terça-feira, 19 de maio de 2020

Ser agradável ou ter voz própria?

verbenna yin




"Parem de ensinar às meninas que ser agradável é mais importante do que ter voz."

Uma vez eu fiz uma audiência como advogada, era uma situação que exigia comprovações por documentos e eu tinha tudo o necessário pra isso. Mesmo com toda argumentação do outro lado eu consegui comprovar o ponto do meu cliente e ganhei o processo, mas na saída o outro advogado me disse que eu tinha sido muito desagradável e ali eu silenciei.

Fiquei dias com aquela frase na minha cabeça. Por melhor profissional que eu fosse, eu ainda nao era capaz de sair daquela postura aprendida de que mulher não pode desagradar.

Então... quando a gente se apequena para manter-se agradável podemos estar calando o que pensamos, usando palavras mais amenas e não transmitindo toda a nossa ideia sobre algo, podemos concordar com o outro para evitar confrontos e até mesmo fingir que concordamos com algo que nunca iríamos defender.

Tudo isso para sermos fiéis a esse lugar que o patriarcado nos dá: agradar os homens.

Homens não são ensinados a agradar, pelo contrário, são estimulados a brigar pelo seu ponto de vista e conquistar uma posição de autoridade para se afirmarem.

Mesmo em 2020, a mulher até pode falar por si desde que se mantenha agradável e seu brilho não diminua o homem que circula perto dela - lembram da Gabriela Priolli da CNN?

Precisamos entender o machismo estrutural para interpretar a realidade, e isso implica em reconhecer os diferentes estímulos sociais dados a homens e mulheres.

E para nós mulheres é urgente que saiamos desse lugar de entretedoras da atenção masculina e banquemos o risco de desagradar para recuperarmos a nossa própria voz.

O que você já calou para não desagradar?

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