sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Lunação de Libra - 09/10/2018


verbenna yin


A lunação deste mês abre no signo de Libra, onde a tônica são os relacionamentos e a nossa capacidade de compreender e aceitar o outro. Durante o alinhamento entre Sol e Lua, o ascendente estará apontado para a Roda da Fortuna, um setor do céu onde Sol e Lua estão perfeitamente harmonizados e que simboliza boa sorte e positividade para aqueles que estão atentos ao seu próprio desenvolvimento pessoal.

Para esta lunação, o ascendente alinhado à Roda da Fortuna representa um aproveitamento ótimo da sinergia entre Lua e Sol deste mês. Mas este aproveitamento requer esforço, não vem de graça não. É preciso estar consciente e alerta aos aspectos internos para se dar conta deste potencial.

O Sol em Libra nos propõe essa observação mais aprofundada a respeito da qualidade dos nossos relacionamentos, se estamos nos sentindo contemplados com nossos parceiros e se nossas necessidades afetivas vem sendo atendidas. Aqui cabe a reflexão se estamos nos comunicando de forma eficiente com as pessoas com quem nos relacionamentos, se conseguimos nos expressar com liberdade diante delas ou se reprimimos nossas opiniões e vontades para manter uma atitude mais conciliadora e não desagradar – e de quebra continuarmos sendo aceitos.

Será que conseguiríamos nos expor completamente nessa relação e o outro continuaria a nos amar se nos visse desnudados?

Já a Lua é o indicador de onde repousa o nosso inconsciente e os desejos que permeiam esse território. Em Libra, a Lua vai nos revelar qual é a motivação dos nossos relacionamentos, o que tem nos mobilizado em direção ao outro. Será que estamos mesmo querendo compartilhar momentos e ideias com o outro ou será que esperamos receber do outro a validação dos nossos próprios aspectos e nos sentirmos aprovados?

Se nos relacionarmos sempre intencionando aprovação e validação de nós mesmos, perdemos a chance de conhecer toda a diversidade de que o humano é possível. Quando não nos sentirmos aprovados pelo outro, não nos mostramos e não nos conhecemos. Não vamos além.

O movimento da vida acontece para quem se aceita como é.

Todos somos diversos, plurais, e cada um é o resultado de uma gama de forças da natureza que se misturam, se ajustam e compõem uma forma única, individualíssima.

Para observar a beleza dessas formas que cada indivíduo representa em si, precisamos estar abertos e disponíveis à aproximação. Sem aproximação e sem convivência não podemos exercer essa apreciação das diferenças – o que é essencial para conseguirmos ir além na direção de algum progresso próprio e coletivo.

Sem espaço para as diferenças, ficamos restritos ao óbvio e não alcançamos o extraordinário.

Precisamos estar desarmados e positivos para dar lugar à aproximação do outro, para que esse outro possa ser visto, recebido, admirado. Para que o outro possa compor e se integrar. Para que a união e a pluralidade seja possível e possamos, cada um com a sua forma, compor uma grande mandala – onde diversas formas e cores autônomas se encaixam e complementam formando uma imagem maior.

É disso que se trata a energia de Libra, de estar disponível e receptivo para a pluralidade acontecer. Até o signo anterior, Virgem, a energia é individual e os aprendizados propostos são também na esfera individual pois estamos percorrendo o ambiente interno e conhecendo nossas capacidades. Mas a partir de Libra esses aprendizados transbordam para o externo e somos direcionados a compartilhar as capacidades desenvolvidas e a conviver com as várias possibilidades.

Nesta lunação, a chave para o trabalho interno é dada pela Roda da Fortuna em Câncer, que promove uma maior consciência a respeito dos nossos mecanismos de defesa, que nos impedem de nos aproximarmos uns dos outros. Em Câncer pode vibrar o temor de sermos atacados pelo outro e a diferença que o outro representa é vista como fator de risco.

Nessa região do céu, a tendência é neutralizar as diferenças para que elas não nos ameacem – o que pode resultar numa atitude inconsciente de repelir o outro a quem considero diferente de mim. Porque tenho medo dele.

Mas para quem está atento às mensagens dos céus, a roda da fortuna gira na direção da superação do medo das diferenças, a fim de que as energias de receptividade e a colaboração librianas possam ressoar. É em nós que essas energias vibram, somos nós as antenas que irão conscientizar e ancorar essas vibrações aqui na Terra e é nosso dever estarmos atentos à nossa missão com este planeta.

Durante a lua nova, Lua e Sol ficam perfeitamente alinhados e sugerem simbolicamente essa atitude colaborativa entre Ego e ID, entre consciente e inconsciente, entre visível e encoberto. Vamos nos permitir ser colaborativos internamente, para que nossos aspectos conscientes e inconscientes trabalhem juntos num alinhamento inteligente. Disso pode resultar um humano mais expandido em consciência que, por sua vez, irá atuar em prol de uma convivência mais pacífica e harmoniosa com os outros como reflexo da aceitação de si mesmo

sábado, 6 de outubro de 2018

Vênus Retrógrada - 06/10 a 16/11/2018

verbenna yin

Vênus está retrógrada, em relação ao movimento feito pela Terra a direção dela vai no sentindo oposto ao nosso. Isso resulta numa mudança no fluxo de sintonia com a energia da Vênus, que promove em nós a consciência da valorização de si, do desejo de conexão com o outro e da sensação de pertencimento.

Durante o período de retrogradação, essas necessidades podem chamar nossa atenção e teremos que nos esforçar um pouquinho mais para manter esses temas fluentes na nossa vida. Na prática, os relacionamentos e as finanças passarão por um tempo de revisão.

De tempos em tempos sentimos mesmo uma necessidade de rever as escolhas que fazemos e essas duas áreas nos afetam profundamente. Como estamos na égide de Libra, ouso dizer que o tema dos relacionamentos encontrará mais motivos para nos trazer para dentro e termos esse momento de introspecção e reavaliações.

E isso não é ruim, é necessário!

Se queremos nos desenvolver em todas as nossas potencialidades, perceber quais as possibilidades das relações que temos hoje é importante pra gente se situar e tomar boas decisões. Boas decisões pra nós, porque o tema de fundo é a autovalorização.

Será que os relacionamentos que temos hoje nos contemplam?

As pessoas que estão ao meu redor colaboram com o meu bem estar ou eu me deixo influenciar por elas e acabo me perdendo de mim?

Preciso tomar alguma atitude para estar ao lado de quem eu realmente gosto e me faz bem?

Aproveite o período de retrogradação e vá fundo no que precisa ser visto, conscientizado e talvez transformado. Iniciamos a retrogradação justamente no território das transformações e desapegos em Escorpião e em seguida Vênus volta para Libra onde podemos enxergar com mais clareza o que nos mobiliza nos relacionamentos e o que precisamos fazer daqui pra frente.

E vejam só que lindeza que é essa dança de Vênus pelo céu, as "alças" nesta figura são os períodos de retrogradação. Com o tempo e os ciclos, as retrogradações dão forma a essa linda flor, a Flor de Vênus que simboliza a correlação entre flores e amores e inspira os apaixonados a ofertarem flores para as pessoas amadas.

E você, já sabe pra quem vai ofertar seu coração?

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Lua Cheia em Áries - 24/09/2018


verbenna yin


A Lua Cheia desta noite nos fará um convite a uma reflexão muito oportuna e mais que necessária em tempos de polarizações e ódios destilados nas redes sociais. O alinhamento entre Sol e Lua acontece no eixo Áries e Libra que tem por tema “Eu e o outro”.

O Sol está nos primeiros graus de Libra acompanhado de Mercúrio, o planeta responsável pela comunicação, o uso da inteligência, a capacidade de argumentação e percepção do ambiente. Nesta área celeste a consciência é atraída para os relacionamentos e nos damos conta da nossa necessidade de nos sentirmos conectados e pertencentes. Em Libra residem os influxos elevados que movimentam as pessoas a uma atitude mais compreensiva e conciliadora, onde é possível negociar opiniões, ceder espaço próprio para que o outro possa chegar e ficar pois a companhia e o compartilhar são mais importantes. A noção é a de que a união vale a pena.

No pólo oposto está a Lua em Áries, impulsiva, toda independente, querendo mais é ousadia e liberdade para ser o que quiser. Regendo os humores e nosso lado emocional, essa Lua quer mais é ter razão e está disposta a encarar essa briga para ter a satisfação de falar e agir como bem entende.

Conflito certo.

A salvação nessa configuração vem de Quíron, que está nos primeiro graus de Áries, reforçando o alinhamento desta noite.

Quíron é o arquétipo do curador ferido, aquele que cuida e ensina exatamente o que sabe pois vive na própria pele. Em Áries, Quíron representa a consciência de que existe um preço a se pagar pela ousadia de agir e falar impulsivamente, sem se importar com os demais, pois numa atitude intolerante acabamos nos afastando do outro – e no fundo, ninguém vive sozinho.

Somos seres gregários, precisamos de afeto e companhia para nos sentirmos seguros e podermos nos desenvolver primeiro individualmente, depois coletivamente. Quíron em Áries vai indicar que agir sem pensar pode a um primeiro momento dar vazão a uma motivação interna, que é desejante e legítima, mas da qual podemos nos arrepender depois quando nos dermos conta de que se todos agirmos no impulso e com suas próprias razões, ninguém mais se entende. Estaríamos todos sozinhos, desconectados e por nossa conta – o terreno propício para os discursos totalitários como a História nos demonstra.

É preciso aprofundar as razões dos por quês de nos sentirmos hoje tão enraivecidos e impacientes, desejosos por mudanças e novos caminhos. E esse ajuste de consciência está em Libra, o setor das conciliações.

Hannah Arendt afirma que a política é o “espaço entre-os-homens”, no qual acontecem as negociações possíveis entre os diferentes pensamentos e pontos de vistas e onde os acordos são possíveis, atendendo ainda que parcialmente a um e a outro mas visando o benefício mútuo que contemple o máximo possível do desejo de ambos e permita uma coexistência harmônica. Para ela, nesse espaço entre o Eu e o outro a condição humana é diginificada pois ao se esforçar para abrir mão do que é possível ceder e afirmar o que é necessário buscar, o “nós” sai fortalecido e entendemos que a liberdade para se expressar com espontaneidade é algo muito caro.

Mercúrio alinhado vem auxiliar este movimento interno de reflexões, trazendo a predisposição mental à contemporização e a uma atitude mais conciliadora e racional, visando os entendimentos necessários para o “nós” continue sendo possível.

Quero deixar nesta reflexão algumas palavras inspiradoras de John Lennon, que era Libriano com ascendente em Áries e que, portanto, vivenciou esse conflito interno e deixou como legado a música que é um hino pela conciliação e compreensão do humano como forma de crescermos todos juntos:

“Imagine all the people living for today (...)
Imagine all the people living life in peace (…)
Imagine all the people sharing all the world (…)

You may say I´m a dreamer
But I´m not the only one
I hope someday you´ll join us
And the world will be as one”

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Marte e Vênus na Psique

verbennayin


Neste final de semana participei de um ciclo de palestrar e me perguntaram sobre os aspectos astrológicos que unem as pessoas, que fazem a gente se apaixonar. Sem dúvida são as oposições, porque elas acontecem no eixo polar incitando o desejo pela complementariedade.

A gente pode até ter muita afinidade com quem tem aspectos repetidos aos nossos, sentimos que a pessoa "tem a ver" conosco, compartilha gostos, ideias, visões de mundo, e é muito legalzinho estar com ela e tals.

Mas se apaixonar mesmo, sentir aquele arrepio ao se aproximar, se perceber tomado pelo outro e querer inexplicavelmente estar perto, isso só acontece pela energia oposta e complementar. É essa energia da complementariedade que nos mobiliza na direção da conexão, que na verdade mesmo simboliza a fusão de inconscientes que juntos tem uma grande sinergia e potencial de realização.

Jung fala o tempo todo sobre essa noção da oposição de energias como força autorreguladora das experiências humanas, e chega a afirmar uma correspondência entre a necessidade que temos de transcender, atraindo as pessoas que possuem a complementariedade que buscamos, com os posicionamentos astrológicos de Marte e Vênus (pois é, ele manjava dos paranauês celestes todos).

Marte e Vênus também se cruzam aqui na Terra, simbolicamente a Terra é o ponto médio entre os dois planetas e onde resultaria o equilíbrio das forças masculina e feminina. É em nós que se materializa essa lei universal do equilíbrio mediante a compensação das forças, e isso também acontece nesse nível do sutil em que opera a psique.

Os posicionamentos de Marte e de Vênus no mapa individual são as características que conduzem ao casamento alquímico interno, a união simbólica da Anima com o Animus. Essa fusão nos leva ao cenário interno mais profundo e ao contato com nosso SELF, nosso ser eterno que repousa pacientemente esperando ser encontrado pela consciência.

É essa nossa eterna busca, por nós mesmos.

Mas como abrir esse caminho? Trabalhando a polaridade oposta nos nossos relacionamentos. Nos aproximamos dos outros porque vemos neles nossas próprias qualidades projetadas, e nos apaixonamos pelo outro porque identificamos nele, inconscientemente, a complementariedade que nos falta alcançar pois sozinhos não conseguimos sustentar aquela energia, só temos um polo dela.

Por exemplo, se você tem Vênus em Áries, sua complementariedade está em Libra - signos que formam um único eixo e juntos conseguem contemplar integralmente uma área de vida. Vênus em Áries vai ser atraída por Marte em Libra, e vice versa.

Na jornada em direção ao nosso SELF, a psique é capaz de antecipar quem tem em si a energia complementar que vai formar a sinergia necessária à nossa jornada, e aí o inconsciente vai criando e atraindo situações para que esse encontro de forças possa ter lugar, abrindo o caminho para que o nosso melhor venha à tona e possamos nos sentir integrados, pertencentes e completos.

Nesta lunação este tema estará especialmente ativado, dando oportunidade para experimentações bem interessantes na área dos relacionamentos. Aproveite que Marte entrou em movimento direto e Vênus estará receptiva até 06/10.

domingo, 9 de setembro de 2018

Lua Nova em Virgem - Setembro/2018

verbenna yin


A lua nova deste mês acontece no signo de Virgem, e no momento da lunação estará na casa 8, o setor que traz os aprendizados sobre desapego, superação e transcendência.

O alinhamento Sol e Lua sempre representa a união das energias masculina e feminina, numa alusão simbólica ao casamento alquímico que faz surgir algo novo - que terá lugar na lua cheia. Nesta lunação, a união dos opostos Sol e Lua em Virgem propõe um momento de limpeza e desligamento de ideias não construtivas para que o novo se estabeleça.

Ao mesmo tempo, temos ativada a configuração entre Mercúrio em Virgem, Saturno em Capricórnio e Urano em Touro, sustentando uma energia de produtividade com a qual podemos nos sintonizar para tirar projetos do papel e trazê-los à existência concreta. É um ótimo momento para dar vida àquilo que você vem desejando há tempos.

O que você precisa eliminar da sua vida hoje para que aquilo que você tanto quer possa chegar e ficar?

O elemento terra estará especialmente ativado neste período, indicando um tempo de maiores cuidados com o corpo e sugerindo ainda a noção do corpo como fonte de satisfação e prazer.

E pra quem quiser ir mais fundo nessa reflexão, Vênus entrou em Escorpião momentos antes da lua nova se formar. Nesse território das águas profundas do inconsciente, onde o prazer está envolvido, o impulso pelos relacionamentos está em oposição à Urano e quadrando Marte e Lilith. É hora de encarar esse medo que te estaciona na vida, impedindo de ir além nos seus relacionamentos, de se desligar dos modelos tradicionais que impõem como as pessoas devem demonstrar seus sentimentos e as deixam profundamente infelizes por não poderem vivenciar plenamente seus desejos.

O que será que você ainda não conseguiu viver porque estava preso numa única forma de demonstração da sua afetividade? Será que seus relacionamentos seguiram uma receita que não te contempla?

Os céus pedem uma abertura na forma de se relacionar afetivamente, com mais verdade e entrega às próprias emoções, superando o medo da exposição dos sentimentos, para poder desfrutar intensamente do potencial que a união com o outro pode promover, numa sinergia de forças que traz o nosso melhor à tona - sem desconsiderar o prazer sensorial envolvido e que nos faz acessar um repositório interno de vida e reconexão.

Nesta lua nova, plante suas sementes com intenção e faça as limpezas necessárias para que sua alma possa reconhecer esta oportunidade de transcender neste caminhar passo a passo que a lua dispõe até sua fase cheia.

E olha só, a lua cheia vai chegar juntinho com a primavera, a estação do fogo que anima e dá energia nossa vida. Mas isso vai ser assunto do próximo post, fiquem ligados. Até lá!

quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Mães Narcisistas



Esta semana dei uma entrevista ao Jornal Estadão, à jornalista Rita Lisauskas, pra falar sobre este tema que, apesar de ser recorrente na história pessoal de muitas mulheres, não recebe o apoio nem a empatia por parte do senso comum pois ainda estamos muito arraigados ao ideal da "mãe carinhosa" que se "sacrifica" pela sua família.

Porém, o Transtorno de Personalidade Narcisista é uma patologia real, reconhecida pela comunidade médica e tem código no DSM, a lista das doenças conhecidas. Ou seja, é uma quadro de anormalidade. E que pode acometer mulheres, determinando a constituição da sua personalidade e se manifestando na qualidade da sua maternagem no futuro.

Nesse quadro, a relação mãe e filha fica comprometida por uma atitude constantemente perversa dessa mãe. A mãe age com hostilidade, falta de acolhimento e cuidados enquanto a filha quer pertencer e tenta agradar o apetite insaciável dessa mãe insatisfeita, o que compromete sua auto estima e capacidade de realização no mundo. Geralmente nesses casos o afastamento é necessário para que a filha possa se recompor e entender suas opções possíveis no relacionamento com a sua mãe dali pra frente.

Mas existe algo aí nessa nomeação do problema que sempre me incomodou, que é o fato dele se fixar no aspecto da hostilidade entre mulheres.

Para a filha, que teve sua personalidade moldada nesse ambiente de hostilidade frequente, será muito difícil confiar em outras relações e contextos, o que promove nela uma sensação de que deve se defender o tempo todo e gera muita ansiedade. E como essa noção é inconsciente, a possibilidade de se gerar uma sombra que atraia justamente pessoas que não merecem confiança é grande, reforçando a sensação de hostilidade do mundo e de incompreensão recorrente.

Já a mãe, que é a parte perversa da história, essa geralmente age com agressividade e pode representar um risco real para a filha criando situações que causam danos de verdade para ela. Para a mãe narcisista resta o julgamento por ter agido de forma tão contrária ao que se espera de uma figura materna. Ela mesma não se dá conta disso e vê na filha a "ingrata" que não percebe o quanto ela quer "ajudar", e para si vai justificando a hostilidade que mantém na relação.

Porém, olhar para a questão já estabelecida esconde o fato de que essa condição é o resultado negativo de um evento forte que aconteceu na vida dessa mãe, não teve o tratamento adequado e acabou por comprometer a saúde psíquica dela. E geralmente tem a ver com histórico de estupro e aborto da mãe que se manifesta durante um puerpério terrível dessa filha.

Nenhuma mãe quer conscientemente destruir a autoestima de uma filha, isso acontece como consequência numa dinâmica que vai se estabelecendo porque ninguém nunca olhou para essa mãe e ela não teve a chance de ser cuidada como precisava. E a filha, por sua vez, se não tiver a oportunidade de cuidar desse trauma, quando ela for mãe pode repetir esse mesmo padrão na sua maternagem - o que vem sendo interpretado como sendo uma predisposição genética.

Pra mim, essa é também uma predisposição da sociedade que não apoia de fato a maternidade.

Se enquanto sociedade a gente realmente apoiasse a maternidade, entendesse que a mãe precisa de cuidados específicos nessa fase da maternagem, incluindo afastamento do trabalho e apoio emocional pra lidar com suas questões, e que isso não é frescura nem privilégio, daríamos um passo bem importante garantindo a saúde mental de quem cuida da formação de toda uma geração de pessoas.

Quando a gente não apoia a maternidade, abre caminho para o adoecimento das mães e para o estabelecimento de quadros psíquicos negativos nos filhos. Em larga escala, uma população inteira com desenvolvimento psíquico impactado.

O transtorno da Mãe Narcisista existe e precisa ser cuidado, mas a gente precisa enxergar além do problema já estabelecido entre mãe e filha e contextualizar essa conversa para não cair no conhecido lugar de culpabilização da mulher e silenciamento do real problema, que é essa dinâmica social que atropela mulheres na maternidade e da qual elas nunca escapam ilesas.

Às vezes para essa filha a solução para interromper os danos causados pela mãe que sofre desse transtorno é o afastamento, pois há risco real para essa filha. Mas para quem é filha, só o afastamento não resolve, ela quer entender o que houve e quer ser legitimada em sua dor. Para isso, o caminho da terapia pode ser extremamente positivo, ajudando-a a compreender as razões que estabeleceram esse quadro e dando maior sentido às histórias para que tudo se acomode internamente da forma possível.

Vou transcrever abaixo a entrevista, mas se você quiser ler diretamente na matéria o link está aqui:

https://emais.estadao.com.br/blogs/ser-mae/a-mae-narcisista-e-habilidosa-em-se-fazer-de-vitima-e-de-dizer-que-a-filha-e-ingrata-explica-psicanalista/

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‘A mãe narcisista é habilidosa em se fazer de vítima e dizer que a filha é ingrata’, explica psicanalista

POR RITA LISAUSKAS
05/09/2018, 11h22

A psicanalista Verbenna Yin, 41, lembra que quando era pequena nunca conseguia agradar a mãe, pelo contrário. Nada do que ela fazia parecia bom o suficiente. As notas sempre altas na escola e até os bons textos que escrevia, que eram elogiados pela professora, eram depreciados pela mãe, que também não poupava críticas à aparência da filha, ainda uma menina. “Ela vivia me dizendo que eu era feia, muito feia”, lembra.

Já os dois irmãos de Verbenna recebiam um tratamento diferenciado, porém não menos tóxico: o menino, filho do meio, era o protegido, “sempre elogiado”, enquanto a outra irmã, a caçula, era tratada como “incapaz”. A hoje psicanalista conta que passou a infância e a adolescência tentando conquistar a admiração e o carinho dessa mãe, sem sucesso. Quando tinha 18 anos, o choque: a mulher que ela se esforçava tanto para impressionar tentou matá-la. “E não foi durante uma discussão ou tentando se defender de uma ameaça. Foi uma agressão gratuita, quando eu estava quase dormindo”, conta. A jovem saiu de casa e se afastou da mãe, por questão de segurança.

Anos depois, já formada em psicanálise, mãe de dois meninos e ainda longe da mulher que a colocou no mundo, Verbenna conta que mães como a dela, que destroem a autoestima dos filhos e transformam a infância e vida adulta deles em um inferno são mais comuns do que se possa imaginar. “São as mães narcisistas”, explica, agora como psicanalista. “O transtorno de mãe narcisista é um quadro real onde a relação mãe e filha fica comprometida por uma atitude constantemente perversa dessa mãe, que age com hostilidade, falta de acolhimento e cuidados enquanto a filha quer pertencer e tenta agradar o apetite insaciável da mãe insatisfeita, o que compromete sua autoestima e capacidade de realização no mundo”. Perceber que se é filha de uma mãe narcisista pode doer, conta, agora como filha . “A gente espera ser acolhida e é difícil romper com esse ideal de que a mãe sempre quer o seu melhor. Nem sempre ela quer”, afirma.


Blog: Como é a relação dessa mãe narcisista com seus filhos?

Verbenna: É uma dinâmica permanente que se estabelece geralmente com uma filha, que é o ‘bode expiatório’, enquanto os outros filhos, quando existem, ocupam outros lugares: tem o ‘filho dourado’, que recebe todos os atributos positivos, e o filho ‘protegido’, incapacitado por essa mãe e atingido em sua autoestima. É uma dinâmica inteira que não atinge apenas um dos filhos. Mas a existência desse ‘bode expiatório’ entre eles é que é muito cruel. Geralmente é a filha mulher que recebe toda a projeção negativa dessa mãe.

Blog: Sempre é com a filha mulher?

Verbenna: Geralmente. Mas quando há dois filhos meninos ou quando há um filho só também se estabelece uma relação doentia com essa mãe que tem uma personalidade narcisista. É mais comum a gente encontrar filhas de mães narcisistas.

Blog: E como é essa personalidade narcisista?

Verbenna: É muito voltada para si mesmo, porque é disso que o narcisismo trata. É uma incapacidade de conexão real com o outro. A pessoa só consegue se relacionar com o mundo a partir do que ela reconhece dela mesma nesse lugar externo. Com relação à maternidade, fica muito difícil o exercício de empatia dessa mãe, que não consegue ser tão sensível assim às necessidades dessa criança, podendo ser negligente ou exigir coisas que ela não tem condição de atender.

Blog: E essa dinâmica começa sempre quando a filha ou o filho ainda é bebê?

Verbenna: Os transtornos de personalidade se estabelecem aí, nesse momento, no primeiro ano de vida. A qualidade da relação entre essa mãe e essa filha é determinante para se estabelecer esse problema. A gente só olha para fenômeno já acontecido, registrado, fechado. Mas essa mãe, que é narcisista de fato, também foi um bebê, então sua personalidade narcisista se desenvolveu também quando era bebê. Essa questão nunca é isolada, ela é acompanhada também de outros quadros, então essa mãe pode ser esquizofrênica, sociopata, psicopata. Só que ela não nasceu assim, isso se estabeleceu quando era criança e se a gente vai pesquisar encontra uma avó com traços muito parecidos e que reporta histórias extremas de violência, abuso e outras coisas piores. Olhar para a questão já estabelecida esconde o fato de que essa condição é o resultado negativo de um evento forte que aconteceu na vida dessa mãe, que não teve o tratamento adequado e que acabou comprometendo sua saúde psíquica.

Blog: E quando começam os conflitos?

Verbenna: Quando as crianças ganham mais autonomia e começam a fazer suas próprias escolhas, a “desagradar” muito essa mulher, porque não “refletem” mais essa mãe, que não aprova, desqualifica e gera um abalo na autoestima dessa criança. E isso é recorrente, não é um quadro temporário. A autoestima desse filho vai ser testada durante toda a convivência dele com a mãe. Para a filha, que tem sua personalidade moldada nesse ambiente de hostilidade frequente, será muito difícil confiar em outras relações e contextos, o que promove nela uma sensação de que deve se defender o tempo todo, o que gera muita ansiedade.

Blog: E tem como alguém de fora intervir nesse processo?

Verbenna: Geralmente isso só é conscientizado pela filha na idade adulta, a família não compreende o que está acontecendo. Além disso, a mãe narcisista é muito habilidosa em se fazer de vítima e de incompreendida, de dizer que ‘a filha é ingrata’, então muitas vezes a família apoia essa mãe. Até se dar conta dessa dinâmica nociva.

Blog: Como a mãe narcisista age?

Verbenna: É muito mais grave do que as pessoas imaginam. Ela expõe a filha a situações de risco real: esquece em algum lugar, não busca, vai a ambientes de risco com aquela criança, exige muito da filha e quando ela corresponde ao que for exigido não dá o devido valor pelo seu esforço, ou destrói algo importante para essa menina. A mãe, que é a parte perversa da história, geralmente age com agressividade e pode representar um perigo para a filha, criando situações que causam danos de verdade para ela. Então essa criança fica numa condição muito difícil e constrói sua identidade nesse lugar de extrema vulnerabilidade. E quando ela cresce, já adulta, uma rivalidade se apresenta, que pode culminar com ameaças reais à integridade da filha.

Blog: Como foi a sua infância e adolescência?

Verbenna: Desde pequena minha mãe tinha uma fixação com a minha aparência, dizia que eu era uma criança feia, muito feia e que eu precisava estudar muito porque, no mundo, as mulheres conseguiam as coisas pela ou pela beleza ou pela sabedoria. Eu recebia pouquíssimo apoio com as coisas que eram minhas habilidades e ao mesmo tempo havia uma tentativa de diminuir tudo o que eu fazia. Eu era uma criança muito artística e ela não deixava que isso se desenvolvesse em mim. Eu adorava aulas de dança, mas ela me proibia de fazer. Desde pequena eu amava escrever, então escrevi um livro que minha escola, lindamente, decidiu publicar. Mas ela não deixou. E as coisas foram progredindo: eu não pude estudar no colégio em que eu tinha passado no ‘vestibulinho’, ela me trancava dentro de casa para eu não poder fazer minhas atividades. Era uma agressividade voltada para um filho só, naquela dinâmica do “bode expiatório”.

Blog: E seus irmãos, como ela tratava?

Verbenna: Seguia bem o roteiro. Tinha um que era confirmado em tudo, recebia todo o apoio e dedicação possível e a minha irmã, a terceira filha, criada nesse aspecto da incapacidade. Ela era muito querida, amada, “mas não era tão capaz assim”. E os filhos acabaram criando sua identidade a partir desses lugares.

Blog: O que você pensava? Que sua mãe não te amava?

Verbenna: Eu achava isso, mas também que era uma pessoa injusta, pela diferença de tratamento entre nós. Eu tentava sempre argumentar, o que a irritava demais. Ela era muito agressiva e me batia muito. Foi aí que eu percebi que esse convívio mãe e filha, tão comum para as outras pessoas, não era possível para mim. Eu me sentia culpada e tentava compensar isso de várias formas, tentando ser uma ótima aluna na escola, fazendo coisas que eu achava que ela poderia gostar dentro das coisas que valorizava. Mas todo o melhor que a gente tenta dar para essa mãe nunca é suficiente.

Blog: Qual foi a gota d´água entre vocês?

Verbenna: Eu percebia que havia algo muito errado na nossa relação desde sempre, algo fora do natural. Mas quando eu tinha 18 anos ela tentou me matar com uma faca e não durante uma discussão, em uma tentativa de defesa a uma ameaça. Foi uma agressão gratuita, quando eu estava deitada, quase dormindo. Daí eu decidi me afastar por questão de segurança. Quando meu filho nasceu ela foi à Justiça questionar minha capacidade de ser mãe, pedindo a guarda do meu filho. Foi aí que eu solicitei, em meio ao processo judicial, que fosse feita uma avaliação psicológica dela. Segundo o laudo, minha mãe sofre de esquizofrenia paranoide há muitos anos. E o narcisismo é um traço dentro desse contexto maior. Mais tarde, quando eu fui me formar em psicanálise e depois atendendo a algumas pessoas, filhas de mães narcisistas, percebi que a gente fica nesse lugar de menina machucada e não percebe que esse narcisismo pode fazer parte de algo maior.

Blog: Sua mãe se tratou depois do diagnóstico?

Verbenna: Não, e ela não aceita esse diagnóstico até hoje. Por isso eu tomo alguns cuidados. Ela não sabe onde eu moro, por exemplo, porque tem rompantes, então eu a deixo afastada. Mas há um ano mais ou menos eu a procurei e não fui bem recebida, para mim era importante esse convívio com ela, minha única figura parental. Mas não fui bem recebida não.

Blog: E como é a relação com seus filhos? Como foi se tornar mãe tendo essa bagagem?

Verbenna: Foi um renascimento, eu sabia que eu queria uma experiência de maternidade diferente, tinha certeza de que não podia reproduzir aquilo, então eu me dediquei completamente à função materna para que ela fosse positiva.

Blog: Você sente algum impulso de fazer com que seus filhos algumas das coisas que sua mãe fez com você?

Verbenna: Eu sinto que esse impulso psíquico do narcisismo me atravessa em alguns momentos, mas um dos efeitos positivos da terapia é me permitir estar consciente para sentir ele se aproximar, sem me entregar. Eu acredito que exista um padrão de rejeição em filhas de mães narcisistas, como eu, uma falta de conexão com os outros, e eu senti isso na minha maternagem, principalmente quando os meus filhos ficaram um pouquinho maiores. Eu estava com eles, mas não estava totalmente presente, não conseguia me sentir integrada. Foi isso que me fez olhar para além da minha própria história, ver que esse foi um referencial de comportamento, algo que me constituiu, mas que eu podia tratar. Existem ferramentas eficientes para rever isso, para que a gente faça reparações conscientes da nossa maternagem.

Blog: Você já sabe o que aconteceu na infância da sua mãe?

Verbenna: Sim, hoje eu sei. Conversamos e descobri que ela teve um trauma muito importante no início da vida, algo que não foi nomeado e nem tratado. Ela acabou se abrindo e me contou algo que ninguém da família sabe até hoje. Sem dúvida, o fato dela ter dividido isso comigo mudou nossa relação, porque agora eu sinto empatia por ela. Perceber que essa maldade da qual ela foi vítima foi resultado de algo que ela não pôde impedir iguala o meu lugar ao dela. Eu também fui vítima de algo que eu não pude impedir. Nenhuma mãe quer conscientemente destruir a autoestima de uma filha, isso acontece como consequência de uma dinâmica que vai se estabelecendo porque ninguém nunca olhou para essa mãe, ela não teve a chance de ser cuidada como precisava.

Blog: Você perdoou sua mãe?

Verbenna: Eu perdoei, claro, e só porque eu perdoei consigo atender mulheres que passaram pelo mesmo que eu. Mas a convivência com ela me colocaria num lugar de receber, de novo, intolerância, críticas, desqualificação do meu esforço. O meu perdão não faz com que ela mude de comportamento e, por isso, para me preservar, eu prefiro não conviver com ela.

domingo, 26 de agosto de 2018

Lua Cheia em Peixes e Trígono de Terra - 26/08/2018



Hoje a Lua Cheia ativa um trígono de Terra: Sol em Virgem, Saturno em Capricórnio e Urano em Touro. Virgem é o signo da produtividade, do serviço e do propósito das coisas. Saturno e Urano são deuses antigos, operam por meio do esforço e dos questionamentos mais profundos.

A fluência do elemento terra nos direciona a avaliarmos o que estamos produzindo no mundo, qual o valor das nossas obras e o quanto estamos aproveitando o nosso tempo.

Jung dizia que vivemos sob a influência do "Espírito deste tempo", uma forma pensamento do inconsciente coletivo que dá valor ao humano a partir do que ele produz e dos resultados de suas ações. Isso gera uma falsa noção de que é preciso gerar coisas que são valorizadas pela sua utilidade e passamos a nos identificar com o nível de produtividade que podemos alcançar. Quanto mais produzo, mais eu valho.

Nos avaliamos pela nossa capacidade de atender essa lógica do consumo, onde somos ao mesmo tempo consumidores e insumos desse encadeamento pois permitimos que o "Espírito deste tempo" nos consuma vivos enquanto corremos atrás de uma suposta produtividade que nos valorize.

Mas o alinhamento desta Lua Cheia nos convida a refletir sobre o real alcance e valor das nossas ações.

O que estamos de fato realizando com o nosso tempo?

Nossas ações produzem bons resultados para nós mesmos, ou estamos continuamente empregando nosso esforço para atender uma demanda interna de pertencimento e aceitação?

No eixo Virgem-Peixes o tema é o servir com propósito. Quando não temos um propósito claro nas nossas ações, vamos agindo até sermos reconhecidos e valorizados pelos outros e isso nos confere valor. Quanto mais valorizados desejamos ser, mais nos esforçamos para ser reconhecidos.

Nesse padrão negativo, agir produtivamente pode ser um meio de receber permissão para pertencer. Talvez tenhamos criado um hábito de nos esforçarmos para cumprir as tarefas que o senso comum determina para sermos considerados "pessoas de bem" e assim nos sentirmos integrados e pertencentes ao nosso grupo: trabalhamos, geramos renda, compramos, nos comprometemos, pagamos, honramos.

Também nos relacionamentos podemos estabelecer uma dinâmica de agir atendendo a expectativa do outro para nos sentirmos aceitos e amados.

Mas se o resultado desse esforço não for o seu próprio bem existe algo errado nessa dinâmica. Se para atender essa produtividade você precisa doar todo o seu tempo a ponto de ficar sem isso para aproveitar os momentos da sua própria vida, você está correndo atrás do vento.

Saturno é o Senhor do Tempo e vem questionar se o seu tempo está sendo bem usado para o seu crescimento, se você está sendo responsável com sua própria evolução. Aliado a Urano em Touro, este pode ser um momento de romper com as estruturas que te mantém aprisionado a um padrão de cumprir tarefas e atender demandas externas para ser valorizado pelo outro e se sentir parte.

Em Peixes, a Lua irradia hoje a consciência do auto-amor e da compaixão consigo mesmo, para que possamos encontrar sentido em nossas ações e nos darmos conta de que temos valor sendo quem já somos.

Existe um propósito para cada Ser nesta existência. Descobrir qual o nosso propósito nos dá a noção de que somos parte de um plano maior e que, apenas por existir, cada um tem por direito próprio seu lugar nesta grande família que é a humanidade.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O Mundo

verbenna yinE chegamos finalmente à ultima carta da sequência dos arcanos maiores do Tarot com o arcano do Mundo, também denominado de “O Universo”.

Neste arcano encontramos uma figura humana constituída por duas mentes, uma feminina e outra masculina, com um único corpo. O lado masculino à direita segura um bastão no alto, o lado feminino à esquerda segura um bastão e aponta para baixo.

Circunda essa figura uma imensa serpente que está engolindo seu próprio rabo, criando um limite diante dos objetos que estão na área externa e que se relacionam aos quatro elementos alquímicos: terra, água, fogo e ar.

A figura metade homem e metade mulher se relaciona claramente com a ideia do andrógino primordial e a Sizígia, referências propostas por Jung para compreender a reconciliação entre os opostos Anima e Animus na psique humana.

Anima é Animus são contrapartes da estrutura sexual predominante, sendo a Anima feminina e o Animus masculino. Uma pessoa do gênero feminino, uma mulher, tem em si uma contraparte masculina – o Animus, e da mesma forma, uma pessoa do gênero masculino tem si a contraparte feminina – a Anima.

Uma mulher não possui a Anima como contraparte pois ela mesma é a manifestação da natureza em sua forma e potência femininas, portanto, a mulher é inteiramente uma Anima. E da mesma forma ocorre com o homem, ambos são uma manifestação direcionada da natureza em si mesmos, mas possuem o potencial da parte contrária correspondente ao gênero oposto.

Para Jung, existe uma busca humana essencial por encontrar o aspecto da contraparte psíquica que inicialmente se estabelece no mundo externo, ou seja, nas outras pessoas. Nessa fase inicial, a identificação dos atributos acontece por meio de projeções e identificamos, ainda que inconscientemente, as características da nossa contraparte no ser amado.

É por essa contraparte que reconhecemos no outro que nos apaixonamos, e a um primeiro momento julgamos que esses aspectos dos outros nos faltem e na união com eles nos completamos.

Jung propõe que na verdade esses aspectos projetados são essencialmente nossos e por meio dos relacionamentos vamos amadurecendo essa percepção e reconhecimento sobre nós mesmos, até um momento do desenvolvimento psíquico em que podemos ver com clareza tais aspectos em nossa própria psique, num processo que chamou de sizígia – o casamento dos princípios masculino e feminino numa mesma estrutura psíquica.

Jung acreditava que: “É a alteridade psíquica que possibilita verdadeiramente a consciência. A identidade não possibilita a consciência. Somente a separação, o desligamento e o confronto doloroso através da oposição, pode gerar consciência e conhecimento.”

Nessa fase, o indivíduo não tem mais necessidade de projetar aspectos ocultos ou recalcados em outras pessoas, pois agora já se reconhece completamente em todos os seus aspectos. Assim, não há mais ilusões com o que se enxerga ou espera do outro, as relações tendem a ser mais livres e o medo da perda não mais se justifica pois aquilo que admiro no outro, também tenho.

Esse processo de reconciliação dos opostos é essencial para a dinâmica do homem transformado, onde a psique encontrou sua autorregulação através dos processos conscientes (metanoia) e inconscientes (enantiodromia). Neste modelo, a autorregulação é um processo que segue as leis universais e conduz naturalmente o indivíduo ao encontro consigo mesmo.

Na sua obra “O Eu e o Inconsciente”, Jung afirma que:

“Na medida do alcance de nossa experiência atual, podemos dizer que os processos inconscientes se acham numa relação compensatória em relação à consciência. Uso de propósito a expressão 'compensatória' e não a palavra 'oposta', porque consciente e inconsciente não se acham necessariamente em oposição, mas se complementam mutuamente, para formar uma totalidade: o si-mesmo (Selbst).”

Na representação deste arcano está presente o Uróboro, a serpente que engole a própria cauda e que simboliza o eterno movimento do Universo e a forma circular como uma unidade em si mesma, sem princípio nem fim. Ao circundar a figura hermafrodita, sugere que a dinâmica psíquica de compensação e complementação dos opostos é o caminho para se chegar na unidade primordial do SELF, enquanto centro da psique integral.

Para o homem transformado, o Ego consciente foi integrado ao SELF e agora opera no sentido de promover as ações no mundo externo coerentes verdadeiramente ao ser interno. Nesta fase, o Ego não tem mais necessidade de validações, reconhecimentos ou pertencimentos externos pois os objetos conquistados e os resultados das ações não mais confirmam o Ego. Ao ser integrado, o Ego se fortalece. Aqui o Ego está estruturado e pode ser um intermediador eficiente entre mundo interno e externo, com fidelidade completa ao SELF.

Ao escrever sobre “A Psicologia da Transferência”, Jung menciona o casamento entre Anima e Animus numa bela metáfora que envolve a unificação dos opostos masculino e feminino para fazer surgir uma nova criatura, completa, alinhada ao chamado do ser interno agora iluminado pela consciência:

"O negrume, ou seja, o estado inconsciente que foi resultado da união dos opostos, alcança um ponto de máxima profundidade que é ao mesmo tempo um ponto de reversão. O orvalho que cai anuncia a ressurreição e o surgimento de uma nova luz. A imersão em um inconsciente cada vez mais profundo é seguida por uma iluminação que vem de cima."

Simbolicamente, a iluminação é o processo de trazer um conteúdo oculto à luz consciência, para que possa ser incorporado no sistema mental do indivíduo e possa se manifestar no mundo físico. A sizígia é uma etapa primordial para fazer surgir o fio de luz condutor para que tudo que foi acessado no inconsciente encontre seu caminho até a consciência e possa ser finalmente incorporado à noção identitária e constituinte do ser. Quem fará essa incorporação é o Ego, enquanto centro ordenador da consciência e responsável pela interação com o mundo externo.

Assim, um Ego alinhado com o SELF é um poderoso instrumento de transformação do mundo externo, pois nesta fase se conhece a potência e a capacidade para agir, se possui a espontaneidade e leveza para fluir apesar das impossibilidades e das frustrações, e ainda existe conexão consciente com os desejos íntimos para realização das aspirações e propósitos de vida.

Essa noção é reforçada na representação arquetípica proposta pelo Tarot de Thoth de Aleister Crowley, na ilustração singular feita por Frieda Harris. Nesta carta a figura central é uma mulher, numa apologia ao trabalho da Anima como principal conexão entre o inconsciente individual e o inconsciente coletivo.

Emma Jung, esposa de Jung, escreveu notavelmente sobre essa característica da contraparte no gênero masculino. Para ela a Anima tem o potencial transformador mais poderoso pois pode suscitar modificações estruturais na personalidade:

“O papel de transmitir conteúdos inconscientes, no sentido de torná-Ios visíveis, recai acima de tudo sobre a anima. Ela ajuda na percepção de coisas que de outra maneira permanecem no escuro.”

Da mesma forma, Nise da Silveira ressalta o aspecto feminino como preponderante na capacidade humana de estabelecer vínculos saudáveis:

“Se o principio feminino no homem (anima) for atentamente tomado em consideração e confrontado pelo ego, os fenômenos decorrentes de seus movimentos autônomos dissolvem-se, suas personificações desfazem-se. A anima torna-se uma função psicológica da mais alta importância. Função de relacionamento com o mundo interior, na qualidade de intermediária entre consciente e in-consciente, função de relacionamento com o mundo exterior na qualidade de sentimento conscientemente aceito.”

verbenna yin
Na ilustração de Frieda Harris a mulher está nua, dançando, com um pé apoiado na cabeça de uma enorme serpente surgida de uma abertura semelhante a um olho cósmico, indicando o fluxo que vendo do grande mistério do inconsciente coletivo que é conduzido pelos desejos do inconsciente individual e terminam por se manifestar na consciência individual.

A figura está cercada por uma estrutura circular e ao fundo vemos a Banda de Moebius, que em Lacan encontra representatividade como forma indicativa da singularidade numa metáfora à forma circular (unidade) transformada pelas dobras onde não há mais mundo interno e externo, tudo é uma coisa só.

Quando a carta do Mundo aparece numa leitura terapêutica pode indicar um momento de profunda transformação pessoal, onde o indivíduo passou pelas etapas do caminho de individuação e compreendeu cada momento como significador e constituinte da sua personalidade.

Isso pode promover uma noção de sentido de vida e coerência, permitindo que a pessoa vivencie relacionamentos com mais leveza e liberdade bem como participe colaborativamente dos grupos a que pertença como forma de aprimoramento de si mesma e do mundo à sua volta.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

Alinhamento Marte e Vênus - 06/08/2018



Desde ontem entramos na fase minguante da lua, sob a influência do último eclipse: tempo de deixar ir aquilo que se manifestou do passado e que hoje não precisamos mais levar conosco, na área dos relacionamentos. Foi um medo, uma rejeição, uma necessidade de ser validado?

Ao ingressar na fase minguante, a Lua ativou o alinhamento positivo entre Vênus em Virgem (a menos de 1 grau para entrar em Libra) e Marte em Aquário. Esse alinhamento promove as conexões mentais entre homens e mulheres e também a percepção inteligente entre as forças masculinas e femininas dentro de cada um. É um tempo de arrazoar internamente sobre a necessidade de se defender nos relacionamentos e do por quê nos sentimos desprotegidos e à mercê da influência do outro na nossa vida.

Marte está mais distante, então seu campo magnético domina Vênus. Simbolicamente, é tempo de usar a razão para sairmos da subserviência nos relacionamentos, do querer agradar para ser aceita ou mesmo de sermos permissivas para nos sentirmos pertencentes.

Marte pede limites claros para esses comportamentos, pede autovalorização e respeito próprio para que possamos evoluir em relacionamentos mais saudáveis para todos.

Tendemos a buscar no outro as características que julgamos não termos em nós. Projetamos no outro essa falta. Mas a falta, no fundo mesmo, é imaginária. Nos apaixonamos por aquilo que o outro desperta em nós, então busque essa complementação dentro de você mesma. Só assim nos sentiremos inteiras para poder nos relacionar com liberdade, sem medo.

Na abordagem Junguiana, essa é a proposta da integração do Animus com a Anima, aspectos psíquicos que representam o masculino e o feminino em nós, e que ao serem complementados no inconsciente se apresentam à consciência unificados, integrados. Ao escrever sobre esse casamento interno, Jung diz:

"O negrume, ou seja, o estado inconsciente que foi resultado da união dos opostos, alcança um ponto de máxima profundidade que é ao mesmo tempo um ponto de reversão. O orvalho que cai anuncia a ressurreição e o surgimento de uma nova luz. A imersão em um inconsciente cada vez mais profundo é seguida por uma iluminação que vem de cima."

DICA FLORAL: White Chestnut e Water Violet

sexta-feira, 27 de julho de 2018

Eclipse Lunar no eixo Leão-Aquário - 27/07/2018


Hoje vai acontecer um Eclipse lunar numa formação conhecida como Lua de Sangue por conta do tom avermelhado da sombra projetada pelo nosso planeta. Nessa formação, a Terra ficará entre o Sol e a Lua, tampando a luz solar e projetando sua sombra. Isso é muito simbólico pois o alinhamento físico entre os astros funciona como uma metáfora do que acontece nos comportamentos humanos.

Em psicologia, quando falamos em"projetar a sombra" estamos querendo dizer que existem aspectos em nós que não admitimos para ninguém, que tentamos esconder a todo custo e até somos bem sucedidos reprimindo essas partes que não combinam com a imagem que queremos ter ou passar para os outros.

Para nos adaptarmos a um mundo cada vez mais doente, que exige ideais severos de beleza, de comportamento e de produtividade, pagamos um preço bem alto. E para reprimir partes nossas que não condizem com esses ideais usamos de uma certa agressividade autodirigida, é como uma amputação que levamos adiante sendo violentos e sentindo raiva por termos feito isso conosco.

Mas na verdade essas partes de nós são reais também, elas não deixam de existir apesar de escondidas e de tempos em tempos a sombra pede a nossa atenção porque ela precisa ser vista, reconhecida. Precisamos nos por em termos com ela. Precisamos nos acolher.

Quando não damos chance para essas partes de nós, elas se juntam todas e nos pegam pelo calcanhar, fazem a gente se distrair e nos sabotam, tiram nossa vitalidade para que possamos sair do automático e olhar pra dentro. A sombra vibra no pólo negativo porque está na inconsciência, mas a medida em que vamos nos dando conta dela, trazendo-a para o consciente, a vibração muda e podemos trabalhar esses aspectos no polo positivo - pois a luz é a vibração mais elevada.

E hoje o eclipse vem propor justamente essa metáfora: que sombras internas são essas que não estamos vendo?

Que projeções estamos vendo nos outros, que nos levam a ser intolerantes e rígidos nas nossas opiniões, quando no fundo mesmo o que vemos refletido no outro é coisa nossa que não queremos admitir?

No eixo Leão-Aquário, a sombra individual toma proporções ainda maiores porque o efeito acumulado se projeta também coletivamente, no que chamamos "sombra coletiva", ampliando a vibração dessa energia inconsciente e o alcance da nossa intolerância passa a impactar grupos maiores de pessoas.

Ao lado de Marte, a Lua cheia em Aquário propõe hoje uma reflexão acerca das nossas atitudes e escolhas individuais, principalmente a respeito daquilo que não queremos admitir para nós mesmos, favorecendo uma tomada de consciência e a ruptura com esses padrões destrutivos para que, a partir da nossa revisão individual, possamos também aplacar a sombra coletiva por consequência.

Coletivamente, podemos esperar ainda que essa manifestação maior da consciência se apresente, fazendo irromper na realidade eventos que exigirão posicionamentos mais audazes, contundentes e que rompam com velhas estruturas de poder e dominação.

Então se seu plano para hoje a noite é presenciar o eclipse, aproveite para entrar nessa sintonia vibratória e deixe a lua levar embora sua intolerância, sua necessidade de sempre ter razão, sua rigidez diante das mudanças da vida. Chame a luz para a consciência, pedindo clareza e elevação para que possamos amar nosso próximo (Aquário) como a nós mesmos (Leão).