domingo, 17 de abril de 2022

Páscoa e o mito do renascimento

Inanna

Hoje é domingo de Páscoa e celebramos o mito do renascimento na cosmovisão Cristã, com a ressurreição de Jesus. Como eu gosto de outros olhares para as tradições, queria compartilhar com vocês um outro mito muito inspirador com esse mesmo tema, e bem mais antigo que o mito cristão, que é a trajetória de morte e ressurreição de Inanna - uma deusa da região da Mesopotâmia cujos registros históricos datam de mais de 2.000 antes de Cristo (a tradição oral pode ser ainda anterior).

Inanna é uma deusa luminosa, associada aos aspectos positivos do feminino: amor, fertilidade, abundância. Porém ela tem uma contraparte sombria, sua irmã Ereshkigal que vive no submundo e é bem diferente: isolada, selvagem e repugnante.

Inanna decide ir visitar sua irmã no submundo e vai descendo os vários níveis para chegar até ela, em cada portão a deusa se despede de uma parte de sua representação feminina luminosa (os 7 véus) até ficar nua, quando finalmente encontra sua irmã. Mas em vez de um encontro fraterno, Ereshkigal parte ferozmente para cima de Inanna e a mata sufocada, deixando seu corpo pendurado por 3 dias até que os servos de seu pai vêm resgatá-la: seu corpo é banhado nas águas do submundo e ela recupera a vida.

Este é um ponto do mito muito significativo pois representa a morte da nossa antiga forma diante dos conteúdos brutos e ferozes do inconsciente. Inanna vai ao encontro de seu aspecto sombrio e paga o preço desse encontro, deixando-se morrer. A posição pendurada é uma constante nesse momento da trajetória, esse é o ponto da travessia, do cruzamento, da crucificação - elementos que estão presentes em vários outros mitos e também nas cartas do Tarot.

Ao se render, Inanna e sua irmã sombria se integram e daqui em diante uma nova vida é possível, possibilitada pela força do consciente (o pai) por meio da atividade mental superior (Ninshubur). Só a integração consciente das sombras abre caminho para se chegar à totalidade - à vida abundante, à vida eterna.

Acho também bonito pensar na relação astrológica, o fato de celebrarmos a Páscoa sempre na lua cheia em Libra, signo que representa a força do mental superior sobre os impulsos mais instintivos de Áries.
Qualquer que seja sua inspiração para o mito do renascimento hoje, que seja uma experiência linda de fé e confiança na força de renovação da vida que pulsa em todos nós.

* Imagem maravilhosa da artista Lisbeth Cheever Gessaman do portal "She who is art" *

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

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