terça-feira, 26 de novembro de 2013

Saturno, regente do ano

Muita gente tem me perguntado: “o que os astros dizem deste ano que tem trazido experiências tão fortes?”

Na astrologia, cada ano tem um planeta regente e neste ano de 2013 a regência ficou a cargo de Saturno.

Saturno é o grande ensinador, o planeta que nos traz os valores da estrutura, da disciplina, da concretização do que é verdadeiro e duradouro.

Na mitologia, Saturno era um dos temidos Titãs que com sua foice reinava sobre a Terra, tinha vários filhos e os devorava antes que tivessem a chance de crescer e tirar-lhe o poder. Sua esposa descontente com essa situação, salvou e preparou Zeus que conseguiu crescer e quando finalmente estava pronto enfrentou seu pai, salvou os demais irmãos e iniciou uma nova geração de Deuses.


Esse mito representa a ordem e manutenção de um ciclo enquanto estiver bem alicerçado, caso a estrutura não se sustente nada impedirá a mudança.

Saturno é assim o Senhor do Tempo, é ele quem vem testar nossas estruturas e dizer se estamos prontos para uma nova fase ou se temos que aprender mais um pouco para seguir adiante.

Hoje, visto da Terra, Saturno está posicionado na direção da constelação de Escorpião – signo que representa a transformação, a purificação e o desapego. Nós acabamos de passar por essa região celeste, e se juntarmos os valores de Saturno com os do signo de Escorpião podemos assumir que este é um tempo de profundas transformações em questões fundamentais para todos nós.

Tudo aquilo que não foi bem alicerçado, que não foi construído com verdade e não colabora com nossa evolução está sendo cortado pela foice de Saturno, que nos propõe o desapego desses vínculos para seguirmos em frente em novas bases. Especialmente nos últimos dois meses, procure identificar se houve alguma experiência mais forte na sua vida pessoal e olhe com carinho para esta área da sua vida porque ela certamente merece sua atenção.

A passagem de Saturno pode ter proposto uma separação, uma amizade desfeita, um negócio que não pôde ser concluído, uma doença que nos fez repensar prioridades, um retorno ao local de origem... O fato é que se você viveu uma situação que abalou suas convicções ou impôs uma mudança indesejada, isso pode significar que nessa área você estava agindo de forma contrária à sua essência e daquele jeito o crescimento não era mais possível.

Qualquer que tenha sido o aprendizado, sejamos gratos a essa preciosa oportunidade de crescimento. Se mesmo abalada a situação pôde ser mantida, dedique amor a isso e permaneça fiel ao que estava fazendo para elevar essa experiência ao próximo nível.

E se mesmo tendo feito de tudo para se segurar a mudança foi inevitável, ou se a perda realmente aconteceu, sejamos gratos também para receber este aprendizado de coração aberto. Acredite na perfeição do Universo e deixe ir, deixe acontecer. Permita, entregue... Flua...

E se vier um momento mais difícil, deixo aqui a oração singela do Ho'oponopono que é poderosa para qualquer situação, um mantra verdadeiramente transformador e balsâmico para os corações: 

“Sinto muito, me perdoa, te amo, sou grato”. 

domingo, 17 de novembro de 2013

Escorpião, o transformador

Signo de água, receptivo, fixo, em Escorpião encontramos os ideais de regeneração, cura, transformação, intensidade e profundidade nas relações.

Com dupla regência, este signo está associado a Marte, o Senhor da Guerra e representante da nossa força pessoal, e a Plutão, o princípio do bem e do mal. Plutão é o menor dos planetas do nosso sistema solar, foi desclassificado como planeta pelo seu tamanho, mas é com sua órbita irregular que ficam estruturados os movimentos dos demais planetas sendo sua influência física determinante para manter a harmonia de todo o conjunto de astros que orbitam pelo Sol.

A energia de escorpião é receptiva, atenta e direta. Os acontecimentos ficam registrados pelo valor emocional que possuem e as relações com o outro são marcadas por uma intensidade nos sentimentos e pela busca da compreensão e acolhimento mútuos.

Extremamente perceptivos, os escorpianos têm um talento especial para extrair de si mesmos e das suas relações aquilo que está mais bem guardado e escondido, talvez até inconsciente. Vão fundo nos seus objetivos e nos seus relacionamentos (elemento água) e nessa profundidade atingem um nível único de entrega pessoal.

Olhando para dentro de nós de forma corajosa e verdadeira, vamos identificar o que é nosso sentimento genuíno e assim ressonante com nossa energia essencial (nossa luz), e de outro lado o que é desejo de controle sobre nós mesmos e sobre o outro para garantir uma relação idealizada (nossa sombra). Se conseguirmos fazer essa diferenciação com nossos conteúdos internos, podemos nos libertar daquilo que nos mantém ligados ao que impede o nosso crescimento.

Ao passar por águas tão profundas, nunca mais seremos os mesmos. A influência da energia do Escorpião nos leva a perceber também tudo aquilo que já não serve mais, que está “morto” e precisa ser descartado. O tempo de Escorpião é também tempo de desapego.

Por isso a associação de Escorpião com a morte e com o mito da Fênix, que renasce das próprias cinzas num contínuo processo de regeneração e transformação.

Outro mito associado ao Escorpião é o da águia, que por volta dos 40 anos se recolhe para tomar uma difícil decisão: esperar a morte chegar em breve ou quebrar o bico numa rocha para depois, com um bico novo, retirar todas as suas unhas e penas que nascerão de novo e permitirão à águia a renovação do seu ciclo de vida simbolizado no “Voo da águia”.

Tanto simbolismo ilustra o quanto é importante para o Escorpião o compromisso com a verdade, com a sua verdade que é única e individual. Fazer essa conexão é essencial para viver as transformações de forma positiva e integrada.

domingo, 3 de novembro de 2013

O Hierofante

A conexão com o Divino, o sentido maior da vida, o mestre; todos esses significados cabem bem neste arquétipo.

Esta carta é geralmente representada por um sacerdote, em alguns tarôs ele é o Papa, aquele que detém um conhecimento acumulado de uma determinada tradição e por isso consegue orientar os outros.

O Papa é o grande pontífice, aquele que faz a ponte entre o homem comum e a Divindade. Nessa conexão entremundos, questionamos se nossas atitudes e pensamentos estão alinhados com aquele conjunto de crenças e valores em que acreditamos sinceramente, validando os caminhos por onde passamos.

Representando a figura de autoridade que exerce o direcionamento dos demais, o Papa é a carta que nos fala dos aprendizados que chegam a partir do grupo ao qual pertencemos.

O arcano 5 é o primeiro onde aparecem outras figuras ao lado do símbolo principal, trazendo a ideia de que aqui se iniciam as primeiras inter-relações com as outras pessoas. Dá pra associar com a idade média das crianças ingressarem na escola, entre 5-6 anos as crianças estão iniciando sua integração no primeiro grupo, desenvolvem amizades e começam a perceber afinidades quando se dão conta que "gostam mais" de determinado amiguinho.

É no grupo que vamos percebendo em nós aquilo que somos, no grupo da escola estão aquelas crianças que brincam das mesmas coisas, assistem o mesmo programa de televisão, curtem o mesmo super heroi e grupos musicais. Começamos entender nós mesmos, enquanto indivíduos, pelo grupo ao qual pertencemos pois estar naquele grupo vai nos mostrando quais as minhas preferências e reconhecemos o que é importante pra nós e o que não é exatamente nosso.

Levando isso para uma vida adulta e no contexto da época em que o tarot foi popularizado, o equivalente dessa ideia de grupo seria a Igreja, um lugar comum onde todas as pessoas se reuniam para receber orientações e confirmar suas ações como corretas dentro de uma determinada forma de ver o mundo e a vida.

A figura do papa é essa confirmação de que o que estamos fazendo está correto e que nossas atitudes são coerentes aos olhos do grupo em que estamos inseridos, que pode ser a família, a escola, o trabalho ou até mesmo a igreja.

Buscar essas afinizações no grupo é natural em nós e muitas vezes é importante se sentir respaldado por uma crença maior, pela "palavra de Deus", para tomar certas decisões. Agir de acordo com uma orientação que já foi testada e organizada por um grupo nos confere uma segurança e nos autoriza a seguir num determinado caminho.

Essa atitude é inicial no processo de individuação, buscamos orientações e autorizações externas como a criança busca o olhar de aprovação dos pais para saber se pode ou não colocar o dedo naquele buraquinho da parede.

Há realmente um momento da vida de todos nós em que é necessário irmos tendo essas confirmações de quem é "maior" do que nós e pode nos mostrar o caminho e o passo mais certo. O outro neste caso atua como um modelo de comportamento e ao nos comportarmos como esse modelo automaticamente nos sentimos autorizados a realizar.

Na psicanálise, a identificação é um mecanismo de defesa do Ego. Na construção da sua personalidade, o indivíduo vai buscando as situações que mais promovam nele a segurança para sobreviver e se desenvolver. A identificação é um modo primitivo de constituição do sujeito que, ao incorporar o modelo dado pelo outro, vai assegurar que sua própria identidade seja preservada.

Freud aborda o mecanismo da identificação nos primeiros vínculos da criança com sua família, colocando o pai como modelo (pai = papa) e vendo a identificação como processo preparatório para a formação do Complexo de Édipo - que para o pai da psicanálise seria o evento psíquico determinante na construção da personalidade de todos nós. Segundo ele, na identificação há um empenho em moldar o próprio Ego de acordo com as características do indivíduo que foi tomado como modelo.

É dessa forma que nos sentimos parte da nossa família de origem, vamos reproduzindo os padrões e crenças familiares e carregamos o brasão dos nomes paternos ao longo da vida, repetindo as características da família na nossa vida também.

Quem nunca ouviu que italiano fala alto? Pois saber que a família tem ascendência italiana pode autorizar uma pessoa que realmente fala alto a continuar falando alto, afinal, ela pertence aquele grupo que fala alto. Será que todos os italianos falam alto, ou será que existe uma relação entre aquela terra e o volume de voz? Talvez não, talvez sim, quem sabe... Mas acreditar que todo italiano fala alto é uma forma de preservar aquela característica em alguém, para que ele se permita ser.

Daí por diante, vamos mantendo essas identificações onde podemos nos encaixar para justificar aquilo que somos - ou que damos conta de ser. E assim participar do grupo vai nos dando um sentido e um direcionamento, passamos a valorizar aquilo que é importante para o grupo e isso vai nos conferindo valor também.

Mas o que acontece quando nos encaixamos num modelo que não corresponde exatamente à nossa essência? O esforço de nos encaixarmos num molde que não atende o nosso formato causa muita tensão, se por um lado buscamos na identificação com um modelo o caminho para construção da nossa própria identidade, ao percebermos no mundo externo a não aceitação e a hostilidade a tendência é sermos igualmente intolerantes - conosco e com os outros.

Alguns anos mais tarde a psicanálise vai abordar o ambiente da família de origem como experiência fundante de uma percepção ética da condição humana. Donald W. Winnicott afirma que uma criança suficientemente cuidada tem condições de pressentir no seu ambiente as condições que permitirão a ela formular, por si mesma, uma relação ética com o mundo externo a partir da sensibilização com as necessidades de cada um e do respeito mútuo.

No grupo familiar, esses valores são estruturantes da personalidade e vão resultar num desenvolvimento psíquico saudável - que, por sua vez, permitirá ao indivíduo se relacionar com as pessoas de fora do seu grupo de uma forma colaborativa e mais tolerante com as diferenças.

E se a um primeiro momento nossa sobrevivência e desenvolvimento saudáveis dependeram da qualidade ética do nosso ambiente familiar, ao longo da vida nós vamos criando laços com outros grupos que também nos representem.

Conforme vamos avançando no processo de amadurecimento na vida, vamos percebendo que nem sempre estamos inseridos nos grupos que comungam da mesma visão de mundo e precisamos encontrar outros coletivos onde nos sintamos acolhidos para continuar nosso desenvolvimento pessoal.

E aqui reside a chave do arcano do Hierofante: ele nos apresenta à sensação do PERTENCIMENTO que é o elemento primordial na construção da noção do coletivo. Por isso é a primeira carta do tarot com mais de uma pessoa, é a base para uma relação com o outro para além do nosso grupo familiar.

A sensação de pertencimento, quando genuína, permite que o indivíduo se expresse de forma natural e espontânea no seu grupo familiar e aja de forma coerente com o que ele entende ser a sua verdade - seu verdadeiro Self. Quando o ambiente familiar de origem permite isso, a pessoa não se sente ameaçada por ser quem ela é e ela não vai sentir nenhuma necessidade de se ajustar ou de modificar aspectos seus para se encaixar no grupo. Ao pertencer, não há a tensão da ameaça ao seu jeito de ser ou dos ajustes de encaixe. Ao contrário, ao pertencer existe acolhimento e liberdade para ser.

Assim, quando nossa relação com o grupo de origem é suficientemente satisfatória, temos condições de lidar com as outras pessoas que chegam na nossa vida dessa mesma forma, exercitando a tolerância e aceitação com o outro e resultando numa atitude mais colaborativa na vida em comunidade - que vai se ampliando depois para as noções de cidadania e constituição do Estado de Direito como proposto por Winnicott.

Nesse sentido talvez a ideia da manifestação do divino em nós contida nessa carta, ao sermos autênticos de alguma forma assumimos o lugar que outrora era ocupado apenas pelo sacerdote enquanto representante do divino na Terra. Nossa autenticidade seria a chave para manifestar o divino em cada um.

Porém, no estudo do Hierofante eu gosto muito da imagem proposta no Tarot Mitológico, um trabalho incrível da astróloga Liz Greene em coautoria com Juliet Sharman-Burke, que reúne arquétipos e mitos de uma forma muito inspiradora.

Ela propõe a figura de Quíron como o orientador no lugar do Papa, pois na mitologia Quíron era um centauro muito sábio que ficava a cargo de educar os filhos dos Deuses. Porém, certa feita o centauro foi ferido por uma flecha envenenada e, mesmo com todo o seu conhecimento, não era possível curar-se da ferida que lhe causava contínua dor.

Quíron representa aqui não só a figura do orientador, por deter o conhecimento e passá-lo adiante ensinando o grupo, mas por ter sido ferido e sua lesão nunca cicatrizar, a dor que ele sentia fazia com que ele experimentasse diariamente o sofrimento. Apesar de conviver com os Deuses, esse sofrer o colocava em contato com a natureza humana e assim Quíron podia ter empatia com os filhos humanos dos Deuses, compreendê-los para poder ensiná-los.

Na simbologia de Quiron é que pra mim acontece o grande aprendizado desta carta. Para além das identificações e formações da personalidade, o que eu vejo neste arcano é a empatia. Estar no grupo não só nos confere uma noção de identidade e pertencimento, como também viver em coletividade nos permite desenvolver esse atributo humano tão importante que é a empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro.

É na empatia que permitimos que a conexão com o outro se estabeleça. Se por um momento nos aproximamos do outro por conta das identificações, é com a empatia que consolidamos o vínculo.

Porque se ficarmos apenas na identificação, a minha conexão com o outro vai passar pelo filtro daquilo que eu acredito no momento e se a pessoa não atender os valores daquele filtro eu não me identifico com ela, não a tolero e não a considero uma igual. Ela não pertence.

E daí que vamos taxando o diferente como errado, feio e inadequado e vamos abrindo a porta para preconceitos e discriminações que separam as pessoas. Criamos um mundo de segregações onde classifico as pessoas e valorizo apenas aquelas que penso serem iguais a mim, abrindo uma categoria inferior onde ficam todas aquelas outras pessoas diferentes. Não é coincidência que os fundamentalismos se justifiquem na figura de um líder supremo, o Hierofante em sua forma negativa encarna essa confluência de valores excludentes a quem não se encaixa  no grupo .

O arcano do Hierofante nos alerta para não nos investirmos nessa falsa valorização de nós mesmos, caindo na armadilha dos complexos de superioridade ou inferioridade quando não conseguimos lidar com a "ameaça" que o diferente traz.

Só com a empatia é que podemos restabelecer uma convivência com os outros que permita que as conexões se formem independente de qualquer filtro ou segregação, ligando-nos verdadeiramente e conferindo um real sentido de pertencimento. Nesse ambiente seguro de acolhimento é que será possível o desenvolvimento pessoal e a elevação da consciência de forma positiva para o indivíduo e para o grupo onde estiver inserido.

Quando a carta do Hierofante sai numa leitura, é o momento de revisar se nossas crenças e atitudes são coerentes ou se precisamos fazer um alinhamento entre pensar e fazer. Pode ser também que chegou aquele momento na vida em que temos que procurar um grupo que realmente reflita aquilo em que acreditamos, ou ainda nos darmos conta de que para crescer precisamos ser mais tolerantes e trazer a empatia para nosso dia a dia.

Para nos inspirar, trago este vídeo que fala sobre a empatia e como a convivência com os outros pode ser mais rica para todos.




Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

terça-feira, 15 de outubro de 2013

O Imperador

Imperador Tarot Mitológico
Um homem sentado no trono usando adornos de realeza. Ele está muito à vontade, desfrutando da sua posição e nos encarando com uma expressão desafiadora: quem vai tirá-lo de lá?

O Imperador ocupa uma posição de comando. Está no alto porque já fez todo um movimento anterior para alcançar aquela posição elevada, o que vem representado pela altura da montanha onde está assentado e pela ausência de elementos emocionais nessa carta.

O Imperador comanda e é respeitado por isso. Domina a vontade (o raio) e a realização (a Terra). A águia ao seu lado lhe confere a visão privilegiada do alto de quem conhece o seu território.

Essa carta nos fala do aprendizado da autonomia, o poder de tomar decisões firmes e sustentá-las até que se realizem se fato.

Uma decisão firme se inicia no reconhecimento do que é realmente uma vontade, um desejo, uma necessidade interna. A partir desse reconhecimento é preciso nomear essa vontade: é vontade de que?

Fazendo um pequeno paralelo entre o número 4 deste arcano e a idade de 4 anos, é nessa idade que a criança realiza por si mesma suas primeiras ações de querer-realizar, notadamente o controle do sistema excretor.

imperador tarot frieda harrisControlar é o verbo chave aqui e por volta dos 4 anos a criança já controla bem seus movimentos corporais, começa a se interessar por aquilo que requeira maior habilidade manual como pinturas e massinhas, já demonstra seu interesse por aquelas comidinhas que gosta e pode já ter seus amigos preferidos, manifestando sua vontade de fazer algumas coisas e buscando os recursos do seu mundo para fazer o que deseja.

O número quatro e o caráter ativo do lado direito (o lado do movimento, da energia yang) vem bem marcados na simbologia da carta ilustrada por Frieda Harris. Até a perna do Imperador forma um número quatro, que também é associado à estabilidade e controle.

Controlar a vontade é o início do caminho da autonomia, e por isso o arcano do Imperador é associado também ao signo de Áries, cujos valores são liberdade e independência para agir. A ideia de autonomia nos propõe que, para que nossa vontade seja realizada, temos que buscar uma maneira própria de realizá-la.

Nossa primeira vontade no mundo é a de alimento. Logo após nascer, o bebê já tem esse reflexo de sobrevivência e busca sozinho o peito da mãe, chegando a rastejar pelo corpo dela até encontrar o seio. Tanto o movimento quanto a postura foram conquistados pelo pequeno bebê, e assim deve ocorrer com cada novo movimento seu nessa fase do desenvolvimento humano.

Tarot Imperador Pamela Smith
Na representação desta carta feita por Pâmela Smith no tarot Rider-Waite com as cores vermelhas vem bem denotado o caráter ígneo da vontade, preenchendo a posição conquistada pelo Imperador no Arcano IV. Ele está vestido de vontade, tem o rosto avermelhado e tem ao fundo um céu avermelhado, ele é o próprio querer manifestado estavelmente e ocupando o seu lugar - sentado, dominando e estabilizando a energia.

Todas as posturas corporais das crianças devem ser conquistadas para que ocorram corretamente as sinapses cerebrais que vão interligando o fluxo de energia, a coordenação motora do esforço e estabelecendo uma ordem correta na sequência de movimentos e percepção do ambiente. Uma criança colocada numa postura sentada, por exemplo, pode até desenvolver o equilíbrio necessário para se manter assim mas se ela mesma não aprende como chegar nessa postura será incapaz de repeti-la quando quiser e vai ficar dependendo de alguém colocá-la sentada novamente. Ela não dominará o movimento.

Realizar os movimentos da vida por si mesmo, numa analogia com essa fase motora primordial, é muito importante para que nós possamos desenvolver nossas competências. Com as competências ativadas é que será possível, depois, realizar aquelas necessidades internas por nós mesmos e para nossa satisfação.

Reconhecer nossas necessidades internas e encontrar uma maneira de realizá-las é uma arte a ser desenvolvida ao longo da vida. Não raro, nossas vontades não são validadas pelo nosso entorno, podem ser inadequadas ou temidas de acordo com a cultura onde estamos inseridos ou com o que um determinado grupo valoriza. Numa comunidade religiosa, por exemplo, existem comportamentos que são considerados adequados e outros não são, assim, como assumir uma vontade que destoe do que é valorizado naquele ambiente? Num cenário hostil, fica mais difícil sustentar uma vontade que não esteja no modelo daquilo que se espera de nós.

Outras vezes, nossas vontades não "combinam" com a pessoa que pensamos ser porque desde muito cedo recebemos rótulos. Nossos pais nos chamam o tempo todo de "inteligentes", ou "muito maduras para a idade", ou então aquelas crianças "terríveis" que vivem fazendo "pirraças", e assim vamos acreditando que somos aquilo que nos nomearam e passando pela vida sustentando aquele rótulo.

Já pensou no que combina com os seus rótulos? Você sabe quais são os seus rótulos?

Tarot Vertigo ImperadorQuando ficamos restritos aos rótulos que nos foram dados, nossa posição perante a vida passa a ser de marionetes, pensamos que estamos nos movendo no mundo quando na verdade estamos sendo "colocados em determinadas posturas" pela intenção e expectativas das outras pessoas, como sugere a ilustração do Vertigo Tarot proposta por Rachel Pollack para o arquétipo do Imperador.

A partir das nossas realizações, vamos também construindo a imagem que temos de nós mesmos e nossa representação no mundo. É parte da construção do Ego, aquela área da nossa psique com que nos confere identidade e que faz a mediação entre o que vivemos no interior (vontade) e no exterior (realidade).

Na teorização de Freud, o Ego é uma estância da consciência individual que trabalha como intermediador nesse caminho entre vontade e realização, fazendo com que a pessoa perceba, pela razão, o momento e o caminho certos para que o que ela deseja possa ser concretizado dentro das possibilidades daquela realidade - conforme a leitura que a pessoa consiga fazer do mundo em que vive, o chamado "princípio de realidade".

Nossas ações no mundo vão também confirmando quem somos para nós mesmos ao longo da vida e se fazemos coisas "boas" vamos acreditando que somos "bons", e assim por diante nossa autoimagem vai se formando com base nessa classificação das nossas atitudes. Somos o que fazemos.

Mas se aquilo que fazemos não corresponde à nossa vontade mais genuína acabamos nos comportando como marionetes do desejo alheio, nossa própria imagem fica distorcida e não nos reconhecemos mais pois não há coerência entre o que queremos e o que fazemos.

Alguém nos colocou naquela posição e não conseguimos mais sair desse lugar, ficamos dependentes e nossos movimentos na vida acontecem apenas pelo estímulo externo.

Acreditamos que temos que fazer certas coisas que combinem com a posição em que fomos colocados e acabamos comprometidos em consequências que podem nos levar para ainda mais longe daquilo que realmente desejamos, num círculo vicioso de insatisfação-dependência- frustração do que se  compreende como "ego desestruturado".

Nesse contexto não há nenhuma autonomia moral e todas as vontades da pessoa ficam em segundo plano esperando para acontecerem, enquanto ela própria realiza apenas o que os outros esperam dela. Essa incoerência vai criando uma noção falsa de que "não dá pra ser diferente" e vai nos imobilizando perante a vida, levando a uma sensação constante de insatisfação.

Para romper com esse ciclo é preciso assimilar o que realmente é nosso desejo sem se influenciar pelas expectativas dos outros (diferenciação) e sem se prender aos rótulos que nos foram dados (individuação), indo além da dependência da aprovação e buscando liberdade para a relação querer-realizar (tão bem expresso nos valores do signo de Áries).

A posição do Imperador precisa ser conquistada.

Muitas vezes só conscientizar a relação de dependência não é suficiente para modificar a nossa forma de agir, é preciso ainda observação constante e uma dose de auto-disciplina para perceber essa influência do outro e nos mantermos íntegros e fiéis a nós mesmos. Chegar a ser Imperador exige esforço e muita competência!

Então quando esta carta aparece numa leitura é porque chegou o momento de retomar o controle da sua vida, reconhecendo suas necessidades internas reais para exercer plenamente suas decisões no mundo. O Imperador te desafia a tomar o seu lugar e agir de acordo com a sua vontade.

É hora de se posicionar e defender seus ideais e pontos de vista, de decidir por si mesmo e se independizar.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Libra, aperfeiçoando no equilíbrio



Libra é o signo que traz os valores do equilíbrio, justiça, beleza e harmonia. Associado ao elemento ar, seus conceitos são vividos no aspecto mental e encaminham para uma nova compreensão de nós e do mundo à nossa volta.

Dinâmico, expansivo e interativo, é o primeiro dos signos sociais - em que a experiência é voltada para o “nós”. Então a tônica deste signo são os relacionamentos e aqui temos o primeiro degrau para a experiência humana em coletividade.

A energia libriana propõe que tratemos o outro com o mesmo respeito e justiça que adotamos para conosco, o equilíbrio nas relações é priorizado não só por uma questão de tratar o outro com igualdade mas sim porque esse é o modo como o Eu quer ser tratado também, numa forma mais elaborada de autopreservação.

Não conseguimos ver completamente a nós mesmos, nossos olhos estão dentro da nossa cabeça – com todas as implicações que isso tem de fato e metaforicamente. Só conseguimos ver completamente o outro. De nós mesmos só é possível ver o reflexo.

Por isso dizemos que o outro é o nosso espelho, é no outro, no comportamento do outro, nas atitudes do outro, que vamos perceber aquilo que há de bom e de ruim em nós mesmos. O outro vai atrair a nossa atenção para aquilo que estamos prontos para reconhecer em nós, internamente, e assim nos apaixonamos pela nossa própria imagem refletida nele (como no mito de Narciso). A partir daí encontramos um motivo para iniciar a comunicação e nos abrirmos receptivamente à interação.

Libra nos convida a esse impulso de buscar o outro e iniciarmos um vínculo afetivo pautado no respeito mútuo e colaboração, expressando toda a harmonia e beleza que há em nosso ser interno para que o relacionamento seja também uma maneira de se aperfeiçoar.

Nesse prisma, o relacionamento tem o poder de transformar positivamente não só o Ser mas também tem o poder de modificar a sua realidade, tornando-a mais bela e harmônica em ressonância a essa transcendência interna - o que se estende para além de nós e torna o mundo um lugar melhor.

sábado, 28 de setembro de 2013

A Imperatriz

Essa linda carta nos mostra uma mulher passeando por campos férteis, e ela mesma é a representação da fertilidade porque está grávida e feliz.

Coroada com um castelo em sua cabeça, ela pode materializar qualquer desejo pois a Imperatriz domina o princípio gerador da natureza.

Ela sabe como, através dela, a força criadora da natureza pode gerar desde um campo de plantação de trigo até um novo ser humano.

Ela, a mulher, é a própria manifestação viva da natureza em ação pelo princípio feminino, essa força que gera aquilo que passa a existir na materialidade e com poder de nutrir e sustentar essa criação.

Tudo que existe passa por um processo de criação que antecede sua manifestação. É no processo de criação que acontece a organização e o desenvolvimento das capacidades necessárias para trazer algo novo ao mundo.

Apenas ser capaz não é suficiente aqui, é preciso que as capacidades sejam organizadas, colocadas em perspectiva e bem aproveitadas para poderem funcionar como uma "fábrica" daquilo que se pretende criar: uma pintura, um livro, uma empresa, um método de ensino, o projeto de uma casa, um jardim...

Para uma criação artística acontecer, por exemplo, além do talento natural do artista é necessário que ele se disponha a essa realização e empregue sua energia pessoal para manifestar sua arte no mundo externo, impregnando aquela realização com sua forma de entender e sentir o mundo, e que vai resultar num objeto com vida própria e independente do seu criador.

A Imperatriz simboliza esse processo de criação onde se emprega a energia própria para dar vida a algo novo, alimentando esse "bebê" desde o "útero" para que ele possa crescer e adquirir a forma que lhe permita uma existência autônoma.

Mas essa impregnação de energia acontece quando fazemos algo que tem a ver com a nossa própria natureza, porque se trata da nossa própria energia, nosso poder pessoal. Filhos são gerados a partir de uma entrega à nossa energia mais primitiva, a energia sexual, e por isso a criação que tratamos neste arcano é aquela que vem do desejo puro e nos causa prazer.

Enquanto arquétipo, a Imperatriz vem nos falar do nosso potencial de realizar no mundo aquilo que já existe de forma imanente dentro de nós mesmos, unindo os princípios ativo, do Mago, e passivo, da Sacerdotisa.

No entanto, se a criação pretendida não está consonante com o que temos imanente em nós, essa criação fica comprometida. Porque o que dá vida ao objeto novo é a nossa própria energia e simplesmente não podemos vitalizar algo que não corresponda com a nossa natureza essencial.

Quando queremos criar algo diferente do que ressoa conosco, nossos planos não dão certo. Mesmo que cheguem a ser criadas, essas realidades não conseguem ser nutridas nem sustentadas por nós, não conseguem manter uma existência autônoma e terminam morrendo.

E isso acontece muito quando nos damos conta de que vivemos numa sociedade que exige que a gente cumpra certas etapas na vida e produza determinados resultados: formar-se em uma faculdade, construir uma carreira profissional, ter uma casa própria, um casamento "inabalável", e todas essas representações do que hoje se entende como sucesso pessoal.

Esses resultados não contemplam a complexidade humana dos desejos de cada um. Para alguém com uma grande necessidade de viver em liberdade, nenhum casamento "bem sucedido" será suficiente porque não vai alimentar aquilo que a pessoa deseja de verdade. E faltando essa seiva que energiza e nutre as criações, mesmo um casamento muito bem sucedido pode não resistir e morrer.

Num ambiente onde não estamos à vontade para sermos nós mesmos, não relaxamos. O desconforto de ser uma pessoa não autêntica vai criando uma tensão que "entope" os nossos canais criativos e todo nosso potencial realizador no mundo fica em suspenso.

Ou então acontece o caminho inverso: aquilo que foi criado e que não tem a ver com a nossa natureza acaba esgotando toda a nossa energia e ficamos completamente desvitalizados.

É o caso de alguém que seguiu uma carreira profissional com a qual não tem afinidade, por exemplo. Como aquela criação, a carreira, não tinha afinidade com a pessoa, provavelmente ela terá que fazer um aporte muito maior de energia para manter aquilo funcionando, mas isso exige dela um esforço maior e uma quantidade de energia que ela não tem. Nesse processo de desgaste, podemos ficar desmotivados por não ver o resultado acontecer, isso nos enfraquece e pode até nos deixar doentes.

Uma criação com a qual não temos ressonância suga toda nossa energia vital e é importante fazermos esse reconhecimento para, a partir do concreto, fazer escolhas que nos trazem vitalidade.

Na teoria psicanalítica sustentada por Sigmund Freud existe o conceito de "Pulsão de Vida", que sucintamente afirma que tudo aquilo que desejamos e que nos faz bem, nos preenche de alegria e positividade, é um impulso gerador de vitalidade que vai contribuir para que sejamos saudáveis - inclusive mentalmente.

A pulsão de vida tem um caráter construtivo, agregador e de autopreservação, é uma atitude positiva que traz benefícios fazendo a pessoa se sentir integrada e parte do todo. Seria uma força que nos direciona a realizar aquilo que não só atenda nossos desejos mas que também nos permita sentirmos bem em existir nesse mundo, o que refletirá na boa qualidade dos nossos relacionamentos com os outros e no sentimento de contentamento com a vida.

É a pulsão de vida que nos faz escolher uma alimentação mais saudável, a cuidar da nossa saúde, que nos inspira a fazermos algo pelo crescimento coletivo e que nos direciona para aqueles momentos agradáveis que alimentam a alma.

Quando estamos psiquicamente saudáveis, a pulsão de vida se expressa como essa energia impregnadora das coisas positivas que criamos para nós e para os outros, seja um relacionamento equilibrado, uma carreira profissional que corresponde a nossa vocação, um projeto de vida com autenticidade ou até mesmo um filho como continuidade de nós mesmos. É a própria energia de vida fluindo e se manifestando através de nós.

A maioria das cartas de tarot apresenta a Imperatriz com um escudo, denotando o brasão como uma marca daquela pessoa. Essa imagem vem corroborar a ideia de estar confortável no lugar que a pessoa ocupa no mundo, o brasão é a marca desse lugar ocupado e vem indicar que a pessoa está à vontade em ser quem ela é e de estar naquele ponto da sua trajetória de vida. Ela é autêntica e se sente livre para ser quem é de verdade.

O arquétipo da Imperatriz nos convida a realizar tudo aquilo que desejamos genuinamente e que corresponde à nossa verdade, empregando nossa energia e essência nisso, e em contrapartida o prazer de realizar algo tão positivo e autêntico nos retroalimenta e mantem um ciclo virtuoso do caminho da energia, elevando nossa vitalidade.

Isso não é lindo?

Uma característica constante das cartas de tarot que representam o arcano da Imperatriz é a beleza, enquanto atributo natural de alguém que está vivendo de forma harmonizada com a sua essência.

O símbolo da beleza aqui vem representar todo esse contentamento de existir em liberdade e de caminhar pela vida com satisfação, atraindo abundância e prosperidade.

Este arquétipo também me lembra muito uma expressão dos índios Navajo norte-americanos que é "caminhar em beleza" - que significa a expressão dessa ideia de fazer parte da natureza, contemplar a si mesmo como manifestação desse grande poder e viver criando a beleza com suas atitudes.

Criar a beleza é manifestar o que temos de melhor. Como seria o nosso mundo se todos tivessem essa chance?

Quando esta carta surge numa leitura é tempo de aproveitar as oportunidades de expansão para frutificar nossos talentos e concretizar novos projetos. Tudo indica que este é um momento de ver os sonhos se tornando realidade, aproveitando cada momento dessa experiência para se sentir mais pleno e satisfeito com a vida.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Lua em Áries: sai de baixo!!!


Sabe aquele dia em que a gente explode sem motivo, grita com os outros que ficam olhando pra gente sem entender nada, atira o celular sem sinal na parede com raiva e tem vontade de sair quebrando tudo?

É tudo culpa da Lua em Áries!!

A Lua é um planeta que simboliza as nossas reações emocionais – na Astrologia, do ponto de vista da Terra, a Lua é um planeta.

Em Áries reside o impulso para a ação e a vontade de conquista.

O posicionamento da Lua, vista da Terra, na direção da constelação de Áries combinas essas duas consciências e acaba reproduzindo algo do tipo: reações emocionais impulsivas e agressivas.

E nós recebemos esses influxos em maior ou menor intensidade, dependendo da nossa afinidade com essas energias. Pessoas com uma configuração parecida (Lua em Áries no mapa natal, por exemplo) são como antenas para receber a influência desse posicionamento e podem ficar mais sensibilizadas com essa energia toda.

Mas de uma maneira geral, todos nós somos influenciados pela Lua todos os dias. A Lua rege o movimento das águas, das marés, dos ciclos femininos, do sangue. Com a Lua em Áries, o sangue ferve e se nos deixarmos levar pela onda da energia que está circulando podemos tomar atitudes mais agressivas em situações corriqueiras e acabar perdendo o controle mesmo.

Quando a gente tem consciência dessa situação e seus efeitos, fica mais fácil a gente se perceber e com isso fazer um esforço para controlar nossas reações para não perder a cabeça no ambiente de trabalho ou no trânsito, por exemplo.

Mas a Lua é bem rápida, fica apenas 2 dias e pouquinho em cada signo. Então a boa notícia é que esse posicionamento se desfaz rápido e tudo volta ao normal.

E na próxima Lua em Áries, lembre-se: respire fundo, conte até dez e keep walking!!

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Encontrando um propósito em Virgem



A realização das habilidades de forma prática e o aprimoramento constante são a tônica do signo de Virgem.

Regidos por Mercúrio, os nativos de Virgem usam o raciocínio de forma crítica e analisam muito seriamente o ambiente, os outros e a si mesmos. Com essa atitude analítica conseguem perceber não só suas próprias características mas também qual a melhor forma de suas habilidades serem bem aproveitadas, numa busca de aperfeiçoamento do Ser.

Em Virgem completamos a primeira sequência de seis signos pessoais, até aqui os aprendizados propostos para cada signo são voltados para o indivíduo, para o “Eu”. A partir do signo seguinte as lições são voltadas para o coletivo, para o “Nós”.

Nesse sentido, em Virgem se pressupõe que o Ser já tenha absorvido as consciências trazidas pelos signos anteriores, tendo estabelecido consigo mesmo um reconhecimento tal que lhe permita perceber que cada um é dotado de atributos que o destacam como um Ser único e especial e, portanto, cada um precisa desenvolver sua manifestação neste mundo da melhor forma possível, para cumprir com um plano maior que é o funcionamento da grande engrenagem da humanidade.

Ter esse olhar analítico nos permite reconhecer os atributos pessoais que podem ser desenvolvidos de maneira mais disciplinada e organizada, para atingirem sua melhor forma de expressão em ações concretas.

Associado ao elemento Terra, concretizar é algo muito importante para este signo. Porque existe no virginiano essa certeza interna de que o mundo precisa dele para que tudo funcione da melhor forma possível, e ele está sempre disposto a colaborar com esse aprimoramento colocando em práticas seus saberes e capacidades.

Porém, pela natureza introvertida do elemento terra, os nativos de virgem geralmente são tímidos e às vezes precisam primeiro fortalecer sua autoestima para só então reconhecer e trabalhar seus próprios talentos.

Como são regidos por Mercúrio, que é muito rápido e se interessa por vários assuntos ao mesmo tempo, os virginianos tendem a ir se testando a fim de cobrir todas as suas possibilidades. Mas é preciso estar atento para não se perderem em tantas demandas nem desenvolver um nível de exigência inatingível consigo mesmo. Não raro, esses nativos mostram uma tendência ao perfeccionismo, levando tudo que fazem muito a sério, e caso não consigam alcançar tamanho nível de eficiência podem se sentir frustrados.

Precisam de muito cuidado com sua autoestima, sendo sugerida uma dose extra de leveza para olharem amorosamente para si mesmos e não se criticarem diante das altas expectativas.

Equilibrando talentos e capacidades, chegamos no propósito daquela configuração inicial de cada um: foi para essa aplicação prática mais benéfica para si mesmo e para os outros que cada um nasceu com seus atributos próprios, únicos e especiais.

Quando colocamos nossas habilidades em prática visando o nosso próprio aperfeiçoamento nossas ações diárias passam a ser não mais um trabalho, mas um serviço. O Ser já consciente de quem é do que é capaz de fazer se coloca para servir a humanidade com tudo aquilo que ele já aperfeiçoou em sua trajetória pessoal.

E com um propósito definido podemos, por meio das nossas atitudes lapidadas e aperfeiçoadas, servir a nós e aos outros de forma colaborativa e assim garantir o funcionamento dessa engrenagem maior – a experiência humana em coletividade que se iniciará no próximo signo, Libra.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A Sacerdotisa

A Sacerdotisa Tarot
Uma mulher sentada entre duas colunas, segurando um livro sagrado onde está o conhecimento do mundo - a Torá. Atrás dela, um véu colorido de frutas e sementes impede que a visão chegue ao mar de águas tão azuis como o manto que a veste. As águas fluem dela e escorrem pela Lua assentada em seus pés.

O grande mistério, aquilo que não está aparente e não pode ser captado apenas pelos olhos da mente. É preciso ainda sentir para entender. Aqui a ideia é de compreensão e receptividade, então não há movimento ativo nem direto.

A ação é a recepção da realidade que se apresenta. Observar, perceber e entender. Aqui a atitude é passiva e o movimento é de fora para dentro, rumo às águas profundas do inconsciente da mente humana.

A Sacerdotisa é o arcano que nos fala do nosso mundo interno, de tudo aquilo que vamos processando do lado de dentro a partir do que assimilamos do mundo externo. São nossas primeiras impressões a respeito do que percebemos no meio onde vivemos, os primeiros aprendizados e as conclusões mais íntimas sobre nós mesmos.

Do lado de dentro, porém, as experiências que vivemos não são absorvidas apenas pela mente, elas também são sentidas. Aqui, a mensagem do Tarot é a de ir correspondendo a coluna branca com a coluna escura, relacionando o que acontece no externo que cria algo no interno.

Tudo que acontece fora causa um efeito dentro, e a Sacerdotisa é esse princípio que nos leva a observar o entorno e ir absorvendo pouco a pouco a realidade com base naquilo que essa realidade nos faz sentir. O que sentimos são as nossas emoções e o aprendizado acontece quando estamos vivenciando os atributos femininos da absorção e receptividade que o elemento água tem.

A Sacerdotisa é uma carta noturna. É no silêncio da noite e na pausa do sono e da inconsciência que podemos acessar os ensinos propostos pelo arcano. Entrar em contato com a Sacerdotisa exige que a gente vá desligando a atenção externa, deixe de estar alerta e vá para dentro observar o que se passa por dentro.
Aqui existe uma proximidade entre o significado do arcano da Sacerdotisa com os desdobramentos da noção do Inconsciente e da função do ID como seu aspecto mais profundo, nos termos de Freud. Para ele, existe um compartimento da mente humana onde ficam armazenadas todas essas sensações e informações emocionais relacionadas aos fatos da vida que experimentamos, mas essas percepções não ficam disponíveis de imediato à memória. Antes, ficam armazenadas numa região de acesso mais difícil onde não chegamos de forma atenta e consciente apenas, mas precisaremos restabelecer a mesma conexão emocional vinculada àquela informação para retomarmos o contato com aquele conteúdo armazenado ali. É o Inconsciente. 

O que acontece dentro de nós quando recebemos a atenção que precisamos, quando somos elogiados ou quando sofremos uma injustiça?

Todas as nossas vivências no mundo externo vão criando sensações em nós e nos fazem experimentar emoções que são associadas a esses eventos. Existimos também no sentir e nossas emoções tão o tom daquilo que está acontecendo na realidade concreta, e é assim que vamos classificando as experiências e aprendendo sobre nós e o nosso ambiente.

A moderna neurociência afirma que nosso cérebro ainda está em formação quando nascemos, e que nos primeiros 2 anos de vida todas as nossas memórias ficam registradas no corpo. Nesse período, basicamente vamos classificando as experiências pelos critérios do "Prazer" e do "Desprazer".

Carinho, fome, sono, desconforto, desgaste físico, excitação, nutrição, tudo vai sendo experimentado pela criança a partir da sensação de prazer ou de desprazer que ela vivencia com a situação. Uma criança bem atendida tem mais sensações corporais de bem estar e vivencia emoções satisfatórias, e assim vai assimilando o mundo de uma forma mais positiva e confiante. 

E para uma pessoa positiva e confiante, a vida se descortina em vários caminhos possíveis. O otimismo é característica de quem se sente bem ocupando seu lugar no mundo e acredita que pode realizar qualquer coisa. Esse é o significado das sementes de frutas na imagem do arcano, várias possibilidades.

A Sacerdotisa é o arquétipo número 2 que nos fala desse conhecimento que vem de fora pra dentro e acontece no reino do sentir, o lugar da intuição. Nossa voz interna.

A intuição ocorre no corpo da mesma forma que o aprendizado inicial é registrado no corpo nos primeiros 2 anos de vida. De algum modo, o corpo faz uma leitura do que acontece ao nosso redor e reconhece, a partir das emoções evocadas, se aquela situação é positiva ou não.

Sabe quando nos deparamos com uma situação que nos causa uma sensação ruim,que a gente nem sabe explicar? Ou quando sentimos aquele arrepio" que nos avisa: não vá por aí, não faça! 

É porque já aprendemos, não só pelo processo mental de elaboração, mas também por já termos sentido os efeitos daquela situação em nós e nos lembrarmos intuitivamente disso. Raiva, medo e angústia são exemplos de emoções associadas a acontecimentos externos e que nos permitem identificar riscos e nos proteger quando necessário.

A Sacerdotisa está protegida pelo véu. O que existe ali atrás do véu? Não se sabe... Mas a Sacerdotisa detém a sabedoria da vida, e vem nos ensinar que podemos reconhecer o que está lá atrás do véu se fecharmos os olhos e movermos a atenção para dentro.

Nesse momento percebemos que existe mais do que aquilo que entendemos como realidade. É quando enxergamos "além do véu" e nos damos conta de que a realidade é parte de algo maior que acontece dentro de nós também. Esse nosso mundo interno é tão real quanto o externo. A partir disso podemos conectar com esse ser interior que parece saber mais do que nós mesmos porque ele conhece a essência das coisas, essa verdade que fica oculta em outro nível de percepção e ainda não tinha sido alcançada porque é mais profunda. 

Todos esses significados estão contidos no arquétipo da Sacerdotisa, que está fortemente associado a aspectos femininos da receptividade, intuição e compreensão dos mistérios. Ela nos provoca a ir cada vez mais fundo para conhecermos mais a respeito de nós mesmos.

Quando a Sacerdotisa é selecionada numa leitura terapêutica, a carta pode indicar que a pessoa está num momento favorável à auto-observação, aos processos de abertura rumo ao inconsciente e possivelmente estabelecendo contato com esses conteúdos internos por meio de sonhos e sincronicidades. Nessa fase é importante valorizar o que acontece “fora do usual”, anotar sonhos e pensamentos que surgem de repente, pois essa é a forma de nosso inconsciente conversar conosco e pedir atenção para os aprendizados que precisam ser assimilados.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise



sábado, 7 de setembro de 2013

O Mago

O Mago Tarot Waite
A carta do Mago representa o princípio masculino da natureza: a iniciativa para realizar nossos potenciais como algo concreto no mundo a partir da nossa percepção consciente da realidade que se nos apresenta.

A figura expressa um homem com um braço apontando para o céu e outro braço apontando para baixo onde estão representados os quatro elementos primordiais: fogo, água, ar e terra.
Essa carta com uma figura masculina voltada para seu lado direito está associada com a energia Yang, a energia de realização e expansão. O movimento é do interior para o exterior e a imagem então simboliza poder e intenção dirigidos à concretização de um objetivo. 

Aqui a mente e o racional exercem um papel fundamental na leitura do ambiente externo que irá promover as respostas internas adequadas à melhor adaptação do sujeito, pois é a ação consciente e intencional que permitem ao Mago interagir com o meio na busca de ocupar seu lugar no mundo e ser reconhecido.

O poder de ação vem da atitude racional e do uso do intelecto enquanto ferramenta (simbolizado pelo bastão). A intenção é ativa, é de dentro para fora. Poder e intenção são então dirigidos a uma finalidade, ou seja, o fluxo da energia criativa é conduzida pelo uso dos elementos da natureza (água, fogo, terra e ar) e direcionada à concretização de um objetivo: satisfação da vontade.

O Mago tem habilidades e destreza na utilização de seus instrumentos, os elementos, e a partir deles pode criar qualquer outra coisa no mundo externo, material. É o Ego, enquanto centro ordenador da consciência, que irá fazer a seleção das melhores habilidades a serem utilizadas pelo sujeito na busca do seu lugar no mundo e a firme crença na sua capacidade de agência resultará na materialização externa de algo que antes existia apenas na mente de alguém.

O arcano do Mago nos fala do poder de realização, da energia de criar algo novo no mundo. Escrever um texto, cozinhar uma refeição, produzir uma roupa, construir um prédio, empreender um projeto, são exemplos do arcano do Mago em ação. Tudo isso podia estar latente na mente de alguém, mas para que adquirissem "vida" foi necessário empregar esforço físico e energia para que saíssem de dentro da cabeça e viessem para o lado de fora, marcando a existência do sujeito no mundo pois ao interferir no mundo externo está colocando sua assinatura e participação no meio.

O arcano do Mago também simboliza o sentimento de satisfação de quando fazemos algo que nos é próprio, nossa essência em ação. Vejam a expressão do rosto do Mago, ele sabe que é capaz de fazer.

O Mago não duvida! A confiança em si próprio é um elemento fundamental para que o arcano do Mago se manifeste.

O arcano do Mago corresponde então à noção de que é o consciente quem faz a relação com o mundo externo num paralelo interessante com o que Freud propõe na sua primeira tópica, bem como considera as habilidades racionais e a autoconfiança do indivíduo na direção da satisfação da sua vontade, o que encontra semelhança no conceito de Ego da segunda tópica freudiana.

Na psicanálise estudamos a formação da personalidade humana e, fazendo um paralelo, a energia do Mago é a mesma que experimentamos no início da vida. Todos os bebês "fazem" coisas, as coisas que são possíveis naquela idade. A primeira coisa que fazemos é "criar" nossa satisfação: choramos e logo em seguida somos alimentados com leite, afeto e calor. A sobrevivência está garantida aí e o bebê sente-se ele mesmo o criador daquilo que recebe de sua mãe.

Segundo Donald W. Winnicott, psicanalista que teorizou sobre o nosso desenvolvimento emocional primitivo, nesse processo a que chamou de “criatividade primária” a criança adequadamente atendida tem uma relação de confiança com seu ambiente e desenvolve uma ilusão da onipotência na qual ela mesma é o próprio objeto desejado. Essa sensação de fusão da criança com o objeto desejado é prazerosa para ela e lhe dá uma sensação de tranquilidade ou não excitação - fundamental para lidar com os eventos e circunstâncias da vida.

Manter essa autoconfiança é essencial para que as coisas sejam realizadas. Uma pessoa sem confiança em si mesma vai duvidar das suas habilidades, da hora certa de fazer, vai ficar pensando que o resultado não foi tudo aquilo, que não gostaram do que ela fez...

Talvez fique pensando na aprovação das outras pessoas sobre a ideia dela e se não conseguir lidar com as expectativas dos outros pode acabar deixando sua própria ideia de lado.

Outras vezes postergamos nossos projetos esperando "o melhor momento" ou esperando "estar melhor preparado" para fazer aquilo que queremos. O tempo passa e vamos deixando o sonho envelhecer dentro de nós, não fazemos nunca porque não nos sentimos capazes o suficiente.
O Mago é o visionário, é o ilusionista, da mesma forma que Winnicott propõe que o bebê vive aquela “ilusão” de ser o criador do seio que o alimenta. Basta que ele “queira” o seio e imediatamente o alimento (e tudo o mais que o seio simboliza) aparece. A vontade então cria o seio, magicamente.

A energia do Mago vem nos lembrar que sim, podemos. É essa energia que nos impregna de disposição e vontade para tocar nossos projetos de vida e fazê-los saírem do papel. Nesse estágio, a gente não pensa muito nas dificuldades e percalços do caminho, a gente quer mais é fazer. Ação!

O importante aqui é iniciar, agir, e se ficar pensando muito o momento de fazer pode passar.

Assim como o bebê não tem como pensar sobre aquilo que faz, o Mago também não fica pensando muito se deve ou não fazer, se desse jeito está bom ou se preciso melhorar. A criança vai coordenando seus movimentos e entendendo como fazer um certo esforço pode resultar numa determinada postura. Primeiro ela faz muita força para se equilibrar e começar a andar, mas com o tempo ela passa a empregar melhor a força e o equilíbrio vem mais naturalmente até que ela consiga andar sozinha sem se esforçar tanto.

Mas não podemos esquecer que além da habilidade de fazer e realizar, é preciso o intento - a intenção clara daquilo que se deseja. Porque o resultado não virá apenas da habilidade, de mais ou menos talento para a coisa, mas também da qualidade da energia que se coloca naquilo que está sendo feito.

Talento e habilidade são importantes porque nos destacam dos demais, mas a intenção é o elemento carreador da energia de criação que vai fazer nascer no mundo aquilo que está latente dentro de nós. É o intento que vai conduzir o sonho da dimensão interna para o mundo externo.
Acreditar no que fazemos vai colorindo nossas ações e essa vibração reverbera ao nosso redor criando um campo positivo para que as coisas se realizem com economia de energia, apenas com o esforço suficiente.

Nesse sentido, tirar a carta do Mago numa leitura pode indicar que estamos vivendo o momento de fazer, agir e realizar, dando vida externa a uma ideia que existia apenas internamente. Também é o momento de acreditar em si mesmo, colocar a mão na massa e se divertir fazendo.

Numa abordagem terapêutica, pode também indicar que o analisando acredita ser responsável por tudo que acontece no seu dia a dia, usando o tempo para realizar coisas e mantendo-se constantemente ocupado numa busca de valorização individual pelos resultados daquilo a que se dedica, sem perceber muito bem o seu ambiente e as inter-relações possíveis com a família e outras pessoas de convívio.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise