quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Empatia na Terapia

empatia


Esta semana fiz um atendimento que me lembrou muito da minha própria história, uma paciente que iniciou um processo terapêutico comico há poucos meses e com um histórico de mãe narcisista perversa. Tem sido curioso ouvir a trajetória de vida dela e encontrando similaridades com os meus acontecimentos, alguns fatos realmente eram muito parecidos como criar cenários e narrativas que justifiquem chamar a polícia para constranger a filha a não permanecer em suas escolhas (minha mãe foi à polícia afirmando que eu fui sequestrada quando na verdade eu estava viajando em lua de mel, só pra atrapalhar).

Essas coincidências acontecem no ambiente terapêutico, chamamos de transferência. As histórias pessoais de terapeuta e paciente se entrelaçam porque os conteúdos são parecidos e isso favorece uma escuta mais empática que colabora com o processo de forma geral. Mas mesmo quando as histórias não tem tanto em comum, o terapeuta precisa manter uma neutralidade tal que o paciente consiga se ver projetado nele, e essa neutralidade só acontece se houver empatia e aceitação irrestrita do paciente como ele é. Nada de julgamento nem de apontar "saídas", apenas acolher.

Mas o que me chamou mais a atenção foi que a paciente já faz terapia há alguns anos e nunca havia ouvido falar do transtorno de personalidade narcisista nem do estress pós traumático que as filhas vivenciam por anos a fio. Pelo contrário, sempre foi desencorajada pelos terapeutas anteriores de se afastar da mãe tóxica - o que facilitava novas investidas de controle e dominação pela mãe que aproveitava dessa hesitação.

Durante todo esse tempo de terapia anterior, ela se sentia inadequada e confusa nas sessões, cobrada para que perdoasse a mãe que só fazia aquilo "pelo bem dela" - afinal, uma mãe só pode querer o bem da própria filha né? (contém ironia)

Essa moça hoje conseguiu se distanciar da mãe e pesquisando por sua própria conta chegou na compreensão da dinâmica relacional da mãe narcisista e se reconheceu ali. Com isso ela também percebeu que a inadequação que sentia nas sessões de terapia era um ruído na comunicação com o analista anterior, que do seu lugar não conseguia ler o que se passava nela, e se afastou também desse profissional.

É muito importante valorizar o sentimento que se estabelece com o nosso terapeuta, se houver algum desconforto ou sensação de inadequação nas sessões, desconfie. A transferência é o que dá suporte a todo o processo terapêutico, sentir-se seguro para falar abertamente de si é fundamental nisso. Se o terapeuta não permanecer nesse lugar de neutralidade e aceitação, compromete todo o processo.
Por outro lado, se acontece a falta de compreensão e a gente permanece ainda nessa relação como pacientes, isso também é significativo. O que insistir num profissional sem espaço para acolhida com a gente pode simbolizar?

Eu também já passei por isso e passei algum tempo sendo acompanhada por terapeutas que não alcançavam o que eu contava. Mas hoje vejo que não foi perda de tempo, foi uma forma de compreender como eu mesma me subestimava e foi um passo importante pra mim conseguir romper essas relações também. Tudo é aprendizado e tudo acontece no seu tempo certo.

Me conta: você já se sentiu inadequada numa sessão de terapia?

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