Um esclarecimento importante para quem se propõe ao processo da psicanálise é que analista não é amigo, é profissional.
Mas essa diferenciação não acontece facilmente, até porque a análise se desenrola a partir da transferência, que é esse fenômeno de entrelaçamento emocional que traz segurança para a gente confiar numa pessoa estranha tantos detalhes íntimos das nossas histórias. Então é muito comum a gente sentir uma proximidade com a figura do analista que é diferente das nossas outras relações, parece que tudo o que gente conta o analista entende (e entende mesmo quando há uma boa transferência).
A análise parece uma conversa com um amigo, mas só parece. Por trás dessa conversa tem um significante pedindo para ser reconhecido, tem uma busca por sentido e um pedido de ajuda. Tudo isso é lido pelo profissional que vai aproveitando cada abertura para pontuar essa necessidade de percepção própria.
É aí que a provocação pode ter um efeito ótimo, quando estamos diante algo bem debaixo do nosso nariz mas ainda resisitimos ou distorcemos. Alguns reconhecimentos podem sim chegar na reatividade instantânea provocada por uma intervenção oportuna.
Quando o analista faz uma provocação mais contundente, isso não quer dizer que seja uma pessoa "sem coração" ou que tenha "traído a sua confiança", pelo contrário, a intervenção conta com o elemento surpresa do gesto do analista e o que isso causa de efeito no analisando. Também chamamos isso de Ato Analítico e faz parte do processo. Superar esse desconforto, lidando com ele e compreendendo o por quê dessa reatividade pode ser muito revelador sobre quem nós somos.
Em alguns momentos da minha análise pessoal, tive vontade de arremessar a caixa de lenços (de madeira) na direção do meu analista quando ele me provocou. Eu não fiz isso nenhuma vez e essa ausência de reação me mostrou como eu sou complacente, mesmo reconhecendo minha raiva eu era incapaz de expressá-la. O que eu fiz? Mudei de posição, arrumei o cabelo e propus outro assunto, assim não teria que encarar o confronto. As provocações também me mostraram quais eram os gatilhos atuais para os eventos do passado que ainda estavam doloridos e isso esclareceu o caminho para cuidarmos disso.
A análise é um processo que envolve acolhimento sim mas que também tem seus momentos necessários de desconforto e de enfrentamento pra gente assumir a castração e sair da fantasia infantil, destravando um aspecto da nossa vida que precisa voltar a fluir e se desenvolver.
Já aconteceu com você alguma provocação que gerou desconforto na análise? Conta pra mim nos comentários!
Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise
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