terça-feira, 19 de outubro de 2021

Bipolaridade na série Maid

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Algumas pessoas me perguntaram se a mãe da Alex, personagem da série Maid, é narcisista. É sim, mas vamos entender melhor - tem spoiler.

Na série, Paula é a mãe de Alex e há tensões evidentes na relação entre as duas. Paula é omissa com a filha e distraída consigo mesma, é uma artista que cria situações para confirmar sua importância como acreditar ter recebido o convite para exposição das suas obras quando não houve convite nenhum, apenas um elogio educado. Aos poucos, vamos percebendo que Paula não age de forma coerente com a realidade em que vive até que há o momento em que fica claro que Paula é bipolar e precisa de cuidados médicos.

A bipolaridade é uma condição que afeta o desenvolvimento emocional e que pode dificultar a saída do narcisismo primário, aquele que todos nós vivenciamos para podermos desenvolver um senso de autoestima e autopreservação. Na bipolaridade o narcisismo é muito presente porque a pessoa passa muito tempo percorrendo as oposições mania e depressão e demora para conseguir, por si mesma, sair dessa fase primária e encontrar o caminho da alteridade, percebendo-se num mundo em que há outras pessoas, outros interesses e prioridades. Tudo que destoa das suas referências maníacas é visto e sentido como um grande ataque e isso atrasa muito - ou impede mesmo - que a pessoa se responsabilize por sua vida.

Pessoas bipolares, quando não acompanhadas adequadamente, podem tomar decisões equivocadas, dilapidar patrimônios e se colocar continuamente em situações de risco e perigo. Uma mãe nessa condição precisa de muito apoio e incentivo para poder cuidar de si própria e também dos filhos ou da família. Na série, é possível ver que Paula não teve nenhum apoio e fez o que pode para sair de um casamento abusivo com o pai da Alex. Fugiu para longe, para o Alasca até acabar o dinheiro e precisar voltar. Paula parece ter tido outros relacionamentos também abusivos e exposto a filha a eles, percebemos no tom que ela usa para conversar com o atual companheiro da mãe, e esse ambiente inconstante na afetividade é claro que determina a escolha do companheiro adicto da Alex.

Mas eu acho importante frisar duas coisas nessa relação mãe e filha. Primeiro, Paula não parece ser uma narcisista perversa, ela não faz planos para prejudicar a filha deliberadamente apesar de concretamente isso acontecer como consequência de suas escolhas equivocadas, e isso é importante para uma filha que precise recompor o quadro maior para entender sua própria situação e poder se afastar dessa dinâmica com menos culpa. E segundo que essa relação mãe-filha foi atravessada por tantos outros fatores (machismo, invisibilidade da maternidade, falta de cuidado com a saúde mental) que sonegaram à Paula o direito de ser apoiada quando ela ficou como única responsável pela criação da filha ao fugir do casamento violento que o desamparo virou uma tônica nessa relação também. Alex incorpora esse desamparo e vemos como ela age o tempo todo "como se estivesse sozinha no mundo" até encontrar sua rede de apoio e mudar o rumo dessa estória que ela poderia bem repetir.

Alex tem uma resiliência diferente da mãe, e isso a capacitou para se responsabilizar pela situação familiar e resolvê-la. Paula não tinha essa resiliência, vive de fugas e se refugia na arte. Cada uma lidou de uma forma com o machismo estrutural e a violência doméstica, mas ambas são sobreviventes.

O que você achou da relação das duas na série? Sabia que elas são mãe e filha na vida real? Me conta nos comentários.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

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