segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Como você toma seu café?

Durante muito tempo eu tomei café com leite e bastante açúcar. Eu demorei muito tempo para perceber o real sabor do café, sempre misturava coisas nele para diminuir a sensação de café amargo.

Até um dia em que ouvi de uma pessoa muito sábia que “o amargo é um sabor necessário”.

Nunca tinha pensado nisso, sempre que me deparava com algum sabor amargo eu “disfarçava” esse sabor acrescentando coisas que modificassem o resultado final ao paladar. Não é assim que fazemos com as saladas de folhas amargas, com o chás, os remédios para crianças e até com o nosso café das manhãs?

Naquela frase sobre o café havia todo um aprendizado que foi acontecendo a partir do paladar e se estendeu para outras áreas da minha vida.

Eu vivia uma vida muito amarga, mas eu não percebia isso. Trabalhava tempo demais e me sentia refém daquele emprego, tinha muita raiva das impossibilidades dessa situação e o excesso de preocupação com o futuro me colocava na defensiva em relação às novidades e surpresas da vida. Também comia muito doce nessa época, descia do escritório para a loja de doces todas as tardes e à noite ainda me dava um chocolatinho de presente, e claro sempre usava muito açúcar em todas as bebidas.

Me dei conta do quanto eu disfarçava minha própria insatisfação com aquela vida amarga trazendo o doce para a boca.

Aprendi que o açúcar anestesia as papilas gustativas e que quanto mais açúcar consumimos, menos percebemos o doce natural dos alimentos. É por isso que nas cafeterias se oferece um copinho de água com gás junto com os cafés, tomando a água antes o gás ajuda a limpar as papilas e ativá-las para que se possa perceber todas as notas do café em seguida.

O efeito do açúcar nas papilas é acumulativo então a tendência é cada vez usarmos mais açúcar para chegar no mesmo nível de doçura inicial. Uma droga.

Mas a atitude de adoçar o sabor a amargo do café era uma imagem nítida do quanto eu me negava a admitir o sabor amargo daquela minha vida. Negando o amargo, ele deixava de existir né? Só na minha cabeça, só no meu cérebro o açúcar tinha esse efeito de aniquilar o amargo, na verdade o amargo estava ali o tempo todo. O que eu estava fazendo era enganar os sentidos para não percebê-lo.

E foi com essa observação que eu fui me permitindo sentir o amargo do café. Aos poucos fui tirando esse excesso de doce e de açúcares da alimentação, tirando os disfarces e olhando com honestidade os sabores que a minha vida tinha. Fui aprendendo a conviver com aquele amargo, aprendi a reconhecer esse sabor, a entendê-lo e finalmente a aceitá-lo.

O amargo fortalece o coração e nos prepara para apreciarmos melhor tempos de real doçura. A medicina chinesa incentiva o uso de alimentos com sabor amargo para tratar as doenças do coração e há estudos médicos que relacionam alimentos amargos a uma melhora no nível de contração do coração, contribuindo para um funcionamento saudável desse órgão.

Hoje consigo tomar meu café sem açúcar e estou aprendendo a perceber os aromas que compõem uma safra ou outra e as pequenas diferenciações de regiões e intensidades. Também estou conseguindo conviver melhor com as minhas imperfeições, com as limitações e impossibilidades da situação de vida que tenho hoje e com as coisas que não tenho poder para controlar.

Dizem que para apreciar um bom café precisamos adquirir um paladar adulto. Ainda não cheguei nesse ponto não, mas já consigo estabelecer uma relação de respeito com os sabores amargos. Na boca e na vida, porque minha Lua está em Touro. Mas isso já é assunto para outra conversa :-)

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Eclipse em Leão – 21/08/2017

Eclipse Agosto 2017

Neste mês de agosto de 2017 vamos encarar toda a força do elemento fogo na morada de Leão. Teremos duas luas novas e um eclipse neste período, ativando as emanações dessa energia para todos nós.

Constelações são agrupamentos de estrelas que emanam consciência, e da constelação de Leão recebemos os influxos que nos permitem entrar em contato com nosso Eu mais verdadeiro. 

Quando a Terra e o Sol estão alinhados na direção da constelação de Leão formam um canal para recepcionar esses influxos afetando toda nossa atmosfera, impregnando o ar que respiramos e levando essa consciência para o nível celular. Falamos sobre o signo de Leão aqui no blog, vale a pena ler a descrição desse signo para se antenar com os ideais que estarão pelo ar neste período.

Todos nós reagimos a esse contato etéreo, alguns com percepção ativa outros nem tão perceptivos assim, mas o fato é que a energia nos atinge a todos. 

Nesse período, ficamos mais dispostos a uma valorização pessoal, olhando mais por nós mesmos e reconhecendo nossas necessidades mais que a dos outros. Também é um tempo de maior criatividade e passamos a ter vontade de colocar em prática os planos até então guardados só pra nós, a vergonha passa e queremos mostrar aos outros nosso melhor: nossas ideias, nossos dons, nossos filhos e criações.

Em 23/07/2017 tivemos a primeira lunação de Leão, a lua nova que marca o início deste ciclo e que coincidentemente caiu no grau zero da constelação em conjunção com o planeta Marte.

Marte é um planeta que nos estimula a sair da zona de conforto, de buscar aquilo que desejamos e de nos diferenciar dos demais. Conjugando esses valores de Marte com toda a consciência emanada de Leão, temos uma ativação dessa energia que nos mobiliza a buscar o melhor para nós e de usar nossas habilidades para nos destacarmos, inspirando uns aos outros a alcançar valores humanos mais elevados.


A energia de Marte também é de fogo e durante esta lunação este será o elemento mais presente por aqui: insights que chegam de repente, intuição ligada, vontade de realizar, ações impulsivas, tudo isso é efeito da energia do fogo em nós respondendo a essa conjunção astrológica. A vontade mais pura de cada um vai se manifestar de algum jeito e ligar os botoezinhos internos que promoverão um trabalho de autorreconhecimento e valorização.

E a ideia desse trabalho pessoal é retomar o controle da sua vida para que você tenha espaço de ser quem realmente é e fazer o que você quer mesmo. Marte é territorial e vai dar esse tom de comando para que os caminhos se abram e você possa brilhar com tudo que tem de melhor, colocar no mundo seus planos mais originais e se munir de coragem pra enfrentar qualquer crítica. Autoconfiança!

Mas como tudo neste universo é polar, quando não conscientes desse movimento podemos cair no lado negro dessa força toda e acabar ativando uma certa vaidade, um sentimento de superioridade e os mecanismos de defesa para fazer valer só a nossa vontade sobre a dos outros. Cuidado com a agressividade gratuita nas palavras e na convivência, sobretudo cuidado com os impulsos que nos levam a agir com algum risco à nossa segurança pessoal.

O ápice dessas ativações vai acontecer na lua cheia no dia 07 de Agosto, quando a Lua já em Aquário recebe toda a luz do Sol e reflete de volta para a Terra o poder magnífico dessas emanações celestes. Jogando a luz sobre nós, a lua vai nos mostrar em que área da nossa vida será necessário nos valorizarmos mais e buscarmos aquilo que merecemos, num contexto de colaboração coletiva em que todos evoluem e todos ganham. Marte vai fortalecer decisões tomadas neste tempo e dar uma dose extra de energia para que os movimentos possam acontecer.

Mas esse movimento todo não ficará restrito apenas a essa lunação pois teremos também uma segunda lunação em  Leão (lua nova) em que o alinhamento formará um eclipse solar (quando a lua passa na frente do Sol) no dia 21 de Agosto. 



Simbolicamente, a Lua ofuscando o Sol marca na Terra pontos onde há menos clareza para lidar com toda essa energia. Nas regiões atingidas pela sombra do eclipse é possível que existam eventos que dificultem o acesso da consciência leonina e promovam tempos de maiores desafios para a valorização do humano e sua dignidade. Talvez sejam os locais onde a manifestação negativa dessa energia tão forte aconteça.

Essa pausa da lua na energia ígnea acontece no decanato de Sagitário, atual morada de Saturno, mostrando também que os processos de valorização pessoal precisam nos aproximar do nosso propósito de vida, que este caminho é ao mesmo tempo uma satisfação pelas conquistas merecidas mas também uma inspiração para seguirmos adiante buscando novas etapas, novos merecimentos e novas criações. 

Em outras palavras, estaremos diante de um processo poderoso que chega para nos levar pra frente, nos fazendo perceber que ações com foco meramente individual não engrandecem, pelo contrário, apenas confirmam a necessidade primitiva de nos sentirmos especiais como crianças exigindo atenção. O tempo agora é de agir no nosso melhor mas para sermos inspiração para novos tempos, em que produzindo as melhores obras vamos contribuir para uma expansão coletiva.

Para os nativos do elemento fogo (Áries, Leão e Sagitário) o eclipse vai ser particularmente forte e dinamizar áreas da vida que podem ter estado paradas até agora. Vão entrar em ação Saturno e Urano, os deuses antigos que na mitologia fizeram a transição da Era do Caos (Urano) para a Nova Ordem (Saturno). 


Simbolicamente, será um tempo para retirar toda estagnação e ir em direção à uma reorganização pessoal onde seja possível se expressar com mais verdade, ir atrás do que realmente queremos numa ação fiel à nossa natureza. Nesse caminho podem aparecer desafios mais profundos que às vezes requerem humildade, resiliência e rupturas, mas sempre lembrando que tudo concorre para um aprimoramento e acaba sendo uma grande oportunidade de aprendermos mais sobre nós mesmos.

Se quiser saber mais sobre este período ou como ele pode te afetar pessoalmente, marque uma consulta astrológica comigo e vou ter o maior prazer em te atender. As informações para consultas estão aqui.

Desejo que esta breve reflexão tenha sido positiva pra você, nos vemos no próximo post!

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Lua Cheia no eixo Câncer-Capricórnio

lua receptividade

Nesta lua cheia da lunação de Câncer me senti levada a refletir sobre o princípio feminino, o elemento água e a receptividade.

Recentemente circulou pelas redes uma foto sugerindo com flores as fases da dilatação do útero quando a mulher está em trabalho de parto, numa ilustração muito bonita do quando o feminino significa esse florescer da vida.

Como doula, tenho a experiência de acompanhar mulheres se abrindo, por dentro e por fora, para receber uma nova vida e florescerem como mães. É sempre um momento mágico quando esse portal se abre no mundo físico, a começar pela fisiologia da mulher que recebe e promove dentro dela o crescimento do novo ser para que um dia a vida possa passar por ela e vir pra fora, brotar, nascer. Continuar.

Mas hoje eu quero falar sobre a dificuldade da gente se abrir para receber esse fluxo de vida, e que muitas vezes vem manifestado na fala da mulher que “não dilatou” no trabalho de parto.

Existe uma relação simbólica entre o signo de Câncer e o arquétipo da Grande Mãe, aquela mulher grandiosa que recebe todos os seus filhos. O signo de Câncer exalta os atributos do feminino, é ligado ao elemento água (manifestação da energia feminina) e simboliza a potência feminina de gerar uma nova vida, alimentá-la e sustentar com sua própria existência feminina (física e espiritual) a continuidade da vida na terra.

É no elemento água que ficam gravadas as memórias, e é no corpo feminino que fica gravada a programação do desenvolvimento de um novo ser. É o corpo da mulher que sabe como dividir e multiplicar células e átomos, combiná-los entre si para que formem órgãos, tecidos e membros, que num crescimento organizado, com simetria e beleza, se transformarão um dia numa criança. Uma nova criação.

O óvulo feminino também tem uma característica importante que é a capacidade de escolher o melhor espermatozoide para deixá-lo entrar e fundir-se na fecundação. 

Durante muito tempo se acreditou que esse mérito seria do espermatozoide “mais rápido”, numa alusão à primazia do caráter ativo masculino. Hoje, felizmente, a ciência corrige essa visão e atesta que na verdade o óvulo que detém uma inteligência para analisar qual espermatozoide resultará na combinação genética mais promissora, permitindo que ele “entre” e conclua a fecundação numa atitude de cooperação criativa.

Essa constatação é revolucionária em seu simbolismo porque remete a um outro nível de receptividade do princípio feminino. Já não é mais apenas uma ausência de atitude como simples passividade, de não ter outra opção a não ser não realizar, mas antes disso representa uma atitude em si só manifestada passivamente em permitir, deixar acontecer. 

Isso muda o foco, passamos do “não posso evitar”, para o “posso permitir”. 

Eu posso. Eu confio que posso.

Em Câncer as águas nos permitem, nossa memória ancestral ainda que inconsciente nos preenche dessa potência que antevê possibilidades, faz combinações de probabilidades e nos guia a novos objetivos e produções - e é daí que nascem os novos sonhos. 

Úteros são o lugar de onde vêm os sonhos e todas as novas criações. 

E a lunação de Câncer eclode na lua cheia em Capricórnio, o símbolo da competência máxima e da resiliência do elemento terra – que também é um elemento feminino. 

Não existem impossibilidades para Capricórnio, a vida sempre encontra uma forma de continuar.


A figura associada a este símbolo é o da cabra montanhesa, aquela cabra que anda nas encostas íngremes das pedras altas e muitas vezes fica no topo da copa das árvores das regiões áridas, numa demonstração de força e capacidade plena que lida com qualquer tipo de adversidade. 

E nessa relação arquetípica entre a Grande Mãe e a Cabra Montanhesa que se estabelece na lua cheia da lunação de Câncer, é que vislumbramos o grande potencial do princípio feminino: a continuidade da vida.

Acreditar nesse potencial é essencial para que os processos de maternidade aconteçam de forma saudável, e reconhecendo o trabalho de parto como uma conclusão do processo gerador é muito importante que a mulher se sinta confiante deste mundo como lugar para acolher aquela nova vida.

Mas nem sempre é possível alimentar essa confiança num mundo que é tão hostil com as mulheres, onde vivemos acuadas por violências quotidianas e sob um estrito código de comportamentos permitidos, onde não temos representatividade para tomar decisões coletivas e arcamos com nossos corpos as imposições de uma cultura machista, invasora e cruel.

Como permitir que aquela nova e frágil vida chegue nesse tipo de mundo?

Como protegê-la deste mundo?

Ter dificuldades para dilatar no trabalho de parto muitas vezes significa esse diálogo interno e inconsciente, que toma lugar naquele estado alterado de consciência quando os corpos femininos estão inundados de oxitocina e neurotransmissores que as conectam com a fonte da vida. É nesse templo sagrado feminino que toda a angústia de ser mulher se manifesta e que, numa atitude instintiva, se traduz num proteger sem fim que retém a energia criadora dentro de si mesma.

Estou propondo aqui a imagem do trabalho de parto, mas no fundo estou falando de todas as nossas criações, todas as nossas obras. Porque podemos ser mães de muitos sonhos.

O que mais você criou e não pôde trazer ao mundo?

Que sonhos foram interrompidos e não tiveram a chance de chegar?

Interromper o fluxo de criação da vida com o medo pode perigosamente destrutivo. As doenças femininas, os cânceres, as dores do não permitir que a vida aconteça são marcas vivas de que não foi possível confiar.

Tão importante é acreditar na continuidade da vida e na capacidade que cada ser tem em si de fazer o melhor apesar das condições dadas. Ter dentro de nós a certeza disso é todo um trabalho interior a ser feito e refeito dia-a-dia, mas essencial para nós mulheres podermos seguir em paz com nossa natureza sonhadora e geradora de novidades.

Que nesta lua cheia possamos todas meditar nos simbolismos do eixo Câncer- Capricórnio, pacificando dentro de nós o fluxo dos sonhos e das criações, permitindo que a energia criativa nos atravesse e nos traspasse para ganhar o mundo, para que todo nosso potencial feminino possa se manifestar em harmonia com a natureza, dilatando sempre para florescer plenamente a alegria de sermos mulheres.










quinta-feira, 22 de junho de 2017

Invernidades

Eu gosto muito de observar a vida partindo do conceito hermético que diz que “o que está dentro é o mesmo que está fora”. Essa forma de entender a vida para mim é muito rica e me permite fazer algumas associações que me ajudam a passar por certos períodos mais desafiadores. Como numa grande espiral, posso seguir em qualquer direção dela que sempre estarei andando pra frente, seja indo para dentro, seja indo para fora.

Deu pra perceber que eu adoro metáforas, né?

Gosto mesmo, as metáforas me ajudam a viver com mais poesia e trazem uma inteligência visual que dá muito sentido e beleza para aquilo que a vida me propõe.

É nesse sentido que quero fazer essa reflexão de hoje, dividir com vocês algo venho vivenciando há algum tempo e que está se concluindo agora no Inverno, a estação da compreensão das coisas.

Em janeiro deste ano eu encerrei conscientemente uma etapa da minha vida profissional, foram muitos anos trabalhando na advocacia e que definiam meu comportamento, meu jeito de falar e até minhas roupas e sapatos: “Olá, eu sou fulana, advogada.”

Mas há alguns anos atrás os desejos começaram a mudar de direção, me dei conta que os assuntos que realmente me interessavam me colocavam numa busca por outra forma de viver e de me relacionar com as pessoas, me levavam a questionar minhas práticas de trabalho diárias e a quem meu trabalho beneficiava. A direção na espiral tinha mudado e eu passei a olhar pra dentro.

E foi então que aquela fonte de materialização começou a secar e esse ciclo se encerrou, e eu me deparei com a possibilidade de levar uma vida mais coerente com o que eu acredito e com outras habilidades que, na minha opinião, ajudam mais efetivamente a construir um mundo melhor para todos, incluindo eu mesma.

Mesmo assim, a sensação que veio foi o medo. Medo do novo, medo de não dar conta, medo de ter feito a opção errada. E agora?

E aí chegam as metáforas da vida: eu prendi a mão na porta e quebrei o dedo. O dedo do meio, aquele que na quiromancia é o dedo do trabalho, de Saturno – o ceifador do tempo, aquele que impõe limites e não te pergunta se está doendo, apenas te faz acordar com os pés no chão para lidar com a sua realidade sem ilusões. Era isso.

O dedo foi esmagado, os ossos e os ligamentos esmigalhados. Que dor!

Segundo o médico, era uma lesão que não se recomporia mais. Senti o dedo sendo esmagado continuamente por vários dias, uma memória do trauma, segundo ele. Precisei me adaptar e fazer as coisas do dia a dia de outro jeito, ajustar o jeito de escrever, de digitar meus textos, de dirigir o carro, de cozinhar e até o jeito de fazer um carinho nos filhos eu tive que mudar.

Olha o novo aí!

Em tudo que eu fazia com a mão direita precisava colocar toda minha atenção para não sofrer novos impactos e não piorar a dor. Com esse exercício constante de atenção fui percebendo como eu fazia as coisas do dia a dia antes, sempre sem tempo pra nada, sempre na “correria” de trabalho-casa-filhos-marido. Tudo que eu fazia era como dava, tinha que dar conta de tantas atividades que não podia ficar pensando muito nem falando muito com ninguém, muito menos prestando atenção no que outro dizia. Afinal, ouvir o outro significava menos tempo para cumprir aquela maratona. Ouvir o outro era muita perda de tempo...

Mas lá estava eu, sem nada pra fazer e com a mão imobilizada. Tive que reaprender a dividir o tempo na minha cabeça e criar uma nova organização pessoal, dar um novo ritmo para as coisas.

E foi assim que durante o outono fui vendo algumas situações e pessoas se afastando de mim, eu não tinha mais como agir para segurá-las com a minha “mão quebrada” e não tinha mais aquela autonomia nem a energia para acompanhá-las. Alguns trabalhos eu simplesmente não tinha mais como fazer. A minha opção naquele momento era apenas observar. Eu estava aprendendo a contemplar.

E essa contemplação alcançou a mim mesma também, passei a notar mais os meus comportamentos e a minha maneira de falar e percebi como eu deixava de me posicionar por não ter uma fala coerente com quem eu era. Minha fala era a da “fulana, advogada”, sempre preocupada em agradar e unir pólos como fazem os advogados

Me dei conta de quantas vezes eu fiquei dourando pílula quando queria mesmo era "mandar às favas", de ocasiões em que eu precisei defender meu território e deixei de fazer para não ser "desagradável" com o outro, o quanto eu queria ter dito NÃO em certas situações e não disse para manter aquela coerência com a figura da advogada, toda certinha e educada. Quantas vezes deixei de estar do meu próprio lado...

Eu queria muito mandar essa personagem de advogada embora da minha vida!

E então nesse período eu recebi um telefonema me pedindo para ir fazer uma entrevista como advogada para preencher uma vaga de trabalho. Precisava do dinheiro, decidi ir.

A mão estava melhorando mas a unha do dedo quebrado estava horrível, tinha caído e a nova estava toda torta. E para ir nesse compromisso não tive dúvida: colei a unha antiga sobre a nova e passei um esmalte, ficou joia! E lá fui eu pra entrevista toda montada de advogada de novo, pensando comigo: tudo certo.

Mas não era mais eu ali, aquela era uma pele que não servia mais. Me senti colada a uma aparência que não era mais minha enquanto tentava me ver ali num lugar onde eu não cabia mais. Era muito desconfortável, os pés no salto alto fizeram meus joelhos doerem por semanas. 

Colando lembra apegando né? Pois é, apego. Colar a unha velha foi a metáfora perfeita.

Decidi que não iria dar continuidade naqueles processos de recolocação profissional, e por "coincidência" não me responderam até hoje sobre o resultado dessa seleção, nem das outras que eu já tinha participado antes.

E aí que a vida veio com seus saberes e mistérios, só depois da minha decisão e quando o caminho já estava definido. Nas semanas que se seguiram aconteceram coisas realmente incríveis que me fizeram perceber o quanto eu já tinha caminhado em outras direções e não fazia sentido tentar voltar pra trás naquela velha estrada.

Primeiro, fiz um trabalho de identificar os padrões familiares que me conduziram aos caminhos percorridos e, em contraponto, reconhecer e assumir os meus próprios padrões com a percepção de vida que tenho hoje, transformando e reprogramando esses caminhos internamente numa vivência xamânica muito bonita chamada Roda da Transformação. Foi muito especial sair dessa vivência sabendo que hoje eu tenho recursos internos já desenvolvidos que me permitem lidar com o medo do novo, que o novo pode ser bom e que eu posso confiar em mim mesma pra dar conta desse novo que virá.


E alguns dias depois dessa vivência, fui liberada para começar a fazer o estágio em psicanálise, comecei a atender meus primeiros 3 pacientes sob supervisão até eu terminar o curso.

Isso me encheu de confiança!

Ser liberada para começar a atender significa que consigo dar conta dos meus próprios conteúdos e que posso sim ajudar outras pessoas a partir do meu olhar e da minha experiência de vida que já foi analisada. É uma confirmação de que tenho capacidade e de que já trilhei uma parte considerável desse novo caminho, que posso seguir em frente por aí.

Ao lado disso tudo começaram a chegar mais pessoas para as terapias que eu já desenvolvo (astrologia, tarot terapêutico e florais), todas indicadas por quem já foi atendido por mim e todas mulheres na fase de maternidade - justamente o perfil que eu mais gosto de trabalhar. Certamente meu trabalho impactou essas pessoas de forma positiva a ponto delas me recomendarem a outras, uma confirmação linda de que ser autêntica e fazer o que eu realmente gosto é um "novo" bom pra além de mim.

Tudo isso me reafirmou que posso produzir materialmente de outra forma agora e que o resultado do meu trabalho vai se manifestar por esse outro caminho também, mesmo que ainda seja curto e meio torto mas, assim como aquela unha nova, uma hora vai se alinhar e ficar bom de novo.

Entendi as confirmações e chegando no inverno, essa estação onde a gente se recolhe por conta do frio e passa a economizar energia se movendo menos e observando mais, estou concluindo esse aprendizado que veio com os ventos. Foi com dor e está acontecendo bem devagar, mas essa poética da vida está me ensinando no tempo que eu dou conta. 

A unha nova agora já cresceu, mas o dedo ainda está sensível e não consigo fazer as mesmas coisas que eu fazia antes com a mão direita. Alguns movimentos eu tive que adaptar para seguir usando a mão, da mesma forma como a vida me propôs toda essa adaptação para eu seguir em frente.

Não tenho mais tocado piano, mas ainda posso tocar violão.

E todo esse processo virou uma canção nova, no tempo do elemento ar.

Espero que gostem!



domingo, 7 de maio de 2017

A Lua

Verbenna Yin A Lua Marseille
E então chegamos no arcano XVIII, a Lua: a Senhora que reina absoluta na noite, dona das águas e das marés, que comanda a direção das emoções, o final da infância das mulheres, a duração das gestações e a chegada das almas neste mundo.

Na carta vemos a lua altiva entre duas torres e um crustáceo querendo sair da água e percorrer o caminho até o horizonte. O caminho é guardado por um cão e um lobo, mas ambos estão hipnotizados pela Lua que manda seus raios em forma de gotas na noite escura.

As duas torres ao fundo representam o Ego e mostram que o consciente aqui fica ao longe, este não é o lugar de racionalizações. Aqui o território é das águas profundas do inconsciente, o território das emoções, na imensidão escura e sombria onde moram os desejos, as dores e os medos guardados por toda uma vida.

Nesse território noturno e cheio de sombras a visão tem pouco valor, porque não é pelo raciocínio que vamos perceber esse ambiente. É pelo sentir que adentramos o território da Lua, toda a comunicação com esse reino acontece no corpo físico e a partir das emoções.

Um mito que eu gosto muito e que está associado a esse arcano é a lenda da descida da deusa suméria Inanna (ou Ishtar) aos reinos do submundo de sua irmã Ereshkigal – que era grande, assustadora, devorava tudo pela frente e cheirava mal.

Inanna é levada para esse reino, é deixada sozinha e precisa atravessar 7 portais. Em cada um deles deve se despir de seus ornamentos de deusa e de seus 7 véus. Quando Inanna já nua finalmente se encontra com a irmã, Ereshkigal não a recebe. Ao contrário, ataca Inanna lançando sobre ela sentimentos de ódio e culpa que acabam por matá-la sufocada. Somente depois de 3 dias morta nos reinos escuros do submundo, Inanna retorna à vida guiada por dois serviçais de sua casa natal.

O ponto é que para conhecer os mistérios do arcano da Lua é preciso essa entrega total ao inconsciente, desarmar-se dos mecanismos de defesa e despir-se da autocrítica, da socialização e de qualquer educação. No território da Lua as emoções são brutais.

Entrar em contato com as forças brutas do inconsciente não é uma tarefa agradável, esses conteúdos ficaram guardados no escuro por muito tempo e “cheiram mal”. Perceber-se nesse lugar causa muita confusão e medo, as imagens não são nítidas e a linguagem aqui não é mais a lógica racional. É preciso viajar pelas representações de realidade que vêm das memórias.

Não raro, quando vivemos a situação simbolizada pela Lua estamos atravessando um período de confronto com situações do passado guardadas por muito tempo, situações que não foram bem elaboradas e que muitas vezes nem lembramos mais, guardamos no cantinho escuro da memória e para evitar nos machucar não mexemos mais ali. Mas essas memórias antigas estão vivas e não olhar pra elas nos sufoca, talvez até mesmo fisicamente causando síndromes de pânico e ansiedade.

Verbenna Yin A Lua Artemis
Os desconfortos físicos aparecem porque não temos clareza do que se tratam esses conteúdos, ainda não conseguimos decodificar essas memórias e algo em nosso dia a dia pode funcionar como gatilho para o inconsciente associar então o que vivemos hoje com essa representação do passado. Nossas sombras se apoderaram de nós.

Sem poder ver com nitidez, andamos no escuro e isso aflora nossos medos, os espinhos e as pedras nos machucam. Por isso sentimos dores, aquelas dores sem explicação, as dores que caminham pelo corpo, as fibromialgias.

Segundo Jung, nosso mundo interno é composto por uma região consciente que contém conhecimentos e lembranças que podemos acessar facilmente, e por uma região inconsciente que concentra aspectos de nós ainda não reconhecidos e, por isso, não desenvolvidos: a nossa sombra.

É nas sombras do inconsciente que estão localizadas essas forças que não puderam ser expressadas quando certos eventos aconteceram: um talento que a família não apoiou, aquele jeito de ser inadequado, a culpa pelo desejo que era pecado, a raiva de ter sofrido violência, a dor do filho que não veio, o acidente que me levou pra longe de onde eu queria ir...

Mas a vida não para e seguimos em frente negando os efeitos desses acontecimentos em nós, sem aceitar essas partes de nós porque julgamos que são erradas, imorais, feias, doloridas. Essas partes de nós “cheiram mal” e vão nos devorando pouco a pouco.

Enquanto estivermos na negação de nós mesmos vamos andando em círculos e sem sair do lugar, com a cabeça baixa e reabrindo as feridas sem perceber. Sem olhar para a Lua e sua claridade, vamos ficando isolados e presos na noite escura, nas depressões e nas esquizofrenias.

E assim vamos tocando a vida querendo acreditar que está tudo bem e que vamos conseguir viver em paz sem sentir falta dessas partes de nós que ficaram perdidas pelo caminho. Isso é apenas a mente e nossos mecanismos de defesa tentando impedir nosso crescimento, ainda queremos ser cuidados.

Tudo que está lá na escuridão do inconsciente é a nossa mais pura energia vital que foi aprisionada, é de lá que deveria vir a nossa “bateria” para a vida e crescimento, nossa força propulsora de criação e todo potencial de realização no mundo físico. Evitar o contato com a Lua é perder nossa energia de vida porque interrompemos o fluxo criativo que nos alimenta dia a dia, é ficar sem a nutrição psíquica que vai nos levar à real maturidade.

Quando passamos os anos fugindo do nosso passado e negando partes de nós ficamos desvitalizados e sem poder realizar nossos planos no mundo, nossos planos vão dando errado um após o outro porque não temos recursos para mantê-los vivos e florescerem. É o “efeito Sombra”.

Até o dia em que chega a iniciação da Lua e não podemos mais escapar desse reencontro. É nesse momento que a linda e perfeita deusa Inanna morre, atacada pelo ódio e pela culpa sufocantes. Essa morte simbólica acontece quando essas emoções tóxicas guardadas por tanto tempo conseguem vir à tona numa catarse do corpo que vai mostrar para o consciente nossa imagem real e o que o passado nos tornou. Os processos físicos de dores e falta de ar são essas catarses, o arcano da Lua vem pelo corpo.

Verbenna Yin A Lua Inanna
Quando finalmente nos entregamos para a experiência proposta pela Lua a nossa atitude deve ser como o princípio feminino que ela representa: a mais profunda aceitação.

Aceitar nossa história com tudo que nos aconteceu e ainda dizer sim a nós mesmos são a chave que este lindo arcano nos propõe.

Da mesma forma que no mito são os serviçais da casa de seu pai que fazem Inanna voltar à vida, dizer sim a tudo que recebemos de nossa ancestralidade, coisas boas e ruins, entendendo esse passado, perdoando sinceramente o que nos fizeram e nos perdoando por não poder fazer diferente, aceitando que tudo aquilo nos fez ser quem somos, damos um grande passo para recuperar nossa integridade.

A integridade acontece quando podemos colocar todos os eventos na nossa linha do tempo, sem negar nem esconder nenhum deles por mais doloridos e difíceis que tenham sido. Tudo fez parte da caminhada e nos levou ao lugar que ocupamos hoje no mundo, de forma que honrar esse percurso é voltar a ficar em paz com tudo o que vivemos.

A carta da Lua simboliza essa aceitação para que a integridade se restabeleça trazendo a cura para nosso passado. Sim, doeu, doeu muito, mas é o momento de nos curarmos disso permitindo que essas energias guardadas se expressem, chorando todas essas dores e emoções até que elas atravessem o nosso corpo e passem "para fora" para ficarmos livres de suas correntes, permitindo que esse tecido desinflame e cicatrize.

Passamos pela noite escura da alma mas a aurora de um novo dia está chegando. Ao estarmos íntegros, restabelecemos o fluxo de energia de vida para todas as partes de nós e abrimos caminho para experimentar o arcano seguinte: O Sol.

Não é a toa que o arquétipo da totalidade é o círculo, da mesma forma que a lua é circular a busca pela integridade faz seu caminho na perfeita união de todas as nossas partes. O próprio Jung indicava o trabalho com mandalas para que seus pacientes pudessem se reorganizar psiquicamente ao lidarem com suas histórias de vida, denotando o poder desse símbolo.

mandala Jung Verbenna Yin Tarot a Lua

Quando a carta da Lua aparece numa leitura é sinal de que aquele é um tempo para dar atenção aos sonhos, insights e flashes de memória que estiverem aparecendo pois são conteúdos do inconsciente que estão prontos para serem reconhecidos e elaborados. Talvez um trabalho de regressão de memórias ajude a colocar tudo em seu lugar.

Também indica um tempo de aprendizados muito importantes e finalizações de ciclos, onde o perdão e a aceitação precisam ser vividos de verdade para restabelecer uma harmonia com a nossa história e nossa ancestralidade, nos preparando para um novo momento de vida.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

terça-feira, 4 de abril de 2017

Os Desapegos do Outono

As estações do ano são promovidas pelo posicionamento do planeta em relação ao Sol. A Terra possui uma inclinação e mantém os movimentos de rotação num eixo imaginário que ora está mais próximo do Sol, ora mais distante. O distanciamento do Sol causa uma diminuição da quantidade de energia solar disponível em determinadas regiões, o que, por sua vez, resulta num ambiente energético distinto e com características próprias – as estações.

No Outono estamos vivendo a estação em que o ambiente energético produz uma resposta da natureza: o desligamento. As flores vão murchando, os frutos amadurecendo, as folhas vão se destacando e caindo pelo chão. O tempo do florescimento passou, agora é hora de manter aquilo que é essencial, estrutural. A energia vital vai começar a se recolher no tronco das árvores, mantendo os recursos concentrados no que é realmente importante e que dá sustentação para a vida prosseguir.

Assim também vai acontecendo conosco, vamos nos desligando de pessoas e situações que não têm mais como florescer. Nós também respondemos a essas energias porque elas estão circulando entre nós o tempo todo, atravessando nossos corpos e convivendo com os nossos pensamentos. Responder a essa energia é a natureza em funcionamento.

É geralmente no Outono que somos surpreendidos com o encerramento de alguns ciclos, aquelas situações que vinham se arrastando há anos e se resolvem de uma vez. Deixamos de ter vontade de realizar certas coisas, de frequentar certos lugares e de encontrar com algumas pessoas.

Também é no Outono que acontecem aqueles desentendimentos que a gente não sabe como aconteceram, mas as pessoas simplesmente vão embora da nossa vida. Os vínculos se enfraquecem e de repente rompemos com anos de relacionamento.

Mas se pararmos pra pensar, aqueles relacionamentos e situações não eram mais saudáveis pra gente, eram tóxicos e não promoviam mais o nosso crescimento. Aquelas pessoas e situações na verdade representam partes de nós que estão "morrendo" para dar lugar a outras manifestações, expressões e talentos.

Precisamos desses espaços psíquicos para que nosso desenvolvimento aconteça e essa mobilização é uma reorganização de dentro pra fora, o reflexo disso é que vamos criando novos espaços na nossa vida externa também.

 Todos esses desligamentos são uma “poda” que vai acontecendo naturalmente e, na maioria das vezes, sem a gente se dar conta porque na correria do dia a dia nem sabemos em que estação do ano estamos.

Mas o fato de não nos darmos conta dessa integração da natureza com a nossa vida pessoal não impede que as coisas aconteçam. Pelo contrário, se não estamos conscientes disso a nossa resposta às energias é ainda mais intensa e acabamos projetando nos outros essa movimentação que acontece dentro de nós. E para que o desligamento aconteça, vamos atraindo uma situação insustentável onde o rompimento acaba sendo inevitável.

É aí que a faz muita diferença essa observação do mundo de forma integrada, porque viver um rompimento importante é sempre dolorido e se não estivermos conscientes do processo podemos nos sentir culpados pelo que aconteceu – o que faz essa dor durar mais tempo do que necessário.

Se você estiver vivendo uma fase de desapego, lembre-se que isso é resultado do Outono chegando na sua vida e essa bela metáfora tem muito a nos ensinar sobre nós mesmos e nossos relacionamentos. Não se culpe, observe as movimentações e procure ligar os pontos para entender o que não te serve mais e o que é essencial de verdade. Tudo é aprendizado.


segunda-feira, 20 de março de 2017

Ano Novo Astrológico 2017


Hoje 20/03/2017 começa o ano novo astrológico, quando a Terra se alinha ao Sol na direção do primeiro grau da constelação de Áries - o ponto vernal.

Todo ano novo traz consigo a oportunidade de renascimento e aqui no nosso hemisfério Sul vivemos o ano novo astrológico sempre com a marca do equinócio de Outono, a virada da estação que pede desaceleração, calma e interiorização.

O mapa do novo ano astrológico vem marcado por grandes transformações individuais e coletivas, e todos estaremos suscetíveis a viver um período de situações que desafiarão nossas certezas sobre como agimos e nos relacionamos neste mundo.

Somos realmente livres para fazer aquilo que desejamos na vida? Ou vivemos em um sistema que determina os desejos "aceitaveis"?

Temos liberdade para nos relacionarmos de forma equilibrada com os outros? Ou ainda estamos presos nas ideologias ultrapassadas que promovem o desentendimento, e acabamos segregando as pessoas sem vivenciar a unidade e o pertencimento?

Sentir-se livre para fazer escolhas é mais complicado do que parece, às vezes não nos damos conta do quanto estamos aprisionados em sistemas e condicionamentos que nos deixam ver apenas um aspecto da realidade. Neste Outono a proposta é ir para dentro e perceber que amarras são essas que acabam servindo de “viseira” e limitam o nosso olhar. Agora é tempo de enxergar além.

E o quanto nossas escolhas individuais impactam a evolução do coletivo?

Essa reflexão será bem profunda porque estamos também iniciando um período sob a regência astrológica de Saturno, que está justamente em Sagitário nos propondo a revisão das crenças que impedem o nosso desenvolvimento e a autorresponsabilidade para corrigir nossos passos.

Serão 36 anos sob a regência desse majestoso planeta que sustenta a consciência da ação correta, dos limites respeitosos, das estruturas bem fundadas e do aprimoramento constante, e que iniciará essa jornada de amadurecimento de mãos dadas com a Lua, a consciência do feminino enquanto força geradora da vida.

Coletivamente, o aprimoramento virá também com o respeito à vida e o acolhimento das novas ideias sobre a convivência entre homens e mulheres, entre humanos e animais, entre a humanidade e a natureza, deixando para trás aquelas falsas certezas que não pertencem mais a este tempo.

Já é tempo de estabelecermos novos paradigmas de um progresso real, sairmos de um modelo que privilegia apenas alguns individualmente para dar lugar ao desenvolvimento baseado em práticas corretas e responsáveis, que permitam o crescimento de todos em equilíbrio uns com os outros e com nosso ambiente.

Feliz ano novo!

segunda-feira, 6 de março de 2017

A Estrela

Verbenna Yin Tarot A Estrela Psicanálise Winnicott Melanie Klein
Esta carta linda e serena nos mostra uma mulher nua na noite clara, iluminada por uma estrela  e
refletida na água aos seus pés. Esta imagem é uma evocação ao nosso ambiente de nascimento, de como chegamos a este mundo.

Toda vida se inicia na água e do ambiente aquático foram evoluindo os répteis, aves e mamíferos. Durante os nove meses de gestação ficamos inseridos numa bolsa de líquido amniótico e é na água que se encontra todo o potencial de geração de novos seres, de qualquer espécie animal ou vegetal. Sem água não há vida.

Além da água, precisamos também de luz e calor. É a luz que garante o crescimento saudável das espécies e dá energia para cada etapa dessa evolução. Nossa estrela maior é o Sol, que com sua luz e calor promove o crescimento dos ossos e o regular funcionamento dos hormônios de crescimento do corpo humano.

Em alguns decks de tarot esse arcano é representado com sete estrelas, remontando à constelação das Plêiades – um conjunto de sete estrelas com uma estrela central chamada Alcione. Algumas linhas esotéricas consideram que a vida inteligente chegou na Terra por intermédio dos seres dessa constelação.

A ideia central do arcano é, portanto, um retorno às origens. Da mesma forma que nascemos das águas de nossas mães e completamente nus, a carta da estrela propõe justamente esses símbolos como um reinício da nossa jornada.

Tarot A Estrela The StarNa psicanálise moderna a fase de amamentação é levada muito a sério para verificar a saúde mental de uma pessoa. Existe a abordagem sustentada por Winnicott e Melanie Klein que considera o começo da vida como a base de todo o desenvolvimento psíquico do indivíduo e que suas capacidades de relacionamento com os outros e com o mundo dependeriam inteiramente do sucesso do aleitamento.

Ao ser alimentado de leite e de afeto, o bebê tem sua necessidade atendida e isso promove nele uma sensação de bem estar e de confiança, pois basta que ele queira e a necessidade é atendida. Ele se sente o criador dessa satisfação e isso vai reforçando no pequeno bebê que ele é capaz e o mundo pode lhe dar o que ele precisa. Ele aprende a confiar e assim passa a se sentir seguro neste mundo externo.


Nessa fase, o cérebro ainda não possui a área onde ficam armazenadas as memórias. Segundo a atual neurociência, o cérebro leva cerca de dois anos para se desenvolver completamente e deixar essa área pronta para funcionar. O resultado é que durante esse primeiro período da vida, o bebê registra essas memórias no corpo, nas sensações corporais.

Então o bebê pode registrar tanto a sensação prazerosa de ter suas necessidades atendidas, como também toda ansiedade, desgosto e frustração de não ser atendido – o que igualmente fica registrado no corpo.

Um corpo com muitos registros de desprazer não consegue confiar na abundância do mundo e na segurança dos afetos dos outros. É preciso fazer toda uma reprogramação desses registros para que o Ser possa se sentir novamente inserido nessa grande teia humana e confie que vá receber do mundo e dos outros tudo aquilo que precisa para existir com segurança e ser feliz.

Uma pessoa que cresceu com fortes inseguranças e a sensação constante de ansiedade aprende a desconfiar de tudo e de todos. Uma criança abandonada nos primeiros anos de vida aprende que o mundo não é generoso e que o que ela precisa é muito difícil de ter e requer muito esforço para conseguir.  Sua percepção será de que tudo depende somente dela e ela não poderá contar com ninguém. Então precisará se esforçar mais que os outros, realizar mais, competir e estar à frente sempre para poder sobreviver.

Mas essa é uma atitude que vai gerando cada vez mais ansiedade no indivíduo porque não é possível chegar a uma satisfação real com o mundo nesse ritmo de desconfiança, pelo contrário, a tendência será continuar se sentindo isolado e não preenchido porque sua real necessidade de satisfação não é material (objetos), mas sim emocional (afetos).

Foi isso que faltou para essa pessoa lá atrás no início da vida: afeto e acolhimento.

Thot Tarot the Star
Somos seres coletivos e existimos coletivamente, somente chegamos na compreensão máxima de quem nós somos quando passamos pela experiência promovida pelos “espelhos” da convivência: quando podemos diferenciar o que é verdadeiramente nosso do que é a projeção do outro em nós.

No arcano anterior vimos que a Torre destruiu todas as falsas crenças e aquela frágil construção de um Ego que não correspondia à verdade interna do sujeito.

Agora, nesta carta seguinte, o sujeito está renascendo e reconstruindo o seu Ego, as máscaras caíram e as crenças que ele tinha sobre si mesmo estão em profunda reformulação.

Depois dessa destruição toda ainda não se sabe que chão é esse em que estamos pisando, mas nossa luz interior, nossa Estrela, será a guiança que precisaremos nessa fase.

Agora, o Ser está descobrindo quem ele é de verdade e qual sua essência mais verdadeira. Está percebendo que o mundo pode sim responder generosamente concedendo aquilo que ele precisa, que as pessoas podem ser boas e afetuosas e que há um novo jeito de se relacionar com o mundo.

Então aqui ele está sendo amamentado novamente, está sendo alimentado e nutrido pela vida e reaprendendo a confiar. O resgate dessa confiança no mundo e nos outros é o que a carta da Estrela vem retratar.

A carta da Estrela também nos propõe estarmos presentes nesse processo, ou seja, que nossa mente esteja atenta e nosso coração aberto para percebermos essa necessária mudança de paradigma na visão de mundo. A carta da Estrela simboliza uma atitude mental.

Uma pessoa com a mente atenta e disponível vai conseguir estabelecer metas de satisfação pessoal possíveis e se dar conta de onde consegui-las, vai acreditar no seu potencial de realização no mundo e não vai desperdiçar as oportunidades que chegam para construir sua realidade. Também poderá se sentir feliz e em paz com o mundo e com os outros, sem comparações desnecessárias que acabam afastando as pessoas de quem gosta.

É aqui que entra o princípio hermético da correspondência, atraímos aquilo que somos. Quando a pessoa sabe quem ela é de verdade consegue vibrar essa informação naturalmente e o Universo responderá atendendo de volta aquela vibração. A tensão acaba e tudo se torna mais leve e mais simples, pois já não serão necessários grandes esforços para ser e existir.

Quando a carta da Estrela chega numa leitura geralmente foi depois de um profundo aprendizado onde a pessoa perdeu algo que lhe era muito caro e está recomeçando numa nova etapa de vida.

É a hora de assumir que você venceu a si mesmo, hora de se entregar à sua verdadeira natureza e deixar fluir sua essência mais pura para ser levado com toda amorosidade a uma nova vida que refletirá seu verdadeiro Eu.

Tarot A Estrela

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A Torre

Tarot A Torre
E então chegamos a ela, a implacável Torre.

O arcano mais temido do Tarô nos mostra a imagem de uma construção em ruínas, atingida por um raio que rasgando a noite escura despedaça tijolos e lança as pessoas abaixo.

Aqui temos o arquétipo da queda, do choque de realidade. Uma estrutura não suportou o impacto da luz.

É na luz que se apresenta a verdade, a nossa verdade só pode ser vislumbrada quando iluminamos nossos lugares mais recônditos e obscuros, aquelas partes de nós que ficam invisíveis para os outros e, principalmente, para nós mesmos. As partes que não queremos ver e que deixamos lá no escondido do nosso inconsciente.

Quando a luz chega, mesmo que rapidamente como um raio, já não é mais possível não notar aquelas verdades todas que ficaram escondidas: elas saltam para fora e a gente "abre a cabeça".

E diante da verdade iluminada, o Ego desaba. Cai do alto da torre sem proteção nenhuma já que aquela estrutura que o sustentava era falsa e não tinha solidez suficiente.

Tarot A TorreO Ego é construído ao longo da nossa infância a partir dos retornos que as pessoas do nosso entorno nos dão e da nossa percepção a respeito do que é valorizado em nós. Num ambiente onde há lugar para a criança se expressar livremente, o Ego é construído de forma saudável e mais próximo do que sua essência é realmente. 

Já num ambiente mais restritivo, com muitas exigências e expectativas dos outros, a essência da criança não pode ser completamente mostrada e esse Ego vai sendo construído sobre os atributos que os outros valorizam – e que muitas vezes destoam dos atributos naturais da pessoa.

As restrições e exigências do mundo externo podem também ir formando uma pessoa muito rígida e inflexível, que na busca de atender o modelo imposto vai passando por cima dela mesma e adquirindo até uma expressão física mais dura e austera, que reflete todas aquelas restrições de movimento do Ser interno.

Além disso, vivemos numa sociedade ocidental que valoriza somente uma certa educação, alguns comportamentos e determinados tipos de inteligência. Apesar da diversidade natural dos humanos, nos esforçamos para atender essa demanda e sermos aceitos no jogo. Assim, incorporando os valores dos outros e da sociedade onde nos inserimos, o indivíduo vai construindo seu Ego atendendo todas essas expectativas alheias para ser aceito, bem recebido e prosperar naquele sistema de crenças que valoriza apenas certos atributos.

E quanto mais vamos “prosperando” nesse ritmo de vida, o mundo externo parece que vai validando as nossas “boas” escolhas e a nossa forma “aceitável” de expressão, e vamos tendo a impressão de que estamos no caminho certo, no caminho do sucesso.

É aí que a Torre da carta vem simbolizar o nosso Ego, representando ali a ideia que temos de nós mesmos, nossa autoimportância.

Em todas as culturas encontramos monumentos que marcam no tempo as conquistas de seus povos, os obeliscos. Torres bem altas construídas nos territórios conquistados, quanto mais altas, maior a importância da conquista e do respectivo conquistador.

Tarot A Torre

Os obeliscos dos nossos tempos são os edifícios cada vez mais altos que desafiam as regras da engenharia como o Empire State Building, o Burj Khalifa e a Torre de Xangai.

Todas essas torres são símbolos de domínio e poder, e mais, são símbolos fálicos, nos lembrando que o poder é masculino e que para atingir esse nível de reconhecimento precisamos desenvolver um raciocínio e um comportamento mais masculino também – o que tem implicações muito sérias para a saúde mental e física das mulheres.

E então chega a iluminação repentina, o raio que vem mostrar numa fração de segundo que todo aquele Ego construído sobre os valores externos não tem sustentação nenhuma. E a nossa verdade interna que estava lá guardada a sete chaves aproveita esse momento para romper com as estruturas psíquicas e se apresentar claramente, como se dissesse:

“Ei, este aqui sou eu. Me veja como eu sou. Me aceite.”

Tarot A torreEste ser interno, essencial, sempre esteve lá mas agora é possível vê-lo e notar sua existência. A Torre é esse momento de ruptura em que o indivíduo se dá conta de que ele não é quem pensava ser - e geralmente este arcano se utiliza de momentos difíceis e desafiadores para que esse encontro aconteça.

A vida parece que vai nos colocar a toda prova e nossa única opção será enfrentar aquilo de que temos mais medo.

Uma doença, um acidente, uma separação repentina, uma demissão, são exemplos de situações trazidas pela Torre na vida prática onde o indivíduo terá o trabalho de ir além do que ele já conhecia sobre si mesmo.

Por isso a associação entre o arcano da Torre com o trânsito astrológico de Marte, a conquista sobre si mesmo.

O que acontece é que a pessoa vai atrair uma situação de extrema tensão a que seja impossível resistir, para que então possa haver um relaxamento na mesma proporção. Essa tensão é a pressão interna de ser uma pessoa que não corresponde à sua matéria prima, é muito pesado não sermos nós mesmos.

É nessas situações em que a vida nos põe tudo a perder que nos desligamos das distrações diárias e voltamos os olhos para o que realmente importa, para dentro de nós e nossa necessidade de felicidade e pertencimento mais genuína.

Não raro nessas situações as pessoas fazem profundas revisões das suas histórias e passam a adotar um estilo de vida mais saudável e harmonioso, com mais amorosidade ou mais proximidade com a família e amigos.

Numa experiência com a Torre bem recebida e integrada, a pessoa pode sentir a necessidade de pedir perdão a alguém, de se reaproximar de certas pessoas ou de deixar de frequentar certos ambientes e situações.

A ideia é derrubar muros e paredes, abrindo espaço a fim de que seja mais confortável ser quem se é de verdade, onde o Ser interno se sinta a vontade para tomar conta do ambiente psíquico e o indivíduo tenha a satisfação de ser ele mesmo.

Verbenna Yin
Astros - Tarot -  Psicanálise