domingo, 22 de junho de 2014

A Força

verbenna yin
Labyrinth Tarot
Uma mulher nua, tranquila e confiante dominando um enorme e enfurecido leão. No tarot, a carta da Força é o símbolo do poder pessoal sendo utilizado positivamente com consciência e habilidade.

Neste arcano, a mulher vem representar nossas capacidades subjetivas e intuitivas, e talvez até inconscientes ainda, que nos diferenciam uns dos outros e que precisamos de um certo grau de maturidade para reconhece-las em nós para, a partir desse reconhecimento, poder desenvolver e utilizá-las da melhor maneira. 

Já o leão representa os desafios que encontramos no caminho rumo ao crescimento. Pode ser aquilo que nos dá medo, aquilo que julgamos ser maior que nossa capacidade, mas geralmente indica algo a ser superado com firmeza e coragem.

Ela está nua porque está despida de qualquer artefato externo para exercer o domínio sobre o leão. Toda sua confiança repousa em sua própria competência para dominar a fera, pois existe uma certeza interna de que aquele trabalho é possível mediante a aplicação da ação correta. E a leminiscata formada pela corda no chão vem dizer que são infinitas essas possibilidades, para cada pessoa que vivencia o arquétipo existirá uma atitude adequada para lidar com a sua própria fera.

Na primeira infância todos nós manifestamos um pouco daquilo que é nosso material interno bruto. Se somos literários, vamos nos interessar naturalmente pelas palavras e escrevê-las em diversos contextos; se somos cinéticos, provavelmente iremos dançar mantendo o ritmo ainda antes mesmo de andar sozinhos; se formos cuidadores, é possível que abracemos e precisemos de muito contato físico; se formos engenhosos, provavelmente desmontaremos os brinquedos e os objetos da casa; e por aí afora.

Num contexto psicanalítico, a nudez da mulher também nos dá uma dica do aspecto erógeno envolvido na vivência deste arquétipo, o que faz uma correspondência com a teoria das pulsões de Freud na qual ele afirma a natureza libidinal da pulsão sexual que é a chave para o acesso à vida psíquica.

A criança que está em contato direito com seu mundo interno consegue ir e voltar nessa ponte com o inconsciente e ela interfere na realidade de forma espontânea e fluida, sentindo-se feliz simplesmente por fazer aquilo que tem vontade.

Então essa carta dialoga muito com a hipótese de darmos vazão aos conteúdos do ID na satisfação dos desejos. A criança pequena não considera se seu desejo é conveniente ou adequado, ela realiza aquilo de que dá conta e assim vai experimentando os ambientes, as relações e as novas possibilidades. A satisfação vem pelo agir e nesse momento não há freios ou censuras a esses atos que ela sabe que consegue fazer.

Mas nem sempre os adultos que nos cuidam conseguem fazer a leitura de que a criança manifesta espontaneamente a matéria prima da qual é feita nessas pequenas atitudes do dia a dia, e não raro nos preocupamos mais em como arrumar a bagunça que elas fazem do que auxiliá-las dando estímulo para que continuem seus processos de investigação pessoal. Na busca da ordem quotidiana, passamos por cima dessa expressão natural das habilidades inatas que talvez não encontrem uma segunda chance para serem revisitadas mais tarde.

E lá se vão oportunidades de crescimento que simplesmente não permitimos que aconteçam. Fechamos os canais de fluência dos desejos e interrompemos a conexão com o ID, originando assim os conteúdos que ficam aprisionados nessa instância psíquica e que tanto interferem posteriormente nas nossas escolhas de vida.

Para uma autêntica expressão de si mesmo é preciso restabelecer os canais de conexão com o ambiente do ID - e observar por onde anda nossa libido pode nos dar uma pista de como fazer as reconexões necessárias para nos enchermos novamente de alegria e vitalidade.

Resgatar a atitude da criança interior é retomar uma postura livre diante do mundo na qual nossas reais habilidades podem ser vistas em sua totalidade, para que sejam reconhecidas e valorizadas de fato num processo de lapidação constante até o ponto de serem usadas natural e espontaneamente pelo indivíduo.

Thoth Tarot
Para chegar nesse ponto sendo já adultos, é importante a coragem de buscar no inconsciente que habilidades seriam essas que nos mobilizam para a vida e que podem até nos excitar sexualmente quando nos permitimos a isso. O que nos dá tesão e sacia nossa fome de vida. Em termos freudianos, sob o que recai a nossa pulsão de vida que vem do profundo inconsciente e está prestes a irromper no consciente, como propõe a ilustração de Frieda Harris no Tarot de Thoth. 

Andar pela vida com toda essa confiança restabelecida para buscar com independência a realização dos desejos do ID requer antes de tudo uma postura corajosa para agirmos e nos expressarmos do nosso próprio jeito, sem nos importar com os julgamentos alheios.

Essa noção vem da imagem do arcano, pois apesar de estar enfrentando o enorme leão, a mulher está calma e concentrada firmemente no que está fazendo.

Uma atitude confiante diante dos desafios que o leão representa somente é possível se mantivermos a atenção exclusivamente no momento presente, sem distrações. Exatamente como as crianças fazem quando estão brincando.

Quando podemos agir sem preocupação com o futuro, sem nenhum medo de repetir resultados negativos das experiências anteriores, e mesmo sem querer atender as expectativas alheias, conseguimos manter nosso leão pessoal sob domínio.

E não raro, colocar em prática os desejos do inconsciente é ainda muito prazeroso. Primeiro porque agir com liberdade é uma fonte de satisfação inegável. Mas também porque essas realizações baseadas na extrema autoconfiança nos trazem uma sensação de que não preciso de grandes esforços para realizar o que quero no mundo, uma completude de propósito que confirma o sentido da nossa trajetória.

Quando esta carta se apresenta numa leitura terapêutica, é possível que a pessoa esteja num momento de resgates importantes com sua infância, relembrando aspectos psíquicos que a definem mas que talvez tenham ficado relegados à escuridão do inconsciente. Será preciso restabelecer a conexão com a criança interior e buscar de novo o material bruto que a compõe para que gradativamente ela possa ir reincorporando esses atributos próprios no seu dia a dia e se sinta mais feliz e vitalizada.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

domingo, 30 de março de 2014

Peixes, a reconexão

De Peixes recebemos os influxos da compaixão, da ligação com o divino, da sensibilidade e a compreensão máxima do ser humano.

