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terça-feira, 31 de outubro de 2017

Beltane, Dia das Bruxas e outras cositas más



Hoje é uma data bem interessante aqui no hemisfério sul, comemoramos o Halloween ou "dia das bruxas" junto com as tradicionais festas pagãs do hemisfério norte.

Eu acho interessante porque aqui no sul temos o costume de incorporar as referências de outras culturas, e com o Halloween não foi diferente. Adotamos por aqui uma festa que comemora a época do ano em que o frio e as noites mais escuras pedem o aporte do fogo para iluminar e aquecer.

Jack o' Lantern é aquela abóbora transformada em lanterna, numa brincadeira divertida entre o medo do escuro e o aspecto lúdico de uma festa que procura vencer a escuridão do tempo do inverno que chega no hemisfério norte.

Mas e aqui no hemisfério sul, isso não fica deslocado do nosso calendário?

Fica! Não faz sentido a gente comemorar as lanternas de abóbora e pensar nas coisas que nos dão medo (bruxas, esqueletos e afins) e que estão associadas à falta de iluminação quando estamos justamente caminhando para o verão né?

Por isso aqui no hemisfério sul a gente inverte a roda das estações e com isso inverte também as celebrações das épocas do ano.

Aqui no hemisfério sul é Beltane, a época do ano para celebrar a união do princípio feminino e masculino na natureza. Porque aqui no sul a estação do ano é a Primavera, um tempo de maior iluminação natural do Sol em que os dias vão aumentando sua duração em relação às noites até chegarmos no solstício de verão.

Beltane é a celebração do equilíbrio das energias, das polaridades negativas e positivas da natureza. Não no sentido de bem e mal, mas no sentido de expansão (polaridade positiva) e receptividade (polaridade negativa). Com o equilíbrio entre o elemento fogo - que é a semente de toda vida e sustenta o princípio masculino - e a água, que é o berço gerador e sustenta e o princípio feminino, é possível acontecer a fertilização de uma nova vida.



Assim é a representação simbólica de Beltane, a relação sexual entre homem e mulher, numa alusão ao poder que surge quando os princípios feminino e masculino estão perfeitamente integrados: o poder de criar uma nova vida.

E os povos antigos, que eram mais conectados com a natureza e tinha uma observação mais cuidadosa do tempo, celebravam esses momentos do ano porque entendiam que esses padrões da natureza ocorrem no maior e também no menor, no macrocosmo e no microcosmo. Celebrando, não se esqueciam desse ensinamento.

E assim como acontece na natureza acontece também dentro de nós, quando permitimos a união das energias feminina e masculina e equilibramos essas forças, nossa vida se abre para novas possibilidades gerando frutos que podem nos trazer muita alegria e realização.

Todos nós temos o princípio feminino e masculino em ação dentro de nós. Quando precisamos de mais força física e iniciativa estamos colocando em ação o princípio masculino, e quando buscamos um momento de maior introspecção e sensibilidade estamos deixando fluir o princípio feminino. Ambas energias coexistem em nós e podemos dar maior vazão ora para uma ora para outra, mas precisamos do alinhamento entre elas para que aconteça um fluxo saudável desses impulsos da natureza em nós.

Na roda xamânica estamos hoje na direção Leste, a direção da Primavera e do elemento fogo que evoca em nós a iluminação espiritual, a força e a coragem para empreender nossos sonhos. Mas seguindo a roda estamos justamente caminhando para a direção Sul, a direção do Verão e do elemento água, que representa as nossas emoções e o tempo de trabalhar os sentimentos. 

Então também por esse sistema, estamos numa data intermediária entre a estação do fogo e a estação da água, mais uma vez o princípio masculino e o princípio feminino se mesclando para se manifestar dessa mesma forma na natureza. Com a primavera vieram as floras, e no verão chegarão os frutos.

Numa grande poesia energética, de hoje 31/10 até o dia 02/11 teremos um período muito rico para nos conectarmos com esse padrão da natureza e mentalizarmos tudo aquilo que queremos que frutifique na nossa vida também. Este período é ideal para fazermos visualizações criativas do futuro que queremos que aconteça pra nós, porque fogo é energia!

Pra quem estiver nessa harmonia com os ciclos da natureza a dica é trazer o elemento fogo para o seu dia: acenda velas pela casa, cozinhe, faça uma fogueira e mentalize seus pedidos diretamente nas chamas. 

Quando mentalizamos nossos desejos e colocamos as nossas intenções dessa forma, assim como o Sol vai ficando cada vez mais presente até a chegada do verão, seu pensamento também vai ganhando mais e mais energia até se concretizar no mundo físico também.



Lembrando que bruxa é aquela mulher sábia, que já viveu muito, já observou muita coisa e aprendeu um tanto também. Se hoje é o dia das bruxas, que tal colocar em prática todo esse conhecimento?

Foram muitas pessoas que, antes de nós, observaram esse padrão e encontraram uma forma de perpetuar no tempo toda a riqueza desses ensinamentos. Eu acho incrível a gente poder não só valorizar esses ensinos mas também crescer individualmente com eles.


Não perca a carona de Beltane!


domingo, 8 de outubro de 2017

O Sol

E chegamos no maravilhoso arcano do Sol, o indivíduo que se encontra com todo seu potencial de vida e realização, que venceu seus medos e agora conseguiu integrar plenamente seu ser interno.

A imagem mostra uma criança muito contente montada num cavalo branco e segurando um estandarte cor de laranja, cercada de girassóis num jardim murado, e atrás dela brilha altivo o Sol do meio dia com todo seu calor e radiância. Tudo nesta carta é alegre!

A carta do Sol e toda sua simbologia vem nos falar de um feliz renascimento, aquele que acontece quando finalmente nos conhecemos em toda nossa essência e verdade.

A criança está nua e todos os elementos da carta olham para a frente, pois não há medo de se expor de forma verdadeira.

A criança é o símbolo da nossa espontaneidade, aquele atributo que ficou escondido enquanto íamos construindo uma personalidade a partir do que os outros queriam de nós. Foi necessário atravessar todos os arcanos anteriores para que pudéssemos resgatá-la, mas enfim a criança interna conseguiu emergir e agora é ela quem guia a nossa vontade.

A vontade interna está simbolizada pelo cavalo branco, o veículo de externalização daquilo que nosso coração realmente deseja e que agora a criança poderá conduzir livremente por onde quiser andar.

O cavalo branco é um símbolo poderoso no território do inconsciente. Freud expôs sua teoria psicanalítica sobre a sexualidade humana ao escrever “O Caso do Pequeno Hans”, quando acompanhou um menino que sonhava com cavalos brancos que devoravam seu pênis. Estudando a relação simbólica dos elementos desse sonho infantil, Freud desenvolveu a base de toda a psicanálise, identificando a energia sexual como mobilizadora primordial dos indivíduos e os possíveis caminhos para manifestação dessa energia na vida adulta considerando a capacidade de interação com as figuras materna e paterna no Complexo de Édipo.

Foi estudando o pequeno Hans que Freud percebeu a relação simbólica entre falo-poder-cavalo branco e como esses símbolos estão interligados na busca de cada pessoa pelo seu próprio poder pessoal e autoafirmação.

A cor laranja dá o tom dessa carta, já que é uma cor vitalizadora e que evoca o positivo. O laranja é usado na cromoterapia por seu comprimento de onda ter a capacidade de eliminar miasmas e conteúdos energéticos externos que ficam grudados no nosso campo magnético, é uma cor desimpregnadora. Neste arcano, tudo que for influência externa, tudo que não vem da espontaneidade da própria criança, fica de fora.

O espaço é murado porque agora a criança está protegida em seu próprio território psíquico, ela já sabe o que é realmente genuíno de sua parte e cultiva seu jardim interno para que os girassóis possam crescer e sorrir de volta para ela. Nesse espaço sagrado só entra quem tem respeito pela sua trajetória, já que levou tempo para que esse jardim interno fosse cultivado, cuidado e pudesse florescer.

Aqui já não há mais necessidade de ataques ou de ativação dos mecanismos de defesa, até porque já foram percorridos os arcanos anteriores que simbolizam os momentos de iluminação das sombras e retomada da consciência sobre repetições e vitimismos.

O arcano do Sol acontece naturalmente quando a pessoa, numa atitude de autorrespeito e autopreservação, consegue se manter protegida psiquicamente por se colocar conscientemente fora das situações de risco. Isso envolve aprender a escolher as companhias, situações e ambientes, evitando tudo aquilo que possa ser tóxico e impedir seu desenvolvimento saudável.

E até o Sol é uma entidade nessa carta, com um rosto e uma expressão próprios. A criança da carta parece coroada de Sol, literalmente iluminada pelo astro rei. O Sol representa a emanação divina primordial; é pela luz do Sol que recebemos a consciência do amor e da verdade. É também pela ação da luz do sol no corpo que nós produzimos as vitaminas e hormônios que estimulam um crescimento físico saudável - e é nos lugares do planeta onde há menor insolação anual que se registram índices mais altos de depressão e suicídio.

A emanação solar nos traz luz e calor e a carta do Sol fala desse momento em que nossa existência é a própria manifestação divina da iluminação e do amor sobre a Terra. Podemos nos tornar deuses criadores da nossa realidade quando assumimos a direção dos nossos cavalos brancos e manifestamos nossa vontade no mundo concreto, realizando aquilo que realmente emana do nosso coração – o sol interno.

Isso é real autodeterminação, ter liberdade para fazer aquilo que genuinamente se deseja. E sem esperar um olhar de aprovação do outro para aquilo que queremos, apenas nos permitindo realizar.

Sempre que há espaço para esse alinhamento verdadeiro do indivíduo com sua essência, o resultado será positivo para ele e para os outros. Porque na essência todos somos luz, todos somos manifestações divinas. Podemos ser encobertos pelas interpretações equivocadas que fazemos do nosso ambiente e entorno, mas conforme vamos recobrando a consciência sobre nós mesmos e sobre a nossa verdade, vamos também resgatando a clareza sobre a vida, sobre nossas atitudes, capacidades e possibilidades.

Quando chegamos nessa compreensão sobre nós mesmos, não há mais insegurança para nos mostrarmos ao mundo como somos. E mais, não temos reservas para compartilhar com os outros a satisfação de estarmos livres para sermos nós mesmos. Vejam só que linda essa representação do arcano do Sol na coleção Bota Tarot, ao mostrar duas crianças nuas brincando sob o Sol.

Elas compartilham do momento de alegria porque a atitude espontânea da criança quando se sente feliz é o compartilhar. A aproximação com o outro não é mais temida, o outro não é mais uma ameaça se ele também for inteiro.

Mas apesar da espontaneidade ser um atributo primordial na atitude humana, restringimos o olhar à espontaneidade como algo infantil no sentido negativo. A espontaneidade cabe somente à infância porque na vida adulta não podemos ser espontâneos, na vida adulta não cabe qualquer atitude impensada, temos que estar vigilantes para perceber e avaliar onde cabem e onde não cabem certas atitudes.

Na verdade, é ainda na infância que vamos percebendo que nossa espontaneidade não tem lugar no mundo dos adultos. D. Winnicott percebe que até os bebês vão moldando seu comportamento conforme o humor e a expressão das mães para com eles. No seu livro “O Brincar e a Realidade”, ele propõe o seguinte entendimento:

“O bebê rapidamente aprende a fazer uma previsão: 'Por enquanto, posso ficar seguro, esquecer o humor da mãe e ser espontâneo, mas, a qualquer momento, o rosto dela se fixará ou seu humor dominará; minhas próprias necessidades pessoais devem então ser afastadas, pois, de outra maneira, meu eu (self) central poderá ser afrontado'.”

Assim, crescemos com a falsa noção de que sermos nós mesmos é um fator de risco à nossa segurança, só sobreviveremos e teremos nossas necessidades atendidas se nos adaptarmos às exigências do ambiente e ao que as outras pessoas esperam de nós. E no final, vamos perdendo nossa espontaneidade, vamos enrijecendo, perdendo a flexibilidade. Cada vez mais, vamos nos distanciando da nossa criança interna que quer brincar e compartilhar sua felicidade com as outras pessoas.

Ao descrever a simbologia do sol, dos círculos e das mandalas, Jung na sua obra “O homem e seus símbolos” cita Marie Luise von Franz, que realmente foi muito feliz em sua conceituação sobre o elemento circular enquanto representação da verdade individual de cada um:

“... o círculo (ou esfera) como um símbolo do self: ele expressa a totalidade da psique em todos os seus aspectos, incluindo o relacionamento entre o homem e a natureza. Não importa se o símbolo do círculo está presente na adoração primitiva do sol ou na religião moderna, em mitos ou em sonhos, nas mandalas desenhadas pelos monges do Tibete, nos planejamentos das cidades ou nos conceitos de esfera dos primeiros astrônomos, ele indica sempre o mais importante aspecto da vida — sua extrema e integral totalização.”

É daí a importância do Sol como símbolo máximo da integração da personalidade ao ser interno mais puro, da integração total do Ego.

O círculo não tem começo nem final, é uma unidade em si mesmo. A psiquiatra brasileira Nise da Silveira, que se dedicou profundamente ao estudo da esquizofrenia, notou a repetição dos símbolos solares nas figuras produzidas pelos seus pacientes esquizofrênicos, o que a levou a se aproximar de Jung e com ele organizar uma exposição das pinturas desses pacientes.

Para Nise, a esquizofrenia seria uma fragmentação do ser interno que se perde de si nesse processo de atender às demandas do mundo externo, levando-o a um isolamento e permanência no seu mundo interno próprio. Ao proporcionar momentos para que os pacientes lidassem com sua energia espontânea e criativa, eles buscavam novamente pela unidade desse ser interno produzindo figuras circulares e a partir dessas produções criariam pontes para ser relacionarem novamente com os outros.

Viver o arcano do Sol é resgatar a espontaneidade da criança e a unidade do ser interno que pode viver em seu mundo interno e também no mundo externo, dando lugar para sermos e agirmos novamente conforme a nossa verdadeira natureza.

Talvez a maior expressão desse momento solar arquetípico aconteça quando estamos dançando. A dança une o corpo, a emoção e a mente, todos alinhados a fim de criar um resultado físico. Na dança, o indivíduo está concentrando sua energia para manifestar através do corpo o que ele sente internamente e faz isso com um comando mental que decodifica esse sentir e o traduz em movimentos corporais.

A dança espontânea é também uma ponte eficiente para resgatar o contato com a criança interior, porque evoca essa conexão mente-emoção-corpo que é natural na infância e vai sendo esquecida conforme crescemos e nos esforçamos para nos encaixar nas opções que nos dão ao longo da vida.

Dançar pode ser uma ótima maneira de trazer nossa espontaneidade à tona novamente, e conforme vamos permitindo esses momentos de conexão com nossa criança interna a vida externa vai se abrindo também para deixar que essa energia emerja, quebrando os enrijecimentos e inflexibilidades internos e realinhando a nossa realidade com a nossa verdadeira vontade. Assim como é fora, é dentro.

E justamente o aspecto lúdico da dança corrobora com a tese terapêutica de Winnicott, que afirma que "é no brincar, e somente no brincar, que o indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua personalidade integral: e é somente  sendo criativo que o indivíduo descobre o eu (self)".

Nesse sentido, eu gosto muito da representação do arquétipo do Sol feita na coleção Gaian Tarot, colocando a dança como expressão dessa liberdade espontânea e criativa. Nessa representação, a felicidade de agir livremente reluz todo o nosso brilho de dentro para fora.
  
Quando esta carta surge numa leitura de tarot, indica que este é um momento de alegria, vitalidade, sucesso e bem estar. Pode indicar também uma fase da vida em que finalmente você possa se sentir em paz com sua história pessoal e permita-se a alegria de deixar sua essência vir à tona. É tempo de agir com liberdade e espontaneidade, sem amarras e sem medo do julgamento dos outros.

Viva toda a felicidade de ser quem você é!

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Invernidades

Eu gosto muito de observar a vida partindo do conceito hermético que diz que “o que está dentro é o mesmo que está fora”. Essa forma de entender a vida para mim é muito rica e me permite fazer algumas associações que me ajudam a passar por certos períodos mais desafiadores. Como numa grande espiral, posso seguir em qualquer direção dela que sempre estarei andando pra frente, seja indo para dentro, seja indo para fora.

Deu pra perceber que eu adoro metáforas, né?

Gosto mesmo, as metáforas me ajudam a viver com mais poesia e trazem uma inteligência visual que dá muito sentido e beleza para aquilo que a vida me propõe.

É nesse sentido que quero fazer essa reflexão de hoje, dividir com vocês algo venho vivenciando há algum tempo e que está se concluindo agora no Inverno, a estação da compreensão das coisas.

Em janeiro deste ano eu encerrei conscientemente uma etapa da minha vida profissional, foram muitos anos trabalhando na advocacia e que definiam meu comportamento, meu jeito de falar e até minhas roupas e sapatos: “Olá, eu sou fulana, advogada.”

Mas há alguns anos atrás os desejos começaram a mudar de direção, me dei conta que os assuntos que realmente me interessavam me colocavam numa busca por outra forma de viver e de me relacionar com as pessoas, me levavam a questionar minhas práticas de trabalho diárias e a quem meu trabalho beneficiava. A direção na espiral tinha mudado e eu passei a olhar pra dentro.

E foi então que aquela fonte de materialização começou a secar e esse ciclo se encerrou, e eu me deparei com a possibilidade de levar uma vida mais coerente com o que eu acredito e com outras habilidades que, na minha opinião, ajudam mais efetivamente a construir um mundo melhor para todos, incluindo eu mesma.

Mesmo assim, a sensação que veio foi o medo. Medo do novo, medo de não dar conta, medo de ter feito a opção errada. E agora?

E aí chegam as metáforas da vida: eu prendi a mão na porta e quebrei o dedo. O dedo do meio, aquele que na quiromancia é o dedo do trabalho, de Saturno – o ceifador do tempo, aquele que impõe limites e não te pergunta se está doendo, apenas te faz acordar com os pés no chão para lidar com a sua realidade sem ilusões. Era isso.

O dedo foi esmagado, os ossos e os ligamentos esmigalhados. Que dor!

Segundo o médico, era uma lesão que não se recomporia mais. Senti o dedo sendo esmagado continuamente por vários dias, uma memória do trauma, segundo ele. Precisei me adaptar e fazer as coisas do dia a dia de outro jeito, ajustar o jeito de escrever, de digitar meus textos, de dirigir o carro, de cozinhar e até o jeito de fazer um carinho nos filhos eu tive que mudar.

Olha o novo aí!

Em tudo que eu fazia com a mão direita precisava colocar toda minha atenção para não sofrer novos impactos e não piorar a dor. Com esse exercício constante de atenção fui percebendo como eu fazia as coisas do dia a dia antes, sempre sem tempo pra nada, sempre na “correria” de trabalho-casa-filhos-marido. Tudo que eu fazia era como dava, tinha que dar conta de tantas atividades que não podia ficar pensando muito nem falando muito com ninguém, muito menos prestando atenção no que outro dizia. Afinal, ouvir o outro significava menos tempo para cumprir aquela maratona. Ouvir o outro era muita perda de tempo...

Mas lá estava eu, sem nada pra fazer e com a mão imobilizada. Tive que reaprender a dividir o tempo na minha cabeça e criar uma nova organização pessoal, dar um novo ritmo para as coisas.

E foi assim que durante o outono fui vendo algumas situações e pessoas se afastando de mim, eu não tinha mais como agir para segurá-las com a minha “mão quebrada” e não tinha mais aquela autonomia nem a energia para acompanhá-las. Alguns trabalhos eu simplesmente não tinha mais como fazer. A minha opção naquele momento era apenas observar. Eu estava aprendendo a contemplar.

E essa contemplação alcançou a mim mesma também, passei a notar mais os meus comportamentos e a minha maneira de falar e percebi como eu deixava de me posicionar por não ter uma fala coerente com quem eu era. Minha fala era a da “fulana, advogada”, sempre preocupada em agradar e unir pólos como fazem os advogados

Me dei conta de quantas vezes eu fiquei dourando pílula quando queria mesmo era "mandar às favas", de ocasiões em que eu precisei defender meu território e deixei de fazer para não ser "desagradável" com o outro, o quanto eu queria ter dito NÃO em certas situações e não disse para manter aquela coerência com a figura da advogada, toda certinha e educada. Quantas vezes deixei de estar do meu próprio lado...

Eu queria muito mandar essa personagem de advogada embora da minha vida!

E então nesse período eu recebi um telefonema me pedindo para ir fazer uma entrevista como advogada para preencher uma vaga de trabalho. Precisava do dinheiro, decidi ir.

A mão estava melhorando mas a unha do dedo quebrado estava horrível, tinha caído e a nova estava toda torta. E para ir nesse compromisso não tive dúvida: colei a unha antiga sobre a nova e passei um esmalte, ficou joia! E lá fui eu pra entrevista toda montada de advogada de novo, pensando comigo: tudo certo.

Mas não era mais eu ali, aquela era uma pele que não servia mais. Me senti colada a uma aparência que não era mais minha enquanto tentava me ver ali num lugar onde eu não cabia mais. Era muito desconfortável, os pés no salto alto fizeram meus joelhos doerem por semanas. 

Colando lembra apegando né? Pois é, apego. Colar a unha velha foi a metáfora perfeita.

Decidi que não iria dar continuidade naqueles processos de recolocação profissional, e por "coincidência" não me responderam até hoje sobre o resultado dessa seleção, nem das outras que eu já tinha participado antes.

E aí que a vida veio com seus saberes e mistérios, só depois da minha decisão e quando o caminho já estava definido. Nas semanas que se seguiram aconteceram coisas realmente incríveis que me fizeram perceber o quanto eu já tinha caminhado em outras direções e não fazia sentido tentar voltar pra trás naquela velha estrada.

Primeiro, fiz um trabalho de identificar os padrões familiares que me conduziram aos caminhos percorridos e, em contraponto, reconhecer e assumir os meus próprios padrões com a percepção de vida que tenho hoje, transformando e reprogramando esses caminhos internamente numa vivência xamânica muito bonita chamada Roda da Transformação. Foi muito especial sair dessa vivência sabendo que hoje eu tenho recursos internos já desenvolvidos que me permitem lidar com o medo do novo, que o novo pode ser bom e que eu posso confiar em mim mesma pra dar conta desse novo que virá.


E alguns dias depois dessa vivência, fui liberada para começar a fazer o estágio em psicanálise, comecei a atender meus primeiros 3 pacientes sob supervisão até eu terminar o curso.

Isso me encheu de confiança!

Ser liberada para começar a atender significa que consigo dar conta dos meus próprios conteúdos e que posso sim ajudar outras pessoas a partir do meu olhar e da minha experiência de vida que já foi analisada. É uma confirmação de que tenho capacidade e de que já trilhei uma parte considerável desse novo caminho, que posso seguir em frente por aí.

Ao lado disso tudo começaram a chegar mais pessoas para as terapias que eu já desenvolvo (astrologia, tarot terapêutico e florais), todas indicadas por quem já foi atendido por mim e todas mulheres na fase de maternidade - justamente o perfil que eu mais gosto de trabalhar. Certamente meu trabalho impactou essas pessoas de forma positiva a ponto delas me recomendarem a outras, uma confirmação linda de que ser autêntica e fazer o que eu realmente gosto é um "novo" bom pra além de mim.

Tudo isso me reafirmou que posso produzir materialmente de outra forma agora e que o resultado do meu trabalho vai se manifestar por esse outro caminho também, mesmo que ainda seja curto e meio torto mas, assim como aquela unha nova, uma hora vai se alinhar e ficar bom de novo.

Entendi as confirmações e chegando no inverno, essa estação onde a gente se recolhe por conta do frio e passa a economizar energia se movendo menos e observando mais, estou concluindo esse aprendizado que veio com os ventos. Foi com dor e está acontecendo bem devagar, mas essa poética da vida está me ensinando no tempo que eu dou conta. 

A unha nova agora já cresceu, mas o dedo ainda está sensível e não consigo fazer as mesmas coisas que eu fazia antes com a mão direita. Alguns movimentos eu tive que adaptar para seguir usando a mão, da mesma forma como a vida me propôs toda essa adaptação para eu seguir em frente.

Não tenho mais tocado piano, mas ainda posso tocar violão.

E todo esse processo virou uma canção nova, no tempo do elemento ar.

Espero que gostem!



terça-feira, 4 de abril de 2017

Os Desapegos do Outono

As estações do ano são promovidas pelo posicionamento do planeta em relação ao Sol. A Terra possui uma inclinação e mantém os movimentos de rotação num eixo imaginário que ora está mais próximo do Sol, ora mais distante. O distanciamento do Sol causa uma diminuição da quantidade de energia solar disponível em determinadas regiões, o que, por sua vez, resulta num ambiente energético distinto e com características próprias – as estações.

No Outono estamos vivendo a estação em que o ambiente energético produz uma resposta da natureza: o desligamento. As flores vão murchando, os frutos amadurecendo, as folhas vão se destacando e caindo pelo chão. O tempo do florescimento passou, agora é hora de manter aquilo que é essencial, estrutural. A energia vital vai começar a se recolher no tronco das árvores, mantendo os recursos concentrados no que é realmente importante e que dá sustentação para a vida prosseguir.

Assim também vai acontecendo conosco, vamos nos desligando de pessoas e situações que não têm mais como florescer. Nós também respondemos a essas energias porque elas estão circulando entre nós o tempo todo, atravessando nossos corpos e convivendo com os nossos pensamentos. Responder a essa energia é a natureza em funcionamento.

É geralmente no Outono que somos surpreendidos com o encerramento de alguns ciclos, aquelas situações que vinham se arrastando há anos e se resolvem de uma vez. Deixamos de ter vontade de realizar certas coisas, de frequentar certos lugares e de encontrar com algumas pessoas.

Também é no Outono que acontecem aqueles desentendimentos que a gente não sabe como aconteceram, mas as pessoas simplesmente vão embora da nossa vida. Os vínculos se enfraquecem e de repente rompemos com anos de relacionamento.

Mas se pararmos pra pensar, aqueles relacionamentos e situações não eram mais saudáveis pra gente, eram tóxicos e não promoviam mais o nosso crescimento. Aquelas pessoas e situações na verdade representam partes de nós que estão "morrendo" para dar lugar a outras manifestações, expressões e talentos.

Precisamos desses espaços psíquicos para que nosso desenvolvimento aconteça e essa mobilização é uma reorganização de dentro pra fora, o reflexo disso é que vamos criando novos espaços na nossa vida externa também.

 Todos esses desligamentos são uma “poda” que vai acontecendo naturalmente e, na maioria das vezes, sem a gente se dar conta porque na correria do dia a dia nem sabemos em que estação do ano estamos.

Mas o fato de não nos darmos conta dessa integração da natureza com a nossa vida pessoal não impede que as coisas aconteçam. Pelo contrário, se não estamos conscientes disso a nossa resposta às energias é ainda mais intensa e acabamos projetando nos outros essa movimentação que acontece dentro de nós. E para que o desligamento aconteça, vamos atraindo uma situação insustentável onde o rompimento acaba sendo inevitável.

É aí que a faz muita diferença essa observação do mundo de forma integrada, porque viver um rompimento importante é sempre dolorido e se não estivermos conscientes do processo podemos nos sentir culpados pelo que aconteceu – o que faz essa dor durar mais tempo do que necessário.

Se você estiver vivendo uma fase de desapego, lembre-se que isso é resultado do Outono chegando na sua vida e essa bela metáfora tem muito a nos ensinar sobre nós mesmos e nossos relacionamentos. Não se culpe, observe as movimentações e procure ligar os pontos para entender o que não te serve mais e o que é essencial de verdade. Tudo é aprendizado.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Lunação – o que é isso?

Olá queridos! Hoje vamos falar dos ciclos da lua e de como isso pode nos influenciar ou propulsionar para a vida que queremos.

Lunação é o ciclo que a lua cumpre a partir de uma fase nova, passando pela fase crescente, cheia e minguante até chegar na fase nova seguinte.

A lua Nova acontece quando ocorre no espaço o alinhamento entre Sol, Lua e Terra – nessa ordem.

lunação

Quando a lua está no meio do caminho entre o Sol e a Terra, ela não consegue refletir a luz solar e fica apagada, escura. Esse é o momento da Lua Nova.

Ao continuar sua trajetória ao redor da Terra (lembrando que a Lua gira em torno do planeta), a área de superfície lunar que reflete a luz do Sol vai aumentando gradativamente até que acontece um segundo alinhamento nesse período onde ficam dispostos o Sol, a Terra e a Lua – aí acontece a Lua Cheia.

E o ciclo continua até que aconteça de novo o alinhamento entre Sol, Lua e Terra quando acontece uma nova lunação. Cada lunação tem uma duração média de 29 dias e durante o ano temos 13 lunações – as 13 Matriarcas.

Essa dança cósmica vai se repetindo ao longo do ano, cada vez alinhada a uma constelação diferente (na ordem dos signos), e por isso dizemos “lunação de Áries”, “lunação de Touro”, e assim por diante.

Na Astrologia esses dois momentos lunares tem sua importância bem definida e influenciam diretamente os eventos que experimentamos, principalmente aqueles que já estão marcados no mapa natal.

Se a lunação (a lua nova) acontece num ponto do mapa natal onde está o planeta Vênus, por exemplo, ativará as experiências regidas por esse planeta: relacionamentos, autoimagem, prazeres ou dinheiro. Se acontecer próximo à cúspide de uma casa astrológica, a lunação ativa os acontecimentos relacionados aos assuntos daquela casa: se cair na Casa 4, durante o período da lunação a pessoa pode experimentar eventos na área familiar ou na casa onde mora.

Na Lua a luz é sempre refletida, vem de fora. A Lua não tem luz própria. Da mesma forma, as vivências propostas pela lunação também são externas a nós, elas nos chegam e nós respondemos a elas de acordo com nossos humores e temperamentos.

E qual a melhor maneira de reagirmos aos eventos trazidos pela lua?

A melhor maneira de lidar com uma lunação é observar por qual signo anda o Sol naquele período. Se estivermos numa lunação de Touro, isso significa que o alinhamento da Lua e do Sol (lua nova) aconteceu no signo de Touro, então os valores desse signo nos dão as pistas de como tratar os eventos que chegarem nesse período: planejar a longo prazo, não se precipitar, agir com firmeza, aproveitar os bons momentos para relaxar e se alegrar.

E os assuntos tocados pela lunação vão se apresentar de forma muito clara quando a lua atingir a fase Cheia. Assim que a Lua refletir toda a luz do Sol, a lunação vai mostrar claramente que experiência foi aquela e como nós reagimos a ela – se para o bem ou para o mal. É o tempo de aprendizado da lunação.

lunação
A Lua Nova também é um ótimo período para plantar suas intenções. A vida acompanha o cosmos e da mesma forma que a lua nova é uma preparação para seu grande momento – quando estiver Cheia - vamos também preparando aqueles nossos planos para que vinguem e se materializem no tempo adequado.

Sabe aqueles planos de fim de ano para o ano novo?

Pois a melhor maneira de colocá-los em prática ao longo do ano é plantando esses sonhos na lunação mais adequada.

Para fazer aquela viagem bacana ao exterior é só organizar para que ela aconteça no alinhamento com a Casa9; para conversar com o chefe sobre um aumento de salário, vale a pena ir colecionando bons resultados para ter o que apresentar na época da lunação na sua Casa 10.

Mas mesmo que a gente não faça esse planejamento todo, só de observarmos o signo da lunação em curso e como isso pode nos afetar no dia a dia já estaremos fazendo um ótimo trabalho pessoal.

Perceber as lunações nos aproxima da nossa própria natureza pois vamos nos dando conta de que o que acontece fora também acontece dentro. E quando adquirimos essa consciência, vamos espontaneamente retomando nosso contato com a terra e com a natureza já que nos sentimos integrados à ela.


Mas esse será assunto para um outro post, principalmente para as mulheres que acompanham com seus corpos e emoções todos os movimentos lunares.

lunação

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Consciente e Inconsciente

Verbenna Yin Astrologia Tarot Psicanálise Freud
Olá queridos! Hoje vamos falar um pouquinho de como as ciências humanas mais modernas vem se integrando com os conhecimentos organizados dos povos antigos.

Freud é considerado o Pai da psicanálise e afirmava que tudo que pensamos que sabemos sobre nós mesmos está numa pequena área da psique que ele denominou Consciente. Mas para ele, o nosso Consciente não refletiria quem realmente somos.

Para Freud, os reais conteúdos humanos que definem quem realmente somos estão no Inconsciente, uma área psíquica bem maior a que não temos acesso direto. Para chegar lá, precisamos de autoconhecimento e alguma ajudinha extra.

A Astrologia e o Tarot enquanto métodos de autoconhecimento, quando usados no contexto terapêutico, são ferramentas poderosas que abrem as portas do nosso Inconsciente para entendermos melhor nossos comportamentos e condicionamentos.

Com a Astrologia podemos mapear que impulsos são esses que mobilizam a pessoa e criam nela os desejos, aquilo que ela pretende realizar. As posições da Lua e de Marte no mapa natal podem dizer muito sobre esses desejos e se eles puderam ou não ser manifestados ou ainda se sofreram alguma interferência do meio externo que gerou um sentimento de frustração ou de inadequação.

Já com o Tarot Terapêutico é possível traduzir, a partir dos conteúdos simbólicos das cartas escolhidas, como esses impulsos foram dando forma à trajetória pessoal de cada um e qual é o desejo que ainda pulsa ali no coração e que não conseguiu se manifestar ainda, criando situações na vida para forçar a pessoa a olhar para dentro e reconhecer esses conteúdos que precisam vir à tona.

É lá no Inconsciente que está toda essa nossa verdade escondida, os desejos do coração que foram sendo reprimidos ao longo da nossa história e que podem nos fazem sofrer até hoje. São esses desejos que nos mostram quem somos de verdade.

Verbenna Yin Astrologia Tarot Psicanálise Freud
Para Freud, o Consciente só possui as informações que damos conta de processar naquele nosso momento de vida e aquelas que conseguimos perceber da nossa interação com os outros. Por isso se diz que o Consciente "não sabe de nada", essa quantidade de informação é pouca e fica restrita ao que entendemos sobre o mundo e o humano.

Só quando trazemos a nossa verdade do Inconsciente para o Consciente, deixamos de ser reféns da mente e retomamos o poder de decidir pelo nosso melhor. Porque essa nossa verdadeira essência reside no Inconsciente, bem guardada e concedida como prêmio para os corajosos que se aventuram nas profundas águas do Ser para se RE-conhecerem.

O Mito da Caverna de Platão - que trata da saída da escura caverna da mente para a luz do mundo vivo e real - nunca foi tão atual, sendo o próprio mito a reprodução de uma sabedoria ainda mais antiga insculpida no Oráculo de Delfos:

Conhece-te a ti mesmo!

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quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Se eu olhar pra você hoje, me apaixono?

Verbenna Yin Astrologia Tarot Psicanálise Freud Jung

O autocuidado é uma atitude a ser aprendida e cultivada em cada indivíduo. A aparência externa reflete sempre a atitude interna da pessoa, e para olhos mais treinados é possível perceber o que está acontecendo naquele universo particular e a partir dessa impressão saber se vale a pena se aproximar da pessoa. Ou não!

Por outro lado, vivemos numa cultura que hipervaloriza algumas características físicas apesar de sermos todos diversos e plurais. Vamos nos adaptando a um padrão cultural vigente que não é nada fácil de atender, principalmente para as mulheres: uma certa altura, um determinado tipo de corpo, índices exatos de gordura e de massa muscular, sorrisos e expressões de felicidade em selfies estampadas em todas as redes sociais.

Será que atender esse padrão realmente significa que estamos 100% no nosso melhor?

Se observamos bem, a busca desses padrões de “sucesso pessoal” deixa as pessoas constantemente ansiosas e em cobranças internas, não é possível sair daquela linha nem deixar de dar satisfação aos olhares ávidos que esperam que quem atingiu esse nível de sucesso mantenha seu posto, tendo que comprovar a todo momento “viu, estou por aqui e continuo muito bem, hein?” Que pesado!

Talvez por isso algumas celebridades, que parecem ter uma aparência perfeita, sofram com as expectativas que as pessoas tem sobre elas. Apenas a aparência trabalhada não garante que o externo esteja mostrando aquele melhor que a pessoa tem por dentro, ainda há "algo a dizer" para este mundo que não está conseguindo sair de lá.

Por mais que a aparência mostre atributos considerados "belos", aquele belo ainda não representa sua verdade: não é autentico e nem encontra reconhecimento no próprio indivíduo.

Assim, o autocuidado antes de tudo deve ser uma atitude de profunda aceitação da manifestação do nosso ser interno no mundo material. O corpo físico é o resultado de todas as forças cósmicas ativas que estavam disponíveis no momento da nossa concepção e nascimento, são elas que ditam as formas físicas, quantos centímetros o corpo irá crescer e como os elementos atômicos que compõem seu corpo físico vão reagir ao ambiente aos alimentos.

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Respeitar este corpo a partir dessa consciência significa buscar a melhor manifestação física do ser interno que o habita, respeitando as características físicas e valorizando tudo aquilo que já existe dentro e que pode ser refletido do lado de fora.

Na astrologia, essa aprendizagem  é proposta nos signos de Touro e Libra, ambos regidos pelo planeta Vênus – a Deusa do Amor. A partir desse olhar de amor para com a gente mesmo, nossa forma física pode espelhar aquilo que temos de melhor e poderemos interagir no mundo físico a partir da nossa melhor versão, o que é muito agradável (Touro). E como resultado disso, passamos a atrair a companhia das pessoas que se sentem ligadas a esses valores representados pela aparência da nossa manifestação, elas se identificam com isso e vão se unindo a nós para compartilhar desse melhor (Libra).

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A verdadeira beleza é ser quem realmente somos, cultivando uma atitude diária de amor próprio que valoriza cada pequena parte de nós que compõe nosso ser inteiro, tendo em conta que nosso corpo físico é a manifestação de um complexo harmonioso e interdependente.

Essa também é uma característica da saúde do corpo, abrangida aí a saúde mental. Dr. Edward Bach, o criador do sistema floral, tinha a aparência física como critério para determinar se o paciente havia melhorado com seus tratamentos. Segundo ele: “Não haverá cura verdadeira se não houver mudança na aparência, paz de espírito e felicidade interior.”

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

O Diabo 2: O que te domina?

Vamos continuar a falar sobre o arcano do Diabo pois esta carta é muito rica em significados e seu simbolismo atravessa gerações e culturas distintas.

No texto anterior vimos como o arcano 15 numa leitura sugere a situação de dominação do Ser por algo que ele mantém escondido, seja porque em algum nível sente prazer nessa dominação seja porque ainda faltam ferramentas para confrontar seu algoz e se libertar dessa escravidão.

Este arquétipo é comportamental, mas tem força de ação a partir do mental da pessoa. Tudo começa no sistema de crenças que foi introjetado ainda na infância, quando aquela criança ainda não tinha condições de discernir sobre atitudes e conceitos.

Em toda família temos estabelecido um sistema de crenças, um jeito de ver a vida e de se posicionar no mundo. Muitas vezes, há uma religião que determina o que é bom e o que é mal, o que é aceitável e o que não se pode fazer. Esse sistema de crenças vai sendo incorporado pela mente infantil como sendo a própria realidade, já que a mente filtra a realidade real e absorve somente aquilo que faz sentido para ela.

No Tarot Zen de Osho, essa carta é chamada de "Condicionamento".

A realidade pode ser algo bem maior do que imaginamos, ou ainda a realidade pode ser diferente do que aquela mente incorporou como sendo o real. Temos aí um déficit entre o mundo real e a visão de mundo da pessoa, o mundo real fica limitado pelo tamanho do enquadramento que a mente deu para esse mundo.

Em nossa infância, o entorno no qual vivemos pode ter feito a mente assimilar crenças que determinam que “não merecemos ser felizes”, ou “não podemos ganhar esse monte de dinheiro sem sujar as mãos”, ou ainda que “só seremos felizes depois de casar e comprar uma casa própria”.

Outras vezes, a mente se identifica tanto com apenas um aspecto do Ser que a pessoa acredita que é apenas aquele aspecto. Por exemplo, uma criança que deixava de fazer a lição de casa e era constantemente taxada de “preguiçosa”. Ela pode internalizar esse rótulo e realmente acreditar que ela É preguiçosa, enquanto que na realidade pode ter havido apenas algumas ocasiões em que ela ESTAVA com preguiça mas desenhava muito bem!

A mente pode não diferenciar o ser do estar, e atribuir então à pessoa esse rótulo que vai determinar suas expressões e atitudes ao longo da vida. Como fazer diferente se na minha vida toda eu sempre acreditei ser preguiçosa? Ficamos aí presos no chamado “complexo de Gabriela”, o eterno “eu nasci assim, eu cresci assim, vou ser sempre assim”.

Nada mais limitante do que acreditar ser o que você não é!

Então, chega na nossa vida o arcano 15 para nos mostrar qual é o estado de consciência que impede o pleno desenvolvimento, porque é esse estado de consciência que vai criando a sua realidade. A realidade em que a pessoa acredita vai se tornando concreta e vai confirmando dia a dia aquela crença inicial: “sou uma pessoa preguiçosa e não mereço ser recompensada positivamente. Na minha vida, nada dá certo mesmo, eu não mereço...”

As crenças limitantes são um viés que turvam a realidade real, e uma lealdade inconsciente àquelas crenças vão minando a energia criativa da pessoa até que ela se sente improdutiva e refém desse jeito de ser dela. Aquela crença limitante vai dominando toda a capacidade de criação e de realização da pessoa. A vida para naquela mesmice de sempre e o que eu recebo do mundo não me alimenta mais.

Quando isso acontece, é comum a vida começar a criar padrões de repetição dos eventos que nos colocam em choque com essa crença limitante: a falsa segurança de agir de acordo com o que sempre acreditei que era eu.

Sustentar nossos condicionamentos pode ser muito penoso e uma tensão constante.

Esse conflito interno pode exigir muita energia psíquica para ser resolvido, e até podemos ir adiando esse confronto por muito tempo, até que um dia a dor dessa estagnação nos alcança e nos força a enxergar o mundo como ele é de verdade, e não mais como gostaríamos que fosse. Isso é o arcano do Diabo em ação.

É nesse contexto que o arcano do Diabo vem iluminar nossa conduta, forçando-nos a reconhecer que impulso foi aquele que gerou nossos condicionamentos produzindo resultados negativos para nós. O Diabo se torna Lúcifer - o portador da luz, que iluminando as nossas sombras mostra a verdadeira natureza daquelas ações, permitindo à consciência enxergar o quadro completo e perceber sua autorresponsabilidade em tudo que produz.

Ver com clareza a própria realidade é reassumir seu lugar no mundo e retomar para si o poder de decisão sobre a própria vida, resgatando sua capacidade enquanto agente consciente para fazer suas próprias deliberações de acordo com quem Eu Sou. Não fico mais à mercê daquela programação infantil que se repete indefinidamente, mas agora tenho liberdade para fazer escolhas e fluidez para viver.

Nesse novo estado de consciência, o Ser pode agora rever suas crenças e se reprogramar internamente para poder realizar aquilo que o realmente deseja, materializar no mundo externo aquilo que seja fiel à sua verdadeira natureza interna e que agora ele reconhece.

Mas há ainda algo no arcano 15 que eu gostaria de falar a respeito, e é sobre a relação de dominação do feminino pelo masculino que vem melhor elaborada no tarot de Aleister Crowley e Frieda Harrys.

Qual o maior poder que uma pessoa pode ter?

Sem dúvida é o poder de criar outra pessoa, a fertilidade. Vejam que interessante a representação da fertilidade humana a partir da união dos princípios feminino e masculino na carta do Tarot de Toth.

Por isso a ilustração da carta feita por Frieda Harrys traz o grafismo dos órgãos reprodutores, o feminino dentro do masculino. O masculino está bem óbvio na pintura, mas o feminino está escondido no traçado do bode.

E o que se parece graficamente com um bode com chifres tão compridos?
  
Isso mesmo, o útero e os ovários femininos. É desses órgãos que vem a energia criativa da mulher e de todos os seres que ela vai gerar. As mulheres geram todas as pessoas que existem no planeta, toda a energia vital que circula entre os humanos vem das mulheres. O DNA mitocondrial que transfere a parcela de energia para as células vivas do corpo humano vem exclusivamente do óvulo da mãe.

E para dominar um tremendo poder como esse, o meio mais eficiente é a criação de uma cultura que sobreviva a qualquer sistema de leis e religiões, e não somente subjugue essa potência mas a desqualifique de tal forma que torne todos os atributos femininos em negativos. 

Enquanto o masculino é capaz, forte, eficiente e competitivo, o feminino é incapaz, frágil, insuficiente, incompleto e tantas outras coisas “ruins”.

Na outra ponta, nossa cultura ocidental foi fortemente apoiada no cristianismo e em alguns pilares do judaísmo, tendo absorvido o símbolo do “bode expiatório”. Essa cerimônia era praticada bem antes de Cristo, onde o povo hebreu se reunia anualmente para lançar energeticamente todo o seu ódio, sua raiva e frustração daquele ano sobre um bode, o qual canalizaria toda essa energia ruim e levaria a culpa por todos os malfeitos do povo. O bode era morto sobre um altar, sacrificado para expiação dos pecados de todos.

Nessa correlação simbólica entre o bode com chifres e os órgãos reprodutores femininos, vemos que todo o ódio, raiva e frustração de um povo continuam sendo direcionados energeticamente para um alvo comum: a mulher.

O efeito inconsciente desse padrão simbólico é sentido em todas as populações, a cultura do machismo oprime as mulheres em todos os grupos e representações sociais. Isso tem nome: se chama misoginia, é o ódio direcionado ao feminino que impregna todos os atos de violência contra a mulher, deixando bem claro como essa canalização energética motiva a intolerância dirigida à mulher e ainda a culpa por isso. Ela é o próprio bode expiatório.

E as mulheres por sua vez absorvem esse padrão da culpa feminina de forma também inconsciente, podendo se submeter mais comumente a relações desiguais e abusivas ou até mesmo desenvolvendo comportamentos autodestrutivos para punirem-se pelo desejo da “desobediência” ao sistema de opressão, como por exemplo a bulimia como resposta à desobediência do padrão da magreza, ou a automutilação como punição à desobediência ao padrão da beleza.

A misoginia é uma crença limitante, atemporal e supracultural, que define programações mentais muito eficientes e que impede homens e mulheres de alcançarem suas verdadeiras vocações.

Quando temos a oportunidade de lançar luz sobre essas questões de dominação cultural que nos atingem a todos, homens e mulheres, isso mobiliza muitos conteúdos internos. Podemos perceber como um sistema de crenças de uma pessoa poderia tê-la estimulado desde a infância a um nível de competitividade e exercício de autoridade implacáveis, o que podem impedí-la  de desenvolver relacionamentos saudáveis na fase adulta. 

E como isso pode reverberar negativamente no dia a dia de todos num espectro mundo maior quando governos e líderes incorporam essa programação mental e passam a reproduzir essas limitações negativas no mundo real, impedindo coletivamente a construção de relacionamentos saudáveis por gerações inteiras.

Nada mais provocativo que um Diabo mulher para nos fazer pensar a respeito do machismo e misoginia definindo quem nós somos na sociedade moderna de hoje, não? O Tarot de Marselha, um dos primeiros conjuntos de cartas divinatórias, já tratava bem dessa caricatura social lá em meados dos anos 1700.

Ter essa clareza sobre a nossa história civilizatória e do quando podemos ser influenciados por um sistema de crenças que resiste por eras e culturas, possibilita um verdadeiro salto quântico e nos coloca em outra escala de percepção dos eventos da nossa vida. Isso pode ser a chave mestra para abrir os cofres do nosso inconsciente e tirar de lá de dentro medos e crenças limitantes que impedem nossa evolução pessoal e coletiva.

Como disse Jung: “o que não enfrentamos em nós mesmos, encontramos como destino”.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise