sexta-feira, 10 de fevereiro de 2023

Identificação Projetiva

Melanie Klein

Se tem alguém na psicanálise que foi fundo na escuridão humana foi Melanie Klein. Eu sou muito fã dela e como sobrevivente de abuso narcisista reconheço na obra dela olhares que só tem quem não teve opção na vida, quem teve mesmo que enfrentar demônios.

E uma das observações dessa mulher incrível foi a IDENTIFICAÇÃO PROJETIVA. Ela parte do mecanismo de defesa da projeção, no qual lançamos sobre o outro aspectos nossos dos quais não damos conta de reconhecer em nós, e desse ponto ela tem a sacada de que nos apaixonamos justamente por essas características projetadas no outro.

Quando nosso radar identifica alguém com esses aspectos que não reconhecemos em nós, aí é que queremos mesmo nos aproximar, unir e fusionar. Claro que a convivência será desafiadora mas é nesse espelhamento que vamos nos descobrindo e lapidando nossa autoimagem. Até aqui, tudo normal.

O problema acontece quando permanecemos numa dinâmica relacional infantil e defensiva, que recai no narcisismo. Enquanto ainda estivermos sobrevivendo psiquicamente, reeditando as privações e negligências que vivemos na infância, é isso que iremos projetar nos outros - e é com isso que vamos nos identificar também.

A chance de se aproximar um narcisista perverso ou psicopata, é bem grande aí. Pessoas com esse caráter, também identificam suas vítimas que estão no modo sobrevivência psíquica e essa é uma fusão fortíssima, intensa demais. Irresistível.

Sair de uma relação assim requer que a gente olhe para si mesma e reconheça que ainda estamos operando como sobreviventes, como crianças assustadas que se sentem totalmente dependentes da atenção que o outro oferece. Ainda que seja essa atenção distorcida e cruel, como acontece nos quadros de narcisismo invertido (leiam a respeito).

Só fechamos essa porta quando entendemos a fundo como aconteceu a formação da nossa personalidade, aceitando os fatos da nossa infância que nos atravessaram e que podem ter nos apresentado a um funcionamento abusivo e cruel que mantemos com a gente mesma.

Porque é crueldade com a gente mesma fechar os olhos para os perigos de uma relação abusiva.

Quando entendemos que o demônio cruel mora, na verdade, em nós, aí é que podemos nos tornar conscientes e vigilantes para mantê-lo no seu devido lugar e nos afastarmos desse mal, parando de abrir portas para que ele entre na nossa vida na pele de outra pessoa.

Será que você já passou por isso?

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

2 comentários:

  1. Sim. E depois de sete anos de processos, buscas, e muita ajuda, inclusive das suas indicações de leitura, consegui me libertar totalmente. Não me relaciono mais com a minha mãe há 9 meses. Senti que precisava estabelecer esse limite com ela para conseguir sair definitivamente do relacionamento conjugal abusivo e violento. Estou bem melhor, até as crises de TPM com cólicas fortíssimas acabaram nesse período. Vamos juntas@

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    1. Oi Glayce, que bom saber que você vem cuidando de você e estabelecendo limites saudáveis. É importante se preservar, continue nesse movimento. Você vai notar que com o tempo as pessoas passam a respeitar melhor e as relações podem passar para outro patamar. Um abraço pra você!

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