Piscianos são muito sensíveis, o elemento água no estado mutável é ainda mais receptivo e percebe as alterações no ambiente, capta todas as intenções e faz com que as impressões do mundo externo sejam muito fortes.

Com dupla regência, os nativos de Peixes contam com a capacidade de expansão concedida por Júpiter e com uma notável fonte de inspiração vinda de Netuno. A atuação conjunta das forças destes dois planetas tornam o pisciano um indivíduo com sensibilidade especial para criações artísticas. Poesia, música e sonho fluem naturalmente, o que pode levar o indivíduo a uma tendência escapista de permanecer interiorizado num constante contato com seu outro mundo – o que é simbolizado pelas direções opostas dos peixes na representação gráfica deste signo.

Piscianos possuem uma espiritualidade essencial e são muito devotados ao outro, possuem muita empatia com o humano e com sua sensibilidade acentuada se solidarizam com a dor do outro e muitas vezes ele mesmo sente essa dor, o que pode gerar um desgaste de energia. Essa empatia pode ser canalizada positivamente como uma habilidade natural para cura, como é por exemplo a doação de reiki e passes energéticos. Apenas não se pode esquecer que o pisciano precisa repor sua energia por meio da contemplação e da amorosidade.

O grande desafio da energia de peixes é realizar essa entrega à humanidade mas sem se deixar ser ou se sentir vitimizado por essa entrega. Quando o indivíduo ainda não tem uma autoestima madura para atender as necessidades do outro sem se prejudicar com isso, pode estar criando uma dependência emocional daquela situação, pois passa a justificar sua atitude de entrega desmedida em função da necessidade dessa outra pessoa - valorizando mais a necessidade do outro do que a sua própria.

Mas quando nos conectamos com o outro de forma verdadeira percebemos que o que acontece com o outro também nos atinge num reflexo reverso: se nos prejudicamos em nome da necessidade do outro, essa ajuda não é real porque no fundo o outro será responsável pelo prejuízo que permitimos acontecer conosco.

Para que a entrega real aconteça é importante chegar num ponto de equilíbrio em que a doação ao outro ocorra na medida do que eu posso fazer por mim mesmo. Assim, a entrega não será mais um movimento apenas em direção ao outro, mas a atenção ao outro passará a ser uma via de mão dupla em que o indivíduo já preenchido compartilha aquilo que tem dentro de si e recebe de volta a satisfação de ajudar positivamente, o que o preenche novamente. Basta abrir o coração para que a troca ocorra na medida certa.

E aqui vamos de encontro ao ensinamento de Jesus que diz “amai ao próximo como a ti mesmo”. Sem amor próprio, não é possível amar verdadeiramente o outro. Compartilhando nosso amor, restabelecemos a conexão com nossa própria essência, que nos torna verdadeiramente humanos.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

O Carro

Uma carruagem em movimento, levada por dois cavalos correndo velozmente em direções opostas e que são conduzidos por um confiante cavaleiro.

Este é o símbolo do arcano 7 do tarot, onde temos pela primeira vez o encontro consciente com as nossas possibilidades de expressão, uma positiva e outra negativa – a sombra.

O contato com esse arcano exige coragem e determinação, o que vem simbolizado pela expressão do cavaleiro. Note como ele segura de forma equilibrada as rédeas dos dois animais, cada um correndo para um lado diferente e mesmo assim mantendo a carruagem num movimento constante. O conflito não impede o movimento.

Mas podemos perceber também que o cavaleiro não está direcionado para nenhum dos dois cavalos, antes disso mantem seu olhar à frente, na direção aonde quer chegar.

Se trouxermos esse simbolismo para a vida prática, temos aqui o ser humano entrando em contato com sua natureza dual e percebendo que dentro dele existem forças distintas que coexistem simultaneamente e podem levá-lo a diferentes direções na sua expressão pessoal se ele decidir seguir uma ou outra.

Na teorização de Jung a respeito da psique humana ele reconhece o Ego como centro da consciência mas entende que a área do inconsciente pessoal contém um aspecto psíquico próprio formado pelos conteúdos que foram reprimidos, negados e não reconhecidos pelo indivíduo: a Sombra.

A Sombra acumula um material considerável de experimentações, sensações e emoções que foram vivenciadas pessoalmente mas que por algum motivo não foram admitidas pelo Ego consciente.

São características nossas que foram depreciadas, nos fizeram acreditar que elas não eram importantes nem adequadas, não tiveram lugar para serem expressadas por nós ou caíram no julgamento negativo de alguém. Ao não encontrar lugar para se manifestarem, essas características ficam trancadas nessa região da mente à qual não temos mais acesso. E muito desse material corresponde à energia criativa e espontânea da própria pessoa, que tendo em vista as reduzidas possibilidades de adaptação ao meio não puderam ser manifestadas no externo e ficaram acumuladas na escuridão do inconsciente pessoal. Mormente, caem no esquecimento.

Para Jung, essa espessa massa de conteúdos próprios negados pelo Ego ficam escondidos pois são incompatíveis com aqueles atributos que a pessoa reconhece a seu próprio respeito. Na busca por uma coerência com aquilo que sabemos sobre nós, enjeitamos esses conteúdos que parecem não ter relação com a autoimagem até então construída.

Porém esses conteúdos da Sombra são extremamente poderosos e se manifestam de tempos em tempos pois a psique está em constante movimentação rumo à autorregulação, de forma que quanto mais energia consciente aplicamos para manter a coerência dos aspectos reconhecidos, mais carga de energia será utilizada para compor a Sombra no interior do inconsciente. Para Jung, isso ocorre porque a psique reproduz um padrão de funcionamento universal que incorpora as noções de equivalência e constância da energia, princípios originalmente usados na física mas que são perfeitamente aplicáveis ao funcionamento psíquico dentro dessa lógica de operação. De sorte que para manter a equivalência e constância total da energia do sistema psíquico, quanto mais energia se dispende para afirmar aspectos conscientes, mais forte se torna a Sombra.

Essa correspondência é indicada na representação deste arcano pelos cavalos, ambos são do mesmo tamanho e forma mas podem ser reconhecidos distintamente pelas cores: a consciência em branco, a Sombra em preto. Ademais, cada cavalo corre para um lado diferente, indicando a autonomia da oposição dessas forças psíquicas e considerando o conceito de polaridade tão frequente na obra de Jung.

A partir dessa percepção de que existem forças diametralmente opostas em si mesmo, o indivíduo toma consciência do quanto seus impulsos o capacitam para agir no mundo externo e como estar consciente pode direcioná-lo para um ou outro tipo de expressão. E de acordo com a expressão, será o resultado.

Enquanto estiver na negação das características internas que formam a sombra, o indivíduo tende a alimentar ainda mais os comportamentos inconscientes gerando inúmeras repetições de eventos no mundo externo, atraindo situações em que possa reproduzir esse comportamento e gerando as consequências inevitáveis da sombra, que são os sentimentos de tristeza, isolamento e impotência.

Como este ainda é um arcano inicial da sequência numérica do tarot, não se espera que aqui o indivíduo entre em contato mais profundo com as questões que formam a sua Sombra e que faça esforços para corrigir-se. A ideia é de que aconteça apenas a percepção de que existe a polarização de forças e que o movimento da vida pede que ambas sigam atuantes, numa relação ao processo de autorregulação psíquica.

É o equilíbrio das forças que nos propõe este arcano, não há uma preferência por esta ou aquela direção, ambas são importantes para manter o movimento do Carro. No símbolo, o cavaleiro faz o papel do observador, sem se identificar com nenhuma das duas expressões ele vai conduzindo as forças para garantir que a viagem continue, sugerindo que a autorregulação psíquica ainda ocorrerá.

Isso porque na experimentação humana o indivíduo precisará ainda ir fundo dentro de si mesmo para conhecer-se completamente em todos os seus níveis de expressão, assim a conscientização somente acontecerá quando esse acesso mais profundo tiver chance de ocorrer.

Porém, nesta fase inicial do desenvolvimento, o que a Sombra promove de fato é a projeção dos conteúdos negados na direção das outras pessoas com quem convivemos. Apesar de não reconhecido em nós, todo esse material de que a sombra é composta fica visível no comportamento das outras pessoas. Negamos em nós mas vemos nos outros. E por terem uma carga afetiva no nosso inconsciente pessoal, o que vemos nos outros acaba nos afetando de volta e promovendo sentimentos distorcidos quando os percebemos.

Passamos então a criticar as pessoas que denotam tais características, não as toleramos por perto pois vê-las nos remete inconscientemente ao nosso próprio material não admitido e isso gera uma tensão insuportável. Outras vezes, essas pessoas podem nos causar inveja pois elas podem justamente expressar livremente algo que nós não pudemos, mobilizando em nós sentimentos negativos como raiva e ódio.

Quando mantemos uma atitude firme e constante na condição de observadores, tal qual a atitude do condutor do carro neste arcano, pouco a pouco vamos nos dando conta dessa alternância de forças e gradativamente vamos adquirindo mais consciência sobre os temas e afetos que projetamos nos outros. É nesse ambiente de alternância entre luz e sombra que se dá o crescimento, garantindo a espiral crescente do desenvolvimento psíquico individual.

Por fazer parte de nós, nunca poderemos erradicar a Sombra. Este é um aspecto componente da psique humana e é impossível eliminá-lo sem prejudicar o funcionamento completo do sistema psíquico. Os dois cavalos andam juntos e é a força dos dois que coloca o Carro em movimento, aludindo à noção atual da psicanálise de que ao longo da vida vamos nos colocando “em termos com a nossa Sombra”.

Já dizia Goethe: “A nitidez é uma conveniente distribuição de luz e sombra."

Assim, quando a carta do Carro aparece numa leitura isso pode sugerir que a pessoa esteja atravessando um momento onde tenha que lidar com suas projeções inconscientes, pode se sentir irritada na convivência familiar ou ainda pode estar atraindo inveja e provocações. Talvez seja interessante expandir o olhar para notar que possíveis emoções e sentimentos essas atitudes das pessoas evocam no indivíduo para reduzir a tensão psíquica e suavizar os relacionamentos em curso.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

sábado, 1 de fevereiro de 2014

Em Aquário, a verdadeira liberdade


Em Aquário estão presentes os valores da autonomia, igualdade, originalidade e fraternidade.

Último signo de ar, de expressão segura e determinada, esta energia é regida em parte por Saturno (a ação correta) e por Urano (o movimento de libertação). Daí a associação deste signo com os ideais de revolução e de uma nova ordem libertária. A imagem associada ao signo é a de um homem jorrando água sobre o planeta, numa metáfora da compreensão universal de que estamos todos conectados por um mesmo sentimento que reconhece sermos todos iguais e existirmos juntos.

As pessoas de Aquário são naturalmente inclinadas para o novo, não admitem injustiças e não tem medo de se posicionar em defesa daquilo em que acreditam. Geralmente gostam de estar acompanhados e fazer atividades em grupo, motivados por ideais maiores que visem uma satisfação coletiva.

Polar e complementar ao signo de Leão, onde o ser é convidado a mostrar o melhor de si e com isso preencher o mundo de beleza e inspiração, em Aquário essa consciência é ampliada para o grupo num movimento acolhedor de todas as formas de expressão do ser.

A tônica de Aquário é a compreensão de que todos nós temos o direito de ser e de se expressar livremente, e nesse sentido a tolerância e a fraternidade são pressupostos para garantir que isso realmente aconteça. Onde não existe a tolerância necessária, é a energia aquariana que vai buscar os meios para transformar o ambiente, gerando condições para que a verdadeira expressão aconteça sem impedimentos.

Não há como ser nós mesmos completamente sem respeitar o ser do outro e a forma como esse outro se manifesta. Nosso aprendizado em direção à plenitude acontece pelo reconhecimento de nossas possibilidades, aptidões e talentos, e para reconhecermos isso em nós é necessário convivermos com o outro (nosso espelho) pois é por meio da diferenciação que acessamos aquilo que é autenticamente nosso.

Quem atinge essa consciência não consegue mais conviver com preconceitos e julgamentos que limitam a expressão completa do ser, porque as limitações impedem em última instância que nós mesmos sejamos plenos. Mesmo a limitação imposta ao outro também é impeditiva a nós, por isso Aquário propõe a libertação para todos e renuncia a vantagem meramente pessoal: tem que ser para todos.

Em tempos aquarianos, podemos nos dispor a aprender com a diversidade no coletivo e perceber que tipo de crenças ou atitudes individuais vem limitando nossa conexão com o outro e nossa integração com o grupo. Se parece que não há um lugar no mundo para nós, talvez seja o momento de rever alguma postura interna, para superar qualquer sentimento de isolamento e incompreensão que restrinja nossa maneira de ser.

Quanto mais abertos estivermos para conviver com o outro, ajudamos a construir um mundo com espaço seguro e livre para cada um expandir verdadeiramente e ser sua melhor expressão, tocando a divindade por sermos plenamente humanos.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Capricórnio e o Caminho das Grandes Realizações

Da região celeste de Capricórnio nos chegam os influxos de concentração, disciplina, determinação e concretização.

Signo de Terra, cardinal, é regido pelo planeta Saturno que representa a estrutura das formas. Em Capricórnio temos o impulso de tornar reais os desejos da alma, de externalizar, de formatar, de trazer para a materialidade aquilo que antes só existia no universo interior.

Tal como a construção de um edifício, toda grande realização precisa ser inicialmente planejada, organizada em momentos e fases. Há que se considerar os melhores caminhos para se desenvolver aquilo que foi planejado, buscar parcerias, traçar estratégias e manter um ritmo constante de crescimento.

Tudo isso acontece muito naturalmente para o nativo deste signo, que é dotado de um senso prático privilegiado para qualquer realização. Ele entende muito bem como funciona o mundo, como se estabelecem as relações humanas e quais são as trocas necessárias para se conseguir um objetivo maior. Com essa compreensão, é possível fazer os esforços na medida certa e direcioná-los da forma mais apropriada para a consecução daquilo que for almejado, economizando tempo e recursos na empreitada e garantindo um resultado eficaz, satisfatório, e o melhor: duradouro.

Tão comprometido com o resultado, o capricorniano muitas vezes se abstém de aproveitar resultados pequenos e talvez até mais rápidos de outras atitudes diárias, porque sabe que esse sacrifício pessoal será recompensado lá na frente quando atingir sua meta plenamente.

O grande aprendizado proposto pela energia de Capricórnio é concretizar na matéria aqueles empreendimentos que realmente tragam valores a serem utilizados para o bem de todos.

Colocando nosso coração naquilo que realizamos, tudo que construímos com nossas mãos levará adiante a energia dessa motivação.

E se o que motiva nossas realizações for baseado no amor, na verdade, no respeito e no bem, nossos atos reverberarão essas mesmas forças e o produto do que construímos seguirá irradiando essas mesmas energias.

Da mesma forma que os cristais, que levam milhões de anos para se formarem. Cada cor possui uma vibração própria e assim cada cristal tem também uma aplicação prática consoante a vibração da sua cor, da sua energia primordial. E mesmo tendo sido petrificada essa energia primordial, ela segue vibrando aquela mesma intenção que o Universo planejou há milhões de anos atrás.

Nesse tempo do Capricórnio, que possamos refletir sobre as nossas motivações e que energias temos colocados nos nossos atos diários que vão construindo a trajetória da nossa passagem pelo mundo. Com essa consciência, quem sabe podemos cristalizar uma realização que poderá beneficiar tantos outros mesmo depois de nós?

domingo, 22 de dezembro de 2013

Os Amantes

verbenna yin
Arcano 6 - Os Amantes
Tarot Rider-Waite
lustração de Pamela C. Smith

Esta carta vem nos falar da aptidão do humano como um ser social que se relaciona com os demais.

O arcano dos Amantes geralmente vem ilustrado por um casal apaixonado que demonstra publicamente seu amor e recebe as bênçãos angélicas, simbolizando que a relação amorosa é destinada naturalmente à experiência humana e tem como resultado nos conduzir ao sentimento de pertencimento e felicidade que dão sentido à existência.

Em alguns tarôs essa mensagem simbólica é aprofundada e a imagem representa um homem entre duas mulheres, uma mulher simbolizando a busca pelo desejo a outra simbolizando a necessidade de segurança emocional.

Ambas as possibilidades são válidas e necessárias para o desenvolvimento pessoal, mas socialmente se espera que o indivíduo opte por uma coisa ou por outra, demonstrando assim necessidade de escolha.

Na imagem de Pamela C. Smith, a figura do homem está ao lado direito e representa o Ego consciente que busca com o olhar a figura da mulher, à esquerda, a qual por sua vez representa o Id selvagem e primitivo guardado no inconsciente. Ambos precisam se integrar para acessar o divino representado pelo anjo e pelo disco solar ao alto - o círculo como símbolo da completude humana.

Na imagem, o Ego consciente observa, ele está atraído pelo mistério que o outro representa: a mulher, a serpente e a árvore da vida. Trilhando o caminho do desejo, o homem descortina os segredos que lhe permitirão entender a si mesmo.

Na psicanálise, o outro como representação do desejo é a proposta do Estádio do Espelho do psicanalista Jacques Lacan. Para ele, nossas interações com as outras pessoas são marcadas por essa busca de identificar no outro aquilo que temos dentro nós mesmos mas que ainda não tivemos a chance de reconhecer.

Na fase do Estádio do Espelho que vai dos 9 aos 18 meses de idade, a criança está assimilando a corporeidade e se dando conta do que compõe o corpo dela, as sensações desse corpo e começando a coordenar seus movimentos próprios. Começa também a perceber que a figura materna se vai e se reaproxima e consegue identificar o corpo da mãe como sendo essa figura que promove cuidado, alimento e conforto. Assim, surge a correspondência do corpo do outro como sendo um objeto desejado – no sentido de que aquele objeto promoverá novamente a sensação de integração e felicidade necessários para que um desenvolvimento psiquicamente saudável aconteça.

verbenna yin
Arcano 6 - Os Amantes
Rosetta Tarot
Ilustração de M. M. Meleen
Essa correspondência da corporeidade permanece na vida adulta. Quando nos interessamos por uma pessoa afetivamente, é essa correspondência que estamos ativando novamente: o outro, o corpo do outro, nos afeta porque em algum nível essa visão nos mobiliza em busca de algo que percebemos existir nesse outro e que conferirá para nós a sensação de integração e felicidade vivenciados no início da vida com a figura materna e que perdemos à medida em que vamos crescendo.

O outro então simboliza esse algo perdido, mas que é completo em si mesmo. O outro é perfeito. O outro é o objeto do desejo.

Então a sensação dessa falta primordial vai acionar a libido e estruturar o desejo na direção do outro (direção externa), na busca do sujeito em fundir-se novamente e se sentir plenamente integrado, aceito e acolhido.

Aqui temos uma correspondência também com as teorias de Melanie Klein a respeito da identificação projetiva. No processo de enamorar-se pelo outro, o sujeito pode justamente enxergar no outro aquelas partes de si que não foram aceitas ou reprimidas e “lançadas para fora” durante a transição das fases iniciais do desenvolvimento psíquico. Ao se aproximar do outro e viver um relacionamento, o indivíduo tem a chance de fazer uma reparação dessa separação primordial e se sentir pleno e integrado novamente quando se fusiona com o outro.

O arcano dos Amantes propõe ainda um retorno à Freud numa alusão à teoria do narcisismo secundário. Nesse aspecto, o outro promove uma alienação de si mesmo, ou seja, o sujeito tem a possibilidade de se identificar e se experimentar a partir do outro porque ele mesmo está “perdido” internamente.

A própria etimologia da palavra indica esse processo de perder-se de si mesmo, “narcisismo” vem do Mito de Narciso e do termo “narkos” que significa, “narcótico, entorpecente, inconsciente”. Ao se enamorar, o sujeito está perdido de si mesmo, entorpecido pela busca de reviver a sensação primordial de fusão e integração consigo mesmo que o outro simboliza.

Todavia, ainda estamos nos arcanos iniciais (arcano 6) ou seja, ainda estamos percorrendo o início do caminho de desenvolvimento pessoal rumo à maturidade. O que vemos externamente e que nos atrai no outro ainda não está na consciência; antes disso, é uma projeção inconsciente dos nossos próprios atributos ainda não reconhecidos mas que enxergamos no outro - como um espelho que reflete para nós a nossa própria imagem.

Ao compor a sua autoimagem durante o Estádio do Espelho, a criança começa então a se estruturar psiquicamente formando o Ego, a instância psíquica que permitirá que ela se apresente ao mundo externo já como indivíduo e passe a interagir com o outro e o seu grupo. Ao se perceber uma unidade em seu próprio corpo a criança percebe também que é um indivíduo único e singular.

Nesse sentido o arcano dos Enamorados é uma grande metáfora do processo de auto reconhecimento e formação da autoimagem, denotando que essa busca primordial pela fusão com o outro é essencial para que possamos antecipar nossa própria imagem e assim irmos integrando todas as nossas facetas internas e compor nossa individualidade.

E o tarot faz essa representação simbólica do processo humano de auto reconhecimento na imagem do casal apaixonado.

Frieda Harris foi a artista mais feliz na representação do arcano dos Enamorados ao traduzir essa consciência psicanalítica sobre a experiência humana afetiva. Para ela, o arcano dos Enamorados mostra bem essa correspondência entre o que está oculto em nós e o que conseguimos ver no outro, nas cores preto e branco do desenho:

Arcano 6 - Os Amantes
Thoth Tarot - Aleister Crowley
Ilustração de Frieda Harris
A grande questão é que o arcano dos Amantes vem nos mostrar que tudo aquilo que enxergamos no outro na verdade é conteúdo nosso. 

Quando enxergamos claramente os atributos do outro é porque identificamos nele aquilo que sabemos que existe em nós, daquilo que já foi reconhecido em nós mesmos. 

Mas além disso vemos também no outro aquilo que ainda não aceitamos em nós essa visão é no negativo; são partes de nós que lá atras no início do desenvolvimento psíquico foram lançadas pra fora e por isso só as vemos projetadas sobre o outro. O branco e o negro, positivo e negativo.

Então quando elegemos por quem nos enamoramos essa escolha fala mais de nós mesmos do que do outro, tanto pelas características que reconhecemos prontamente (identificação) como também por aquelas que vemos de forma oposta e distorcida por serem negativas e ainda não aceitas (projeção).

É por isso que quando nossas escolhas pelo outro dão errado” sentimos que nos enamoramos de alguém que no fundo não nos contempla. Porque quando o outro não age como idealizado ou não demonstra ter os atributos que inicialmente nos atraíram, nos sentimos incompletos, incompreendidos e infelizes. Nos sentimos separados.

A frustração em reviver a separação primordial é inevitável, mas ela só demonstra o quanto nós ainda não reconhecermos nossa própria natureza íntima e ainda precisaremos caminhar rumo a esse desenvolvimento.

Na verdade, o outro está tocando justamente essas cordas que correspondem aos aspectos de nós mesmos que ainda não fomos capazes de enxergar e integrar.

A carta dos Enamorados possui então uma forte conexão com a figura do Ego Ideal, aquela imagem que representa aquilo que “pensamos” que somos. Nesta fase do desenvolvimento psíquico ainda não há plena consciência de quem somos, na nossa totalidade e verdade, pois ainda estamos descortinando partes de nós mesmos.

Nesse sentido a experiência do enamorar-se produz a ilusão de que somos amados e admirados sem restrições, numa completa aceitação da pessoa que somos. Mas se ainda não temos total consciência de quem somos, psiquicamente ainda estamos tal qual crianças e aceitação que buscamos ao final se mostra irreal, é tão idealizada quanto a autoimagem pueril que temos de nós.

Só ao longo das vivências de enamoramento é que poderemos ir refinando a consciência e ir construindo nossa autoimagem de forma mais nítida e clara, experimentando e unificando todos esses nossos reflexos projetados nas pessoas com quem nos relacionamos.

Tirar a carta dos Enamorados numa leitura pode indicar que a pessoa está pronta iniciar as interações com as outros pessoas e nessas relações ir percebendo mais sobre si mesma e explorar suas possibilidades na demonstração de afeto. No fundo, as demonstrações de afeto são a busca e o reconhecimento das partes de si mesmo ainda não aceitas e que só ao longo do tempo serão conscientizadas e mais tarde integradas, formando a completude da singularidade desse indivíduo.

Mas a carta também vem alertar da nossa autorresponsabilidade pelas escolhas que estamos fazendo e das consequências que vamos atrair para nosso crescimento. Nos relacionarmos com o outro é fundamental para aprendermos sobre nós e entender quem somos.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Sagitário, o Arqueiro



Alinhada com o centro da galáxia está a constelação de Sagitário, de onde emanam os valores da expansão, desenvolvimento, liberdade e os grandes ideais.

Associada ao elemento fogo e regido por Júpiter, o Pai de todos os deuses, a energia sagitariana produz indivíduos bem dispostos, curiosos e que adoram conhecer novas pessoas e lugares – por isso precisam viajar constantemente e possuem uma abertura natural para apreciar costumes, gostos e paladares exóticos.

Não é a toa que o signo é representado por um centauro, metade cavalo e metade homem, levando um arco e flecha nas mãos. O cavalo simboliza a liberdade do movimento enquanto a parte superior do corpo, sendo de um homem, indica a mente aguçada que é capaz de compreender as grandes questões humanas.

Sua flecha está apontada para o alto, para a fonte do Universo, porque a busca do centauro é direcionada aos altos ideais e às nobres verdades, mostrando para nós a direção para uma conexão verdadeira com o amor e com a luz, que são os canais para nosso desenvolvimento pessoal.

Luz é informação, entendimento, é por onde caminha a verdade. Amor é integração, é a vibração que nos faz sentir unidos uns com os outros. Compreender esta simbologia é compreender que a união do humano e do animal representada no centauro é um caminho para alcançar o divino. Daí a espiritualidade estar tão associada a este signo.

Inspirador e comprometido com a verdade, o sagitariano tem um jeito muito franco de se expressar – que às vezes pode até passar por indelicado. Na verdade, ele tem necessidade de transmitir aos outros tudo aquilo que ele mesmo já experimentou como verdade, e que considera importante compartilhar justamente para que todos tenham a mesma oportunidade de crescimento.

Dessa experimentação pessoal e particular, surge uma certeza inabalável que a flecha deste arqueiro vem passar adiante: a fé de que sempre existirá algo melhor por vir.

Otimismo e coragem são as lições propostas neste período. Em Sagitário há uma motivação para seguir no aperfeiçoamento pessoal, para sair da zona de conforto e ir mais além na experimentação. A promessa é de subir mais uma oitava na grande espiral da Vida e estar pronto para os próximos níveis de desenvolvimento que certamente virão se tivermos liberdade para vivê-los.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Saturno, regente do ano

Muita gente tem me perguntado: “o que os astros dizem deste ano que tem trazido experiências tão fortes?”

Na astrologia, cada ano tem um planeta regente e neste ano de 2013 a regência ficou a cargo de Saturno.

Saturno é o grande ensinador, o planeta que nos traz os valores da estrutura, da disciplina, da concretização do que é verdadeiro e duradouro.

Na mitologia, Saturno era um dos temidos Titãs que com sua foice reinava sobre a Terra, tinha vários filhos e os devorava antes que tivessem a chance de crescer e tirar-lhe o poder. Sua esposa descontente com essa situação, salvou e preparou Zeus que conseguiu crescer e quando finalmente estava pronto enfrentou seu pai, salvou os demais irmãos e iniciou uma nova geração de Deuses.


Esse mito representa a ordem e manutenção de um ciclo enquanto estiver bem alicerçado, caso a estrutura não se sustente nada impedirá a mudança.

Saturno é assim o Senhor do Tempo, é ele quem vem testar nossas estruturas e dizer se estamos prontos para uma nova fase ou se temos que aprender mais um pouco para seguir adiante.

Hoje, visto da Terra, Saturno está posicionado na direção da constelação de Escorpião – signo que representa a transformação, a purificação e o desapego. Nós acabamos de passar por essa região celeste, e se juntarmos os valores de Saturno com os do signo de Escorpião podemos assumir que este é um tempo de profundas transformações em questões fundamentais para todos nós.

Tudo aquilo que não foi bem alicerçado, que não foi construído com verdade e não colabora com nossa evolução está sendo cortado pela foice de Saturno, que nos propõe o desapego desses vínculos para seguirmos em frente em novas bases. Especialmente nos últimos dois meses, procure identificar se houve alguma experiência mais forte na sua vida pessoal e olhe com carinho para esta área da sua vida porque ela certamente merece sua atenção.

A passagem de Saturno pode ter proposto uma separação, uma amizade desfeita, um negócio que não pôde ser concluído, uma doença que nos fez repensar prioridades, um retorno ao local de origem... O fato é que se você viveu uma situação que abalou suas convicções ou impôs uma mudança indesejada, isso pode significar que nessa área você estava agindo de forma contrária à sua essência e daquele jeito o crescimento não era mais possível.

Qualquer que tenha sido o aprendizado, sejamos gratos a essa preciosa oportunidade de crescimento. Se mesmo abalada a situação pôde ser mantida, dedique amor a isso e permaneça fiel ao que estava fazendo para elevar essa experiência ao próximo nível.

E se mesmo tendo feito de tudo para se segurar a mudança foi inevitável, ou se a perda realmente aconteceu, sejamos gratos também para receber este aprendizado de coração aberto. Acredite na perfeição do Universo e deixe ir, deixe acontecer. Permita, entregue... Flua...

E se vier um momento mais difícil, deixo aqui a oração singela do Ho'oponopono que é poderosa para qualquer situação, um mantra verdadeiramente transformador e balsâmico para os corações: 

“Sinto muito, me perdoa, te amo, sou grato”. 

domingo, 17 de novembro de 2013

Escorpião, o transformador

Signo de água, receptivo, fixo, em Escorpião encontramos os ideais de regeneração, cura, transformação, intensidade e profundidade nas relações.

Com dupla regência, este signo está associado a Marte, o Senhor da Guerra e representante da nossa força pessoal, e a Plutão, o princípio do bem e do mal. Plutão é o menor dos planetas do nosso sistema solar, foi desclassificado como planeta pelo seu tamanho, mas é com sua órbita irregular que ficam estruturados os movimentos dos demais planetas sendo sua influência física determinante para manter a harmonia de todo o conjunto de astros que orbitam pelo Sol.

A energia de escorpião é receptiva, atenta e direta. Os acontecimentos ficam registrados pelo valor emocional que possuem e as relações com o outro são marcadas por uma intensidade nos sentimentos e pela busca da compreensão e acolhimento mútuos.

Extremamente perceptivos, os escorpianos têm um talento especial para extrair de si mesmos e das suas relações aquilo que está mais bem guardado e escondido, talvez até inconsciente. Vão fundo nos seus objetivos e nos seus relacionamentos (elemento água) e nessa profundidade atingem um nível único de entrega pessoal.

Olhando para dentro de nós de forma corajosa e verdadeira, vamos identificar o que é nosso sentimento genuíno e assim ressonante com nossa energia essencial (nossa luz), e de outro lado o que é desejo de controle sobre nós mesmos e sobre o outro para garantir uma relação idealizada (nossa sombra). Se conseguirmos fazer essa diferenciação com nossos conteúdos internos, podemos nos libertar daquilo que nos mantém ligados ao que impede o nosso crescimento.

Ao passar por águas tão profundas, nunca mais seremos os mesmos. A influência da energia do Escorpião nos leva a perceber também tudo aquilo que já não serve mais, que está “morto” e precisa ser descartado. O tempo de Escorpião é também tempo de desapego.

Por isso a associação de Escorpião com a morte e com o mito da Fênix, que renasce das próprias cinzas num contínuo processo de regeneração e transformação.

Outro mito associado ao Escorpião é o da águia, que por volta dos 40 anos se recolhe para tomar uma difícil decisão: esperar a morte chegar em breve ou quebrar o bico numa rocha para depois, com um bico novo, retirar todas as suas unhas e penas que nascerão de novo e permitirão à águia a renovação do seu ciclo de vida simbolizado no “Voo da águia”.

Tanto simbolismo ilustra o quanto é importante para o Escorpião o compromisso com a verdade, com a sua verdade que é única e individual. Fazer essa conexão é essencial para viver as transformações de forma positiva e integrada.

domingo, 3 de novembro de 2013

O Hierofante

A conexão com o Divino, o sentido maior da vida, o mestre; todos esses significados cabem bem neste arquétipo.

Esta carta é geralmente representada por um sacerdote, em alguns tarôs ele é o Papa, aquele que detém um conhecimento acumulado de uma determinada tradição e por isso consegue orientar os outros.

O Papa é o grande pontífice, aquele que faz a ponte entre o homem comum e a Divindade. Nessa conexão entremundos, questionamos se nossas atitudes e pensamentos estão alinhados com aquele conjunto de crenças e valores em que acreditamos sinceramente, validando os caminhos por onde passamos.

Representando a figura de autoridade que exerce o direcionamento dos demais, o Papa é a carta que nos fala dos aprendizados que chegam a partir do grupo ao qual pertencemos.

O arcano 5 é o primeiro onde aparecem outras figuras ao lado do símbolo principal, trazendo a ideia de que aqui se iniciam as primeiras inter-relações com as outras pessoas. Dá pra associar com a idade média das crianças ingressarem na escola, entre 5-6 anos as crianças estão iniciando sua integração no primeiro grupo, desenvolvem amizades e começam a perceber afinidades quando se dão conta que "gostam mais" de determinado amiguinho.

É no grupo que vamos percebendo em nós aquilo que somos, no grupo da escola estão aquelas crianças que brincam das mesmas coisas, assistem o mesmo programa de televisão, curtem o mesmo super heroi e grupos musicais. Começamos entender nós mesmos, enquanto indivíduos, pelo grupo ao qual pertencemos pois estar naquele grupo vai nos mostrando quais as minhas preferências e reconhecemos o que é importante pra nós e o que não é exatamente nosso.

Levando isso para uma vida adulta e no contexto da época em que o tarot foi popularizado, o equivalente dessa ideia de grupo seria a Igreja, um lugar comum onde todas as pessoas se reuniam para receber orientações e confirmar suas ações como corretas dentro de uma determinada forma de ver o mundo e a vida.

A figura do papa é essa confirmação de que o que estamos fazendo está correto e que nossas atitudes são coerentes aos olhos do grupo em que estamos inseridos, que pode ser a família, a escola, o trabalho ou até mesmo a igreja.

Buscar essas afinizações no grupo é natural em nós e muitas vezes é importante se sentir respaldado por uma crença maior, pela "palavra de Deus", para tomar certas decisões. Agir de acordo com uma orientação que já foi testada e organizada por um grupo nos confere uma segurança e nos autoriza a seguir num determinado caminho.

Essa atitude é inicial no processo de individuação, buscamos orientações e autorizações externas como a criança busca o olhar de aprovação dos pais para saber se pode ou não colocar o dedo naquele buraquinho da parede.

Há realmente um momento da vida de todos nós em que é necessário irmos tendo essas confirmações de quem é "maior" do que nós e pode nos mostrar o caminho e o passo mais certo. O outro neste caso atua como um modelo de comportamento e ao nos comportarmos como esse modelo automaticamente nos sentimos autorizados a realizar.

Na psicanálise, a identificação é um mecanismo de defesa do Ego. Na construção da sua personalidade, o indivíduo vai buscando as situações que mais promovam nele a segurança para sobreviver e se desenvolver. A identificação é um modo primitivo de constituição do sujeito que, ao incorporar o modelo dado pelo outro, vai assegurar que sua própria identidade seja preservada.

Freud aborda o mecanismo da identificação nos primeiros vínculos da criança com sua família, colocando o pai como modelo (pai = papa) e vendo a identificação como processo preparatório para a formação do Complexo de Édipo - que para o pai da psicanálise seria o evento psíquico determinante na construção da personalidade de todos nós. Segundo ele, na identificação há um empenho em moldar o próprio Ego de acordo com as características do indivíduo que foi tomado como modelo.

É dessa forma que nos sentimos parte da nossa família de origem, vamos reproduzindo os padrões e crenças familiares e carregamos o brasão dos nomes paternos ao longo da vida, repetindo as características da família na nossa vida também.

Quem nunca ouviu que italiano fala alto? Pois saber que a família tem ascendência italiana pode autorizar uma pessoa que realmente fala alto a continuar falando alto, afinal, ela pertence aquele grupo que fala alto. Será que todos os italianos falam alto, ou será que existe uma relação entre aquela terra e o volume de voz? Talvez não, talvez sim, quem sabe... Mas acreditar que todo italiano fala alto é uma forma de preservar aquela característica em alguém, para que ele se permita ser.

Daí por diante, vamos mantendo essas identificações onde podemos nos encaixar para justificar aquilo que somos - ou que damos conta de ser. E assim participar do grupo vai nos dando um sentido e um direcionamento, passamos a valorizar aquilo que é importante para o grupo e isso vai nos conferindo valor também.

Mas o que acontece quando nos encaixamos num modelo que não corresponde exatamente à nossa essência? O esforço de nos encaixarmos num molde que não atende o nosso formato causa muita tensão, se por um lado buscamos na identificação com um modelo o caminho para construção da nossa própria identidade, ao percebermos no mundo externo a não aceitação e a hostilidade a tendência é sermos igualmente intolerantes - conosco e com os outros.

Alguns anos mais tarde a psicanálise vai abordar o ambiente da família de origem como experiência fundante de uma percepção ética da condição humana. Donald W. Winnicott afirma que uma criança suficientemente cuidada tem condições de pressentir no seu ambiente as condições que permitirão a ela formular, por si mesma, uma relação ética com o mundo externo a partir da sensibilização com as necessidades de cada um e do respeito mútuo.

No grupo familiar, esses valores são estruturantes da personalidade e vão resultar num desenvolvimento psíquico saudável - que, por sua vez, permitirá ao indivíduo se relacionar com as pessoas de fora do seu grupo de uma forma colaborativa e mais tolerante com as diferenças.

E se a um primeiro momento nossa sobrevivência e desenvolvimento saudáveis dependeram da qualidade ética do nosso ambiente familiar, ao longo da vida nós vamos criando laços com outros grupos que também nos representem.

Conforme vamos avançando no processo de amadurecimento na vida, vamos percebendo que nem sempre estamos inseridos nos grupos que comungam da mesma visão de mundo e precisamos encontrar outros coletivos onde nos sintamos acolhidos para continuar nosso desenvolvimento pessoal.

E aqui reside a chave do arcano do Hierofante: ele nos apresenta à sensação do PERTENCIMENTO que é o elemento primordial na construção da noção do coletivo. Por isso é a primeira carta do tarot com mais de uma pessoa, é a base para uma relação com o outro para além do nosso grupo familiar.

A sensação de pertencimento, quando genuína, permite que o indivíduo se expresse de forma natural e espontânea no seu grupo familiar e aja de forma coerente com o que ele entende ser a sua verdade - seu verdadeiro Self. Quando o ambiente familiar de origem permite isso, a pessoa não se sente ameaçada por ser quem ela é e ela não vai sentir nenhuma necessidade de se ajustar ou de modificar aspectos seus para se encaixar no grupo. Ao pertencer, não há a tensão da ameaça ao seu jeito de ser ou dos ajustes de encaixe. Ao contrário, ao pertencer existe acolhimento e liberdade para ser.

Assim, quando nossa relação com o grupo de origem é suficientemente satisfatória, temos condições de lidar com as outras pessoas que chegam na nossa vida dessa mesma forma, exercitando a tolerância e aceitação com o outro e resultando numa atitude mais colaborativa na vida em comunidade - que vai se ampliando depois para as noções de cidadania e constituição do Estado de Direito como proposto por Winnicott.

Nesse sentido talvez a ideia da manifestação do divino em nós contida nessa carta, ao sermos autênticos de alguma forma assumimos o lugar que outrora era ocupado apenas pelo sacerdote enquanto representante do divino na Terra. Nossa autenticidade seria a chave para manifestar o divino em cada um.

Porém, no estudo do Hierofante eu gosto muito da imagem proposta no Tarot Mitológico, um trabalho incrível da astróloga Liz Greene em coautoria com Juliet Sharman-Burke, que reúne arquétipos e mitos de uma forma muito inspiradora.

Ela propõe a figura de Quíron como o orientador no lugar do Papa, pois na mitologia Quíron era um centauro muito sábio que ficava a cargo de educar os filhos dos Deuses. Porém, certa feita o centauro foi ferido por uma flecha envenenada e, mesmo com todo o seu conhecimento, não era possível curar-se da ferida que lhe causava contínua dor.

Quíron representa aqui não só a figura do orientador, por deter o conhecimento e passá-lo adiante ensinando o grupo, mas por ter sido ferido e sua lesão nunca cicatrizar, a dor que ele sentia fazia com que ele experimentasse diariamente o sofrimento. Apesar de conviver com os Deuses, esse sofrer o colocava em contato com a natureza humana e assim Quíron podia ter empatia com os filhos humanos dos Deuses, compreendê-los para poder ensiná-los.

Na simbologia de Quiron é que pra mim acontece o grande aprendizado desta carta. Para além das identificações e formações da personalidade, o que eu vejo neste arcano é a empatia. Estar no grupo não só nos confere uma noção de identidade e pertencimento, como também viver em coletividade nos permite desenvolver esse atributo humano tão importante que é a empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro.

É na empatia que permitimos que a conexão com o outro se estabeleça. Se por um momento nos aproximamos do outro por conta das identificações, é com a empatia que consolidamos o vínculo.

Porque se ficarmos apenas na identificação, a minha conexão com o outro vai passar pelo filtro daquilo que eu acredito no momento e se a pessoa não atender os valores daquele filtro eu não me identifico com ela, não a tolero e não a considero uma igual. Ela não pertence.

E daí que vamos taxando o diferente como errado, feio e inadequado e vamos abrindo a porta para preconceitos e discriminações que separam as pessoas. Criamos um mundo de segregações onde classifico as pessoas e valorizo apenas aquelas que penso serem iguais a mim, abrindo uma categoria inferior onde ficam todas aquelas outras pessoas diferentes. Não é coincidência que os fundamentalismos se justifiquem na figura de um líder supremo, o Hierofante em sua forma negativa encarna essa confluência de valores excludentes a quem não se encaixa  no grupo .

O arcano do Hierofante nos alerta para não nos investirmos nessa falsa valorização de nós mesmos, caindo na armadilha dos complexos de superioridade ou inferioridade quando não conseguimos lidar com a "ameaça" que o diferente traz.

Só com a empatia é que podemos restabelecer uma convivência com os outros que permita que as conexões se formem independente de qualquer filtro ou segregação, ligando-nos verdadeiramente e conferindo um real sentido de pertencimento. Nesse ambiente seguro de acolhimento é que será possível o desenvolvimento pessoal e a elevação da consciência de forma positiva para o indivíduo e para o grupo onde estiver inserido.

Quando a carta do Hierofante sai numa leitura, é o momento de revisar se nossas crenças e atitudes são coerentes ou se precisamos fazer um alinhamento entre pensar e fazer. Pode ser também que chegou aquele momento na vida em que temos que procurar um grupo que realmente reflita aquilo em que acreditamos, ou ainda nos darmos conta de que para crescer precisamos ser mais tolerantes e trazer a empatia para nosso dia a dia.

Para nos inspirar, trago este vídeo que fala sobre a empatia e como a convivência com os outros pode ser mais rica para todos.




Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise