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sexta-feira, 22 de junho de 2018

O Julgamento

verbenna yin
Rider-Waite Tarot
Seguramente o arcano que recebe mais interpretações inadequadas é este, o Julgamento, pois com essa nomeação remete nossa percepção ao ambiente bíblico apocalíptico que pressupõe um “fim do mundo” e um “juízo final" que dão um tom negativo à ideia original do arquétipo.

A carta do julgamento geralmente vem ilustrada com essa imagem de pessoas ressurgindo, saindo de suas tumbas em resposta ao toque das trombetas que marcam o início de um novo tempo. Aqui na ilustração tradicional do Tarot Rider-Waite vemos em primeiro plano um homem, uma mulher e uma criança despertando da morte ao som da trombeta celeste e recebendo de braços abertos uma figura angélica que usa um estandarte com forma de cruz na cor vermelha.

Na abordagem Junguiana para o desenvolvimento psicológico humano, todo o funcionamento da psique é estruturado em aspectos distintos que funcionam como polos (princípio da polaridade) e que se compensam mutuamente num sistema de autorregulação. Quando se investe mais energia num determinado aspecto intrapsíquico, indiretamente também se desenvolve o respectivo aspecto oposto, pois a polaridade atua de forma compensatória na direção da manutenção do equilíbrio de forças. É assim o balanço energético entre consciente e inconsciente, persona e sombra, animus e anima, as partes que compõem a psique na estrutura idealizada por C. J. Jung na psicologia analítica.

Nesta sugestão de imagem acontece o mesmo, o homem num polo e a mulher no outro, ambos despertos e receptivos, indica que esta carta fala de um tempo psicológico onde o indivíduo já realizou essas compensações psíquicas e hoje encontra-se em equilíbrio e devidamente estruturado.

A criança no centro se relaciona à figura do SELF, a essência mais pura de cada indivíduo que é mantida escondida no inconsciente e que levamos toda uma vida para nos encontrarmos com ela. É o SELF que faz as reorientações íntimas e determina o momento das compensações de forças psíquicas pois é o centro regulador da psique inteira. Quando conseguimos entrar em contato com nossa essência mais profunda, estamos diante do nosso SELF: nosso Eu verdadeiro.

É como teria dito Jesus nos evangelhos: “é necessário nascer novamente para entrar no reino dos Céus”.

Ao escrever sobre os sonhos e as representações simbólicas do inconsciente, que refletem nossos estados psíquicos diante da existência, Jung afirma que a visão da criança indica que a pessoa está tomando contato com seus aspectos mais autênticos e espontâneos, que podem ter ficado inacessíveis durante tanto tempo que até  nos esquecemos - mas que durante o trabalho terapêutico de autoconhecimento é possível acessá-los novamente.

Para Jung, no inconsciente esse vislumbre da essência verdadeira geralmente ocorre com a visão de uma “criança divina”. A criança simboliza esse retorno ao primordial após ter sido realizada a grande jornada de complementação dos opostos no jogo de projeções da mente.

As projeções são imagens mentais que traduzem nossas questões mais íntimas e que ainda não temos condições de enxergar apropriadamente, seja porque tais conteúdos nos assustam, seja porque ainda não desenvolvemos a fortaleza necessária para lidar com esses temas. De toda forma, essas questões “aparecem” de forma distorcida quando nos relacionamos com as outras pessoas, pois projetamos nelas esses aspectos que são nossos mas ainda são inconscientes.

Nesse sentido, aquilo que enxergamos nos outros não passa de um filme projetado, de uma miragem, pois o que vemos nem sempre é o real daquela pessoa - mas com certeza é realmente nosso.

É preciso ultrapassar esse estágio de projeções para podermos nos enxergar honestamente e realizar o trabalho interno de integrar nossos aspectos conscientes e inconscientes, depois de trazermos nossos conteúdos sombrios à consciência e termos transformado essas memórias em algo construtivo para nós mesmos. Aí sim é possível retornar à verdadeira origem e recomeçar a trajetória de vida com a mesma confiança e inocência de uma criança.

verbenna tarot
Zen Tarot - Osho
Essa é a proposta do Tarot Zen inspirado nas lições do guru indiano Osho. Nesse tarot todas as cartas são apresentadas como posturas individuais perante a vida e ou retratos de momentos do nosso mundo interno.

Aqui a carta do Julgamento recebeu uma ilustração mais adequada ao seu simbolismo no nosso tempo, assim como um novo título: “Além da Ilusão”. Se trata da representação desse estado interno em que não temos mais ilusões a serem projetadas na realidade externa, estamos além dessa dinâmica e podemos ver com clareza os nossos aspectos internos sem nos assustarmos com eles nem negarmos sua existência ou culpar os outros por isso. 

A borboleta, símbolo da transformação, indica que já houve essa metamorfose do estado interno e a chama no terceiro olho sugere uma percepção mais refinada que consegue captar uma realidade mais sutil. Os olhos estão fechados pois tudo que vemos com nossos olhos comuns são reflexos nossos, então aqui eles não são mais necessários.

Ao nos aceitarmos completamente como somos e estarmos dispostos a lidar com a nossa real natureza, experimentamos uma espécie de novo nascimento pois temos agora uma segunda chance de realizar nosso propósito de vida da forma mais autêntica possível.

Esse renascimento simbólico significa o retorno às origens mais puras, onde todo o meu SER se manifesta de maneira harmônica, sem esforço, honesta e livremente expressando tudo aquilo que sou de verdade. Aqui o estado interno é de seguir o fluxo de eventos que vida propõe, sem amarras nem resistências, sem necessidade de realizar algo para ser beneficiado por seu resultado ou receber reconhecimento por ter feito bem. Renascidos, nos apresentamos à vida dispostos às experimentações que nos chegarem, mantendo uma atitude receptiva e vivificante.

Neste retorno às origens não é preciso mais usar máscaras (as "Personas" de Jung), não há necessidade de responder mais aos condicionamentos nem buscar a aprovação do outro para agirmos  como queremos ou nos prejudicar para conseguir atender algum desejo. Tudo já foi pacificado e nossa organização psíquica opera harmonicamente.

É essa harmonização interna que a bandeira da imagem inicial representa. Nos estudos das mandalas, Jung aponta que a forma de cruz nos desenhos simboliza a união dos opostos, indicando que a pessoa venceu os conteúdos internos que seriam projetados nos outros. Agora ela consegue lidar com os aspectos próprios e também com os dos outros sem se sentir ameaçada, sem precisar usar mecanismos de defesa nem se incomodar com o que vê refletido no outro.

Nossas imagens refletidas não nos ameaçam mais pois a atitude agora é a do observador que a tudo assiste e procura aprender, sem se envolver, além das ilusões e das projeções da mente.

verbena
Dark Tarot
Nesta outra imagem o conceito principal permanece mas é ilustrado de outra forma, indicando que a mulher e o homem respondem ao chamado da figura divina que possui uma aréola circular, correspondendo à ideia de que agora consciente e inconsciente agem em conjunto para atender o SELF simbolizado pelo círculo.

Na abordagem Junguiana o círculo é o símbolo maior do SELF, sendo as mandalas sua expressão mais profunda e completa. Na mandala encontramos a expressão não verbal dos conteúdos do SELF, que conseguem burlar o filtro da razão e escapar das censuras do consciente.

Quando a terapêutica envolve processos racionais de elaboração, como fala e escrita, nosso consciente pode impedir que certas memórias, afetos e emoções se expressem. Nesse caminho podem ainda haver julgamentos, críticas internalizadas, idealizações e comparações, e tudo isso junto atua como obstáculo para que o ser verdadeiro se mostre.

Já na mandala esses conteúdos encontram um outro caminho para se manifestar. Como a mandala é desenhada, esse conjunto organizado de formas e cores expressa o SELF sem passar pelas aprovações e seleções da mente consciente. Por isso a mandala é o retrato fiel do estado de ser de cada pessoa e tem tanta importância no processo terapêutico na abordagem Junguiana.

E isso é que o arcano do Julgamento tenta representar, esse momento em que houve uma pacificação das forças internas e externas pois nada mais pode atingir negativamente o indivíduo: as dores, as memórias, as projeções, as idealizações, a falta de confiança, tudo isso já passou.

Aqui o indivíduo morreu para essas coisas e agora está renascendo para um novo tempo em que irá atender plenamente o chamado do SELF para realizar aquilo que é seu propósito na existência. Sua vida agora tem sentido.

Quando estamos integrados ao nosso SELF conseguimos nos mover pela vida de forma mais fluida e seguimos pelo fluxo dos eventos sem inseguranças. Procuramos expressar com nossas atitudes quotidianas aquilo em que acreditamos, então passamos a fazer escolhas que nos contemplam melhor. Pode ser o tipo de alimentação, a forma de se vestir, o trabalho que realmente faça bem a si mesmo e ao outro, a atitude colaborativa, a receptividade com o outro, enfim, tudo que confirme externamente aquilo que já existe do lado de dentro.

Aqui a direção da energia é de dentro para fora, o ser manifesta com segurança no mundo externo aquilo que existe no seu interior - numa orientação contrária àquela que atende às necessidades do Ego, pois o Ego precisa do reconhecimento externo para confirmar o que acredita haver no interno. 

No fluxo do Ego as confirmações do reconhecimento externo são frágeis pois tudo que vem do externo é projetado, logo, não é real. Mas no fluxo do SELF a nossa expressão é verdadeiramente real pois manifesta externamente o que existe no mais íntimo e profundo da alma humana.

São tantas formas de manifestarmos no mundo nosso potencial, mas que agora acontecem sem necessidade de reconhecimentos externos nem na base da barganha, e cada uma de nossas pequenas ações serão agora resultados dessa orientação pelo SELF - que vai aos poucos se manifestando de dentro pra fora. Nossa essência finalmente emerge.

Ao nos entregarmos à orientação do SELF, passamos a viver com mais consciência, entendemos nosso propósito de vida e procuramos usar o nosso tempo de forma construtiva, ocupando positivamente nosso lugar e colaborando para criar no mundo externo a mesma realidade interna de paz e equilíbrio.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

sábado, 9 de junho de 2018

Sonho e desejo




No sonho realizamos aqueles desejos que não puderam ser ditos nem reconhecidos.

O desejo é o movimento interno do indivíduo na direção de uma satisfação que não foi atendida ainda, seja porque não conseguimos entendê-la ou porque estamos tão envolvidos com certas áreas e demandas da vida pessoal que não há atenção para percebê-la.

No desenvolvimento psíquico, à medida que vamos crescendo em idade vamos também percebendo objetos que atraem nossa atenção e que nos mobilizam à sua conquista: pessoas amadas, situações, posições sociais, objetos, patrimônio, lugares diferentes...

Qualquer que seja o objeto do nosso desejo, ele simboliza uma satisfação não atendida, uma necessidade de ser contemplado que ainda não teve chance de se concretizar.

Mas às vezes o desejo é incoerente com nosso momento de vida e "não combina" com a pessoa que temos sido. O desejo é inconveniente.

Por isso ele pode ficar escondido de nós, não aceitamos que aquela satisfação seja importante e deixamos "pra lá". Mas esse material não é descartado nunca, fica guardadinho no nosso inconsciente e quando há uma brecha a comunicação do desejo acontece quando o nosso racional não consegue mais impedir nem nos defender - quando dormimos.

Quando não conseguimos atender nossos desejos mais genuínos, eles retornam e se comunicam conosco na forma de sonho. É no sonho que acontece essa conversa íntima e pessoal de nós com a gente mesmo, onde o nosso inconsciente tem a chance de mostrar aquilo de que realmente precisamos para viver, o que vale a pena viver para experimentar.

Mas essa conversa não é pela lógica ou pelo racional, ela acontece no nível do simbólico e é através das imagens que o desejo se manifesta. Se estivermos atentos aos nossos sonhos, podemos entender melhor o que é que o nosso ser interno quer comunicar pra nós.

Acolher os sonhos é o melhor caminho para entender o que realmente precisamos viver para encontrar satisfação interna e nos sentirmos contemplados pela existência.

Nem sempre é fácil entender o que o sonho quer dizer, às vezes o mundo simbólico é cheio de mistérios e caminhos intrincados. Nesse caso é importante que você seja acompanhado no seu processo por um terapeuta que possa te acompanhar nesse desbravamento dos territórios psíquicos do sonhar e você possa finalmente entender o que seu inconsciente está de comunicando.

E atenção: quanto mais o sonho se repete, mais urgente é a necessidade de atender aquele desejo.

Então se você anda sonhando muito com um determinado assunto, não deixe passar a oportunidade de viver aquilo que seu sonho está te mostrando. Essa será uma experiência que ajudará a transpor uma etapa importante do seu desenvolvimento pessoal e certamente refletirá na expansão da consciência para começar novas etapas de vida.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Lua Cheia em Leão e Eclipse Lunar de 31/01/2018



No próximo dia 31 de Janeiro vamos ver o plenilúnio da primeira lunação de 2018, a Lua Cheia em Leão. Essa lua cheia vai acontecer alinhada aos nodos lunares, os pontos de interseção entre as órbitas da Terra e da Lua, o que torna essa lua cheia muito especial e poderosa pois ativará pontos magnéticos importantes.

Além disso teremos um eclipse lunar, um alinhamento entre Sol, Terra e Lua que culmina num período em que a sombra da Terra encobre o brilho da Lua Cheia e por conta dos gases da atmosfera veremos a imagem da lua ficar "avermelhada"  - no que também se chama "Lua de Sangue".

Por ser um eclipse lunar, quando a luz da Lua fica bloqueada pela Terra, simbolicamente temos um período em que precisamos acordar do sonho e botar os pés no chão. É um choque de realidade, o eclipse tem esse poder de nos levar para as profundezas mais escuras do nosso inconsciente e colocar pra fora as sombras que não queríamos ver. Quando a Lua for se afastando da área de penumbra e recuperar seu brilho novamente, poderemos ver com clareza que tema foi esse que veio para o reino da realidade.

Os eclipses ativam experiências que tem uma duração média de 6 meses, assim que dependendo do grau onde acontece a lunação e o eclipse no mapa individual, isso deflagrará uma experiência pessoal naquela área de vida. Este eclipse acontecerá aos 11 graus de Leão.



A Lua Cheia em Leão então é resultado da Lua Nova que aconteceu nos últimos graus de Capricórnio, em conjunção com o planeta Vênus, trazendo como tema deste ciclo a consciência do elemento terra, sua resiliência e determinação para vencer os padrões de comportamento que nos fazem querem controlar o outro nas nossas relações, impedindo o fluxo da espontaneidade no amor.

E agora a Lua Cheia em Leão acontece também em conjunção à Vênus, colocando nossas motivações emocionais às claras e trazendo a questão do controle novamente: por que seguimos exigindo do outro o afeto e a atenção que acredito merecer?

Quando há espontaneidade e liberdade para manifestarmos nosso afeto uns com os outros, nos sentimos a vontade para expressar nossos sentimentos, sermos mais verdadeiros, dividirmos nossos talentos com o outro para que todos se alegrem e tenhamos momentos felizes juntos.

Mas quando a minha manifestação de afeto fica condicionada à opinião que o outro tem de mim, ao que o outro pode vir a achar de mim se eu disser ou fizer tal coisa, ficamos receosos de dar o nosso melhor e ficamos buscando a aceitação do outro, a autorização do outro para deixar o afeto e as emoções fluírem.

Depender da aprovação do outro para se sentir alegre, para manifestar seu amor ou para expressar o seu melhor vai pouco a pouco minando a nossa autoestima, passamos a não nos valorizar pelo que somos nos nossos vários aspectos e valorizamos só aquilo que agradará o outro – porque é isso que garante que o outro me aceite.

E aí criamos um ciclo de dependência emocional.

Esse caminho não é positivo pra ninguém, pelo contrário, ele nos escraviza. Se eu só puder manifestar o meu melhor para o outro quando ele me autoriza, o que acontece com meu melhor quando o outro não me autorizar?

O Leão não precisa de autorização para ser quem é, ele simplesmente existe com toda sua opulência e poder. O Leão não tem medo de rugir, não pede desculpas por estar com fome nem se justifica para atravessar um território, ele se enche de confiança e faz aquilo que os seus instintos determinam.

Essa simbologia vem nos mostrar que está na hora de reafirmarmos quem somos, nossa individualidade e nossa singularidade. É a hora de valorizarmos a totalidade dos nossos aspectos e nos aceitarmos como somos, exatamente como somos, sem ficar criando justificativas nem pedindo desculpas. 

É em Leão que acessamos a consciência sobre quais são os nossos talentos e como esses talentos podem ser colocados de forma a nos tornarmos produtivos, ocuparmos nosso lugar no mundo e manifestar todo nosso brilho interior.


No momento da lua cheia se formará também um aspecto conhecido como Yod, o “Dedo de Deus”. É chamado assim porque tradicionalmente significa um marcador importante no mapa, aponta para uma determinada posição que é chave naquela situação. E a próxima lua cheia tem esse marcador, um Yod sustentado por Saturno em Capricórnio e Netuno em Peixes.

Saturno em Capricórnio vem nos lembrar que agora é a hora, o Senhor do Tempo está cobrando de nós o que temos feito com nossos talentos: escondemos nossos talentos na terra com medo da escassez, ou multiplicamos inspirando os outros com a nossa luz?

E Netuno em Peixes vem concluir a tríade reafirmando que o propósito das nossas ações deve ser em prol do bem maior, do amor incondicional e do cuidado uns com os outros e com nosso ambiente. Pois de nada adianta nos reafirmarmos e lapidarmos talentos se no final ficarmos nos olhando admirados de nós mesmos. Isso é narcisismo!

A mensagem dos astros é outra: devemos trabalhar para nos apropriar dos nossos talentos e nos libertar da necessidade de aprovação, para expressar o nosso melhor neste mundo com generosidade e inspirarmos uns aos outros com nossos talentos.

E depois de tudo isso, o Sol em Aquário vem nos lembrar que o propósito desse aprendizado é uma evolução coletiva: chegou o tempo de sermos aqueles que estávamos esperando.



segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Quando o pai é o limite

verbenna yin

Eu atendo muitas mulheres na faixa dos 30-40 anos que tiveram uma ótima educação, foram incentivadas a estudar e trabalhar pelos seus pais e são de uma geração que viu a mulher ingressar no mercado de trabalho e batalhar por independência e igualdade.

Essa é uma geração que se destacou positivamente no sentido de ir além do que todas as mulheres daquela linhagem conseguiram. Geralmente concluíram uma formação superior que não fosse na área de cuidado com crianças e são profissionais com um bom desenvolvimento de carreira e reconhecimento nas suas ações profissionais.

E é aí mesmo que a expansão na vida para e elas sentem uma dificuldade enorme de prosseguir no desenvolvimento das suas carreiras. Há um ponto em que as coisas não fluem mais, começam a aparecer dívidas que não se pagam mesmo com todo o dinheiro que ganham, começam novos projetos que não dão continuidade, estão sem tempo para o prazer e se sentem cada vez mais comprometidas com resultados que simplesmente não acontecem.

O que deu errado?

Para além da questão do impacto do machismo que culturalmente se impõe nesse cenário do desenvolvimento profissional das mulheres, existe uma questão pessoal importante que na minha opinião precisa muito ser revisitada pelas mulheres.

É a figura paterna e sua simbologia no sistema da família.

Nos meus atendimentos, quando eu percebo que a história daquela mulher tem essa tônica, eu geralmente pergunto:

“Você hoje considera que é maior do que o seu pai?”

E geralmente a resposta é: “Não, imagina, meu pai é a maior referência para mim, é meu porto seguro, ele é insubstituível, eu quero ser como ele um dia ainda” e tantas outras coisas que permeiam essa simbologia sobre a figura paterna. E como filhas me contam como os pais as salvaram em várias situações, reais e simbólicas, como eles as orientaram em momentos de dúvida e fizeram essa função de prover o sustento e garantir a própria existência delas.

Por outro lado, é fato que essas mulheres foram sim além do que seus pais puderam ir, talvez tenham tido mesmo mais oportunidades que eles, tiveram uma educação privilegiada e viveram um momento histórico de maior abertura para a mulher na participação em sociedade, o que lhes permitiu caminhar mais longe de verdade.

Mas ir “tão longe” pode ser tornar um conflito interno para essa mulher quando a imagem mental do pai foi essa imagem da pessoa mais grandiosa possível. Pois como seria possível ser maior do que aquele que admiramos e é nossa referência interna de crescimento e exercício do poder?

verbenna yin
O pai é o limite.
  
Muitas vezes as mulheres ficam presas numa lealdade invisível a essa figura paterna e não se autorizam a conquistar mais do que a figura paterna conseguiu, e assim vão criando um looping infinito de sabotadores internos que justificam falha ante falha para que o crescimento profissional fique estancado num lugar que as mantenha na condição de filhas – dependentes.

Claro que essa dependência não é consciente, e às vezes nem fica de fato vinculada ao pai, a dependência pode se deslocar para outras figuras como o marido, o companheiro/a, ou até mesmo a mãe se essa mãe fez a função paterna naquela dinâmica familiar.

E outras vezes a figura paterna também é superestimada porque a leitura que essa filha faz do seu pai é ainda aquela com os olhos da infância, que não percebe as falhas e as imperfeições daquele ser humano e nega qualquer aspecto nessa figura paterna que não seja o da perfeição.

Quando essa situação aparece aqui nos meus atendimentos eu faço questão de colocar essa hipótese para a mulher pensar a respeito. Geralmente elas não gostam da minha provocação, mas depois de uns dias me procuram de volta e dizem que ficaram muito incomodadas porque essa pergunta não saiu do pensamento delas. E no fim acabam confirmando que fazia sentido com suas histórias pessoais mas que nunca tinham percebido isso antes.

E quando essa percepção acontece é muito bacana pensar que o pai é alguém que nos ama e quer ver nosso crescimento constante sim, que o pai pode ser como uma grande árvore - que cresceu e frutificou e por isso pôde criar uma semente que um dia também se tornará uma grande árvore e assim permitirá a continuidade de toda uma floresta. E quando retiramos do ambiente as ameaças ao pleno desenvolvimento dessa semente, é muito provável que essa semente viceje mais forte e cresça mais ainda fortalecendo a floresta toda - aqui fazendo uma analogia com o fato da filha ter tido melhores oportunidades de crescimento.

Honrar a nossa figura paterna é também uma maneira de pacificar essa questão internamente, reconhecendo que aquele homem caminhou até o limite de suas possibilidades e recebendo com gratidão todos os esforços que ele fez por nós, filhas.

Mas isso não nos impede de olhar para a trajetória deles, como adultas, e perceber respeitosamente que nós filhas vivemos outra realidade hoje e temos outras oportunidades que nossos talentos e competências nos permitem - e assim nos diferenciarmos deles e construirmos nossas próprias histórias e conquistas.

