Navadurgas: Kalaratri

Para quem está seguindo o Navaratri, hoje é um dia de energia forte pois se comemora a face escura da Deusa na forma de Kalaratri, que nesta sequência do mito de Durga representa o momento em que a Deusa elimina os demônios da ignorância.

Existem sutilezas no Navaratri e nas faces femininas representadas que a gente compreende melhor quando vivencia esse período, e um aspecto que me chegou este ano, e que quero compartilhar com vocês, é a questão da ordenação que o Navaratri sugere. Quando olhamos as representações, algumas são bem parecidas e diferem em detalhes como tigre, leão e leoa ou um círculo mais aberto e outro círculo mais fechado. Parecem a mesma coisa mas nao são, são evoluções.

Assim como no Tarot cada carta tem relação com a que a precede e com a que a sucede, aqui também cada forma tem relação com a anterior pois é um degrau a mais a partir dela, não seria possível chegar sem ter passado pela anterior. E também a representação seguinte de certa forma corrige o excesso ou a indulgência da representação anterior.

E aí chegamos no dia 6 do Navaratri que é a comemoração da forma de Kalaratri, cujo nome significa "tempo" ou "morte", o fim das coisas pela passagem do tempo. Kaalratri também está associada ao planeta Saturno na cultura hindu, vejam que coincidência interessante pois Saturno na astrologia é o Senhor do Tempo.

Assim, cada face representada tem o seu tempo e segue uma ordem para que seja possível surgir a próxima: só quem já foi Brahacharini (austeridade e aprendizado) pode apreciar Chandraganta (intuição), só quem já foi Skandamata (mãe) sabe o motivo de usar armas e cortar o mal pela raiz (Katyayani). E só quem já foi todas elas pode sustentar a face Kalaratri.

Ir direto para Kalaratri sem ter passado pelas faces anteriores é autodestrutivo, para eliminar os demônios e saber que sacrifícios fazer para matá-los (beber o seu sangue para que não se reproduzam mais) requer firmeza, inteligência, intuição, presença, cuidado e senso de autopreservação. Com ignorância a gente não negocia nem argumenta, a gente corta fora.

Eu tive dois encontros com essa expressão furiosa de Kali, a primeira vez eu tinha 19 anos e realmente foi uma experiência autodestrutiva que me levou a uma depressão muito forte. Na segunda vez precisei me posicionar radicalmente para sair de uma relação abusiva, foi muito difícil e solitário fazer isso pois não houve nenhum apoio nem compreensão e tive repercussões emocionais também mas percebo hoje que foi uma experiência melhor integrada.

E assim vou seguindo nesse estudo fino e ancestral, sempre me encanto com a riqueza dos mitos e seus efeitos na nossa vida prática. Vivemos os mitos mesmo quando não sabemos que eles existem.

Se você está seguindo o Navaratri também, compartilha aqui comigo o que tem experimentado nesses dias, vamos trocar um pouquinho pra aprendermos juntas.

Verbenna Yin
Astros - Tarot - Psicanálise

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