O eixo Áries-Libra é sempre indicado como “o eu e o outro” e portanto aplicado à temática dos relacionamentos mas eu gosto muito de pensar que este eixo também se aplica ao tema “vontade-alteridade”. E nesta conjunção com Quíron essa possibilidade me parece muito especial.
Áries é o signo da vontade, a força humana que direciona o desejo para o objeto destino da pulsão, fazendo a energia psíquica do ID atravessar todas as camadas da psique até se manifestar em pensamento para ser elaborada e concretizada no mundo real.
Áries é voluntarioso, inquieto, muito certo do que quer e não pode esperar o tempo do outro. Aqui, o desejo é urgente.
Na outra ponta está o Sol sustentando a consciência libriana, signo de ar que prima pelo entendimento, pela conexão com o outro, pela expressão inteligente e plural os afetos e é expert na arte de negociar as vontades preservando as relações. O resultado dessa oposição é um conflito entre o que eu QUERO expressar (Áries) e o que ME AUTORIZO expressar para não comprometer as relações afetivas que me sustentam (Libra).
A vibração de Libra é a da conexão e essa energia nos leva a desenvolver uma postura mais aberta a receber o outro na nossa vida. Para que uma conexão verdadeira aconteça, temos que baixar a guarda e usar a nossa simpatia para que o outro se sinta acolhido e valorizado por nós e é aí que aquela vontade urgente inicial precisa ser flexibilizada pois se estivermos muito aferrados à nossa perspectiva individual não conseguiremos ouvir nem entender o que o outro diz; para ouvir genuinamente o outro precisamos nos calar e dar lugar a uma lógica diferente da nossa e a uma linguagem à qual não estamos acostumadas.
É nesse exercício de dar lugar à voz do outro que acontece a alteridade, a possibilidade de assumirmos uma perspectiva nova para enxergar algo que do nosso ponto de vista não seria possível.
Quando nos permitimos ampliar o olhar dessa maneira saímos de uma postura rígida de quem tem absoluta certeza para um estado de flexibilidade onde reconhecemos que algo pode ser visto por mais de um ângulo.
Quem fala lindamente sobre isso é Chimamanda Adichie em “O perigo da história única”, palestra que virou livro e trata exatamente de como enrijecemos narrativas que nos fazem interpretar o mundo de um forma unilateral, que não dá margem para complementações ou composições, excluindo tudo o que não damos conta de ver ou entender. Essa rigidez na visão das coisas nos leva à intolerância e ao final nos isola em nossa ilha de certezas absolutas. É importante o benefício da dúvida e a capacidade de ouvir outras versões de uma história, outras perspectivas que contribuem para que cheguemos mais perto da verdade.
Libra é a energia que constrói pontes e nos convida à alteridade que acontece nos relacionamentos, nós não somos ilhas, pelo contrário, fomos programados para nos relacionarmos desde o primeiro momento de vida. E a alteridade que praticamos nos relacionamentos externos se estende também para o lado interno, pois dentro de nós convivem aspectos subjetivos conflitantes e muitas vezes contraditórios que também somos nós, que pedem para serem ouvidos e reconhecidos, aos quais só acessamos se exercitarmos essa postura mais aberta. Conhecer-se implica em dar voz aos nossos aspectos internos que não tiveram vez nem lugar na nossa história de vida, mas que quando reconhecidos trarão um senso de completude, de enriquecimento e aprimoramento pessoal grandiosos.
Quando nos relacionamos com o outro estamos na verdade indo ao encontro desses nossos aspectos latentes e ainda desconhecidos que o outro espelha, mesmo sem termos consciência disso. E ao praticarmos a alteridade nos nossos relacionamentos também abrimos caminho para essa alteridade interior que permite que todas as nossas subjetividades se apresentem à consciência e sejam acolhidas e integradas saudavelmente.
Jung afirma que “o encontro de duas personalidades assemelha-se ao contato de duas substâncias químicas: se alguma reação ocorre, ambos sofrem uma transformação.”
É aqui que nossa conversa sobre alteridade chega a Quíron, o arquétipo do curador ferido, e nos permite entender que o que nos feriu foi a impossibilidade de acolher aspectos nossos que precisavam se expressar com mais liberdade.
Que face sua nunca recebeu crédito e você acabou deixando de lado?
Se você recapitular sua história de vida com os olhos de hoje, onde você percebe que abriu mão de ser algo que era importante pra você?
Esta noite inaugura um período de duas semanas para que você faça esse resgate da sua autenticidade e se sinta livre para ser inteira a partir da alteridade que é possível a você hoje, curando a ferida de não ter sido tudo o que você podia e transformando-se agora por meio da observação atenta dos seus relacionamentos.
Se você vive uma relação baseada em desconfiança e controle, perceba em você o que precisa de tanta vigilância para que ninguém descubra. Se vive uma relação com falta de reciprocidade, perceba se você não está se dedicando exclusivamente apenas a um tema da sua vida e deixando de lado outros em que precisa se desenvolver também. Se você cede demais nas relações, pode ser que o medo de crescer esteja te rondando e atrasando suas conquistas. Qualquer que seja sua questão relacional, ela simboliza um aspecto interno que parou de crescer porque você aprendeu que para estar com alguém era preciso não ser isso.
Aprenda a observar as correspondências entre o externo e o interno, tudo isso faz parte do exercício da alteridade e repercute numa capacidade da gente manejar melhor todos os aspectos que nos compõem, todos os aspectos, como notas e sons musicais organizados numa sinfonia ou pinceladas dispersas que pouco a pouco formam a imagem de um quadro que nos representa.
A Lua cheia em Áries fortalece em nós a intenção de fazermos esse resgate da nossa autenticidade e para tanto vem acompanhada de Marte e Lilith nesse mesmo ambiente, intensificando a noção de que esta transformação pessoal é condição para recuperarmos a autonomia, definirmos a direção da nossa vida e voltarmos a crescer. Vênus está em Leão e forma um trígono bem produtivo para que a vontade de se transformar seja mantida com lealdade a si mesma, num senso de autovalorização importante para que você não desista deste processo.
Todo esse alinhamento se resolve no vértice formado por Saturno/Júpiter/Plutão em Capricórnio, indicando que agora é o momento de fazer o que tiver que ser feito e de tomar as decisões mais responsáveis para corrigir o curso das relações. Capricórnio no ensina o valor do aprendizado e da experiência, quando superamos algo isso se torna a nossa cura e também a nossa medicina pessoal.
Mercúrio está em Escorpião na casa 8 e isso aumenta a nossa capacidade de análise com a visão de águia desse signo. Nada fica encoberto para um Mercúrio investigador e desconfiado como este, esse impulso nos leva a descobrir coisas ocultas, segredos e fatos esquecidos. Fiquem atentas aos insigths e aos sonhos nas próximas duas semanas, podem ser bem reveladores.
No âmbito coletivo, esta lua cheia promete trazer revelações importantes e suscitar reviravoltas em assuntos que pareciam pacificados. A oposição Mercúrio-Marte/Lilith promete escândalos, traições e delação de crimes enquanto a oposição Mercúrio-Urano deve sacudir grandes interesses que davam algumas alianças como certas e agora percebem que foram ludibriados. Quem será o descartado da vez?
Marte está retrógrado sobre a Lilith e deve ativar eventos que impliquem em sérios retrocessos nas conquistas femininas, esta é uma discussão que deve ganhar corpo nesta lua cheia e também ao longo de toda a próxima lunação. Quanto mais Marte se afasta de Urano, retrogradando, veremos mais ameaças à liberdade feminina e a equidade nas relações sociais, será preciso muita vigilância para não perder o que já foi conquistado e seguir avançando no reconhecimento das necessidades mais atuais.
Tenham muito cuidado com cortes, acidentes de trânsito e queimaduras nas próximas duas semanas - especialmente na região da cabeça para quem for de Áries ou tiver ascendente ou lua nesse signo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário