apesar das impossibilidades e das frustrações, e ainda existe conexão consciente com os desejos íntimos para realização das aspirações e propósitos de vida.

Essa noção é reforçada na representação arquetípica proposta pelo Tarot de Thoth de Aleister Crowley, na ilustração singular feita por Frieda Harris. Nesta carta a figura central é uma mulher, numa apologia ao trabalho da Anima como principal conexão entre o inconsciente individual e o inconsciente coletivo.

Emma Jung, esposa de Jung, escreveu notavelmente sobre essa característica da contraparte no gênero masculino. Para ela a Anima tem o potencial transformador mais poderoso pois pode suscitar modificações estruturais na personalidade:

“O papel de transmitir conteúdos inconscientes, no sentido de torná-Ios visíveis, recai acima de tudo sobre a anima. Ela ajuda na percepção de coisas que de outra maneira permanecem no escuro.”

Da mesma forma, Nise da Silveira ressalta o aspecto feminino como preponderante na capacidade humana de estabelecer vínculos saudáveis:

“Se o principio feminino no homem (anima) for atentamente tomado em consideração e confrontado pelo ego, os fenômenos decorrentes de seus movimentos autônomos dissolvem-se, suas personificações desfazem-se. A anima torna-se uma função psicológica da mais alta importância. Função de relacionamento com o mundo interior, na qualidade de intermediária entre consciente e in-consciente, função de relacionamento com o mundo exterior na qualidade de sentimento conscientemente aceito.”

verbenna yin
Na ilustração de Frieda Harris a mulher está nua, dançando, com um pé apoiado na cabeça de uma enorme serpente surgida de uma abertura semelhante a um olho cósmico, indicando o fluxo que vendo do grande mistério do inconsciente coletivo que é conduzido pelos desejos do inconsciente individual e terminam por se manifestar na consciência individual.

A figura está cercada por uma estrutura circular e ao fundo vemos a Banda de Moebius, que em Lacan encontra representatividade como forma indicativa da singularidade numa metáfora à forma circular (unidade) transformada pelas dobras onde não há mais mundo interno e externo, tudo é uma coisa só.

Quando a carta do Mundo aparece numa leitura terapêutica pode indicar um momento de profunda transformação pessoal, onde o indivíduo passou pelas etapas do caminho de individuação e compreendeu cada momento como significador e constituinte da sua personalidade.

Isso pode promover uma noção de sentido de vida e coerência, permitindo que a pessoa vivencie relacionamentos com mais leveza e liberdade bem como participe colaborativamente dos grupos a que pertença como forma de aprimoramento de si mesma e do mundo à sua volta.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

Alinhamento Marte e Vênus - 06/08/2018



Desde ontem entramos na fase minguante da lua, sob a influência do último eclipse: tempo de deixar ir aquilo que se manifestou do passado e que hoje não precisamos mais levar conosco, na área dos relacionamentos. Foi um medo, uma rejeição, uma necessidade de ser validado?

Ao ingressar na fase minguante, a Lua ativou o alinhamento positivo entre Vênus em Virgem (a menos de 1 grau para entrar em Libra) e Marte em Aquário. Esse alinhamento promove as conexões mentais entre homens e mulheres e também a percepção inteligente entre as forças masculinas e femininas dentro de cada um. É um tempo de arrazoar internamente sobre a necessidade de se defender nos relacionamentos e do por quê nos sentimos desprotegidos e à mercê da influência do outro na nossa vida.

Marte está mais distante, então seu campo magnético domina Vênus. Simbolicamente, é tempo de usar a razão para sairmos da subserviência nos relacionamentos, do querer agradar para ser aceita ou mesmo de sermos permissivas para nos sentirmos pertencentes.

Marte pede limites claros para esses comportamentos, pede autovalorização e respeito próprio para que possamos evoluir em relacionamentos mais saudáveis para todos.

Tendemos a buscar no outro as características que julgamos não termos em nós. Projetamos no outro essa falta. Mas a falta, no fundo mesmo, é imaginária. Nos apaixonamos por aquilo que o outro desperta em nós, então busque essa complementação dentro de você mesma. Só assim nos sentiremos inteiras para poder nos relacionar com liberdade, sem medo.

Na abordagem Junguiana, essa é a proposta da integração do Animus com a Anima, aspectos psíquicos que representam o masculino e o feminino em nós, e que ao serem complementados no inconsciente se apresentam à consciência unificados, integrados. Ao escrever sobre esse casamento interno, Jung diz:

"O negrume, ou seja, o estado inconsciente que foi resultado da união dos opostos, alcança um ponto de máxima profundidade que é ao mesmo tempo um ponto de reversão. O orvalho que cai anuncia a ressurreição e o surgimento de uma nova luz. A imersão em um inconsciente cada vez mais profundo é seguida por uma iluminação que vem de cima."

DICA FLORAL: White Chestnut e Water Violet

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Eclipse Lunar no eixo Leão-Aquário - 27/07/2018


Hoje vai acontecer um Eclipse lunar numa formação conhecida como Lua de Sangue por conta do tom avermelhado da sombra projetada pelo nosso planeta. Nessa formação, a Terra ficará entre o Sol e a Lua, tampando a luz solar e projetando sua sombra. Isso é muito simbólico pois o alinhamento físico entre os astros funciona como uma metáfora do que acontece nos comportamentos humanos.

Em psicologia, quando falamos em"projetar a sombra" estamos querendo dizer que existem aspectos em nós que não admitimos para ninguém, que tentamos esconder a todo custo e até somos bem sucedidos reprimindo essas partes que não combinam com a imagem que queremos ter ou passar para os outros.

Para nos adaptarmos a um mundo cada vez mais doente, que exige ideais severos de beleza, de comportamento e de produtividade, pagamos um preço bem alto. E para reprimir partes nossas que não condizem com esses ideais usamos de uma certa agressividade autodirigida, é como uma amputação que levamos adiante sendo violentos e sentindo raiva por termos feito isso conosco.

Mas na verdade essas partes de nós são reais também, elas não deixam de existir apesar de escondidas e de tempos em tempos a sombra pede a nossa atenção porque ela precisa ser vista, reconhecida. Precisamos nos por em termos com ela. Precisamos nos acolher.

Quando não damos chance para essas partes de nós, elas se juntam todas e nos pegam pelo calcanhar, fazem a gente se distrair e nos sabotam, tiram nossa vitalidade para que possamos sair do automático e olhar pra dentro. A sombra vibra no pólo negativo porque está na inconsciência, mas a medida em que vamos nos dando conta dela, trazendo-a para o consciente, a vibração muda e podemos trabalhar esses aspectos no polo positivo - pois a luz é a vibração mais elevada.

E hoje o eclipse vem propor justamente essa metáfora: que sombras internas são essas que não estamos vendo?

Que projeções estamos vendo nos outros, que nos levam a ser intolerantes e rígidos nas nossas opiniões, quando no fundo mesmo o que vemos refletido no outro é coisa nossa que não queremos admitir?

No eixo Leão-Aquário, a sombra individual toma proporções ainda maiores porque o efeito acumulado se projeta também coletivamente, no que chamamos "sombra coletiva", ampliando a vibração dessa energia inconsciente e o alcance da nossa intolerância passa a impactar grupos maiores de pessoas.

Ao lado de Marte, a Lua cheia em Aquário propõe hoje uma reflexão acerca das nossas atitudes e escolhas individuais, principalmente a respeito daquilo que não queremos admitir para nós mesmos, favorecendo uma tomada de consciência e a ruptura com esses padrões destrutivos para que, a partir da nossa revisão individual, possamos também aplacar a sombra coletiva por consequência.

Coletivamente, podemos esperar ainda que essa manifestação maior da consciência se apresente, fazendo irromper na realidade eventos que exigirão posicionamentos mais audazes, contundentes e que rompam com velhas estruturas de poder e dominação.

Então se seu plano para hoje a noite é presenciar o eclipse, aproveite para entrar nessa sintonia vibratória e deixe a lua levar embora sua intolerância, sua necessidade de sempre ter razão, sua rigidez diante das mudanças da vida. Chame a luz para a consciência, pedindo clareza e elevação para que possamos amar nosso próximo (Aquário) como a nós mesmos (Leão).

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Lunação e Eclipse em Câncer - 12/07/2018

verbenna yin



Hoje a noite tem lua nova no eixo Câncer-Capricórnio em ECLIPSE e com diversos outros marcadores para esta lunação, fazendo um monte de triângulos e vértices para o posicionamento desta noite. Haja coração!!

A lunação é sempre um período de inícios para todos, tempo para plantarmos nossas sementinhas na intenção de receber algo que virá na lua cheia. Mas quando a lua nova está culminada com um eclipse isso quer dizer que a oportunidade de rever o tema correspondente ao posicionamento é inevitável e a vida vai nos parar para enxergarmos o que é que precisa ser revisto de verdade. Os temas ativados pelos eclipses vibram por até 6 meses.

No eixo Câncer-Capricórnio o tema é a afetividade e mecanismos de defesa que criamos para nos sentirmos seguros nos relacionamentos. O caranguejo, arquétipo do signo de Câncer, é um animal cujo padrão é se mover pelas laterais pois sua forma corporal não permite que ele ande pra frente e suas garras enormes mostram a força que ele pode fazer para segurar os objetos. Numa correspondência com os comportamentos humanos, podemos relacionar o padrão do caranguejo com a não exposição dos seus reais desejos por medo do confronto, uma atitude de “caminhar pelas beiradas” e fugir do enfrentamento. E as garras fortes se relacionam com nossa atitude apegada às pessoas e situações que amamos, mas que às vezes podemos segurar com tanta força que despedaçamos aquilo que mais desejamos.

A força do pólo oposto, Capricórnio, pode reforçar a sensação de que temos que “fazer algo” no campo afetivo para garantir que não iremos nos machucar nos relacionamentos, e aí que a coisa pode desandar porque o impulso constante pelo controle da situação nos desgasta e não é real, todo relacionamento é uma via de mão dupla e nunca poderemos fazer a parte que cabe ao outro. A ideia de que posso “incentivar” o outro a agir de uma determinada forma “pelo bem do relacionamento” é irreal, o outro é o outro sempre e temos que assumir o risco desse outro não agir como esperamos se queremos nos relacionar.

Que atitudes estamos tendo nos nossos relacionamentos imaginando que “temos tudo sob controle” e na ilusão de que isso elimina os riscos de nos machucarmos com o outro?

Que apegos podem estar justamente minando o afeto que existe na sua relação hoje?

Que dor foi essa que faz você ainda hoje ficar se protegendo, sem se abrir de verdade ao amor?

Questionamentos que a lua nova vem nos trazer a partir de hoje, em ressonância com o trígono de água ativado novamente com Lua/Sol em Câncer, Júpiter em Escorpião e Netuno em Peixes.

A receptividade para sentir mais do que pensar é essencial para trabalharmos o tema do eclipse nas próximas semanas. Aproveite o fluxo das energias e mergulhe fundo nos sentimentos que aflorarem durante a lunação. O caranguejo é uma criatura marinha e no fundo do mar também se escondem as mais belas pérolas.

Saia da dureza da concha e exercite a abertura e a confiança para uma nova postura nas suas relações, acredite que a natureza humana é sábia e com o tempo transformamos as pedras do caminho em pérolas valiosas.

sexta-feira, 22 de junho de 2018

O Julgamento

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Rider-Waite Tarot
Seguramente o arcano que recebe mais interpretações inadequadas é este, o Julgamento, pois com essa nomeação remete nossa percepção ao ambiente bíblico apocalíptico que pressupõe um “fim do mundo” e um “juízo final" que dão um tom negativo à ideia original do arquétipo.

A carta do julgamento geralmente vem ilustrada com essa imagem de pessoas ressurgindo, saindo de suas tumbas em resposta ao toque das trombetas que marcam o início de um novo tempo. Aqui na ilustração tradicional do Tarot Rider-Waite vemos em primeiro plano um homem, uma mulher e uma criança despertando da morte ao som da trombeta celeste e recebendo de braços abertos uma figura angélica que usa um estandarte com forma de cruz na cor vermelha.

Na abordagem Junguiana para o desenvolvimento psicológico humano, todo o funcionamento da psique é estruturado em aspectos distintos que funcionam como polos (princípio da polaridade) e que se compensam mutuamente num sistema de autorregulação. Quando se investe mais energia num determinado aspecto intrapsíquico, indiretamente também se desenvolve o respectivo aspecto oposto, pois a polaridade atua de forma compensatória na direção da manutenção do equilíbrio de forças. É assim o balanço energético entre consciente e inconsciente, persona e sombra, animus e anima, as partes que compõem a psique na estrutura idealizada por C. J. Jung na psicologia analítica.

Nesta sugestão de imagem acontece o mesmo, o homem num polo e a mulher no outro, ambos despertos e receptivos, indica que esta carta fala de um tempo psicológico onde o indivíduo já realizou essas compensações psíquicas e hoje encontra-se em equilíbrio e devidamente estruturado.

A criança no centro se relaciona à figura do SELF, a essência mais pura de cada indivíduo que é mantida escondida no inconsciente e que levamos toda uma vida para nos encontrarmos com ela. É o SELF que faz as reorientações íntimas e determina o momento das compensações de forças psíquicas pois é o centro regulador da psique inteira. Quando conseguimos entrar em contato com nossa essência mais profunda, estamos diante do nosso SELF: nosso Eu verdadeiro.

É como teria dito Jesus nos evangelhos: “é necessário nascer novamente para entrar no reino dos Céus”.

Ao escrever sobre os sonhos e as representações simbólicas do inconsciente, que refletem nossos estados psíquicos diante da existência, Jung afirma que a visão da criança indica que a pessoa está tomando contato com seus aspectos mais autênticos e espontâneos, que podem ter ficado inacessíveis durante tanto tempo que até  nos esquecemos - mas que durante o trabalho terapêutico de autoconhecimento é possível acessá-los novamente.

Para Jung, no inconsciente esse vislumbre da essência verdadeira geralmente ocorre com a visão de uma “criança divina”. A criança simboliza esse retorno ao primordial após ter sido realizada a grande jornada de complementação dos opostos no jogo de projeções da mente.

As projeções são imagens mentais que traduzem nossas questões mais íntimas e que ainda não temos condições de enxergar apropriadamente, seja porque tais conteúdos nos assustam, seja porque ainda não desenvolvemos a fortaleza necessária para lidar com esses temas. De toda forma, essas questões “aparecem” de forma distorcida quando nos relacionamos com as outras pessoas, pois projetamos nelas esses aspectos que são nossos mas ainda são inconscientes.

Nesse sentido, aquilo que enxergamos nos outros não passa de um filme projetado, de uma miragem, pois o que vemos nem sempre é o real daquela pessoa - mas com certeza é realmente nosso.

É preciso ultrapassar esse estágio de projeções para podermos nos enxergar honestamente e realizar o trabalho interno de integrar nossos aspectos conscientes e inconscientes, depois de trazermos nossos conteúdos sombrios à consciência e termos transformado essas memórias em algo construtivo para nós mesmos. Aí sim é possível retornar à verdadeira origem e recomeçar a trajetória de vida com a mesma confiança e inocência de uma criança.

verbenna tarot
Zen Tarot - Osho
Essa é a proposta do Tarot Zen inspirado nas lições do guru indiano Osho. Nesse tarot todas as cartas são apresentadas como posturas individuais perante a vida e ou retratos de momentos do nosso mundo interno.

Aqui a carta do Julgamento recebeu uma ilustração mais adequada ao seu simbolismo no nosso tempo, assim como um novo título: “Além da Ilusão”. Se trata da representação desse estado interno em que não temos mais ilusões a serem projetadas na realidade externa, estamos além dessa dinâmica e podemos ver com clareza os nossos aspectos internos sem nos assustarmos com eles nem negarmos sua existência ou culpar os outros por isso. 

A borboleta, símbolo da transformação, indica que já houve essa metamorfose do estado interno e a chama no terceiro olho sugere uma percepção mais refinada que consegue captar uma realidade mais sutil. Os olhos estão fechados pois tudo que vemos com nossos olhos comuns são reflexos nossos, então aqui eles não são mais necessários.

Ao nos aceitarmos completamente como somos e estarmos dispostos a lidar com a nossa real natureza, experimentamos uma espécie de novo nascimento pois temos agora uma segunda chance de realizar nosso propósito de vida da forma mais autêntica possível.

Esse renascimento simbólico significa o retorno às origens mais puras, onde todo o meu SER se manifesta de maneira harmônica, sem esforço, honesta e livremente expressando tudo aquilo que sou de verdade. Aqui o estado interno é de seguir o fluxo de eventos que vida propõe, sem amarras nem resistências, sem necessidade de realizar algo para ser beneficiado por seu resultado ou receber reconhecimento por ter feito bem. Renascidos, nos apresentamos à vida dispostos às experimentações que nos chegarem, mantendo uma atitude receptiva e vivificante.

Neste retorno às origens não é preciso mais usar máscaras (as "Personas" de Jung), não há necessidade de responder mais aos condicionamentos nem buscar a aprovação do outro para agirmos  como queremos ou nos prejudicar para conseguir atender algum desejo. Tudo já foi pacificado e nossa organização psíquica opera harmonicamente.

É essa harmonização interna que a bandeira da imagem inicial representa. Nos estudos das mandalas, Jung aponta que a forma de cruz nos desenhos simboliza a união dos opostos, indicando que a pessoa venceu os conteúdos internos que seriam projetados nos outros. Agora ela consegue lidar com os aspectos próprios e também com os dos outros sem se sentir ameaçada, sem precisar usar mecanismos de defesa nem se incomodar com o que vê refletido no outro.

Nossas imagens refletidas não nos ameaçam mais pois a atitude agora é a do observador que a tudo assiste e procura aprender, sem se envolver, além das ilusões e das projeções da mente.

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Dark Tarot
Nesta outra imagem o conceito principal permanece mas é ilustrado de outra forma, indicando que a mulher e o homem respondem ao chamado da figura divina que possui uma aréola circular, correspondendo à ideia de que agora consciente e inconsciente agem em conjunto para atender o SELF simbolizado pelo círculo.

Na abordagem Junguiana o círculo é o símbolo maior do SELF, sendo as mandalas sua expressão mais profunda e completa. Na mandala encontramos a expressão não verbal dos conteúdos do SELF, que conseguem burlar o filtro da razão e escapar das censuras do consciente.

Quando a terapêutica envolve processos racionais de elaboração, como fala e escrita, nosso consciente pode impedir que certas memórias, afetos e emoções se expressem. Nesse caminho podem ainda haver julgamentos, críticas internalizadas, idealizações e comparações, e tudo isso junto atua como obstáculo para que o ser verdadeiro se mostre.

Já na mandala esses conteúdos encontram um outro caminho para se manifestar. Como a mandala é desenhada, esse conjunto organizado de formas e cores expressa o SELF sem passar pelas aprovações e seleções da mente consciente. Por isso a mandala é o retrato fiel do estado de ser de cada pessoa e tem tanta importância no processo terapêutico na abordagem Junguiana.

E isso é que o arcano do Julgamento tenta representar, esse momento em que houve uma pacificação das forças internas e externas pois nada mais pode atingir negativamente o indivíduo: as dores, as memórias, as projeções, as idealizações, a falta de confiança, tudo isso já passou.

Aqui o indivíduo morreu para essas coisas e agora está renascendo para um novo tempo em que irá atender plenamente o chamado do SELF para realizar aquilo que é seu propósito na existência. Sua vida agora tem sentido.

Quando estamos integrados ao nosso SELF conseguimos nos mover pela vida de forma mais fluida e seguimos pelo fluxo dos eventos sem inseguranças. Procuramos expressar com nossas atitudes quotidianas aquilo em que acreditamos, então passamos a fazer escolhas que nos contemplam melhor. Pode ser o tipo de alimentação, a forma de se vestir, o trabalho que realmente faça bem a si mesmo e ao outro, a atitude colaborativa, a receptividade com o outro, enfim, tudo que confirme externamente aquilo que já existe do lado de dentro.

Aqui a direção da energia é de dentro para fora, o ser manifesta com segurança no mundo externo aquilo que existe no seu interior - numa orientação contrária àquela que atende às necessidades do Ego, pois o Ego precisa do reconhecimento externo para confirmar o que acredita haver no interno. 

No fluxo do Ego as confirmações do reconhecimento externo são frágeis pois tudo que vem do externo é projetado, logo, não é real. Mas no fluxo do SELF a nossa expressão é verdadeiramente real pois manifesta externamente o que existe no mais íntimo e profundo da alma humana.

São tantas formas de manifestarmos no mundo nosso potencial, mas que agora acontecem sem necessidade de reconhecimentos externos nem na base da barganha, e cada uma de nossas pequenas ações serão agora resultados dessa orientação pelo SELF - que vai aos poucos se manifestando de dentro pra fora. Nossa essência finalmente emerge.

Ao nos entregarmos à orientação do SELF, passamos a viver com mais consciência, entendemos nosso propósito de vida e procuramos usar o nosso tempo de forma construtiva, ocupando positivamente nosso lugar e colaborando para criar no mundo externo a mesma realidade interna de paz e equilíbrio.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

quinta-feira, 21 de junho de 2018

Solstício de Inverno - A Mulher Búfalo Branco

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Hoje dia 21/06 /2018 acontece o Solstício de Inverno, o momento do ano em que a inclinação da Terra e o posicionamento do Sol produzem a noite mais longa de todas. É a entrada do inverno e o tempo em que a natureza descansa, as plantas e árvores já sem folhas concentram sua energia nas raízes nos lembrando que é tempo de colocar atenção naquilo que é realmente essencial.

Daqui até o dia 24/06 vamos viver um período maior de ausência da luz, as noites serão mais longas que os dias - o que simbolicamente representa que todos estaremos diante das nossas sombras mais escuras.
Por isso as tradições da várias culturas tem o costume de acender fogueiras nessa época do ano, para nos lembrar que a luz sempre retorna e que precisamos perseverar no bem e no amor ainda que as noites sejam mais escuras, frias e longas.

O mito que eu mais gosto para este período é o da Mulher Búfalo Branco, que é um conto dos índios norte americanos sobre a prudência, a união e a perseverança em tempos difíceis.

Num paralelo muito interessante com o momento atual, em que homens se sentem à vontade para cometer torturas com crianças de forma televisionada, a ausência de luz faz surgir essas sombras coletivas da humanidade e podemos nos aterrorizar com essa imagens tão distorcidas e monstruosas.

Vamos aquecer o coração com a fé em dias melhores, mantendo o pensamento nos ideais humanos mais elevados e sustentar o fogo divino em cada um de nós, mantendo acesa a luz dos nossos corações até o retorno do sol no dia das fogueiras de São João.

Compartilho com vocês a lenda da Mulher Búfalo Branco, que eu adoro e que ressoa especialmente pra mim por me lembrar que tudo que eu preciso, eu já tenho. Dentro de mim.

O texto a seguir foi extraído do site:http://www.xamanismo.com/lenda/lenda-da-mulher-bufalo-branco/#


A LENDA DA MULHER BÚFALO BRANCO

Um dia, dois jovens guerreiros Sioux estavam caçando nas pradarias do Minesota. Ao subirem uma colina em busca de caça, eles foram surpreendidos ao verem uma jovem mulher, muito bonita surgir diante deles numa nuvem. Retendo o fôlego, eles a observavam. Ela trajava vestes feitas de corça branca. Levava a tiracolo uma sacola de pele e uma pele de búfalo em uma das mãos. Uma pena de águia, trançada nos seus longos cabelos negros, reluzia à luz do sol. Não tema, ” disse a mulher, ” eu trago paz e felicidade para vocês. Agora me falem, por que vocês estão longe de sua aldeia?”

A graça a beleza dela, incendiou o guerreiro mais velho com pensamentos lascivos, que calou-se. O mais jovem, então respondeu:

- Nossa aldeia está com falta de comida. Nós estamos caçando.

- Aqui – ela disse -, leve de volta este pacote aos seus. Diga para os Chefes das sete fogueiras da sua tribo, para reunirem-se na fogueira do conselho e esperarem por mim.

Ao escutar essas palavras, o mais velho deu voz ao seu desejo de acasalar-se com ela, ali mesmo na pradaria, debaixo do sol. No momento em que o guerreiro mais velho tentou agarrá-la, a mulher envolveu-o na pele de búfalo. Uma nuvem envolveu o corpo dele, e quando o pó assentou, no lugar do guerreiro havia um esqueleto recoberto de vermes.

Foi então que Mulher Búfalo Branco, falou ao jovem guerreiro:

- O homem que olha primeiro a beleza exterior de uma mulher, nunca conhecerá sua beleza divina, pois ele é um cego. Mas o homem que primeiro vê a beleza de seu espírito e sua verdade, esse homem conhecerá o Grande Espírito nessa mulher; se ela quiser deitar-se com ele, ele compartilhará com ela um prazer mais pleno do que poderia imaginar.

- Você, quando me olhou, não ficou cego com a minha beleza, mas seu primeiro pensamento foi: ‘Quem é essa mulher?’ ‘De onde ela vem?’ ‘Será ela uma mulher sagrada?

- Meu jovem, você também terá o que deseja.

- Você e seu amigo simbolizam dois caminhos que os homens podem seguir. Se procurar primeiro a sagrada visão do Grande Espírito, estará vendo da mesma maneira que o Criador, e por isso você saberá que aquilo que necessitar da terra chegará às suas mãos. Mas se preferir seguir primeiro, esquecer o Grande Espírito, satisfazer os seus desejos terrenos, você morrerá por dentro.

Foi então que o jovem guerreiro resolveu perguntar quem era ela.

Ela olhou profundamente nos olhos dele e respondeu:

- Eu sou o Espírito da Verdade. Seu povo me conhece como a Mãe dos Mais Velhos; mas como você pode ver, não sou tão velha assim. Sou a Grande Mãe, que vive dentro de cada Mãe, a moça que brinca em cada criança. Sou a face do Grande Espírito, que seu povo esqueceu. Vim para falar para as nações da planície. Vá para sua aldeia e prepare a minha chegada. Tenho algumas coisas a ensinar, coisas sagradas que sua tribo esqueceu.

O jovem então correu ao seu povo, para transmitir a mensagem de Mulher Búfalo Branco aos Chefes das Sete Fogueiras de sua tribo. Após ouvirem o jovem, toda tribo começou a trabalhar numa enorme cabana, coberta de muitas peles, na qual toda tribo pudesse se reunir.

Quando viram Mulher Búfalo Branco se aproximando pela pradaria, ficaram atônitos. Esperavam por alguém de mais idade. E ela parecia uma donzela, graciosa como a relva que se movia em torno dela no crepúsculo. Seu rosto brilhava como uma luz que falava das flores e das mais finas ervas.

Descalça, como sempre andava nas sua viagens pela terra, ela entrou na grande cabana. Seu vestido de pele de Búfalo Branco irradiava a presença de seu espírito. Sem dizer um palavra, andou em círculo em torno do fogo que ardia no centro da cabana. Cada vez que seu delicados pés tocavam a areia ao redor do fogo, os que a observavam sentiam que cada gesto seu era uma prece de profunda reverência à terra.

Devagar, em silêncio, ela contornou o fogo sete vezes.

Quando por fim ela falou, sua voz era como a canção dos pássaros das pradarias.

- Sete vezes, andei em sete círculos em torno deste fogo, em reverência e silêncio. O fogo simboliza o amor que arde para sempre no coração do Grande Espírito. É o fogo que aquece cada criatura no mundo. Vocês são como um ser único. Esta cabana, feita de muitas peles, é o corpo de vocês. O fogo que arde no centro dela é o amor de vocês.” Parou um momento e, devagar, curvou-se para tirar um graveto incandescente das chamas. “Este fogo é mais forte que qualquer um de vocês. Seu povo esqueceu, o que é mais precioso que a água. Vocês esqueceram suas ligações com o Grande Espírito. Eu vim”, disse ela erguendo o graveto, “como um fogo do céu para reavivar a memória daquilo que foi, e fortalecê-los para os tempos que virão.

Pousou novamente o graveto no fogo e pegou uma sacola de pele que trazia.

- Nesta sacola, trago um cachimbo para ajudá-los a recordarem os ensinamentos que eu trago. Tratem-no sempre com respeito. Levem-no sempre em sacolas das mais finas peles, enfeitadas pela mãos mais reverentes. Ponham neste cachimbo um tabaco sagrado plantado especialmente para esse fim. Fumem-no com um sentimento de gratidão ao Grande Espírito, de cujo sopro vocês receberam a vida. Usem o fumo para representar seus pensamentos, suas orações e aspirações ao Grande Espírito.

Até então ela ainda não tinha aberto a sacola na qual estava o cachimbo. Desatou as tiras de couro que a amarrava, e retirou o cachimbo com tal reverência que todos que estavam na cabana, sentiram o coração transbordando e os olhos cheios de lágrimas.

- Este cachimbo sagrado, e cada tragada de fumo sagrado que vocês inalam pelo seu tubo, ajudará vocês a recordarem que cada sopro de vocês é sagrado. O fornilho do cachimbo é feito de pedra vermelha. Tem o formato de círculo. Simboliza a Roda Sagrada, o sagrado círculo da vida, o dar e receber, da inalação e da exalação, pelo qual todas as coisas vivas ingressam na vida pelo poder do Grande Espírito.

Pedindo um pouco de tabaco, Mulher Búfalo Branco colocou-o no fornilho do cachimbo dizendo:

- Este tabaco, simboliza o mundo das plantas, o musgo das pedras, as flores, as ervas, as folhas das relvas que cobre a colina para que sua mãe não repouse nua ao sol. Vocês estão aqui para cuidar da terra. Suas vidas são acesas pelo mesmo fogo que arde no coração do Grande Espírito.

Assim falando, ela colocou um pequeno graveto no fogo para que ardesse como chama viva.

- Da mesma forma que acendo esse graveto no grande fogo, assim todo ser humano é uma chama que faz parte do fogo eterno do amor do Grande Espírito.

Devagar, ela tirou o graveto em chamas do fogo, e ergueu-o para que todos o pudessem ver.

- Quando vocês viverem em harmonia com o Grande Espírito, sua chama de amor será vivida sempre por aqueles ventos espirituais. Vocês serão tomados de amor pela própria razão da vida! Acenderão o fogo do amor em todos os que encontrarem. Conhecerão o propósito de sua travessia por esse mundo e saberão que o Grande Ser deu uma chama da vida a todos: não para guardarem sua pequenina chama somente para si, amando apenas aquilo que é necessário às suas vidas, mas sim para que pudessem dar o seu amor, e com o fogo desse amor trazer consciência para a terra.

Dizendo isto, ela segurou o graveto bem em cima do fornilho vermelho do cachimbo. Encostou a chama bem no centro do cachimbo, aspirando suavemente pelo tubo até o tabaco incandescer. O cheiro do fumo invadiu o ambiente.

- Assim como o tabaco queima neste cachimbo de terra que representa as plantas – continuou Mulher Búfalo Branco- , assim também esse búfalo que vocês vêem entalhados no fornilho de pedra do cachimbo representa as criaturas quadrúpedes que compartilham com vocês esse mundo sagrado. As doze penas que pendem o tubo do cachimbo representam os seres alados com os quais vocês compartilham o grande círculo do céu.

Em seguida ela passou o cachimbo ao chefe do conselho dizendo:

- Tomem este cachimbo. Agradeçam ao Grande Espírito, e passem o cachimbo aos outros do nosso círculo. Que seus pensamentos sejam elevados ao Grande Espírito que vem agora mexer com suas memórias, abrindo os olhos de seus narradores. Cada amanhecer que nasce vermelho no céu do leste, como o fornilho vermelho deste cachimbo, é o nascimento de um novo dia, de um dia sagrado. Lembrem-se sempre de tratar cada criatura como um ser sagrado: as pessoas que vivem além das montanhas, os pássaros, os peixes e os outros animais, todos eles são irmãs e irmãos de vocês. Todos constituem parte sagradas do corpo do Grande Espírito. Tudo é Sagrado.

Neste momento, o cachimbo começa a ser passado de mão em mão. Depois que todos que estavam na cabana deram uma baforada, Mulher Búfalo Branco levantou com reverência o cachimbo para que todos vissem.

- Levem sempre o cachimbo com vocês. Trate-o como um objeto sagrado. Honrem todas as criaturas e vivam suas vidas em harmonia com o Caminho Sagrado do Equilíbrio de que fala cada árvore, cada flor e cada novo dia. Haverá muitas estações nas quais o coração de vocês se sentirá claro e puro como uma nascente nas montanhas, e vocês conhecerão a paz e a alegria do Grande Espírito. Mas, se vocês sentirem que se afastaram da trilha do Caminho Sagrado, se seus corações passarem a pesar dentro de vocês, não percam tempo em arrependimento. Ensinar-lhe-eis uma cerimônia,” disse ela acendendo o cachimbo mais uma vez no fogo sagrado, “uma cerimônia que cada um de vocês pode fazer em companhia de outros, a sós em suas tendas, ou lá fora, na pradaria.

Ela deu uma pequena baforada no cachimbo e disse:

- Parem suas atividades. Procurem uma pedra sobre a qual sentar. Rogando orientação do Grande Espírito. Acendam o cachimbo e deixem que o fornilho vermelho lhes lembre a sagrada escritura, o caminho da vida, o trilho vermelho do sol. Depois de ter aspirado seu fumo em honra do Grande Espírito, em honra da Mãe Terra, em honra dos animais e das pessoas que são fiéis à realidade, depois de ter dado graças as quatro direções, então aspirem uma vez mais para pedirem orientação aos grandes seres alados do mundo dos espíritos. Peça-os para ajudá-los a ver o melhor procedimento a seguir. Peçam para que eles ajudem a vocês fazerem a escolha mais sábia e a reconhecer os passos que devem tomar na trilha que seu EU mais profundo escolher para vocês. Isso permitirá que o fogo que arde dentro de vocês fale em termos claros, sem interrupções. Peça que os seres espirituais que os cercam, entrem em sua vida. Diga-lhes que desejam ajudá-los e ao Grande Espírito no seu trabalho, e perguntem-lhes como fazer isto. Ao ajudarem o Grande Espírito, vocês se ajudarão. Os seres humanos não são inteiramente felizes nem saudáveis senão quando servem aos propósitos para os quais o Grande Espírito os criou.

Novamente ela entregou o cachimbo, para que fosse passado de mão em mão. Durante muito tempo, Mulher Búfalo Branco permaneceu em silêncio, mesmo após ser completado o círculo de baforada no cachimbo. Quando falou novamente, comparou seus ensinamentos a uma árvore; uma árvore que iria florescer à medida que tomavam a si essas coisas, plantando-as no coração de cada um e aplicando-as no dia a dia.

- Durante longo tempo,- ela continuo-o -, vocês viverão sob a sombra sagrada da Árvore da Compreensão que estou plantando nas suas consciências. E, nas gerações vindouras, seu povo estará unido novamente no Sagrado Círculo da Vida. Infelizmente, essa árvore será derrubada depois de algumas gerações. A árvore parecerá morrer. A Roda Sagrada murchará até ser esquecida. Alguns poucos manterão a luz da verdade ardendo nos seus corações, mas a luz será fraca e, mesmo neles, passará a ser uma brasa pequena e imperceptível.

Guardando o cachimbo na sacola, ela continuou:

- Mas a brasinha permanecerá. Em silêncio, continuará. Mesmo quando vocês tiverem sua terras invadidas, vendidas e roubadas. Essa brasa ainda manterá sua luz acesa, e saibam, meu povo que um grande fogo pode sair de uma única brasa!

- Quando a tempestade passar, essa brasa acenderá um alvorecer mais forte do que qualquer outra alvorada. Uma nova árvore crescerá, mais gloriosa do que esta que agora deixo com vocês. Com o novo alvorecer, eu voltarei e viverei com vocês. Debaixo da sombra dessa árvore, estarão reunidos não somente as tribos vermelhas, mas as tribos brancas, as tribos negras e as tribos amarelas, vindo de todas as direções. Em harmonia, as quatro raças viverão sob os ramos da nova árvore. Tudo que foi quebrado será refeito por inteiro. A Roda Sagrada será consertada. A comida será farta e os espíritos de todas as criaturas alegrar-se-ão na harmonia de uma nova ordem, perfeita. O Grande Espírito, estará atuando dentro das raças, vivendo, respirando, criando através dos povos da terra. A paz virá as nações.

Despediu-se dizendo que voltaria um dia, então transformou-se num Búfalo Branco, e sumiu envolta nas nuvens e nunca mais foi vista.

“Grandes mudanças estão a caminho com o nascimento do Búfalo Branco.”


*** Com o nascimento de um Búfalo Branco, em 1994, em Janesville, no estado de Wisconsin, nos Estados Unidos. Torna-se mais próximo o cumprimento da profecia sagrada de que irá surgir uma nova idade de unificação e espiritualidade global, enchendo-nos de uma esperança maior para o novo milênio.

sábado, 9 de junho de 2018

Sonho e desejo




No sonho realizamos aqueles desejos que não puderam ser ditos nem reconhecidos.

O desejo é o movimento interno do indivíduo na direção de uma satisfação que não foi atendida ainda, seja porque não conseguimos entendê-la ou porque estamos tão envolvidos com certas áreas e demandas da vida pessoal que não há atenção para percebê-la.

No desenvolvimento psíquico, à medida que vamos crescendo em idade vamos também percebendo objetos que atraem nossa atenção e que nos mobilizam à sua conquista: pessoas amadas, situações, posições sociais, objetos, patrimônio, lugares diferentes...

Qualquer que seja o objeto do nosso desejo, ele simboliza uma satisfação não atendida, uma necessidade de ser contemplado que ainda não teve chance de se concretizar.

Mas às vezes o desejo é incoerente com nosso momento de vida e "não combina" com a pessoa que temos sido. O desejo é inconveniente.

Por isso ele pode ficar escondido de nós, não aceitamos que aquela satisfação seja importante e deixamos "pra lá". Mas esse material não é descartado nunca, fica guardadinho no nosso inconsciente e quando há uma brecha a comunicação do desejo acontece quando o nosso racional não consegue mais impedir nem nos defender - quando dormimos.

Quando não conseguimos atender nossos desejos mais genuínos, eles retornam e se comunicam conosco na forma de sonho. É no sonho que acontece essa conversa íntima e pessoal de nós com a gente mesmo, onde o nosso inconsciente tem a chance de mostrar aquilo de que realmente precisamos para viver, o que vale a pena viver para experimentar.

Mas essa conversa não é pela lógica ou pelo racional, ela acontece no nível do simbólico e é através das imagens que o desejo se manifesta. Se estivermos atentos aos nossos sonhos, podemos entender melhor o que é que o nosso ser interno quer comunicar pra nós.

Acolher os sonhos é o melhor caminho para entender o que realmente precisamos viver para encontrar satisfação interna e nos sentirmos contemplados pela existência.

Nem sempre é fácil entender o que o sonho quer dizer, às vezes o mundo simbólico é cheio de mistérios e caminhos intrincados. Nesse caso é importante que você seja acompanhado no seu processo por um terapeuta que possa te acompanhar nesse desbravamento dos territórios psíquicos do sonhar e você possa finalmente entender o que seu inconsciente está de comunicando.

E atenção: quanto mais o sonho se repete, mais urgente é a necessidade de atender aquele desejo.

Então se você anda sonhando muito com um determinado assunto, não deixe passar a oportunidade de viver aquilo que seu sonho está te mostrando. Essa será uma experiência que ajudará a transpor uma etapa importante do seu desenvolvimento pessoal e certamente refletirá na expansão da consciência para começar novas etapas de vida.

quarta-feira, 6 de junho de 2018

A verbena e o tarot

O uso ritual das ervas para conexão espiritual é uma prática ancestral, cada civilização tinha uma forma de utilizá-las dentro do seu contexto e momento histórico e alguns usos perduram até os dias de hoje ainda nas metrópoles urbanas.

É o caso da verbena, essa plantinha mágica ligada aos mistérios do profundo feminino.

verbena tarot


A verbena é uma planta cítrica, com perfume muito fresco que imediatamente nos remete ao ideal de limpeza. E não é para menos, a verbena era utilizada desde a época do império romano para realização de cerimoniais de limpeza energética pois os guerreiros, quando voltavam das campanhas do exército para suas vilas e cidades de origem, não podiam passar pelos portões da cidade sem antes receberem um banho de verbena preparado pelas mulheres.

Acreditava-se que a energia mais masculina e agressiva de Ares, o Deus da Guerra, somente seria neutralizada pela energia feminina e delicada da verbena, permitindo que aqueles guerreiros entrassem na cidade limpos do peso da guerra.

Na cultura celta também se registra o uso ritual da verbena pelos druidas, que faziam defumações dos lugares sagrados com essa erva e faziam infusões e preparados com verbena para desenvolver dons de profecia, contato com espíritos e iniciações.

E daí em diante a verbena é uma das ervas mais usadas em rituais para limpeza energética por vários povos, tanto in natura como também em chás, perfumes e incensos.

Mas eu gostaria de comentar que a verbena é muito especial para limpeza das cartas usadas para tiragens de tarô.

Como todos sabemos, para uma consulta de tarô o consulente irá escolher ele mesmo as cartas, irá embaralhá-las, segurá-las, e assim acaba por impregnar nas cartas a sua própria energia. Essa impregnação é muito importante pois cria um elo entre a mente do consulente e as opções simbólicas do tarô para que o inconsciente se manifeste e a ponte com o mundo interna se estabeleça.

Porém quando a consulta termina, é muito importante que a energia daquela consulente seja esvaziada das cartas para que numa próxima leitura a pessoa seguinte possa realizar o mesmo processo de impregnação.

Nesse sentido é muito interessante promover uma limpeza energética do tarot com o uso da verbena em forma de incenso, aspergindo a fumaça formada sobre as cartas e deixando que os elementos promovam a desimpregnação das energias fixadas nas cartas.

verbena tarô


E essa desimpregnação vale para ambientes também, para depois daquelas visitas inadequadas, para elevar a vibração de um ambiente, para depois de uma temporada de doença no quarto, e até mesmo para eliminar rastros energéticos de quem morou antes na casa.

A verbena tem poder de pacificar energeticamente os eventos acontecidos até ali para que parem de vibrar, eliminando resíduos de agressividade e raiva e promovendo um ambiente mais tranquilo e com vibrações mais estáveis.

Experimente!