Durante muito tempo eu tomei café com leite e bastante açúcar.
Eu demorei muito tempo para
perceber o real sabor do café, sempre misturava coisas nele para diminuir a
sensação de café amargo.
Até um dia em que ouvi de uma pessoa muito sábia que “o
amargo é um sabor necessário”.
Nunca tinha pensado nisso, sempre que me deparava com algum
sabor amargo eu “disfarçava” esse sabor acrescentando coisas que modificassem o
resultado final ao paladar. Não é assim que fazemos com as saladas de folhas
amargas, com o chás, os remédios para crianças e até com o nosso café das manhãs?
Naquela frase sobre o café havia todo um aprendizado que foi
acontecendo a partir do paladar e se estendeu para outras áreas da minha vida.
Eu vivia uma vida muito amarga, mas eu não percebia isso.
Trabalhava tempo demais e me sentia refém daquele emprego, tinha muita raiva
das impossibilidades dessa situação e o excesso de preocupação com o futuro me
colocava na defensiva em relação às novidades e surpresas da vida. Também
comia muito doce nessa época, descia do escritório para a loja de doces todas
as tardes e à noite ainda me dava um chocolatinho de presente, e claro sempre usava
muito açúcar em todas as bebidas.
Me dei conta do quanto eu disfarçava minha própria insatisfação
com aquela vida amarga trazendo o doce para a boca.
Aprendi que o açúcar anestesia as papilas gustativas e que quanto
mais açúcar consumimos, menos percebemos o doce natural dos alimentos. É por
isso que nas cafeterias se oferece um copinho de água com gás junto com os
cafés, tomando a água antes o gás ajuda a limpar as papilas e ativá-las para que
se possa perceber todas as notas do café em seguida.
O efeito do açúcar nas papilas é acumulativo então a
tendência é cada vez usarmos mais açúcar para chegar no mesmo nível de doçura
inicial. Uma droga.
Mas a atitude de adoçar o sabor a amargo do café era uma imagem
nítida do quanto eu me negava a admitir o sabor amargo daquela minha vida.
Negando o amargo, ele deixava de existir né? Só na minha cabeça, só no meu
cérebro o açúcar tinha esse efeito de aniquilar o amargo, na verdade o amargo
estava ali o tempo todo. O que eu estava fazendo era enganar os sentidos para
não percebê-lo.
E foi com essa observação que eu fui me permitindo sentir o
amargo do café. Aos poucos fui tirando esse excesso de doce e de açúcares da
alimentação, tirando os disfarces e olhando com honestidade os sabores que a
minha vida tinha. Fui aprendendo a conviver com aquele amargo, aprendi a reconhecer
esse sabor, a entendê-lo e finalmente a aceitá-lo.
O amargo fortalece o coração e nos prepara para apreciarmos
melhor tempos de real doçura. A medicina chinesa incentiva o uso de alimentos com
sabor amargo para tratar as doenças do coração e há estudos médicos que
relacionam alimentos amargos a uma melhora no nível de contração do coração, contribuindo
para um funcionamento saudável desse órgão.
Hoje consigo tomar meu café sem açúcar e estou aprendendo a
perceber os aromas que compõem uma safra ou outra e as pequenas diferenciações
de regiões e intensidades. Também estou conseguindo conviver melhor com as minhas imperfeições, com as limitações e impossibilidades da situação de vida que tenho hoje e com as coisas que não tenho poder para controlar.
Dizem que para apreciar um bom café precisamos adquirir um
paladar adulto. Ainda não cheguei nesse ponto não, mas já consigo estabelecer
uma relação de respeito com os sabores amargos. Na boca e na vida, porque minha
Lua está em Touro. Mas isso já é assunto para outra conversa :-)
Neste mês de agosto de 2017 vamos encarar toda a força do
elemento fogo na morada de Leão. Teremos duas luas novas e um eclipse
neste período, ativando as emanações dessa energia para todos nós.
Constelações são agrupamentos de estrelas que emanam consciência,
e da constelação de Leão recebemos os influxos que nos permitem entrar em
contato com nosso Eu mais verdadeiro.
Quando a Terra e o Sol estão alinhados na
direção da constelação de Leão formam um canal para recepcionar esses influxos
afetando toda nossa atmosfera, impregnando o ar que respiramos e levando essa
consciência para o nível celular. Falamos sobre o signo de Leão aqui no blog, vale a pena ler a descrição desse signo para se antenar com os ideais que estarão pelo ar neste período.
Todos nós reagimos a esse contato etéreo, alguns com percepção
ativa outros nem tão perceptivos assim, mas o fato é que a energia nos atinge a
todos.
Nesse período, ficamos mais dispostos a uma valorização pessoal, olhando
mais por nós mesmos e reconhecendo nossas necessidades mais que a dos outros. Também
é um tempo de maior criatividade e passamos a ter vontade de colocar em prática
os planos até então guardados só pra nós, a vergonha passa e queremos mostrar
aos outros nosso melhor: nossas ideias, nossos dons, nossos filhos e criações.
Em 23/07/2017 tivemos a primeira lunação de Leão, a lua nova
que marca o início deste ciclo e que coincidentemente caiu no grau zero da
constelação em conjunção com o planeta Marte.
Marte é um planeta que nos estimula a sair da zona de
conforto, de buscar aquilo que desejamos e de nos diferenciar dos demais.
Conjugando esses valores de Marte com toda a consciência emanada de Leão, temos
uma ativação dessa energia que nos mobiliza a buscar o melhor para nós e de
usar nossas habilidades para nos destacarmos, inspirando uns aos outros a
alcançar valores humanos mais elevados.
A energia de Marte também é de fogo e durante esta lunação este
será o elemento mais presente por aqui: insights que chegam de repente,
intuição ligada, vontade de realizar, ações impulsivas, tudo isso é efeito da
energia do fogo em nós respondendo a essa conjunção astrológica. A vontade mais pura de cada um vai se manifestar de algum jeito e ligar os botoezinhos internos que promoverão um trabalho de autorreconhecimento e valorização.
E a ideia desse trabalho pessoal é retomar o controle da sua vida para que você tenha espaço de ser quem realmente é e fazer o que você quer mesmo. Marte é territorial e vai dar esse tom de comando para que os caminhos se abram e você possa brilhar com tudo que tem de melhor, colocar no mundo seus planos mais originais e se munir de coragem pra enfrentar qualquer crítica. Autoconfiança!
Mas como tudo neste universo é polar, quando não conscientes
desse movimento podemos cair no lado negro dessa força toda e acabar ativando
uma certa vaidade, um sentimento de superioridade e os mecanismos de defesa
para fazer valer só a nossa vontade sobre a dos outros. Cuidado com a
agressividade gratuita nas palavras e na convivência, sobretudo cuidado com os
impulsos que nos levam a agir com algum risco à nossa segurança pessoal.
O ápice dessas ativações vai acontecer na lua cheia no dia
07 de Agosto, quando a Lua já em Aquário recebe toda a luz do Sol e reflete de volta
para a Terra o poder magnífico dessas emanações celestes. Jogando a luz sobre
nós, a lua vai nos mostrar em que área da nossa vida será necessário nos valorizarmos
mais e buscarmos aquilo que merecemos, num contexto de colaboração coletiva em
que todos evoluem e todos ganham. Marte vai fortalecer decisões tomadas neste
tempo e dar uma dose extra de energia para que os movimentos possam acontecer.
Mas esse movimento todo não ficará restrito apenas a essa lunação pois teremos também uma segunda lunação em Leão (lua nova) em que o alinhamento formará um eclipse solar (quando a lua passa na frente do Sol) no dia 21 de Agosto.
Simbolicamente, a Lua
ofuscando o Sol marca na Terra pontos onde há menos clareza para lidar com toda essa energia. Nas regiões atingidas pela sombra do eclipse é possível que existam eventos que dificultem o acesso da consciência leonina e promovam tempos de maiores desafios para a valorização do humano e sua dignidade. Talvez sejam os locais onde a manifestação negativa dessa energia tão forte aconteça.
Essa pausa da lua na energia ígnea acontece no decanato de
Sagitário, atual morada de Saturno, mostrando também que os processos de valorização pessoal precisam nos aproximar do nosso propósito de
vida, que este caminho é ao mesmo tempo uma satisfação pelas conquistas merecidas
mas também uma inspiração para seguirmos adiante buscando novas etapas, novos
merecimentos e novas criações.
Em outras palavras, estaremos diante de um processo poderoso que chega para nos levar pra frente, nos fazendo perceber que ações com foco meramente individual não engrandecem, pelo contrário, apenas confirmam a necessidade primitiva de nos sentirmos especiais como crianças exigindo atenção. O tempo agora é de agir no nosso melhor mas para sermos inspiração para novos tempos, em que produzindo as melhores obras vamos contribuir para uma expansão coletiva.
Para os nativos do elemento fogo (Áries, Leão e Sagitário) o
eclipse vai ser particularmente forte e dinamizar áreas da vida que podem ter
estado paradas até agora. Vão entrar em ação Saturno e Urano, os deuses antigos
que na mitologia fizeram a transição da Era do Caos (Urano) para a Nova Ordem (Saturno).
Simbolicamente, será um tempo para retirar toda estagnação e ir em direção à uma reorganização pessoal onde seja possível se expressar com mais verdade, ir atrás do que realmente queremos numa ação fiel à nossa natureza. Nesse caminho podem aparecer desafios mais profundos que às vezes requerem
humildade, resiliência e rupturas, mas sempre lembrando que tudo concorre para um aprimoramento e acaba
sendo uma grande oportunidade de aprendermos mais sobre nós mesmos.
Se quiser saber mais sobre este período ou como ele pode te
afetar pessoalmente, marque uma consulta astrológica comigo e vou ter o maior prazer em te atender. As informações para
consultas estão aqui.
Desejo que esta breve reflexão tenha sido positiva pra você, nos
vemos no próximo post!
Nesta lua cheia da lunação de Câncer me senti levada a refletir
sobre o princípio feminino, o elemento água e a receptividade.
Recentemente circulou pelas redes uma foto sugerindo com flores as
fases da dilatação do útero quando a mulher está em trabalho de parto, numa
ilustração muito bonita do quando o feminino significa esse florescer da vida.
Como doula, tenho a experiência de acompanhar mulheres se
abrindo, por dentro e por fora, para receber uma nova vida e florescerem como
mães. É sempre um momento mágico quando esse portal se abre no mundo físico, a
começar pela fisiologia da mulher que recebe e promove dentro dela o
crescimento do novo ser para que um dia a vida possa passar por ela e vir pra
fora, brotar, nascer. Continuar.
Mas hoje eu quero falar sobre a dificuldade da gente se
abrir para receber esse fluxo de vida, e que muitas vezes vem manifestado na
fala da mulher que “não dilatou” no trabalho de parto.
Existe uma relação simbólica entre o signo de Câncer e o
arquétipo da Grande Mãe, aquela mulher grandiosa que recebe todos os seus
filhos. O signo de Câncer exalta os atributos do feminino, é ligado ao elemento
água (manifestação da energia feminina) e simboliza a potência feminina de
gerar uma nova vida, alimentá-la e sustentar com sua própria existência feminina
(física e espiritual) a continuidade da vida na terra.
É no elemento água que ficam gravadas as memórias, e é no
corpo feminino que fica gravada a programação do desenvolvimento de um novo
ser. É o corpo da mulher que sabe como dividir e multiplicar células e átomos,
combiná-los entre si para que formem órgãos, tecidos e membros, que num
crescimento organizado, com simetria e beleza, se transformarão um dia numa
criança. Uma nova criação.
O óvulo feminino também tem uma característica importante
que é a capacidade de escolher o melhor espermatozoide para deixá-lo entrar e
fundir-se na fecundação.
Durante muito tempo se acreditou que esse mérito seria
do espermatozoide “mais rápido”, numa alusão à primazia do caráter ativo masculino.
Hoje, felizmente, a ciência corrige essa visão e atesta que na verdade o
óvulo que detém uma inteligência para analisar qual espermatozoide resultará na combinação
genética mais promissora, permitindo que ele “entre” e conclua a fecundação numa
atitude de cooperação criativa.
Essa constatação é revolucionária em seu simbolismo porque
remete a um outro nível de receptividade do princípio feminino. Já não é mais
apenas uma ausência de atitude como simples passividade, de não ter outra opção
a não ser não realizar, mas antes disso representa uma atitude em si só manifestada
passivamente em permitir, deixar acontecer.
Isso muda o foco, passamos do “não
posso evitar”, para o “posso permitir”.
Eu posso. Eu confio que posso.
Em Câncer as águas nos permitem, nossa memória ancestral
ainda que inconsciente nos preenche dessa potência que antevê possibilidades,
faz combinações de probabilidades e nos guia a novos objetivos e produções - e é daí que
nascem os novos sonhos.
Úteros são o lugar de onde vêm os sonhos e todas as novas
criações.
E a lunação de Câncer eclode na lua cheia em Capricórnio, o
símbolo da competência máxima e da resiliência do elemento terra – que também é
um elemento feminino.
Não existem impossibilidades para Capricórnio, a vida sempre encontra uma forma de continuar.
A figura associada a este símbolo é o da cabra
montanhesa, aquela cabra que anda nas encostas íngremes das pedras altas e
muitas vezes fica no topo da copa das árvores das regiões áridas, numa
demonstração de força e capacidade plena que lida com qualquer tipo de
adversidade.
E nessa relação arquetípica entre a Grande Mãe e a Cabra
Montanhesa que se estabelece na lua cheia da lunação de Câncer, é que
vislumbramos o grande potencial do princípio feminino: a continuidade da vida.
Acreditar nesse potencial é essencial para que os processos
de maternidade aconteçam de forma saudável, e reconhecendo o trabalho de parto
como uma conclusão do processo gerador é muito importante que a mulher se sinta
confiante deste mundo como lugar para acolher aquela nova vida.
Mas nem sempre é possível alimentar essa confiança num mundo
que é tão hostil com as mulheres, onde vivemos acuadas por violências quotidianas e sob um estrito código
de comportamentos permitidos, onde não temos representatividade para tomar
decisões coletivas e arcamos com nossos corpos as imposições de uma cultura
machista, invasora e cruel.
Como permitir que aquela nova e frágil vida chegue nesse tipo de mundo?
Como protegê-la deste mundo?
Ter dificuldades para dilatar no trabalho de parto muitas
vezes significa esse diálogo interno e inconsciente, que toma lugar naquele
estado alterado de consciência quando os corpos femininos estão inundados de
oxitocina e neurotransmissores que as conectam com a fonte da vida. É nesse templo
sagrado feminino que toda a angústia de ser mulher se manifesta e que, numa atitude
instintiva, se traduz num proteger sem fim que retém a energia criadora dentro de si mesma.
Estou propondo aqui a imagem do trabalho de parto, mas no fundo estou falando de todas as nossas criações, todas as nossas obras. Porque podemos ser mães de muitos sonhos.
O que mais você criou e não pôde trazer ao mundo?
Que sonhos foram interrompidos e não tiveram a chance de chegar?
Interromper o fluxo de criação da vida com o medo pode perigosamente destrutivo. As doenças femininas, os cânceres, as dores do não permitir que a
vida aconteça são marcas vivas de que não foi possível confiar.
Tão importante é acreditar na continuidade da vida e na
capacidade que cada ser tem em si de fazer o melhor apesar das condições dadas.
Ter dentro de nós a certeza disso é todo um trabalho interior a ser feito e
refeito dia-a-dia, mas essencial para nós mulheres podermos seguir em paz com
nossa natureza sonhadora e geradora de novidades.
Que nesta lua cheia possamos todas meditar nos simbolismos do
eixo Câncer- Capricórnio, pacificando dentro de nós o fluxo dos sonhos e das
criações, permitindo que a energia criativa nos atravesse e nos traspasse para ganhar o mundo, para que todo nosso potencial feminino possa se manifestar em harmonia com a natureza, dilatando
sempre para florescer plenamente a alegria de sermos mulheres.
Eu gosto muito de observar a vida partindo do conceito
hermético que diz que “o que está dentro é o mesmo que está fora”. Essa forma
de entender a vida para mim é muito rica e me permite fazer algumas associações
que me ajudam a passar por certos períodos mais desafiadores. Como numa grande espiral,
posso seguir em qualquer direção dela que sempre estarei andando pra frente,
seja indo para dentro, seja indo para fora.
Deu pra perceber que eu adoro metáforas, né?
Gosto mesmo, as metáforas me ajudam a viver com mais poesia
e trazem uma inteligência visual que dá muito sentido e beleza para aquilo que
a vida me propõe.
É nesse sentido que quero fazer essa reflexão de hoje,
dividir com vocês algo venho vivenciando há algum tempo e que está se
concluindo agora no Inverno, a estação da compreensão das coisas.
Em janeiro deste ano eu encerrei conscientemente uma etapa da minha vida
profissional, foram muitos anos trabalhando na advocacia e que definiam meu
comportamento, meu jeito de falar e até minhas roupas e sapatos: “Olá, eu sou
fulana, advogada.”
Mas há alguns anos atrás os desejos começaram a mudar de
direção, me dei conta que os assuntos que realmente me interessavam me
colocavam numa busca por outra forma de viver e de me relacionar com as pessoas,
me levavam a questionar minhas práticas de trabalho diárias e a quem meu
trabalho beneficiava. A direção na espiral tinha mudado e eu passei a olhar pra
dentro.
E foi então que aquela fonte de materialização começou a
secar e esse ciclo se encerrou, e eu me deparei com a possibilidade de levar
uma vida mais coerente com o que eu acredito e com outras habilidades que, na
minha opinião, ajudam mais efetivamente a construir um mundo melhor para todos,
incluindo eu mesma.
Mesmo assim, a sensação que veio foi o medo. Medo do novo,
medo de não dar conta, medo de ter feito a opção errada. E agora?
E aí chegam as metáforas da vida: eu prendi a mão na porta e
quebrei o dedo. O dedo do meio, aquele que na quiromancia é o dedo do
trabalho, de Saturno – o ceifador do tempo, aquele que impõe limites e não te
pergunta se está doendo, apenas te faz acordar com os pés no chão para lidar
com a sua realidade sem ilusões. Era isso.
O dedo foi esmagado, os ossos e os ligamentos esmigalhados.
Que dor!
Segundo o médico, era uma lesão que não se recomporia mais.
Senti o dedo sendo esmagado continuamente por vários dias, uma memória do
trauma, segundo ele. Precisei me adaptar e fazer as coisas do dia a dia de
outro jeito, ajustar o jeito de escrever, de digitar meus textos, de dirigir o
carro, de cozinhar e até o jeito de fazer um carinho nos filhos eu tive que
mudar.
Olha o novo aí!
Em tudo que eu fazia com a mão direita precisava colocar
toda minha atenção para não sofrer novos impactos e não piorar a dor. Com esse
exercício constante de atenção fui percebendo como eu fazia as coisas do dia a
dia antes, sempre sem tempo pra nada, sempre na “correria” de trabalho-casa-filhos-marido.
Tudo que eu fazia era como dava, tinha que dar conta de tantas atividades que
não podia ficar pensando muito nem falando muito com ninguém, muito menos
prestando atenção no que outro dizia. Afinal, ouvir o outro significava menos
tempo para cumprir aquela maratona. Ouvir o outro era muita perda de tempo...
Mas lá estava eu, sem nada pra fazer e com a mão
imobilizada. Tive que reaprender a dividir o tempo na minha cabeça e criar uma
nova organização pessoal, dar um novo ritmo para as coisas.
E foi assim
que durante o outono fui vendo algumas situações e pessoas se afastando de mim,
eu não tinha mais como agir para segurá-las com a minha “mão quebrada” e não
tinha mais aquela autonomia nem a energia para acompanhá-las. Alguns trabalhos eu simplesmente não tinha mais como fazer. A minha opção naquele
momento era apenas observar. Eu estava aprendendo a contemplar.
E essa contemplação alcançou a mim mesma também, passei a notar mais
os meus comportamentos e a minha maneira de falar e percebi como eu deixava de
me posicionar por não ter uma fala coerente com quem eu era. Minha fala era a
da “fulana, advogada”, sempre preocupada em agradar e unir pólos como fazem os advogados
Me dei conta de quantas vezes eu fiquei dourando pílula quando queria mesmo era "mandar às favas", de ocasiões em que eu precisei defender meu território e deixei de fazer para não ser "desagradável" com o outro, o quanto eu queria ter dito NÃO em certas situações e não disse para manter aquela coerência com a figura da advogada, toda certinha e educada. Quantas vezes deixei de estar do meu próprio lado...
Eu queria muito mandar essa personagem de advogada embora da minha vida!
E então nesse período eu recebi um
telefonema me pedindo para ir fazer uma entrevista como advogada para preencher
uma vaga de trabalho. Precisava do dinheiro, decidi ir.
A mão estava melhorando mas a unha do dedo
quebrado estava horrível, tinha caído e a nova estava toda torta. E para ir
nesse compromisso não tive dúvida: colei a unha antiga sobre a nova e passei um esmalte, ficou
joia! E lá fui eu pra entrevista toda montada de advogada de novo, pensando comigo: tudo certo.
Mas não era mais eu ali, aquela era uma pele que não servia
mais. Me senti colada a uma aparência que não era mais minha enquanto tentava me ver ali num lugar onde eu não cabia mais. Era muito desconfortável, os pés no salto alto fizeram meus joelhos doerem por semanas.
Colando lembra apegando né? Pois é, apego.
Colar a unha velha foi a metáfora perfeita.
Decidi que não iria dar continuidade naqueles processos de recolocação profissional, e por "coincidência" não me responderam até hoje sobre o resultado dessa seleção, nem das outras que eu já tinha participado antes.
E aí que a vida veio com seus saberes e mistérios, só depois da minha decisão e quando o caminho já estava definido. Nas semanas que se seguiram aconteceram coisas realmente incríveis que me fizeram perceber o quanto eu já tinha caminhado em outras direções e não fazia sentido tentar voltar pra trás naquela velha estrada.
Primeiro, fiz um trabalho de identificar os padrões familiares que
me conduziram aos caminhos percorridos e, em contraponto, reconhecer e assumir
os meus próprios padrões com a percepção de vida que tenho hoje, transformando
e reprogramando esses caminhos internamente numa vivência xamânica muito bonita
chamada Roda da Transformação. Foi muito especial sair dessa vivência sabendo que hoje
eu tenho recursos internos já desenvolvidos que me permitem lidar com o medo do
novo, que o novo pode ser bom e que eu posso confiar em mim mesma pra dar conta
desse novo que virá.
E alguns dias depois dessa vivência, fui liberada para começar a fazer o estágio em psicanálise, comecei a atender meus primeiros 3 pacientes sob supervisão até eu terminar o curso.
Isso me encheu de confiança!
Ser liberada para começar a atender significa que consigo dar conta dos meus próprios conteúdos e que posso sim ajudar outras pessoas a partir do meu olhar e da minha experiência de vida que já foi analisada. É uma confirmação de que tenho capacidade e de que já trilhei uma parte considerável desse novo caminho, que posso seguir em frente por aí.
Ao lado disso tudo começaram a chegar mais pessoas para as terapias que eu já desenvolvo (astrologia, tarot terapêutico e florais), todas indicadas por quem já foi atendido por mim e todas mulheres na fase de maternidade - justamente o perfil que eu mais gosto de trabalhar. Certamente meu trabalho impactou essas pessoas de forma positiva a ponto delas me recomendarem a outras, uma confirmação linda de que ser autêntica e fazer o que eu realmente gosto é um "novo" bom pra além de mim.
Tudo isso me reafirmou que posso produzir materialmente de outra forma agora e que o resultado do meu trabalho vai se manifestar por esse outro caminho também, mesmo que ainda seja curto e meio torto mas, assim como aquela unha nova, uma hora vai se alinhar e ficar bom de novo.
Entendi as confirmações e chegando no inverno, essa estação onde a gente se
recolhe por conta do frio e passa a economizar energia se movendo menos e
observando mais, estou concluindo esse aprendizado que veio com os ventos. Foi com dor e está acontecendo bem devagar, mas essa poética da vida está me ensinando no tempo que eu dou conta.
A unha nova agora já cresceu, mas o dedo ainda está sensível
e não consigo fazer as mesmas coisas que eu fazia antes com a mão direita. Alguns movimentos eu tive que adaptar para seguir usando a mão, da mesma forma como a vida me propôs toda essa adaptação para eu seguir em frente.
Não tenho mais tocado piano, mas ainda posso
tocar violão.
E todo esse processo virou uma canção nova, no tempo do elemento ar.
E então chegamos no arcano XVIII, a Lua: a Senhora que reina
absoluta na noite, dona das águas e das marés, que comanda a direção das emoções, o final da infância das mulheres, a duração das gestações e a chegada das almas neste mundo.
Na carta vemos a lua altiva entre duas torres e um crustáceo querendo sair da água e percorrer o caminho até o
horizonte. O caminho é guardado por um cão e um lobo, mas ambos estão hipnotizados
pela Lua que manda seus raios em forma de gotas na noite escura.
As duas torres ao fundo representam o Ego e mostram que o
consciente aqui fica ao longe, este não é o lugar de racionalizações. Aqui o
território é das águas profundas do inconsciente, o território das emoções, na
imensidão escura e sombria onde moram os desejos, as dores e os medos guardados por toda
uma vida.
Nesse território noturno e cheio de sombras a visão tem
pouco valor, porque não é pelo raciocínio que vamos perceber esse ambiente. É
pelo sentir que adentramos o território da Lua, toda a comunicação com esse reino acontece no corpo físico e a partir das emoções.
Um mito que eu gosto muito e que está associado a esse arcano é a lenda da descida da deusa suméria Inanna (ou Ishtar) aos reinos do
submundo de sua irmã Ereshkigal – que era grande, assustadora, devorava tudo
pela frente e cheirava mal.
Inanna é levada para esse reino, é deixada sozinha e precisa atravessar
7 portais. Em cada um deles deve se despir de seus ornamentos de deusa e de seus
7 véus. Quando Inanna já nua finalmente se encontra com a irmã, Ereshkigal não a
recebe. Ao contrário, ataca Inanna lançando sobre ela sentimentos de ódio e
culpa que acabam por matá-la sufocada. Somente depois de 3 dias morta nos
reinos escuros do submundo, Inanna retorna à vida guiada por dois serviçais de sua
casa natal.
O ponto é que para conhecer os mistérios do arcano da Lua é
preciso essa entrega total ao inconsciente, desarmar-se dos mecanismos de
defesa e despir-se da autocrítica, da socialização e de qualquer educação. No território da Lua as emoções são brutais.
Entrar em contato com as forças brutas do inconsciente
não é uma tarefa agradável, esses conteúdos ficaram guardados no escuro por
muito tempo e “cheiram mal”. Perceber-se nesse lugar causa muita confusão e
medo, as imagens não são nítidas e a linguagem aqui não é mais a lógica racional.
É preciso viajar pelas representações de realidade que vêm das memórias.
Não raro, quando vivemos a situação simbolizada pela Lua
estamos atravessando um período de confronto com situações do passado guardadas
por muito tempo, situações que não foram bem elaboradas e que muitas vezes nem lembramos
mais, guardamos no cantinho escuro da memória e para evitar nos machucar não
mexemos mais ali. Mas essas memórias antigas estão vivas e não olhar pra elas
nos sufoca, talvez até mesmo fisicamente causando síndromes de pânico e
ansiedade.
Os desconfortos físicos aparecem porque não temos clareza do
que se tratam esses conteúdos, ainda não conseguimos decodificar essas
memórias e algo em nosso dia a dia pode funcionar como gatilho para o inconsciente associar então o que vivemos hoje com essa representação do passado. Nossas sombras se apoderaram de nós.
Sem poder ver com nitidez, andamos no escuro e isso aflora nossos medos, os espinhos e as pedras nos machucam. Por isso sentimos dores, aquelas dores sem explicação, as dores que caminham pelo corpo, as fibromialgias.
Segundo Jung, nosso mundo interno é composto por uma região
consciente que contém conhecimentos e lembranças que podemos
acessar facilmente, e por uma região inconsciente que concentra aspectos de nós
ainda não reconhecidos e, por isso, não desenvolvidos: a nossa sombra.
É nas sombras do inconsciente que estão localizadas essas forças que não puderam ser expressadas quando certos eventos aconteceram: um talento que a família não apoiou, aquele jeito de ser inadequado, a culpa pelo desejo que era pecado, a raiva de ter sofrido violência, a dor do filho que não veio, o acidente que me levou pra longe de onde eu queria ir...
Mas a vida não para e seguimos em frente negando os efeitos desses acontecimentos em nós, sem aceitar essas
partes de nós porque julgamos que são erradas, imorais, feias, doloridas. Essas partes
de nós “cheiram mal” e vão nos devorando pouco a pouco.
Enquanto estivermos na negação de nós mesmos vamos andando em círculos e sem sair do lugar, com a cabeça baixa e reabrindo as feridas sem perceber. Sem olhar para a Lua e sua claridade, vamos ficando isolados e presos na noite escura, nas depressões e nas esquizofrenias.
E assim vamos tocando a vida querendo acreditar que está tudo bem e que vamos conseguir viver em paz sem sentir falta dessas partes de nós que ficaram perdidas pelo caminho. Isso é apenas a mente e nossos mecanismos de defesa tentando impedir nosso crescimento, ainda queremos ser cuidados.
Tudo que está lá na escuridão do inconsciente é a nossa mais pura energia
vital que foi aprisionada, é de lá que deveria vir a nossa “bateria” para a vida e crescimento, nossa força propulsora de
criação e todo potencial de realização no mundo físico. Evitar o contato com a Lua é perder nossa energia de vida
porque interrompemos o fluxo criativo que nos alimenta dia a dia, é ficar sem a nutrição psíquica que vai nos levar à real maturidade.
Quando passamos os anos fugindo do nosso passado e negando partes de nós ficamos desvitalizados e sem poder realizar nossos planos no
mundo, nossos planos vão dando errado um após o outro porque não temos recursos
para mantê-los vivos e florescerem. É o “efeito Sombra”.
Até o dia em que chega a iniciação da Lua e não podemos mais escapar desse reencontro. É nesse momento que a linda e perfeita deusa Inanna morre, atacada pelo ódio e pela culpa sufocantes. Essa morte simbólica acontece quando essas emoções tóxicas guardadas por tanto tempo conseguem vir à tona numa catarse do corpo que vai mostrar para o consciente nossa imagem real e o que o passado nos tornou. Os processos físicos de dores e falta de ar são essas catarses, o arcano da Lua vem pelo corpo.
Quando finalmente nos entregamos para a experiência proposta pela Lua a nossa atitude deve ser como o princípio feminino que ela representa: a mais profunda aceitação.
Aceitar nossa história com tudo que nos aconteceu e ainda dizer sim a nós mesmos são a chave que este lindo arcano nos
propõe.
Da mesma forma que no mito são os serviçais da casa de seu
pai que fazem Inanna voltar à vida, dizer sim a tudo que recebemos de nossa
ancestralidade, coisas boas e ruins, entendendo esse passado, perdoando sinceramente o que
nos fizeram e nos perdoando por não poder fazer diferente, aceitando que tudo aquilo nos fez ser quem somos, damos um grande
passo para recuperar nossa integridade.
A integridade acontece quando podemos colocar todos os eventos na nossa linha do tempo, sem negar nem esconder nenhum deles por mais doloridos e difíceis que tenham sido. Tudo fez parte da caminhada e nos levou ao lugar que ocupamos hoje no mundo, de forma que honrar esse percurso é voltar a ficar em paz com tudo o que vivemos.
A carta da Lua simboliza essa aceitação para que a integridade se restabeleça trazendo a cura para nosso passado. Sim, doeu, doeu muito, mas é o momento de nos curarmos disso permitindo que essas energias guardadas se expressem, chorando todas essas dores e emoções até que elas atravessem o nosso corpo e passem "para fora" para ficarmos livres de suas correntes, permitindo que esse tecido desinflame e cicatrize.
Passamos pela noite escura da alma mas a aurora de um novo dia está chegando. Ao estarmos íntegros, restabelecemos o fluxo de energia de vida
para todas as partes de nós e abrimos caminho para experimentar o arcano seguinte: O Sol.
Não é a toa que o arquétipo da totalidade é o círculo, da
mesma forma que a lua é circular a busca pela integridade faz seu caminho na perfeita união de todas as nossas partes. O próprio Jung indicava o trabalho com
mandalas para que seus pacientes pudessem se reorganizar psiquicamente ao lidarem com suas
histórias de vida, denotando o poder desse símbolo.
Quando a carta da Lua aparece numa leitura é sinal de que aquele é um tempo para dar atenção aos sonhos, insights e flashes de memória que estiverem aparecendo pois são conteúdos do inconsciente que estão prontos para serem reconhecidos e elaborados. Talvez um trabalho de regressão de memórias ajude a colocar tudo em seu lugar.
Também indica um tempo de aprendizados muito importantes e
finalizações de ciclos, onde o perdão e a aceitação precisam ser vividos de verdade para restabelecer uma harmonia com a nossa história e nossa ancestralidade, nos preparando para um novo momento de vida.
As estações do ano são promovidas pelo posicionamento do
planeta em relação ao Sol. A Terra possui uma inclinação e mantém os movimentos
de rotação num eixo imaginário que ora está mais próximo do Sol, ora mais
distante. O distanciamento do Sol causa uma diminuição da quantidade de energia
solar disponível em determinadas regiões, o que, por sua vez, resulta
num ambiente energético distinto e com características próprias – as estações.
No Outono estamos vivendo a estação em que o ambiente
energético produz uma resposta da natureza: o desligamento. As flores vão murchando,
os frutos amadurecendo, as folhas vão se destacando e caindo pelo chão. O tempo
do florescimento passou, agora é hora de manter aquilo que é essencial,
estrutural. A energia vital vai começar a se recolher no tronco das árvores,
mantendo os recursos concentrados no que é realmente importante e que dá
sustentação para a vida prosseguir.
Assim também vai acontecendo conosco, vamos nos desligando
de pessoas e situações que não têm mais como florescer. Nós também respondemos
a essas energias porque elas estão circulando entre nós o tempo todo,
atravessando nossos corpos e convivendo com os nossos pensamentos. Responder a
essa energia é a natureza em funcionamento.
É geralmente no Outono que somos surpreendidos com o
encerramento de alguns ciclos, aquelas situações que vinham se arrastando há
anos e se resolvem de uma vez. Deixamos de ter vontade de realizar certas
coisas, de frequentar certos lugares e de encontrar com algumas pessoas.
Também é no Outono que acontecem aqueles desentendimentos
que a gente não sabe como aconteceram, mas as pessoas simplesmente vão embora
da nossa vida. Os vínculos se enfraquecem e de repente rompemos com anos de
relacionamento.
Mas se pararmos pra pensar, aqueles relacionamentos e
situações não eram mais saudáveis pra gente, eram tóxicos e não promoviam mais
o nosso crescimento. Aquelas pessoas e situações na verdade representam partes de nós que estão "morrendo" para dar lugar a outras manifestações, expressões e talentos.
Precisamos desses espaços psíquicos para que nosso desenvolvimento aconteça e essa mobilização é uma reorganização de dentro pra fora, o reflexo disso é que vamos criando novos espaços na nossa vida externa também.
Todos esses desligamentos são uma “poda” que vai acontecendo
naturalmente e, na maioria das vezes, sem a gente se dar conta porque na
correria do dia a dia nem sabemos em que estação do ano estamos.
Mas o fato de não nos darmos conta dessa integração da
natureza com a nossa vida pessoal não impede que as coisas aconteçam. Pelo
contrário, se não estamos conscientes disso a nossa resposta às energias é
ainda mais intensa e acabamos projetando nos outros essa movimentação que
acontece dentro de nós. E para que o desligamento aconteça, vamos atraindo uma
situação insustentável onde o rompimento acaba sendo inevitável.
É aí que a faz muita diferença essa observação do mundo de
forma integrada, porque viver um rompimento importante é sempre dolorido e se
não estivermos conscientes do processo podemos nos sentir culpados pelo que
aconteceu – o que faz essa dor durar mais tempo do que necessário.
Se você estiver vivendo uma fase de desapego, lembre-se que
isso é resultado do Outono chegando na sua
vida e essa bela metáfora tem muito a nos ensinar sobre nós mesmos e nossos
relacionamentos. Não se culpe, observe as movimentações e procure ligar os
pontos para entender o que não te serve mais e o que é essencial de verdade. Tudo é
aprendizado.
Hoje 20/03/2017 começa o ano novo astrológico, quando a Terra se alinha ao Sol na direção do primeiro grau da constelação de Áries - o ponto vernal.
Todo ano novo traz consigo a oportunidade de renascimento e aqui no nosso hemisfério Sul vivemos o ano novo astrológico sempre com a marca do equinócio de Outono, a virada da estação que pede desaceleração, calma e interiorização.
O mapa do novo ano astrológico vem marcado por grandes transformações individuais e coletivas, e todos estaremos suscetíveis a viver um período de situações que desafiarão nossas certezas sobre como agimos e nos relacionamos neste mundo.
Somos realmente livres para fazer aquilo que desejamos na vida? Ou vivemos em um sistema que determina os desejos "aceitaveis"?
Temos liberdade para nos relacionarmos de forma equilibrada com os outros? Ou ainda estamos presos nas ideologias ultrapassadas que promovem o desentendimento, e acabamos segregando as pessoas sem vivenciar a unidade e o pertencimento?
Sentir-se livre para fazer escolhas é mais complicado do que parece, às vezes não nos damos conta do quanto estamos aprisionados em sistemas e condicionamentos que nos deixam ver apenas um aspecto da realidade. Neste Outono a proposta é ir para dentro e perceber que amarras são essas que acabam servindo de “viseira” e limitam o nosso olhar. Agora é tempo de enxergar além.
E o quanto nossas escolhas individuais impactam a evolução do coletivo?
Essa reflexão será bem profunda porque estamos também iniciando um período sob a regência astrológica de Saturno, que está justamente em Sagitário nos propondo a revisão das crenças que impedem o nosso desenvolvimento e a autorresponsabilidade para corrigir nossos passos.
Serão 36 anos sob a regência desse majestoso planeta que sustenta a consciência da ação correta, dos limites respeitosos, das estruturas bem fundadas e do aprimoramento constante, e que iniciará essa jornada de amadurecimento de mãos dadas com a Lua, a consciência do feminino enquanto força geradora da vida.
Coletivamente, o aprimoramento virá também com o respeito à vida e o acolhimento das novas ideias sobre a convivência entre homens e mulheres, entre humanos e animais, entre a humanidade e a natureza, deixando para trás aquelas falsas certezas que não pertencem mais a este tempo.
Já é tempo de estabelecermos novos paradigmas de um progresso real, sairmos de um modelo que privilegia apenas alguns individualmente para dar lugar ao desenvolvimento baseado em práticas corretas e responsáveis, que permitam o crescimento de todos em equilíbrio uns com os outros e com nosso ambiente.
Esta carta linda e serena nos mostra uma mulher nua na noite
clara, iluminada por uma estrela e
refletida na água aos seus pés. Esta imagem é uma evocação ao nosso ambiente de
nascimento, de como chegamos a este mundo.
Toda vida se inicia na água e do ambiente aquático foram
evoluindo os répteis, aves e mamíferos. Durante os nove meses de gestação
ficamos inseridos numa bolsa de líquido amniótico e é na água que se encontra
todo o potencial de geração de novos seres, de qualquer espécie animal ou
vegetal. Sem água não há vida.
Além da água, precisamos também de luz e calor. É a luz que
garante o crescimento saudável das espécies e dá energia para cada etapa dessa
evolução. Nossa estrela maior é o Sol, que com sua luz e calor promove o
crescimento dos ossos e o regular funcionamento dos hormônios de crescimento do
corpo humano.
Em alguns decks de tarot esse arcano é representado com sete
estrelas, remontando à constelação das Plêiades – um conjunto de sete estrelas
com uma estrela central chamada Alcione. Algumas linhas esotéricas consideram
que a vida inteligente chegou na Terra por intermédio dos seres dessa
constelação.
A ideia central do arcano é, portanto, um retorno às
origens. Da mesma forma que nascemos das águas de nossas mães e completamente
nus, a carta da estrela propõe justamente esses símbolos como um reinício da
nossa jornada.
Na psicanálise moderna a fase de amamentação é levada muito
a sério para verificar a saúde mental de uma pessoa. Existe a abordagem
sustentada por Winnicott e Melanie Klein que considera o começo da vida como a
base de todo o desenvolvimento psíquico do indivíduo e que suas capacidades de
relacionamento com os outros e com o mundo dependeriam inteiramente do sucesso
do aleitamento.
Ao ser alimentado de leite e de afeto, o bebê tem sua necessidade
atendida e isso promove nele uma sensação de bem estar e de confiança, pois
basta que ele queira e a necessidade é atendida. Ele se sente o criador dessa
satisfação e isso vai reforçando no pequeno bebê que ele é capaz e o mundo pode
lhe dar o que ele precisa. Ele aprende a confiar e assim passa a se sentir
seguro neste mundo externo.
Nessa fase, o cérebro ainda não possui a área onde ficam
armazenadas as memórias. Segundo a atual neurociência, o cérebro leva cerca de
dois anos para se desenvolver completamente e deixar essa área pronta para
funcionar. O resultado é que durante esse primeiro período da vida, o bebê
registra essas memórias no corpo, nas sensações corporais.
Então o bebê pode registrar tanto a sensação prazerosa de
ter suas necessidades atendidas, como também toda ansiedade, desgosto e
frustração de não ser atendido – o que igualmente fica registrado no corpo.
Um corpo com muitos registros de desprazer não consegue
confiar na abundância do mundo e na segurança dos afetos dos outros. É preciso
fazer toda uma reprogramação desses registros para que o Ser possa se sentir
novamente inserido nessa grande teia humana e confie que vá receber do mundo e
dos outros tudo aquilo que precisa para existir com segurança e ser feliz.
Uma pessoa que cresceu com fortes inseguranças e a sensação
constante de ansiedade aprende a desconfiar de tudo e de todos. Uma criança
abandonada nos primeiros anos de vida aprende que o mundo não é generoso e que o
que ela precisa é muito difícil de ter e requer muito esforço para conseguir. Sua percepção será de que tudo depende somente
dela e ela não poderá contar com ninguém. Então precisará se esforçar mais que
os outros, realizar mais, competir e estar à frente sempre para poder
sobreviver.
Mas essa é uma atitude que vai gerando cada vez mais
ansiedade no indivíduo porque não é possível chegar a uma satisfação real com o
mundo nesse ritmo de desconfiança, pelo contrário, a tendência será continuar
se sentindo isolado e não preenchido porque sua real necessidade de satisfação
não é material (objetos), mas sim emocional (afetos).
Foi isso que faltou para essa pessoa lá atrás no início da
vida: afeto e acolhimento.
Somos seres coletivos e existimos coletivamente, somente
chegamos na compreensão máxima de quem nós somos quando passamos pela experiência
promovida pelos “espelhos” da convivência: quando podemos diferenciar o que é
verdadeiramente nosso do que é a projeção do outro em nós.
No arcano anterior vimos que a Torre destruiu todas as
falsas crenças e aquela frágil construção de um Ego que não correspondia à verdade
interna do sujeito.
Agora, nesta carta seguinte, o sujeito está renascendo e
reconstruindo o seu Ego, as máscaras caíram e as crenças que ele tinha sobre si
mesmo estão em profunda reformulação.
Depois dessa destruição toda ainda não se sabe que chão é
esse em que estamos pisando, mas nossa luz interior, nossa Estrela, será a
guiança que precisaremos nessa fase.
Agora, o Ser está descobrindo quem ele é de verdade e qual
sua essência mais verdadeira. Está percebendo que o mundo pode sim responder
generosamente concedendo aquilo que ele precisa, que as pessoas podem ser boas
e afetuosas e que há um novo jeito de se relacionar com o mundo.
Então aqui ele está sendo amamentado novamente, está sendo
alimentado e nutrido pela vida e reaprendendo a confiar. O resgate dessa confiança
no mundo e nos outros é o que a carta da Estrela vem retratar.
A carta da Estrela também nos propõe estarmos presentes
nesse processo, ou seja, que nossa mente esteja atenta e nosso coração aberto
para percebermos essa necessária mudança de paradigma na visão de mundo. A carta
da Estrela simboliza uma atitude mental.
Uma pessoa com a mente atenta e disponível vai conseguir
estabelecer metas de satisfação pessoal possíveis e se dar conta de onde
consegui-las, vai acreditar no seu potencial de realização no mundo e não vai
desperdiçar as oportunidades que chegam para construir sua realidade. Também
poderá se sentir feliz e em paz com o mundo e com os outros, sem comparações
desnecessárias que acabam afastando as pessoas de quem gosta.
É aqui que entra o princípio hermético da correspondência,
atraímos aquilo que somos. Quando a pessoa sabe quem ela é de verdade consegue
vibrar essa informação naturalmente e o Universo responderá atendendo de volta aquela
vibração. A tensão acaba e tudo se torna mais leve e mais simples, pois já não
serão necessários grandes esforços para ser e existir.
Quando a carta da Estrela chega numa leitura geralmente foi depois de um profundo aprendizado onde a pessoa perdeu algo que lhe era muito caro e está recomeçando numa nova etapa de vida.
É a hora de assumir que você venceu a si mesmo, hora de se
entregar à sua verdadeira natureza e deixar fluir sua essência mais pura para ser levado com toda amorosidade a uma nova vida que refletirá seu verdadeiro Eu.
O arcano mais temido do Tarô nos mostra a imagem de uma
construção em ruínas, atingida por um raio que rasgando a noite escura
despedaça tijolos e lança as pessoas abaixo.
Aqui temos o arquétipo da queda, do choque de realidade. Uma
estrutura não suportou o impacto da luz.
É na luz que se apresenta a verdade, a nossa verdade só pode
ser vislumbrada quando iluminamos nossos lugares mais recônditos e obscuros,
aquelas partes de nós que ficam invisíveis para os outros e, principalmente,
para nós mesmos. As partes que não queremos ver e que deixamos lá no escondido
do nosso inconsciente.
Quando a luz chega, mesmo que rapidamente como um raio, já
não é mais possível não notar aquelas verdades todas que ficaram escondidas:
elas saltam para fora e a gente "abre a cabeça".
E diante da verdade iluminada, o Ego desaba. Cai do alto da
torre sem proteção nenhuma já que aquela estrutura que o sustentava era falsa e
não tinha solidez suficiente.
O Ego é construído ao longo da nossa infância a partir dos
retornos que as pessoas do nosso entorno nos dão e da nossa percepção a
respeito do que é valorizado em nós. Num ambiente onde há lugar para a criança
se expressar livremente, o Ego é construído de forma saudável e mais próximo do
que sua essência é realmente.
Já num ambiente mais restritivo, com muitas exigências
e expectativas dos outros, a essência da criança não pode ser completamente
mostrada e esse Ego vai sendo construído sobre os atributos que os outros
valorizam – e que muitas vezes destoam dos atributos naturais da pessoa.
As restrições e exigências do mundo externo podem também ir formando uma pessoa muito rígida e inflexível, que na busca de atender o modelo imposto vai passando por cima dela mesma e adquirindo até uma expressão física mais dura e austera, que reflete todas aquelas restrições de movimento do Ser interno.
Além disso, vivemos numa sociedade ocidental que valoriza
somente uma certa educação, alguns comportamentos e determinados tipos de
inteligência. Apesar da diversidade natural dos humanos, nos esforçamos para
atender essa demanda e sermos aceitos no jogo. Assim, incorporando os valores
dos outros e da sociedade onde nos inserimos, o indivíduo vai construindo seu
Ego atendendo todas essas expectativas alheias para ser aceito, bem recebido e
prosperar naquele sistema de crenças que valoriza apenas certos atributos.
E quanto mais vamos “prosperando” nesse ritmo de vida, o mundo
externo parece que vai validando as nossas “boas” escolhas e a nossa forma “aceitável”
de expressão, e vamos tendo a impressão de que estamos no caminho certo, no
caminho do sucesso.
É aí que a Torre da carta vem simbolizar o nosso Ego, representando
ali a ideia que temos de nós mesmos, nossa autoimportância.
Em todas as culturas encontramos monumentos que marcam no tempo
as conquistas de seus povos, os obeliscos. Torres bem altas construídas nos
territórios conquistados, quanto mais altas, maior a importância da conquista e
do respectivo conquistador.
Os obeliscos dos nossos tempos são os edifícios cada vez
mais altos que desafiam as regras da engenharia como o Empire State Building, o
Burj Khalifa e a Torre de Xangai.
Todas essas torres são símbolos de domínio e poder, e mais,
são símbolos fálicos, nos lembrando que o poder é masculino e que para atingir
esse nível de reconhecimento precisamos desenvolver um raciocínio e um
comportamento mais masculino também – o que tem implicações muito sérias para a
saúde mental e física das mulheres.
E então chega a iluminação repentina, o raio que vem mostrar
numa fração de segundo que todo aquele Ego construído sobre os valores externos
não tem sustentação nenhuma. E a nossa verdade interna que estava lá guardada a
sete chaves aproveita esse momento para romper com as estruturas psíquicas e se
apresentar claramente, como se dissesse:
“Ei, este aqui sou eu. Me veja como eu sou. Me aceite.”
Este ser interno, essencial, sempre esteve lá mas agora é
possível vê-lo e notar sua existência. A Torre é esse momento de ruptura em que o
indivíduo se dá conta de que ele não é quem pensava ser - e geralmente este
arcano se utiliza de momentos difíceis e desafiadores para que esse encontro
aconteça.
A vida parece que vai nos colocar a toda prova e nossa única opção será enfrentar aquilo de que temos mais medo.
Uma doença, um acidente, uma separação repentina, uma
demissão, são exemplos de situações trazidas pela Torre na vida prática onde o
indivíduo terá o trabalho de ir além do que ele já conhecia sobre si mesmo.
Por isso a associação entre o arcano da Torre com o trânsito astrológico de Marte, a conquista sobre si mesmo.
O que acontece é que a pessoa vai atrair uma situação de
extrema tensão a que seja impossível resistir, para que então possa haver um
relaxamento na mesma proporção. Essa tensão é a pressão interna de ser uma
pessoa que não corresponde à sua matéria prima, é muito pesado não sermos nós
mesmos.
É nessas situações em que a vida nos põe tudo a perder que nos
desligamos das distrações diárias e voltamos os olhos para o que realmente
importa, para dentro de nós e nossa necessidade de felicidade e pertencimento mais genuína.
Não raro nessas situações as pessoas fazem profundas
revisões das suas histórias e passam a adotar um estilo de vida mais saudável e
harmonioso, com mais amorosidade ou mais proximidade com a família e amigos.
Numa experiência com a Torre bem recebida e integrada, a
pessoa pode sentir a necessidade de pedir perdão a alguém, de se reaproximar de
certas pessoas ou de deixar de frequentar certos ambientes e situações.
A ideia é derrubar muros e paredes, abrindo espaço a fim de
que seja mais confortável ser quem se é de verdade, onde o Ser interno se sinta
a vontade para tomar conta do ambiente psíquico e o indivíduo tenha a
satisfação de ser ele mesmo.