É um grande tabu, eu sei. Mas também percebo que existem gerações que fazem saltos que serão plenamente incorporados pelas gerações posteriores e estar em paz com essa realidade de expansão maior que as mulheres tiveram oportunidade de viver é abrir caminho para as gerações futuras poderem ocupar seus novos lugares no mundo.

Criar consciência sobre esse aspecto entre as realidades feminina e masculina também é importante porque refletirá numa convivência mais saudável e igualitária entre os sexos, com menos competições e sensações de derrota quando simbolicamente a própria mulher não se autorizar nos momentos de vida.

Nosso processo de amadurecimento perante a vida envolve atravessar para uma etapa em quem passamos a exercer sozinhas o cuidado e a providência com a gente mesma - o que a figura paterna nos garantia antes. 

Quando pacificamos nossa história de vida com o pai nos autorizamos também a estarmos do nosso próprio lado, cuidamos melhor de nós mesmas e dos nossos projetos e nos sentimos mais confortáveis no caminho do crescimento pessoal.

verbenna yin






segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

2018 – Ano 11 e as previsões do Tarot



As artes divinatórias se conversam muito e duas linhas que se integram muito bem são o tarot e a numerologia – haja vista que as cartas do tarot são numeradas e sequenciadas por motivos que acompanham o padrão evolutivo da natureza. E tanto o tarot quanto a numerologia nos ajudam a entender melhor os comportamentos humanos, cada abordagem com suas próprias bases mas confluindo no entendimento maior em perceber as manifestações e expressões humanas de acordo com leis universais que regem o curso do tempo e das elementos da natureza que nos influenciam a todos.

Pela numerologia o ano 2018 será um ano 11, considerando a soma de cada um dos algarismos individualmente (2 + 0 + 1 + 8 = 11). O número 11 é um número mestre e não deve ser reduzido para 2 (1 + 1), neste caso devemos nos atentar para os ensinamentos distintos de um ano 11 e que são bem diferentes de um ano 2.

Quando o número 11 aparece num resultado da numerologia, pede bastante atenção: é um indicativo de que chegou um tempo para se conectar à espiritualidade e "subir" de nível. Para acessar sua força interna, direcionar a sua vontade para algo superior ao que existe hoje e manter-se determinado e diligente nessa direção.

O número 11 também trata da consciência da colaboração (1 + 1) e como uma atitude colaborativa pode ajudar a conquistar essas metas mais elevadas. 


Essa visão é bem parecida com o que concluímos pela análise astrológica para o ano de 2018, onde as transformações serão conduzidas por Saturno, num desenvolvimento que pede maturidade e seriedade para questões mais elevadas. Confira a previsão astrológica AQUI.

E então, fazendo a correspondência do número 11 com os arcanos do tarot, chegamos a duas possíveis combinações: a carta da Força ou a carta da Justiça.

Isso porque o sistema sequencial do tarot tradicional indicava a carta da Força como arcano 11 até que uma linha de estudos mais recente, preconizada por Aleister Crowley, alegou que a carta da Força estava no lugar errado da sequência e na verdade o arcano 11 deveria ser a carta da Justiça, e assim que vários tarots mais ligados com as questões do humano moderno levam em conta essa mudança numérica.

As duas possibilidades são válidas e vou indicá-las aqui pra que cada leitor avalie qual delas se ajusta melhor a sua percepção do momento coletivo que vivemos.

O arcano da Força mostra uma mulher nua dominando um Leão, sem grandes esforços ela consegue se impor à essa fera e controlar o instinto destruidor do animal. Simbolicamente, esse arcano nos mostra que existe um trabalho interno a ser realizado para dominar nossos instintos mais brutos e agressivos pois temos habilidades mentais que nos permitem nos diferenciar dessa consciência mais primitiva para nos elevarmos a um nível mais refinado de percepção da realidade. Se quiser conhecer mais a fundo as características desse arcano, clique AQUI.

Coletivamente, um ano regido pelo arcano da Força é promessa de um ano de muita atividade, com disposição e vitalidade física para tomar iniciativas e retomar as rédeas da sua própria vida, nessa tônica de aprimoramento em direção a um modelo humano superior.

Mas não nos enganemos, no padrão negativo essa vontade toda pode ser mal direcionada, e a gente pode cair na tentação de usar a força - do argumento, da persuação, ou a força física mesmo - pra fazer valer a nossa vontade diante do outro. Aí a coisa descamba, porque se o outro tem que se submeter isso é violência. Então temos que exercitar uma medida pessoal a fim de nos mantermos no terreno seguro da negociação e do diálogo no âmbito coletivo.

Também pode indicar um ano em que seremos mobilizados a enfrentar nossos impulsos mais agressivos e criar destrezas para dominá-los com consciência, direcionando essa energia interna para o nosso crescimento pessoal: dominar uma língua mais ferina, um padrão intolerante, aquela vontade de sair fazendo só o que der na telha sem pensar nas consequências, jogar tudo às favas e sair xingando... tudo isso pedirá por uma revisão neste próximo ano.

Essa interpretação se harmoniza com as linhas que indicam a regência do ano 2018 à Iansã ou a Durga, os arquétipos femininos mais poderosos e que tratam desse direcionamento da energia interna de forma responsável para não sermos destruídos.

E ainda ouso dizer que pode indicar uma fluência da energia feminina reagindo à dominação histórica das mulheres em diversas culturas e que ainda hoje acontece sob argumentos que não se sustentam à luz do conhecimento disponível hoje na humanidade.

Por outro lado, se considerarmos a interpretação mais moderna que coloca o arquétipo da Justiça como arcano 11, o ensinamento proposto é o de se dar conta de que tudo que acontece no mundo também acontece dentro de nós e que se hoje o mundo apresenta uma determinada realidade isso se deve a que experimentamos aquela mesma realidade internamente.

Se no mundo há raivas e conflitos, estamos todos ao mesmo tempo vivendo esses conflitos dentro de nós mesmos. O mundo externo é um reflexo daquilo que experimentamos sozinhos e a realidade externa pode nos dar uma dica dos temas que precisamos encarar dentro de nós: somos em algum nível intolerantes, isolados, violentos? Somos intolerantes com as nossas próprias falhas, ou somos violentos com nós mesmos quando reprimimos nossos desejos?

Aqui o aprendizado é o de investir nas transformações pessoais para que possamos cada vez mais nos sentir pertencentes a um coletivo que apoia, colabora e prospera junto. Mudando nossa realidade interna para melhor, curando nossas feridas emocionais e nos permitindo essa entrega para conviver livremente com os outros, podemos impactar positivamente também a realidade externa e modificá-la igualmente. Esta é um interpretação que se relaciona bem com a regência de Xangô, o orixá da justiça e da firmeza.

Se quiser conhecer melhor o arcano da Justiça, clique AQUI.

Entre a Força e a Justiça, qualquer que seja o arcano que afinizar melhor com você, 2018 promete ser um ano de bastante trabalho interior para todos nós ativando essas percepções e nos mobilizando ao aprimoramento pessoal.

A dica é compartilhar esses aprendizados para que cada vez mais pessoas se dêem conta dos seus próprios processos e possam criar consciência sobre o por quê disso acontecer. Trabalhar essas questões em grupo pode ser uma forma mais leve e gostosa de experimentar a evolução que os novos tempos estão nos pedindo, então considere você mesmo fazer uma reunião com os amigos para conversar a respeito, passar adiante o que você anda vivendo e como isso se encaixa no momento planetário. Lembre-se, o ano 11 pede colaboração: a sua!
                                                                                  
Todos ganhamos com a expansão da consciência coletiva, e talvez o número 11 nos traga esse entendimento de que podemos sim crescer individualmente mas sem deixar que esse crescimento fique restrito apenas à nossa bolha ou ilha particular; é no mundo real que nossos aprendizados individuais precisam ser colocados em prática.

E para as mulheres que me acompanham aqui pelas redes, deixo uma música que me chegou no ano passado para registrar o quanto aprender em grupo pode ser uma forma linda de se transformar e modificar a sua própria realidade. Compús essa música logo após minha iniciação no xamanismo matricial e ela fala dessa relação entre mulheres em que podemos experimentar a nossa força e a espiritualidade juntas. Espero que gostem :-)




sábado, 30 de dezembro de 2017

Astrologia para 2018



A posição dos astros na virada do ano pode dar indicações valiosas para as resoluções de ano novo. Este ano, por conta do horário de verão estaremos recebendo 2018 um pouco adiantados aqui na região sudeste, mas por conta da egrégora que se forma no momento da virada e toda a energia mental do coletivo minha interpretação considera esse momento real das comemorações como horário para gerar o mapa da virada do ano. Lembrando que Brasília também adere ao horário de verão.

Assim que teremos um ano 2018 bem capricorniano, com Sol, Vênus, Saturno e Plutão fazendo um Stellium em Capricórnio. Quem dá a tônica aí é o Saturno domiciliado, que vem com força total afinar o ano no diapasão da autorresponsabildiade e na casa das estruturas pessoais: o tempo é de ver a realidade como ela é para lidar com essa realidade sem ilusões. Agora o tempo é de seriedade para assumir responsabilidades e fazer o que precisa ser feito, pessoal e coletivamente.



O Sol um pouquinho à frente de Saturno indica que nossa consciência está desperta, teremos clareza para entender essa nova realidade que vem se delineando e não vai dar mais pra ficar nessa atitude de criar desculpas ou procrastinações.

Quando a gente se nega a ver o que está diante de nós não podemos progredir. Pelo contrário, a negação é uma atitude infantil, uma regressão. O tempo sempre avança e é Saturno, o grande Senhor do Tempo, que nos move para frente.

Plutão vem puxando o grupo todo e mostra que as transformações serão inevitáveis, é hora de crescer e desapegar do que não é essencial porque o caminho de Capricórnio é áspero e íngreme, levar muita bagagem atrapalha a caminhada.

No entanto, Vênus faz parte do grupo e pode nos lembrar de colocarmos amorosidade e delicadeza nesse processo de transformação pessoal rumo à maturidade. Acolha seus medos, cuide-se durante este processo e lembre-se que o padrão da natureza é o crescimento e a abundância. “Hay que endurecerse pero sin perder la ternura jamás.”

Ascendente em Virgem e Meio do Céu em Gêmeos, com a lua geminiana banhando todo o mapa da virada do ano, nos alerta para a tendência de querer fugir dessa realidade mais séria com a tônica Saturnina. O regente Mercúrio exilado em Sagitário também dá esse aviso: cuidado com as decisões rápidas que parecem mais fáceis e com o impulso de resolver as coisas na conversa, tudo isso é uma primeira impressão descuidada que pode agravar situações anteriores que precisam ser revisitadas e resolvidas em 2018.

Júpiter e Marte em Escorpião na casa dos valores indicam que as recompensas materiais virão com esforço este ano, mas essa posição é bem aspectada com o Stellium em Capricórnio. Aqui a mensagem dos astros é para agir responsavelmente para conseguir tudo aquilo que você quer conquistar neste novo ano e que a transformação pessoal passa por essas escolhas também, afinal nossos desejos refletem quem nós somos.

Quem você quer ser em 2018?



quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Veranizando


E hoje recebemos em meio à chuva (aqui em Sampa) o solstício de verão!

O solstício é um alinhamento astrológico, é quando o Sol e a Terra se posicionam na eclíptica exatamente no grau zero de Capricórnio. E este ano chegamos nesse alinhamento junto com Saturno, que se colocou aí primeiro e vai impregnar esta estação com sua consciência de maturidade e firmeza.

Mas vamos falar do verão, essa estação de calor, de festejos e recomeços coletivos.

O elemento do verão é a água e seu símbolo nas tradições xamânicas é o coral, uma cristalização marinha de cor vermelha que lembra o nosso sangue e coração.

Água, sangue e coração são símbolos que falam das emoções humanas, este é um tempo para aflorar os sentimentos e permitir-se sentir através do corpo essas energias intensas que nos mobilizam perante a vida. São as emoções que nos levam a decidir quem queremos que esteja ao nosso lado, o que faz nosso coração bater mais forte e assim definirmos os ofícios que queremos cumprir, o que nos ferve o sangue nos moverá em direção ao que acreditamos ter que lutar.

Nossas emoções são os gatilhos que movimentam a vida e os eventos se movem na fluidez da água, esse elemento que une e conecta, nos dá a sensação de pertencimento e faz brotar os vínculos entre as pessoas. Verão é tempo de união.

A água limpa o ar, nutre a terra e faz verdejar a natureza. É o único elemento que não se perde em sua essência, sempre se pode filtrar a água e purificá-la novamente e, ainda que evapore, a água retorna em forma de chuva. Por isso se associa ao amor, pela sua capacidade de restabelecer o fluxo energético de vida e abundância.

Não é a toa que comemoramos o Natal e o Ano Novo nessa época, é um tempo para estarmos reunidos com quem a gente gosta, de sentirmos juntos a renovação da vida que se reorganiza no ano que chega e para recobrar a esperança num amanhã melhor. É uma nova chance para preenchermos a vida com a água simbólica que nos faz caminhar sempre em frente.


E por conta do calor o verão também evoca esse movimento da água em direção ao alto, as águas evaporam e promovem na natureza um movimento que vai de dentro pra fora, fazendo aflorar e florescer. Nossas águas internas nos direcionam pra fora e assim como novos ramos de uma planta, buscamos também crescer e nos conectar.

A medicina do verão é permitir-se sentir, ter liberdade para se expressar e deixar a natureza fluir as águas em você. Junto com o alinhamento de Saturno no céu, a mensagem é pra sermos responsáveis com nossas emoções, prezando pelo nosso autocuidado em construir relacionamentos saudáveis para nós mesmos. 

Num ambiente afetivo seguro termos a liberdade para sentir a vida sem constrangimentos ou defesas ativadas, e assim podemos relaxar sendo mais espontâneos para receber e doar amor.

Curar-se neste verão é resgatar sua espontaneidade. Permita-se!




sábado, 9 de dezembro de 2017

Tarot e Psicanálise

Meu trabalho terapêutico hoje une uma possível correspondência entre as teorias psicanalíticas mais difundidas (S. Freud, Melanie Klein, Winnicott, W. Reich e J. Lacan) e a simbologia arquetípica contida no sistema dos arcanos maiores do Tarot.

O Tarot é um compêndio de 78 cartas, divididas em 22 arcanos maiores e 58 arcanos menores. Dizem alguns estudiosos do tarot que o compêndio surgiu no antigo Egito, organizado na forma de um jogo para manter o interesse e curiosidade das pessoas - assim, mesmo se eventualmente proibido enquanto jogo, sua utilização resistiria às mudanças culturais ao longo do tempo. Uma solução interessante que leva em conta o conhecimento das características humanas e suas respostas comportamentais esperadas.

Os arcanos maiores são representações simbólicas de atitudes, comportamentos e momentos de vida comuns a todos os indivíduos e seguem uma lógica própria do que seriam, cronologicamente, as etapas de amadurecimento de uma pessoa diante da vida.

Nessa abordagem, o tarot seria um estudo das possibilidades de cada uma dessas etapas, quais as características e os desafios propostos em cada uma dessas fases da experimentação humana e quais comportamentos estariam relacionados a cada um desses momentos. Também indica que essas etapas seriam cumpridas na linha do tempo de todas as pessoas, sendo, portanto, experiências comuns a todos e reconhecíveis por qualquer um.

Sob essa ótica, a compreensão dos arcanos maiores do Tarot enquanto um roteiro das etapas de amadurecimento humano guarda bastante similaridade com a proposta do processo de individuação de C. G. Jung.

O processo de individuação seria um caminho percorrido por cada indivíduo, de forma única e singular, com a finalidade de diferenciar-se dos outros e ao final reconhecer-se completamente em sua essência, percebendo todas as suas reais características e potencialidades – o que lhe permite promover em sua vida as condições para que seus atributos possam ser exercidos com liberdade, espontaneidade e de forma positiva para si mesmo para o grupo a que pertence.

Assim, em última análise, o processo de individuação é positivo também para a criação de uma sociedade mais justa e colaborativa como anos mais tarde teorizou D. Winnicott na sua teoria do amadurecimento pessoal.

Este tema me toca pessoalmente por eu já ter experiência na leitura do Tarot numa abordagem terapêutica, ou seja, utilizando as cartas como forma de retornar o indivíduo a um estado de harmonia interna e pacificação anterior. Porém, ao longo do curso de psicanálise fui percebendo paralelos muito interessantes entre a abordagem terapêutica do Tarot e as diversas teorias psicanalíticas estudadas, em especial o processo de individuação e a sincronicidade.

Apesar de todo o misticismo associado à leitura do Tarot, que poderia gerar uma certa resistência em aceitá-lo como método terapêutico, na minha visão é possível utilizá-lo como uma ferramenta bastante eficiente para acesso ao inconsciente, tanto para manifestar conteúdos latentes do inconsciente do analisando como também para catalisar o conteúdo simbólico dos sonhos e representações da realidade que o analisando trouxer para o setting analítico, pela proximidade dos símbolos individuais com os arquétipos coletivos do Tarot.

Entender melhor as correspondências entre as duas abordagens possibilitaria ao terapeuta e ao analisando, a meu ver, uma objetividade no tratamento dos conteúdos acessados em terapia, pois ao colocar esses conteúdos em perspectiva para o próprio analisando, essa nova maneira de olhar para os próprios conteúdos poderia contribuir positivamente no seu processo analítico.

Tenho notado algumas vezes que ao olhar para uma carta do Tarot o analisando reconhece uma linha de coerência entre determinados símbolos, sua história pessoal e seu momento atual. Como por exemplo, é muito comum que um analisando com questões maternas e fixação oral “escolha” a carta da Sacerdotisa ou da Imperatriz – que, como veremos adiante, são representações simbólicas da relação com o princípio feminino.

Também tenho presenciado analisandos que conseguiram elaborar alguma percepção sobre si mesmos a partir dos desenhos e símbolos contidos na carta escolhida, como se a imagem comunicasse uma ideia a seu próprio respeito e de súbito lhes chegasse uma compreensão inteira que até aquele momento ainda não tinha sido possível.

Numa visão integrativa, assim como é possível selecionar a teoria psicanalítica mais adequada para cada pessoa conforme o quadro apresentado no setting, também me parece possível associar determinadas teorias psicanalíticas a cada um dos arcanos maiores do Tarot e submetê-los à “escolha” do analisando - o que sinalizaria que cada arcano do Tarot contém em si uma representação simbólica de um quadro psíquico e uma possibilidade de encaminhamento terapêutico correspondente e mais adequado.

Dessa forma, apresentar as possíveis relações entre as diversas teorias psicanalíticas e os conhecimentos associados aos símbolos do Tarot me parece bastante pertinente e oportuno. Vivemos num país em que a maior parte da população é muito receptiva às terapias alternativas e cada vez mais surgem novos olhares e desenvolvimentos que permitem dar mais acolhimento e alívio para os sofrimentos humanos.

Por outro lado, uma abordagem integrativa e integradora das diversas teorias psicanalíticas confere ao profissional um maior leque de opções para tratar de cada analisando de forma personalizada, única e singular, mais adequada àquela história de vida e ao seu momento pessoal. Dentre as várias opções, seria possível ao psicanalista lançar mão do Tarot como mais um recurso e adaptar sua terapêutica para cada pessoa que chega no setting buscando alívio para suas dores emocionais.

Se este trabalho possibilitar o uso do Tarot numa abordagem psicanalítica e para fins terapêuticos que reflitam numa melhora das condições do analisando, tudo terá valido a pena!

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

quinta-feira, 2 de novembro de 2017

Dia dos mortos


Hoje é 2 de Novembro, dia de Finados aqui no Brasil. Feriado. Um dia separado no calendário para pararmos o que estamos fazendo e nos lembrarmos daquelas pessoas que se foram, de lamentarmos suas ausências, de visitar túmulos e ficar na nostalgia de um tempo que é impossível voltar.

Esse dia sempre me incomodou, achava tétrica essa coisa de visitar um cemitério e ficar lá lamentando a morte de alguém. As imagens associadas a esse dia também são péssimas, de pessoas cabisbaixas, flores murchas, tons escuros e sombreados. Mas no fundo mesmo o que me incomodava era esse olhar negativo que se cultiva, talvez sem nos darmos conta, de prestar atenção apenas na falta que a pessoa falecida nos faz. A tristeza coletiva é tanta que geralmente chove nessa data.


Acho que esse olhar da falta fala muito mais de nós, os vivos, que aprendemos uma percepção da vida focando nas coisas que nos faltam. Lamentando pelo que não podemos ter. Talvez o ato de lamentar nos conecte com uma falta maior, primordial e primitiva, anterior até ás nossas memórias de infância. Aquele vazio em nós que é intolerável e que buscamos preencher a todo custo: falamos demais, comemos demais, compramos demais, corremos demais... o quanto nos custa preencher esse vazio da nossa singularidade.

Por outro lado, pode ser um contraponto positivo incorporar o olhar das culturas mais antigas que tradicionalmente, sobre o tema dos “mortos”, celebra a vida dessas pessoas que já partiram com festas, cantos e comidinhas.

Sim, celebrar, uma palavra por si só positiva. Diferente de lamentar a partida, celebrar o tempo de permanência daquela pessoa, valorizar as trocas que nos foram possíveis fazer com ela e os momentos que passaram juntos me parece enriquecedor justamente por vivificar em nós aquela nossa parte humana que conectou com aquele que partiu.

Encontrar esse elo humano nas nossas relações é uma bela poesia de quanta beleza a vida pode nos proporcionar com a convivência, a co-vivência. Quando conectamos com essa parte, da pessoa querida, que um dia nos tocou, é como se voltássemos na linha do tempo e mais uma vez aquela centelha de luz divina que havia nela por um momento se acendesse novamente. O tempo é relativo, já disse o físico.

Hoje não me incomodam mais as representações deste dia com as tradicionais “caveirinhas mexicanas”. Antes sim, caveiras me pareciam fúnebres demais, porque eu também tinha esse olhar de quem lamenta e as caveiras eram assustadoras representações da falta.

Para além das modinhas, entendo o real sentido das culturas antigas que guardavam os crânios de cristal na intenção de honrar o que poderia representar a concentração de tudo que subsistiu em uma pessoa. Como se o crânio fosse a cristalização daquelas experimentações dela ao longo da vida, seus aprendizados, exemplos e evoluções, e contivesse também as memórias dos  momentos compartilhados conosco.


Para este dia minha intenção é celebrar esses elos que consigo enxergar nas histórias e momentos que compartilhei com quem já prosseguiu para outros planos, honrando as conexões que pudemos vivenciar e levando dentro de mim a riqueza do que pudemos sentir juntos, para além do tempo. 

Pra mim é um dia especial para olhar pra mim mesma e honrar tudo que levo vivo dentro de mim, me dando conta do quanto sou resultado dessas conexões amorosas que me foram possíveis. Dia de praticar a afirmação "Mitakuye oiasin", que quer dizer "por todas as minhas relações".