Histeria e Neurose Obsessiva

A coisa mais interessante de quando fazemos terapia é constatar que nossas ações e escolhas podem ir na direção contrária daquilo que a gente quer - ou daquilo que a gente pensa que quer. Com o tempo de análise, começamos a perceber que somos seres contraditórios e que ao mesmo tempo que quero uma coisa minhas escolhas me levam para o sentido contrário.

Isso acontece porque existe um conflito entre o querer verdadeiro e os valores morais que estão na nossa consciência e à medida em que vamos encarando esse confronto entre as nossas aparentes contradições, também vai se descortinando quem de fato a gente é e quais seriam nossos reais caminhos se fôssemos livres pra escolher.

Mas enquanto isso não acontece, padecemos com o conflito interno e geramos duas reatividades importantes: a conversão do conflito num sintoma físico que vai metaforizar esse embate ou a compulsividade por um objeto que associa ocultamente o conteúdo desejado, porém ainda proibido, e o substitui.

Um texto do Jung que me ajudou a entender um pouco melhor essa ideia está em "Freud e a Psicanálise":

"Ele (Freud) descobriu dois grupos de neuroses psicógenas que, em princípio, distinguem-se entre si pelo seguinte: num grupo o afeto "patógeno" se converte em inervações somáticas, no outro grupo ocorre uma transposição do afeto para outro complexo de representações. O primeiro grupo corresponde à histeria clássica e o segundo à neurose compulsiva."

Aí vem a explicação:

"Para Freud a raiz do bloqueio do afeto ou de sua conversação ou transposição é a INCOMPATIBILIDADE do complexo de representações traumáticas com o CONTEÚDO NORMAL DA CONSCIÊNCIA."

Tanto o sintoma como metáfora (corpo) quanto a compulsão como metonímia (substituição mental) são possibilidades de saída do conflito sem que haja o enfrentamento da questão principal: não ouso querer.

Em tempos leoninos onde a tônica é o autorizar-se a querer o que se quer, com muita honestidade e coragem, e numa semana inspirada pela carta do Carro do Tarot, quero deixar o convite pra gente se olhar e fazer essa autoanálise.

Que conflito é esse que nossas contradições evidenciam?

Que afeto é tão incompatível assim com os conteúdos normais da minha consciência?

Se sentiu que este texto te provocou à reflexão, compartilhe aqui nos comentários suas impressões pra gente interagir um pouquinho mais.

** A imagem é do filme "Um método perigoso" e a cena é da sessão de terapia de Sabina Spielrein com Jung. Vale a pena conhecer a história dessa mulher incrível.

Verbenna Yin
Psicanalista - Astróloga - Taróloga

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